O Amor de Severo Snape escrita por TwilighterPotterhead123


Capítulo 2
Capítulo 1




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Haviam duas vozezinhas falando com Severo, e isso não era um problema, considerando que ele já estava acostumado com vozes na sua cabeça. Uma indicava o que era certo, e sensato de se fazer, e a outra indicava o que ele queria fazer. Volte para casa. Já está anoitecendo, e você tem que voltar. Aquela é a sua família, apesar de tudo, dizia a vozinha que falava o que era o correto de se fazer.A outra, por outro lado, dizia o contrário: Mesmo sendo sua família, eles nunca te trataram bem. Seus pais vivem brigando e sua irmã é uma pessoa inconsequente, chata, e que só quer chamar atenção para si. Se você for embora, poderá viver do jeito que você quiser. Aliás, Severo, se você voltar lá, provavelmente você vai ficar uns cinco meses de coma cerebral com a surra que seu pai vai te dar.

Severo estremeceu. Mas escolheu fazer o que era certo e sensato de se fazer. Levantou-se da parede do beco em que ele estava encostado, e muito hesitante começou a andar em direção à sua casa. A cada passo ele considerava a opção de fazer o que a outra voz tinha sugerido. Mas era covarde demais para isso.

Quando chegou à frente da sua casa, considerou a opção de tocar a campainha. Não seja ridículo, Severo dissera a si mesmo firmemente. Você ainda mora aí, não precisa tocar a campainha. Porém, Severo temia que tivesse sido expulso de casa ou algo parecido, pelo o que tivesse feito. Mesmo assim, agarrou a maçaneta e a girou. A porta estava aberta. Ele entrou, muito lentamente, muito temeroso.

A primeira coisa que fez ao entrar em casa fora olhar em volta, ver se alguém se localizava em algum lugar. Ele olhou até nas sombras – aliás, seu pai poderia muito bem ter se escondido em algum lugar, apenas esperando para pegar Severo desprevenido e dar-lhe uma surra que ele nunca mais esqueceria. Mas, não conseguia ver ninguém, e nem mesmo ouvir ninguém. Era como se não houvesse ninguém ali. Nem os gritos familiares de sua irmã idiota eram ouvidos naquele momento.

No que pareceu um passe de mágica, Severo ouviu passos. Passos graves e pesados, entrando na pequena sala de estar. Lá estava seu pai, com roupas negras como se fosse para um enterro – como sempre – e aquele olhar malévolo e frio, juntamente com aqueles cabelos ensebados que Severo tivera o azar de puxar.

– Eu deveria te bater, te bater muito, menino. – disse Tobias Snape, com aquela voz grave e autoritária. – Mas já descontei tudo naquela aberração da sua mãe. – Severo olhou assustado para seu pai. Não, não! Ele havia batido em sua mãe! E ela não tinha nada a ver com a história! Severo teria preferido se ele tivesse batido nele. Se ele soubesse que Tobias ia descontar em sua mãe, jamais teria fugido. – Vocês dois – continuou Tobias –, duas aberrações.

– Se é assim – disse Severo, que havia adquirido coragem sei lá de onde. Provavelmente, ele estava muito irritado com o fato de Tobias ter batido em sua mãe. –, você também é uma aberração. Porque você é igualzinho a nós dois. Um bruxo.

Tobias olhou para Severo de um modo que parecia irado. - Eu tive o azar de nascer assim. Mas não me orgulho. Na realidade, tento evitar isso. Mas você e sua mãe parecem que gostam... Disso. – quando Tobias disse ‘’disso’’ , Severo sabia que se tratava da bruxaria.

De repente, Tobias relaxou sua face, abriu um sorriso sarcástico e disse: - Eu não sou mais seu pai. Não conte mais comigo pra nada.

– Como se eu pudesse contar muito, antes – disse Severo, rindo, o sarcasmo apimentado na ponta de sua língua.

Tobias ignorou o comentário. - A partir de agora, você é um sozinho no mundo. É claro que eu vou ter que continuar a te sustentar. Infelizmente, essa merda de lei me obriga a isso. Mas não conte com nenhum tipo de ajuda minha a ter uma vida honrada e normal. Porque eu era o único, o único, que teria a capacidade de fazer você ser alguém na vida. Uma pessoa normal, e não uma dessas aberrações. Bruxo. – ele pronunciou a palavra com nojo.

– Bom, que bom que você não vai tentar me impedir de ser quem eu realmente sou. Um bruxo. Porque eu me orgulho de ser o que sou. – Severo abriu um sorriso convencido.

– O que o faz muito parecido com a idiota da sua mãe. Vocês me enojam.

