- Gosta de pelúcias?

A pergunta repentina surpreendeu a garota que observava, silenciosa como sempre, uma vitrine de uma lojinha de bugigangas, onde estavam expostos alguns bichos de pelúcia. Um, em especial, chamara sua atenção. Parecia feito de areia, era um bicho estranho, gordo, de olhos negros e amarelos e de um rabo só. Estava ao lado de algo que lembrava uma raposa, só que com nove caldas e vermelho feito os cabelos do rapaz que a acompanhava.

- Sim, eu gosto. – Hinata respondeu. Não conseguia ser tímida com uma pessoa tão quieta e antissocial quanto ela. Gaara se aproximou e fitou o brinquedo que ela tanto olhava.

- Gosta desse?

- Gosto, é fofo. – Disse e sorriu feito criança para o animal estranho que chamara de fofo. O toque de celular do seu pai a tirou do transe e apagou o sorriso infantil. Bendito fosse o dia em que decidira colocar um toque especial para ele. Olhou o relógio de pulso. 20h30m. Estava cedo e seu pai sabia disso.

- Não vai atender?

- É o paranoico do meu pai. Não quero falar com ele. – Não pôde segurar um suspiro. Quando seu pai aprenderia que podia se cuidar sozinha? Talvez nunca.

- Está tarde para moças como você andarem acompanhadas de rapazes suspeitos. – Gaara comentou sem emoção, ou tentou, pois a menina percebeu o sutil divertimento escondido nas palavras e tom monótono do rapaz.

- Você falou igualzinho a ele.

- Essa era a intenção. – Replicou e estendeu a mão para ela – Vamos, antes que o "paranoico do seu pai" fique ainda mais preocupado.

Hyuuga corou com o gesto, porém não o negou. Segurou a mão do rapaz ruivo, e jurou sentir uma onda de eletricidade passar pelo seu braço, deixando-o formigando. Gaara simplesmente a puxou para ficar ao seu lado e começou a andar, em silêncio. Aliás, os dois adoravam ficar em silêncio, mas não era constrangedor e pesado, e sim leve e aconchegante. Hinata nunca imaginou que pensaria isso, mas era bom ter alguém para ficar silencioso junto a ela.

No entanto, outras coisas retumbavam em sua mente, e todas começavam da mesma forma. Por quê? Por que ele quis sair com ela? Por que justo com ela? Por que não a Ino, a Karin ou a Sakura? Por que ainda naquele dia? Por que fizera questão de pagar-lhe um lanche? Por quê? Por quê? Por quê? Por que diabos ela não achava a resposta? E por que não perguntar?

- G... Gaara-kun...?

É, por que não perguntar?

- Hum? – Ele simplesmente fixou os olhos verdes no rosto delicado.

- Por... Por que você quis sair comigo? – A garota soltou rapidamente. Tão rápido, que receou ter de repetir, porém não foi necessário. Ele ouvira bem.

- Por quê? Porque eu quis sair com uma menina que não fosse fútil, idiota e oferecida.

- F... Fútil?

Estava surpresa com a resposta de Gaara. Ele descrevera Ino, Sakura e Karin em apenas três palavras. Hinata se repreendia por pensar nelas daquele modo, mas nada podia fazer. Elas eram assim. Geralmente, os garotos só saiam ou namoravam as meninas que podiam expor para os amigos, como um troféu, um manequim, um pedaço de carne inútil. Ela odiava esse comportamento, e agradecia a Deus por não ser aquele tipo de garota-troféu.

- Você é diferente delas, Hinata.

Aquilo a pegara de surpresa. O ruivo a chamara pelo nome, pela primeira vez desde que... Bem, desde sempre. Sabaku parou de andar, ficando na frente da moça, os olhos verdes pareciam tentar penetrar os lugares mais profundos do mar perolado das íris dela. Agora, a mão forte segurava o pulso fino, tomando cuidado para não apertar demais. A Hyuuga parecia de porcelana, e não seria ele quem a quebraria. Não, não seria mesmo.

- D... Diferente como?

- Assim. – O ruivo terminou a frase com um puxão no braço dela, trazendo-a para si. Enlaçou a cintura fina e tomou os lábios rosados numa carícia apaixonante da qual Hinata não pôde resistir. Nem queria.

O0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0O

Hinata abriu seu armário. Ainda estava cedo, então o corredor estava completamente vazio. Assim que abriu o armário, se deparou com um embrulho vermelho com uma fita lilás para prendê-lo. Pegou o embrulho e o abriu, encontrando o mesmo boneco de pelúcia que vira no dia anterior, quando estava no encontro com Gaara. Gaara... Ela nunca se esqueceria daquele momento. Um calor subia em suas faces ao lembrar do beijo. O ruivo beijava tão bem...

- Hinata, sua idiota, pare de pensar nessa coisas! – Repreendeu-se num sussurro e fitou o bicho, notando, enfim, um bilhete com uma caligrafia que reconhecia graças a um trabalho que tivera de fazer em dupla. Nele dizia:

"Quer repetir o encontro?"

- S... Sim.

- Então depois da escola? – Um ruivo, surgido aparentemente do nada, questionou para ela.

- Claro... Gaara.

- Eu te vejo depois, Hinata.