Caro Desconhecido, escrita por False Angel


Capítulo 9
Confusão


Notas iniciais do capítulo

Oi, ~ estou muito envergonhada de voltar aqui depois de tanto tempo~ mas voltei porque tem capítulo novo, obviamente.
Passando para agradecer a Pó de estrela por favoritar a história, espero que continue lendo (e que um dia recomende) haushaush
Boooa leituraa!!



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Sinto os primeiros raios de Sol tentando penetrar minhas pálpebras. Puxo o cobertor e viro para o outro lado. Apenas com esse pequeno e rápido movimento meu corpo dói e minha cabeça começa a latejar. É então que lembro da noite passada e por tudo o que passei. Abro os olhos e começo a analisar tudo, enquanto olho para um ponto fixo no teto.

Não parece que tudo aconteceu em um único dia.

Primeiro Letícia Madgi, do IML. Depois sou praticamente sequestrado. Conheço uma amiga de Andressa Lemos. Ela pede ajuda para encontrar o que Andressa deixou. Sou liberto e venho para casa. Não me lembro de muita coisa depois disso, mas pelo menos consegui ter uma noite de sono, sem sonhos.

– Toc, toc – Igor abre a porta com tudo. – Esqueceu-se do horário, Cinderela? Meia-noite é o limite. – Olho para ele com uma cara de quem não está gostando nada disso. – Ah, esqueceu de deixar o sapatinho de cristal? – Ele faz um biquinho tipicamente falso.

– Pois é, a vida é uma droga.

– Bom, ontem minha vida realmente foi uma droga. Primeiro fiquei te esperando, no fim eu fui dormir cedo e você foi dormir de madrugada.

– Você me viu chegando?

– Não. Mas não deve ter chegado muito cedo.

– Acho que não.

– Bom, Princesa Aurora, é melhor você levantar dessa cama e me contar o que houve, se não vou te derrubar dela.

– Desde quando você sabe os nomes de todas as princesas da Disney?

– Desde sempre. Quem não sabe? – Levanto da cama dando risada enquanto Igor sai do quarto. Sigo ele até a cozinha, tendo esperanças de que ele tenha pelo menos feito café. Esperanças sufocadas, visto que a cozinha está mais bagunçada do que quando saí de casa ontem. Esse é o problema de dividir um apartamento com o seu amigo que nunca fez nada na vida.

– Você pode contar sua história enquanto faz café. – Igor fala enquanto caí, literalmente, no sofá. Típico.

Após uns vinte minutos já havia contado uma versão resumida da história e ambos havíamos terminado de tomar café. Igor, por milagre divino, não fez comentários nem piadinhas. Quando termino ficamos ambos quietos olhando para a televisão, que está desligada.

– Você confia nela? – Igor tem um tom de voz sério, o que me assusta.

– Para falar bem a verdade, eu não sei. Afinal, ela me sequestrou. E, se Andressa era amiga dela e mandou cartas para ela também, por que não mencionar isso nas minhas cartas? Não era para ser nenhum segredo pelo que entendi. Mas, por outro lado, ela parecia tão sincera. Abalada.

– Existem pessoas que interpretam muito bem. Geralmente chamadas de atores ou artistas. – Reviro os olhos. Mas sei que Igor tem razão. – Eu sei que isso não é fácil, principalmente porque ela parece ser muito bonita, mas nunca se pode confiar plenamente em uma pessoa que te sequestra. E que te leva para um lugar completamente deserto. Principalmente na nossa situação, Lucas.

– Quando você fala isso, e não minha consciência, é muito mais assombroso, e óbvio. – Igor começa a rir. E, como quase sempre, eu não consigo localizar a piada.

– Cara, sinceramente, quem nesse mundo fala assombroso? – Ele começa a rir de novo. Reviro os olhos. Um dia meus olhos vão se revirar sem segunda ordem, de tanto que faço isso.

– Realmente, isso não vem ao caso. – Ele começa a parar de rir. Mas mantêm o sorriso no rosto. – Então, podemos fazer um teste hoje. Vamos até lá e vemos no que dá. Se tudo parecer sem nexo ou estranho, caímos fora com uma desculpa esfarrapada.

