Tales of the Bard escrita por diginyan


Capítulo 6
Queen of the Dark Horizons




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/436291/chapter/6

A brisa noturna soprava agradável pelo convés do navio, onde todos permaneciam sentados, conversando despreocupadamente e bebendo algumas canecas de hidromel. Já haviam amanhecido tantos dias desde a luta contra Ussion, que seu nome nem mesmo havia sido citado em conversas, sendo trazido ao pensamento de um ou outro indivíduo do grupo apenas pela cicatriz enraizada no rosto de Bwarin, como uma grande descarga elétrica bifurcada.

Danna jazia sentada no topo do castelo da proa, com sua flauta em punho, entoando algumas melodias para acompanhar a noite ricamente estrelada. Apreciava a solidão, mesmo que entre grandes amigos e companheiros que apreciava estar entre, de forma que não se incomodou, nem mesmo pausou sua sinfonia ao notar que Thanwig sentava-se ao seu lado.

–Não gosto de atrapalhar uma pessoa quando ela se dedica a algo tão bonito. - Iniciou o gnu. - Mas nesta manhã, nós iremos ancorar, e seguiremos viagem por terra.

–Algum motivo específico? - respondeu-lhe a barda, tornando a pôr a flauta em seu colo. - Quero dizer, não passamos por quaisquer cidadelas controladas pelo reino, nem mesmo torres de vigia.

–Pois bem, daqui em diante, veremos muitas. Estamos próximos demais das principais cidades-forte do reino, e existem caminhos alternativos. Porém...

Danna fitou-lhe, como que se o incitasse a terminar a frase.

–Levarão mais tempo, e poderão ser tão perigosos tanto. Não por soldados de Gonmal'be, mas ameaças consideráveis.

–Escute. - proferiu, docilmente, a druidesa - Estamos aqui para isso, meu amigo. Sei que você provavelmente me considere a líder deste grupo, mas não, não sou. É uma responsabilidade que não cabe a mim... E sinceramente, gosto que tomemos nossas decisões em conjunto.

–Entendo. És mais sábia do que muitos considerariam, jovem elfa.

Danna retribuiu-lhe o sorriso, e desceu, tomando lugar ao lado de seus companheiros, em uma mesa improvisada com caixas. Nela, espalhavam-se alguns mapas e outros pergaminhos enrolados, iluminados por uma luminária presa ao chão por algumas argolas. Bwarin detinha a palavra, enquanto o meio-elfo, a ilusionista, o guerreiro e, agora, o shaman escutavam atenciosamente.

–E aqui - mostrou, apontando para uma pequena caverna rabiscada entre árvores - é o caminho mais rápido até a capital do Reino, onde talvez possamos nos hospedar antes de seguir viagem.

Mostraram-se alguns sorrisos, por terem em vista que logo esta missão poderia estar findada, se não ocorressem mais contratempos.

–Como conseguiremos hospedagem num local hostil aos povos livres? - indagou Cyindel, com uma expressão levemente confusa. - Digo, é difícil até mesmo conseguir entrar em uma das aldeias controladas por Gonmal'be.

–Não se preocupem. Foquem-se no percurso, pois a chegada não é tão importante quanto a caminhada.

Um bocejo fora ouvido partindo de Loranhir, e juntamente com ele, fora percebido por todos que em breve o sol amanheceria. Sendo assim, retornaram aos seus aposentos, cada qual preparando seus pertences para voltar à jornada em terra. A barda, notando que ainda haviam algumas horas para que pudesse descansar pela frente, preferiu esperar o raiar do sol, perdida em pensamentos. Seu olhar, fixo no horizonte, não era como sua mente, que vagava por situações do passado. A natureza, vívida ao seu redor, não a deixava sentir-se sozinha, e perceber a bênção dos deuses em cada ser vivo que compunha aquele rio pelo qual vagavam, ou a floresta infindável pela qual atravessavam há dias, trazia-lhe esperanças de que ela conseguiria seguir em frente.

–x-

Alguns dias atrás, em Rancain.

Uma nuvem espessa pairava sobre a cidade, impedindo que a luz solar atravessasse a copa das árvores. Havia uma leve chuva indo de encontro ao solo, mas não provinha daquela nuvem enegrecida logo acima das árvores. O som que ecoava pela atmosfera era ritmado por tambores, bumbos, e as canções, entoadas por vozes fortes e destemidas, eram como trovões durante uma forte tempestade. Era possível distinguir alguns suspiros de Banshees, espíritos ancestrais de deusas que sucumbiram à mortalidade e saíram de Avalon em suas formas originais. Suas aparições eram presságios de morte, e o exército que prepavara-se para o ataque tomou isso como uma boa previsão.
Um grande corvo atravessou os céus, calando a todos os barulhos que eram feitos, prendendo a atenção de cada orc, goblin, humano , ou quaisquer outros indivíduos que ali estivessem. Empunharam armas, e observaram seu líder posicionar-se à frente de todos. O silêncio atravessava agora a face de cada soldado que compunha as centenas que ali estavam.

