Tempo Perdido escrita por brokenrose
A brisa certeira de outono farfalhava as folhas do lado de fora do dormitório feminino da prisão, digo, colégio interno. O barulho não me deixava dormir. Olhei a foto de meu pai, sorrindo e comigo no colo, acariciando meus cabelos na foto meio amarelada pelo tempo. Levantei e caminhei com ela pelo corredor.
Eu e minha mãe sempre discutamos, e sempre que o fazíamos, ela gritava:
– Você é igual ao seu pai!!! - E se fechava no quarto.
Desconfio que ela me odeie principalmente por causa disso.
Os dormitórios tinham 3 beliches e algumas estantes. Havia também um frigobar com água (patético). Tudo estava vazio, e o frio estremecia meu corpo até a espinha.
Caminhei até o final, quando vi uma pequena subdivisão, longe dos quartos. Parecia que ninguém vinha ali a séculos. Estava escuro, e tudo o que pude ver foi um relógio. Daqueles bem antigos, de pêndulo. Ele marcava 23h59.
Era mais cedo quando saí do quarto.
Então ele soou meia noite, e o barulho era alto. Tão alto que saí. Mas quando o fiz, não escutei mais nada. Estranho, os badalos não completaram os 12 sons...
Voltei, e corri para perto do relógio. Ao som do último badalo, toquei-o. Tudo ficou branco.
Vi meu pai, ainda novo. Ele discutia com alguém. Tentei gritar e impedir, mas ele não me ouvia. Então ele virou para mim...
... E levou um tiro no meio do peito.
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