– E esperamos que ela não seja da máfia italiana. – Ambos rimos. Gargalhamos, na verdade.

– No que você acha que vai dar? Quer dizer, quando as cartas acabarem e descobrirmos o que aconteceu ou o que ela escondeu, o que vamos fazer? O que encontraremos? – Igor pergunta exatamente o que passa pela minha mente.

– Eu realmente não faço a mínima ideia.

– Mas, e se tudo der terrivelmente errado? Ela vai ficar com as duas cartas e com certeza vai descobrir tudo. E nós? Nós não teremos nada. Nada mesmo.

– E o que você sugere?

– Levamos apenas a primeira carta. Ela é mais uma apresentação do que pistas. Se tudo acontecer bem fora do planejado, pelo menos teremos a carta mais útil.

– Mas, e se ela desconfiar de alguma coisa? – Pergunto.

– Então, saberemos que ela não é uma garota totalmente ingênua quanto aos motivos. Bom, nós já sabemos disso. Você nem tanto, na verdade, acho que ela é a garota mais bonita que você já viu na sua vida. Afinal, você é um babaca de pensar que ela é do bem quando ela acaba de te sequestrar. – Igor bufa em total descrença. Eu concordo plenamente com ele, mas eu simplesmente fiquei comovido com as palavras dela. Mas, agora, depois de expor os fatos com toda a clareza, eu percebi que não deveria ter acreditado cegamente nela.

– Como é mesmo o nome dela? – Igor pergunta, numa curiosidade repentina.

– Antonella. Por quê?

– Ah, só queria saber mesmo. Podia ser uma das minhas ex-namoradas. – Olho para ele entediado, ele realmente pensa que tudo gira ao seu redor? – O quê? É sério, cara. Você não faz a menor ideia do quão assustadoras essas garotas podem ser quando querem. Temos um ótimo exemplo disso, Sherlock.

– Tudo bem, mas não acho que ela é uma das garotas da sua lista.

– Eu não tenho nenhuma lista.

.

.

.

Como o combinado que fiz com Antonella, tarde da noite eu e Igor estávamos na estrada indo para o endereço que ela anotou no papel. Percebi, logo que chegamos, que era o mesmo lugar onde fui mantido por ela. A casa parecia vazia. Nenhuma luz acesa. Não havia nenhum carro na garagem. Estava silencioso como se ninguém nunca tivesse morado ali.

– Você tem certeza de que estamos no lugar certo? – Igor pergunta, com dúvida na voz.

– Eu acredito que sim, pelo menos é esse o endereço que ela escreveu. – Entrego o pedaço de papel para Igor analisar. Ele lê e olha para a casa vazia, confuso. Eu também estou um pouco duvidoso, mas ela não acenderia todas as luzes apenas para nos avisar de que ela está lá.

– Bom, então é melhor darmos uma olhada. – Igor diz, prestes a abrir a porta.

– Hey, espera! – Ele para o movimento bruscamente e olha para mim. – Vamos repassar o plano.

– Santo Deus, Lucas! – Ele se esparrama no banco, exasperado. – Nem é um plano tão difícil assim.

– Nada pode dar errado. Tudo bem, nós temos que seguir o plano com exatidão. – Ele bufa. – Vamos fingir que realmente vamos ajudá-la, sem dúvida nenhuma. Mas, se algum de nós perceber que ela não é realmente confiável, ou que parece ser alguma criminosa, damos o sinal. Você lembra do sinal, certo? – Igor olha para mim e revira os olhos, sorrindo. – Exato. Se tu...

– Eu odiei esse sinal. Quer dizer, nem parece um sinal.

– Essa é a intenção, Igor.

– Mesmo assim. Da próxima vez eu escolho o sinal.

– 'Tá, que seja. Mas, se tudo ocorrer bem e ela se mostrar confiável, esquecemos o primeiro plano e vamos para o Plano B.

– Eu sei, eu sei. Agora podemos ir?