–Vocês estão aqui, guerreiros, para defender o Reino de Keltarr. Vocês sabem seu objetivo, e sabem suas ordens. Estamos aqui pelo direito de conquistar terras e povos que há muito deveriam ser de domínio de Gonmal'be, e vingar a morte de Ussion, o Dragão Negro.

O olhar do humano, negro como a noite, atravessou as fileiras de soldados, com a determinação de alguém que conhece a guerra tão bem quanto conhece seus desejos. Tomou o elmo que segurava em mãos e o pôs, erguendo a longa espada de dois gumes acima da cabeça.
O coro bradou, alto e estrondoso, em uma voracidade que amedrontaria matilhas.

–Por Morrigan! Por Gonmal'be! Pela vitória de Keltarr!

E cada indivíduo investiu floresta adentro, com armas em mãos, cercando a cidade pacata. Uma pequena parcela dos cidadãos que moravam em Rancain já haviam partido ao ouvir o ruflar dos tambores, e ao notar a guerra aproximando-se sorrateira por entre as árvores da floresta. Outros prepararam-se para a luta iminente, e já empunhavam espadas, lanças, dentre outras armas, quando os primeiros invasores chegaram. A barreira protetora da cidade não impedia que alguns dos guerreiros a invadissem, mas envolvia-os em uma aura negra, que aumentava conforme a criatura se movimentasse mais, fazendo com que os soldados mais vorazes caíssem por terra após alguns golpes - talvez fatais - contra os protetores da cidade sagrada. Ainda assim, não impedia que mais guerreiros de Gonmal'be invadissem a cidade, ignorando quaisquer impedimentos. As Banshees, que não podiam atravessar os limites da cidade, rondavam o lado de fora, entoando cantigas em ode aos que não retornariam à luta, nem mesmo às suas famílias.
Era perceptível aos defensores de Rancain que aqueles invasores não desejavam saquear a cidade, e sim conquistá-la. Era notável pelos estandartes de guerra que carregavam, pelas armaduras refinadas, pelas armas forjadas por ferreiros habilidosos e que continham encantamentos que as faziam até mesmo reluzir diferente. O sangue que escorria dos corpos era lavado pela chuva que caía insistentemente, levando consigo também os últimos suspiros de poderosos defensores, cada qual lutando por seu objetivo.
O corvo novamente cruzou os céus, pairando no ar, ao centro da batalha. Alguns olhares dirigiram-se àquela visão, enquanto o pássaro transformava-se em uma indescritivelmente bela mulher, com asas negras translúcidas, e cabelos em um tom único, como o mais puro vinho, que movimentavam-se pelo ar majestosamente. Trajava uma armadura negra que cobria todo o seu corpo, e possuía detalhes arroxeados.

–Oráculo. Apresente-se a mim.

Sua voz melodiosa fez-se ouvida por todos os cantos da batalha, até mesmo aquelas sendo travadas no interior da floresta, afastadas da cidade. Os três oráculos apareceram-lhe da mesma maneira, pairando pelo ar - entretanto, não eram os próprios que ali estavam, e sim uma representação física, como uma ilusão.

–Morrigan.

As expressões dos três anciões era a mesma, uma neutralidade impassível, e nem mesmo uma deusa compreenderia seus olhares, ou suas reais intenções.

–Creio que vocês compreendam que nada podem fazer para salvar seu povo. - O olhar de Morrigan era profundo, e havia certeza em suas palavras. - O declínio de Rancain será completo pelas mãos do exército do Reino de Keltarr, e seus descendentes não demorarão para conhecer seu fim, pouco a pouco.

–Nós conhecíamos este fim, bem como nossa incapacidade. Mas nem tudo está perdido, deusa.

–Vocês não mais ajudarão Danna. - Sua voz ecoava mais forte, e o olhar de Morrigan flamejava. - Em toda a sua sabedoria, vocês deveriam ter a ciência de que não desafia-se ou atrai-se a ira de um deus!

–Não é só de sabedoria que ações devem ser baseadas. O Oráculo também representa a coragem e o poder. A coragem de agir quando até mesmo deuses levantariam-se contra você, e o poder de compreender as consequências, e ainda assim fazer suas escolhas.

–Então, assim seja, dragonborns.

A deusa transformou-se novamente em corvo, e, antes de partir, observou o que antes era a terra sagrada de druidas, shamans e outras criaturas. As árvores que serviam de moradia queimavam pouco a pouco, e o sangue cobria os poucos defensores da cidade que ainda permaneciam em luta. No topo das árvores, era possível ter ciência da quantidade de guerreiros caídos, derrotados pelas mãos de raças que há eras haviam convivido em paz. Morrigan, entretanto, não sentia quaisquer reações ao observar a desolação de um povo. Era nascida da guerra, e sabia que pela guerra findaria. Ainda assim, sua ambição a impedia de aceitar este destino. Mesmo que não possuía seu local de direito no Tuatha de Danann, Morrigan desejava recuperar seu trono ao lado da Trindade de deusas, mesmo que precisasse devastar o mundo em guerras. Era esta a sua natureza mais profunda, e que também adormecia dentre os desejos de cada indivíduo - e a deusa sabia disto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tales of the Bard" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.