Sabbath escrita por stefani kaline


Capítulo 1
Capítulo 1: Lendas Sobre bruxas




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Diziam que seu nome era Cornélius, Cornélius Brezewood, um humilde fazendeiro que tinha uma pequena propriedade em Cherwood. Ele havia se casado com uma forasteira. Uma desconhecida mulher de uma beleza extraordinária que ninguém nunca soube de onde viera e muito menos se tinha família, apenas que obtinha um talento excepcional como curandeira.

De seu casamento com Brezewood nasceram sete crianças e todas mulheres, as quais ao crescerem se tornaram lindas moças possuidoras de todo tipo de conhecimento sobre ervas e rémedios assim como a mãe.

Com o passar do tempo uma térrivel praga se abateu sobre Cherwood. As plantações morreram, a terra se tornou seca e podre e os habitantes ficaram doentes. A praga afetava à todos exceto os Brezewood, nenhuma das sete filhas parecia sofrer de peste e mesmo com uma pequena plantação de milho e trigo, além de um velho moinho, a mesa daquela família continuava farta.

Este fato chamou a atenção de todos e suspeitas começaram a surgir, logo a praga foi ligada as mulheres de Brezewood. Em pouco tempo foram declaradas bruxas e o humilde fazendeiro cúmplice, pois ajudou a disseminar a feitiçaria naquela cidade, afinal era seu sangue que corria nas veias daquelas moças.

Entretanto, seria perdoado de todas as acusações se auxiliasse na destruição da praga e a única maneira dela chegar ao fim seria matando sua família e foi isso o que Cornélius fez. Ele trancafiou sua mulher e suas filhas no velho celeiro de sua fazenda e o incendiou. Dizem que conforme as labaredas subiam o céu tomava tons de vermelho sangue...

–Bruxas em Cherwood?!- bradou a jovem de cabelos loiros sentada no banco do passageiro- Isso é ridículo. Não acredito que perdi minha noite ouvindo essas besteiras.

A lua cheia brilhava forte no alto do céu de Cherwood como um grande holofote voltado para a Rua White Brick, porém estava longe de ser uma noite romântica para Nancy. Sem motivo aparente seu namorado a levara de carro até um dos lugares mais sombrios e monótonos da cidade e começou a lhe contar uma fantasiosa história sobre bruxas.

Como se não fosse o bastante havia levado seu irmão mais novo, Will, de catorze anos o que para a menina de dezesseis era um pirralho insuportável. Ele estava no banco de trás comendo um grande e gorduroso hambúrguer qu era uma imitação perfeita dos sanduíches do Mc Donald's quando falou:

–Nancy tem razão, essa história é a pior que já ouvi desde o Homem Porco.

A garota e o namorado se viraram para o banco de trás com ar de dúvida. Vendo que nenhum deles ouvira falar na lenda mencionada o menino ainda com a boca empanturrada de carne tentou explicar:

–Sabe, aquela lenda onde um cara louco sai por ai matando as pessoas com uma máscara de porco. Deviam assistir mais American Horror Story.

–Cala a boca, panaca!- retorquiu o irmão se voltando para a namorada- Estou falando sério, não é uma história boba igual a do Will, a prova disso é esta casa.

Nancy olhou pela janela do carro e observou o velho casarão que parecia abandonado. Era o número 301 da White Brick e a única residência da rua inteira que não tinha uma placa de vende-se cravada em seu gramado.

–A fazenda dos Brezewood ficava aqui antes da cidade se expandir e as plantações de milho darem lugar ao asfalto. O celeiro que foi incendiado estava a onde a "Mansão da Família Adams" está agora.

Ele pôs um dedo no vidro da janela indicando o local com um sorriso macabro em seus lábios.

–Charlie, por favor, não diga que quer entrar ai! - falou Nancy um pouco aborrecida.

O garoto balança a cabeça positivamente.

–É claro que quero entrar, por que acha que viemos aqui?

–E se tiver alguém aí dentro?

–Não vai haver ninguém. Os moradores a deixaram há anos. Acho que tem algo místico na casa pelo fato das bruxas terem sido queimadas aqui. Vai ser legal!

Charlie já havia tirado o cinto de segurança e pulado para fora de seu sedã esperando a ação da namorada. Porém ela não reagiu, continuou sentada no banco do passageiro com cara de poucos amigos.

–Não vou entrar neste lugar! - falou ela decidida.

–Tudo bem! - replicou Cherlie - Se está com tanto medo assim pode ficar no carro com o Will.

O irmão mais novo vociferou do bando de trás:

–Quem disse que eu ficarei aqui?!

–EU DISSE! Alguém precisa vigiar o carro ou acha que lhe trouxe para um passeio noturno?

Will bufou chateado e Nancy o olhou com certo desdém.

–Tudo bem, eu irei. Mas se acontecer alguma coisa a culpa é sua.

–Ótimo, pegue a lanterna e vamos lá.

O garoto já avançava para a velha cerca da casa a qual um dia já fora branca, quando Nancy saiu do carro ainda temerosa.

–Por que a gente não pode ir para o cinema nos fins de semana como todo casal normal? - indagou ela.

–Por que isso seria extremamente chato! - Charlie respondeu saltando o portãozinho de madeira que dava para o jardim de grama alts e cheis de ervas-daninhas. A jovem fez o mesmo, porém rasgou a manga de sua blusa em uma das estacas.