Abro a porta do carro e saio. O lugar parece mais assustador quando não estou na segurança do carro, o silêncio é intenso. Igor anda em direção à porta, sem um pingo de hesitação. Vou atrás dele, ele sobe os degraus da varanda e para em frente a porta. Olha para mim e então bate na porta. Esperamos alguns segundos e ele bate mais uma vez. Nada.

– Acho que não tem ninguém em casa. – Ele afirma. Então, sem parar para pensar, simplesmente leva a mão até a maçaneta e a gira. A porta abre seguida de um ruído persistente. O corredor está escuro. E ninguém aparece. Nem André, e tão pouco Antonella. O que é um pouco estranho.

– Primeiros as damas. – Igor faz uma reverência sorrindo. Nem comento, pego meu celular e o ligo, para iluminar o caminho. Deveríamos ter trazido uma lanterna. A luz do celular não ajuda muito, pelo contrário, deixa tudo com um aspecto extremamente macabro. Enquanto vou na frente iluminando o caminho, Igor vem abrindo portas e olhando dentro dos cômodos. Nada. Encontro a porta que dá para o porão, descemos as escadas e olhamos em todos os cantos e nem tem nada no porão. Nada mesmo. Nem mesmo o sofá que lembro de ter visto enquanto estive amarrado. O que é meio estranho, principalmente porque a casa lá em cima está mobiliada.

– Aparentemente, não tem ninguém em casa. – Igor diz como se tivesse acabado de perceber isso, enquanto subimos as escadas.

– Sério? – Pergunto. – Eu nem tinha percebido.

– Em alguns raros momentos, Lucas, você é tão parecido comigo. – Ele diz rindo.

Não evito sorrir. Mas ainda estou encabulado e levemente preocupado. Por que Antonella nos chamaria para vir encontrá-la se ela não estaria aqui?

– Acha que é algum tipo sádico de armadilha? – Igor diz olhando ao redor, provavelmente procurando alguma armadilha. – Pode ser que quando voltarmos para o carro e você vire a chave, o carro exploda e morramos.

– Hm... Talvez pode ter alguma armadilha, mas não acho que seja tão terrorista assim.

– Se você diz... Mesmo assim é bom ficarmos bem espertos.

– Claro. O que você acha de darmos uma olhada em todos os quartos? – Desligo o celular e acendo as luzes do corredor. Igor me olha assombrado.

– Lucas, o que diabos você pensa que está fazendo? Ficou maluco? E se ela chegar aqui e nos ver dentro da casa dela e nos matar?

– Ela sabe que estamos aqui Igor, não aqui dentro. Mas ela sabia que viríamos. Ela não vai voltar tão cedo. – Ele me olha. – Eu espero que não pelo menos.

– Você é uma decepção para o mundo inteiro. – Ele dá meia volta e entra no primeiro quarto a sua esquerda e acende a luz.

Seguindo seu exemplo, abro a porta que fica mais próxima ao porão. Não me lembrava de que havia tantas portas no corredor quando passei por ele pela primeira vez, acordado. A porta se abre com dificuldade e após uma pequena luta com a maçaneta. O que ela revela é completamente esperado, escuridão. Procuro o interruptor e acendo a luz. É então que vejo o quarto com clareza. Uma cama encostada na parede branca. O colchão está sem lençóis e o criado-mudo está vazio. Um guarda-roupa pequeno fica de frente para a cama. Vou em direção ao criado-mudo primeiro, abro a primeira gaveta e encontro um lápis desapontado. Na segunda gaveta não tem nada nem na terceira. Então abro a porta do guarda-roupa, nada. A segunda porta tem alguns cabides vazios e alguns estão sendo usados por camisetas que parecem estar ali desde que a casa foi construída. Na única gaveta do guarda-roupa encontro papéis. Pego todos eles, mas os primeiros estão em branco. Quando estou prestes a guardá-los de volta na gaveta, percebo que um papel no meio da pilha tem algo escrito. O pego e por precaução dou uma folheada nas outras folhas, mas o restante está em branco.

