Ela simplesmente desapareceu.

Aquele foi o seu fim, cruel e frio. Não havia luz, não havia sanidade, não havia mais Sayaka Miki. Tudo sobre ela havia desaparecido quando sua alma se transformou naquele monstro, quando ela se tornou aquilo que se esforçava para destruir. E os seus sentimentos se tornaram poeira. Apenas poeira no vento. Que logo se esvaía e era esquecida, e não tinha importância. Era quase como se nunca tivesse existido. Mesmo que morresse cem vezes, sempre seria igual. Sempre haveria alguém para substituí-la, sempre haveria algo para preencher o buraco que deixava no coração daqueles que se importavam. Era o destino, não podia lutar contra ele. Logo o tempo varreria então as memórias de que um dia ela fora importante para alguém e então ela seria só mais uma pessoa nessa escuridão sem fim, com essa dor igualmente sem fim, com esse coração saturado, fatiado, dolorido, sem ninguém para fechar as feridas.

Tudo o que poderia ter sido, tudo o que poderia ter tido, agora nada mais era do que sonhos desfazendo-se no mesmo ar que levava as lágrimas de seus olhos. Mas nem mesmo aquilo era real, era apenas uma casca, uma casca sendo destruída, transformando-se em poeira. E ela era um zumbi e então uma bruxa e então nada. Parecia tão simples para aqueles que não sabiam o que era isso. O que era desaparecer, o que era ser esquecida. Ela nada mais era que uma pequena pedra em um caminho tortuoso e cheio de rochas, mesmo que não tivesse tido aquele horrível fim ela logo seria chutada do caminho. Insignificante, era tudo o que era. Não havia como mudar aquele simples fato do qual estava plenamente ciente. Sabia lá no fundo que se tornaria algo turvo e distante quando permitisse que a escuridão consumisse seu coração, e desejava isso, mais do que tudo, naquele momento.

Não pensou em como as outras pessoas se sentiriam, era egoísta a esse ponto, se permitiu ser egoísta a esse ponto, porque tudo o que ela fizera pelos outros se transformava em desespero. E, ao fim, acabou por descobrir que mesmo o que ela fazia por ela mesmo acabava tendo aquele fim distorcido e cheio de desespero e dor e insanidade. Não havia como lutar contra o destino, nada poderia ser salvo, nada poderia mudar. Era impossível. E então os resquícios de que um dia existiu sumiam aos poucos, o tempo passando e a memória sendo apagada com lentidão quase que tortuosa da mente dos outros. Mas eles esqueceram, eles seguiram em frente, eles fizeram um novo caminho, eles continuaram a caminhar, apenas ela afundou no abismo dos seus sonhos destruídos. Sozinha, sem luz, sem voz, sem ar. Apenas dor.