Tobias saiu da sala.

A simples menção à mãe de Severo o fez ficar paralisado aonde estava. Um turbilhão de emoções conflitantes o invadiu. Especialmente a culpa. A culpa parecia transbordar pelos poros de Severo.

Pelas barbas de Merlin, se ele não tivesse tido o estúpido ato de sair correndo pela janela feito um idiota, nada disso, provavelmente, teria acontecido.

Bom, é claro que Severo estava aliviado com as palavras de Tobias, que ainda rondavam alegremente sua cabeça. Eu não sou mais seu pai. Eu não sou mais seu pai. Eu não sou mais seu pai. Severo queria fazer uma música com aquelas palavras, pois elas simplesmente eram música para seus ouvidos. Na realidade, Severo nunca se sentira filho dele; filho de Tobias. Nunca sentira nenhuma espécie de afeto, ou coisa parecida. Nunca sentiu que pudesse contar com ele. A mãe de Severo também não era a pessoa mais adorável do mundo, mas Severo sabia que apesar de todo o seu mau-humor e rigidez, ela o amava. Era apenas que ela era...Infeliz. Simplesmente isso. Não era para menos, já que vivia ao lado de seu pai. Ou melhor, seu antigo pai, disse Severo a si mesmo com satisfação.

Mas, mesmo assim, mesmo que Severo estivesse feliz em ouvir Tobias falando que não era mais seu pai – até porque na realidade, ele nunca fora, e estava feliz em finalmente colocar as cartas na mesa –, estava horrorizado, a culpa mal cabendo dentro dele. Você deveria ter ficado, seu idiota, uma vozinha dizia a ele, repreensivamente. E Severo sabia que ela tinha razão. Quem foge tem culpa no cartório.

Aliás, se ele tivesse ficado, poderia botar a culpa em Lizzy, que estava batendo na mesa com bastante força. Severo não acreditava que Tobias fosse fazer algum mal a uma garotinha de três anos e meio, apesar de tudo. Aliás, ela era trouxa como ele queria ser. A favoritinha do papai. Bom, mas ela era uma criança miúda... Como uma criança miúda poderia partir em duas uma mesa que estava na família Snape a gerações? Bom, a mesa era antiga, e estava na família a gerações. Era comum que estivesse desgastada. Se Severo tivesse utilizado os argumentos, as justificativas, e as desculpas certas – e acima de tudo, não tivesse fugido –, talvez tivesse evitado levar uma surra. Ou no caso, teria evitado que sua mãe tivesse levado uma surra.

Sem se aguentar mais ficar ali, Severo correu para o andar de cima. Tinha de saber como sua mãe estava. Agora. Ao passar pelo quarto de Tobias e de sua mãe – por mais que sua mãe provavelmente não estivesse lá agora, depois do que acontecera –, Severo ouviu Tobias recitando trechos da Bíblia. ‘’Queimai os que praticam heresia...’’ Crente ignorante de merda, pensou Severo, ao se locomover para o quarto de Lizzy. Provavelmente sua mãe estava lá.

Quando Severo chegou à frente da porta do quarto de Lizzy, ele não sabia se teria coragem de fazer aquilo. Provavelmente, sua mãe estaria o odiando naquele exato momento, com todas as suas forças. E Severo sabia que ela estava certa. Mas ele precisava fazer aquilo, para todos os efeitos. Pare de ser um covarde idiota e assuma as consequências dos seus atos, seu imbecil, Severo disse rigidamente a si mesmo, e entrou no quarto sem hesitar.

Porém, assim que Severo entrou no quarto, se deparou com uma cena que ele julgava impossível de ser vista, mas mesmo assim ela estava pairando bem à frente de seus olhos incrédulos.

Sua mãe e sua irmã estavam dormindo. Mas não foram seus hábitos de sono que o surpreenderam. Foram suas expressões faciais. Sua mãe, que sempre assumia uma face carrancuda, e mesmo ao dormir, assumia uma face tensa – não era para menos, considerando que ela geralmente dormia ao lado de um monstro –, agora dormia angelicalmente, como se não tivesse acabado de levar a surra do ano. Mas as marcas de hematomas pairavam em todas as partes de seu corpo, para dizer o contrário.

Severo sentiu-se horrível. Horrível. Sentiu lágrimas escorrerem furiosamente pelo seu rosto, e caírem em um baque surdo no chão de madeira do quarto de Lizzy. Severo sentiu-se como um monstro. Assim como seu pai. Quer dizer, seu antigo pai. Tobias Snape. O nojo que consumiu Severo foi quase imensurável.