Olho para o pequeno texto escrito na folha, a letra é meio difícil de entender, mas com algum esforço é possível reconhecer as palavras:

Sinto muito por não ter conseguido te encontrar em Curitiba, e por não ter te acompanhado em sua viagem para Cascavel. Mas você sabe que estou muito ocupado com as entregas. Espero que chegue a salvo e consiga o que a levou a voltar a essa cidade fantasma. Nos encontraremos em breve. Não se esqueça de entregar o pacote para O Alvo.

Com amor,

P.

– Lucas! – Igor aparece ofegante na porta com um envelope na mão. – Olha só o que encontrei naquela sala com uma decoração horrível. – Ele balança o envelope na minha frente repetidas vezes com um sorriso largo no rosto.

– Muito legal, mas você não foi o único a encontrar alguma coisa. – Mostro o bilhete para ele.

– Bom, melhor ainda. Vamos?

– Igor, ainda falta olhar todos os quartos e…

– Eu já olhei. – Olho para ele com desconfiança e ele retribui o olhar meio magoado. – Três quartos não têm nada de mobília e a cozinha não tem nada, além de uma torta que parece estragada. Tudo limpo.

– Nesse caso, acho que podemos ir. Tomara que eles não percebam o que pegamos.

– Isso se eles já não deixaram isso aqui para encontrarmos.

– Realmente, é uma possibilidade.

– Então vamos embora.

Atravessamos o corredor, ambos fechando todas as portas, e vamos até o carro. Entramos e seguimos até nosso apartamento, não sem que Igor diga:

– Felizmente nada de armadilhas terroristas.

.

.

.

Ao chegarmos no apartamento e cada um se acomodar em um dos sofás, lembro que Igor tinha encontrado uma carta na casa de Antonella.

– Igor?

– Sim.

– Deixa eu ver a carta que você encontrou.

– Ok – Ele procura no bolso da calça, no outro bolso da calça e então começa a se desesperar. Procura no bolso da jaqueta e nada.

– Igor, não me diga que você perdeu a carta.

– Não, claro que não. Eu tenho certeza que eu coloquei, bem... Aqui! Bolso interno, óbvio. Toma. – Ele me estende o envelope. – Deixa eu ver seu mini bilhete? – Entrego o bilhete para ele e ambos ficamos olhando para o papel em nossas mãos.

Abro o envelope e tiro um papel de dentro. Cuidadosamente, como se fosse muito antigo ou uma verdadeira prova de crime, o que é quase isso, abro a folha dobrada.

Cara desconhecida,

Acredito que esta carta tenha tudo o que é necessário para que você entenda porque vou fazer isso. Eu mal a conheço, mas sei que posso confiar este segredo a você.

Matar alguém é tão fácil em um momento de fúria e desespero quanto abrir uma lata de refrigerante. Um gesto comum. Esperando uma consequência ou uma recompensa. Como eu sei disso? Porque a exatamente duas semanas eu matei uma pessoa. Eu juro que não foi premeditado e tão pouco meticulosamente planejado, simplesmente aconteceu.

Se eu tivesse mantido a calma e permanecido no modo racional, nada disso teria acontecido. Se eu tivesse calculado meus movimentos e pensado, se tivesse organizado todas as informações que eu consegui retirar daquele homem, tudo seria tão diferente.

Eu poderia procurar entender tudo, deitar na minha cama a noite e pensar sobre isso. Mas quando eu deito eu só consigo me lembrar do sangue que está em minhas mãos, do olhar apavorado que permaneceu naquele homem mesmo depois de estar caído e morto no chão frio de um beco qualquer. Ele não era nenhum inocente, mas ele foi escolhido como alvo da minha fúria momentânea.

Lembro das exatas palavras ditas por ele até agora. Do tom que usou para falar comigo, como se eu fosse uma menina que não entende o que acontece em um mundo de crimes e roubos. E eu não sabia. Até matá-lo. Existem momentos na vida em que queremos voltar atrás e fazer tudo de outro jeito. Consertar.

Mas, o que me deixa mais assustada, é que se eu pudesse escolher um único momento, não seria esse. Eu continuaria sendo uma assassina.

E isso me assusta.

Me ajude.

ASS. Andressa Lemos


– O que isso significa?


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam?
Comente e me faça feliz.
Obrigada e até o próximo capítulo!



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