–Espero que me dê um belo presente de dia dos namorados para descontar isso! - sibilou ela tando uma boa olhada no estrago em sua roupa.

Entretanto, o rapaz não a ouviu, pois ele já estava em frente a porta do casarão tentando arrombá-lo. O que não foi algo difícil. Apesar da porta ser feita de carvalho suas dobradiças já estavam muito enferrujadas e como Charlie era um excepcional praticante de luta greco romana, era bastante forte. Em pouco tempo ela foi aberta.

O hall do 301 era sombrio e desolado, havia um enorme candelabro empoeirado e um velho tapete de cores opacas enrolado e encostado na parede oposta a entrada. A escadaria circular que dava para o segundo andar tinha alguns degraus soltos e seu corrimão estava com aparência tão mal cuidado quanto o grande castiçal.

Como não havia iluminação, apenas uma pequena janela de vidros coloridos perto da escadaria o que não fazia nada além de mais sombras, Nancy acendeu a lanterna e mirou o feixe de luz para todos os cantos possiveis até se certificar que realmente não havia nada ali.

–Hey, aponta essa coisa para o outro lado! - reclamou Charlie quando a claridade chegou em sua face cegando seus olhos.

–Desculpe. - pediu a namorada abaixando o objeto - Agora que já viu o queria podemos ir embora?

–Nem pensar. Eu disse que veria a casa inteira e nós vamos ver. E para de tremer como uma vara, se houvesse fantasmas aqui já teriam sentido o cheiro de seu medo.

Nancy bufou chateada. Não estava tremendo de medo e sim de frio. Logo que cruzou a porta do casarão sentiu a temperatura cair bruscamente. Charlie não sentia a diferença porque estava bem agasalhado com a jaqueta do time de seu colégio.

Ele andou em direção a escada e começou a subí-la saltando dois degraus de cada vez, a garota ia atrás, caminhando mais devagar. Quando estavam quase no topo ouviram um grunido e um morcego saiu voando do segundo andar. Por um triz não acertou a cabeça dos dois.

–Eu disse que não tinha nada de mais aqui. - falou o rapaz tentando acabar com o clima estranho que os envolvia.

Como Nancy não o replicou ele retornou a sua caminhada e entrou em um longo corredor mergulhado nas trevas. De súbito ele parou de andar e a menina se chocou contra suas costas. Charlie parecia temeroso em continuar, por um breve instante sua namorada pensou que o garoto daria meia-volta e diria que era uma grande tolice ir a diante com aquela macabra excurssão pelo 301. No entanto, isso não ocorreu.

Havia uma sequência de portas pelo corredor, Charlie foi até cada e tentou abrí-las, todavia estavam todas trancadas. A cada passo que dava o assoalho rangia como se pisasse em cima da barriga de um monstro e lá fora o vento uivava como se uma matilha de lobos estivesse esperado a saída deles.

Nancy, por sua vez, ao ver que o garoto não desistiu de conhecer por completa aquela casa da rua White Brick, avançou pelo corredor e só parou em frente a porta mais afastada, a qual Charlie ainda não tivera a chance de tocá-la.

–Estão todas fechadas -disse ele um pouco nervoso.

–Não está! - retrucou a menina ao girar a maçaneta e empurrar a grande peça de madeira provida de fechaduras e dobradiças.

Feixes de luz acertaram seu rosto logo na entrada do quarto, eles vinham de uma janela circular que se assemelhava com a que viram perto da escadaria no hall. Entretanto, a luz prateada da lua cheia não era suficiênte, como o resto da casa aquele cômodo era escuro e triste.

–Seja lá quem morava aqui não tinha muito jeito com decoração - comentou Charlie ao entrar no local.

O quarto era revestido por um papel de parede azul com pequenos desenhos repetitivos na cor branca. Havia uma poltrona de pés e braços de madeira polída e com estofado também azul, obviamente para combinar.

A não ser por isso e um grande armário de carvalho na parede esquerda, o quarto estava vazio. Mesmo assim, Nancy, que no momento se esqueceu de todo medo, cruzou todo o quarto a procura de algo.

Charlie que agora sim parecia desistir de sua jornada, ficou parado de costas para o armário com os braços cruzados franzindo a testa.

–Você estava certa. - murmurou ele - Não há nada de interessante nesse lugar. E se um dia teve já deve estar morto e enterrado.

Era para soar como uma piada, comparando o jeito fúnebre da casa com a morte. No entanto, nem tudo estava morto. De súbito o armário atrás dele se abriu e uma mão pálida de dedos gélidos agarrou o coloarinho de seu casaco e o arrastou para dentro.

Nancy gritou aterrorizada, Charlie parecia se debater dentro do móvel fechado tentando fugir do ser que o pegou. Ele bateu contra as portas de madeira, mas elas não se abriram novamente.

Depois de um tempo o armário se aquietou, nenhum ruido e nenhuma batida tornou a acontecer. Uma dor cortou o peito da menina e lágrimas desceram por seu rosto. Seja lá quem ou o que estava lá dentro havia dominado seu namorado e em breve estaria atrás dela.

A jovem disparou para a porta do quarto entranto novamente no corredor. Aos tropeços alcançou a escadaria do hall. O primeiro degrau que seus pés tocaram cedeu e Nancy começou a rolar escada abaixo se chocando com as tábuas soltas.

Ao chegar ao último não via mais nada além da escuridão. Contudo, o hall tomara cores mais vivas depois que seu chão cinzento foi pintado de vermelho pelo sangue da moça...


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