Eileen estava deitada em um dos extremos da larga cama de Lizzy. Lizzy estava deitada no outro extremo, deixando assim um grande espaço entre elas. Severo só queria preencher esse espaço – deitar ao lado de sua mãe, abraça-la, pedir eternamente desculpas pelo o que havia acontecido. Mas Severo imaginava, que se ele o fizeste, sua mãe iria acordar, e sua expressão angelical seria substituída por uma expressão de nojo, um nojo tão intenso quanto o nojo que ele sentia por ele mesmo.

Severo achava que sentia tanto nojo de si mesmo, que poderia vomitar naquele exato momento. Tudo o que ele queria era sair dali. E ir para aonde? Se enrolar como um tatu-bola em sua cama feito um bebê chorão? Não desta vez. Ele ficaria ali – nem que ficasse por horas, e suas pernas começassem a doer de tanto ficar com os pés fincados em um mesmo lugar.

Por isso, decidiu se distrair com alguma coisa – por mais que de certa forma ele também achasse que deveria sofrer um pouco, e só se concentrar no sofrimento, como se ele próprio estivesse intitulando-o um castigo. Mesmo assim, decidiu se distrair com Lizzy. Em como naquele exato momento ela parecia um criança dócil e gentil, como em uma propaganda de margarina, e não a pestinha que ela realmente era. Pestinha no sentido ruim do termo. Esse também era um dos motivos para o ceticismo de Severo. As aparências enganam, pensou Severo, soltando uma risadinha irônica e nada engraçada, considerando a situação atual.

A risada baixa demais pareceu ter chamado a atenção de alguém. Severo sentiu em sua visão periférica alguém se mover; levantar a cabeça. E então, ele olhou para a cama. Sua mãe.

– Severo? – ela indagou, sua voz fraca; a voz de alguém que acabara de acordar, ou levara uma surra. No caso, as duas coisas.

Severo esperou por tudo. Esperou a reprovação, o nojo – todos os tipos de emoções negativas que uma pessoa poderia sentir por alguém. Mas não conseguia sentir a aspereza que geralmente ouvia no tom de voz de sua mãe, apenas a fraqueza e a fragilidade, o que só o deixou ainda mais culpado do que já estava – se é que isso era possível. Era como se sua mãe tivesse baixado a guarda; o muro que ela havia ‘’construído’’ ao seu redor. Como se ela estivesse revelando o seu verdadeiro eu.

Mãe? – ele engoliu em seco. – Mãe, me desculpe, me desculpe! – Severo soltou. – Eu sei que não há desculpas para o que eu fiz, mas mesmo assim, me desculpe! É só o que eu quero dizer; em como eu sinto tanto!

– Mas... Pelo o que você estaria se desculpando, meu amor? – a voz de Eileen, por mais que fraca, demonstrava um alto grau de curiosidade. Severo se perguntava se ela estava usando algum tipo de ironia pesada ou coisa parecida.

– Como assim, pelo o que e-estou me desculpando? – a voz de Severo tinha dificuldade para sair com alguma coerência. – Papai, quer dizer... – Severo estava prestes a se corrigir, dizer Tobias, mas ele achava que a mãe não iria entender o porque de ele estar chamando o ‘’pai’’ dele pelo nome. Então, relevou a merda da força do hábito e continuou: - ... ele, ba-bateu em vo-você, e é tudo culpa minha! – Severo balbuciava e soluçava.

– Ah, meu deus, querido! – Eileen sentou na cama com alguma dificuldade, colocando a mão na frente da boca como se estivesse um pouco atordoada, talvez perplexa. – Não se culpe! – agora quem estava chorando era ela. – Não foi culpa sua! Não ache que foi! Ve-venha! – ela balbuciou, estendendo as mão para frente, como se ela quisesse o pegar no colo, ou coisa parecida. O convite era irresistível. Severo lançou-se para o lado de sua mãe na cama e a abraçou como se não houvesse amanhã.

– De-desculpe! De-desculpe! – Severo continuava a balbuciar no ouvido de sua mãe enquanto ela o apertava forte em um abraço.

– Não se culpe, querido! – ela disse, afetuosamente. – Não é culpa sua!– ela repetia.

– Por que... Por que você se casou com ele? – Severo perguntou, a dor, mas também a curiosidade transpirando em sua voz.

Eileen não respondeu, apenas ficou olhando para Severo com olhos afetuosos, mas que tinham uma grande dor estampada nestes. Lágrimas silenciosas escorriam de seus olhos, enquanto ela acariciava o rosto de Severo e o envolvia em um abraço, com o qual não se precisavam de palavras.


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