Ai que ódio! Mas vou aceitar, eu mexi com a rainha da vingança, não vou contrariar aquele ser, e devo confessar que ela pegou leve comigo, por pena talvez. Contudo, ficar andando no supermercado de vestidinho florido não é muito legal e receber comentários ridículos dos meus familiares também é vergonhoso. A sorte é que estamos no caixa e essa tortura já está terminando.

Quanto fica? Pergunta meu pai para o caixa, que fica me encarando a cada segundo ­ Olá? Está me ouvindo?

Ah! Desculpa senhor. Fica R$ 76,40. Fala o carinha e volta a me encarar. Isso está ficando chato.

Toma. Fique com o troco. Responde meu pai entregando o dinheiro e me puxando para fora do supermercado Só me faltava minha filhinha ser assediada por esses marmanjos em minha presença.

Entramos no carro e esperamos minha mãe e Arthur para podermos voltar à casa do lago.

[...]

Quando enfim chegamos a casa, meu pai e Arthur foram para a cozinha, minha mãe foi fazer uma ligação e eu fui para a sala, único lugar com televisão naquela casa. Chegando lá encontro Emily e o Beto conversando, pelo jeito eles já fizeram as pazes, mas com ele não tem vingança, né? E eu que conheço a louca desde bebê tenho que aturar roupas frufrus até ela se sentir satisfeita. Isso não tem a menor graça.

Oi querida! Cumprimenta a morena sorrindo Você está divina com esse vestido, não concorda Beto? O idiota sorri para mim e balança a cabeça afirmando.

Muito melhor que aquelas roupas de nerd horríveis. Respiro fundo, se há uma coisa que não suporto além de elogios de beleza é que falem mal das minhas roupas, principalmente se for o Beto, mas eu tenho que aguentar isso na frente da Emily, depois esse imbecil vai ver.

Olá Emily! Obrigada pelo elogio, sinto-me tão feliz que mal posso me conter. Digo teatralmente, ela apenas ri Sabe devo dizer que é ótimo andar na rua com vários olhares desconhecidos sobre mim. É realmente maravilhoso.

Que bom, adorei essa sua interpretação, talvez no fim do dia eu lhe devolva uma das suas camisas. Eu apenas encaro os olhinhos verdes da minha queridíssima amiga.

Ah! Se ela soubesse o quando eu quero arrancar a sua cabeça e fazer de bola de basquete.....

A campainha interrompe meus pensamentos. Posso ouvir minha mãe abrindo a porta e conversando com os recém-chegados. Mais pessoas para verem minha desgraça. Que legal!

Oi pessoal! Diz minha mãe ao entrar na sala com as visitas.

Analiso as quatro pessoas, uma por uma. Um homem ruivo e branco como uma vela, alto e com uma idade próxima a do meu pai, uma menina de aproximadamente 9 anos, ruiva como o homem e uma mulher com cabelos negros, mostrando alguns fios brancos, e uma pele morena. Devo admitir que ela seja linda. Há também um garoto, cabelos bem negros e olhos castanho-esverdeados. Não tenho certeza, mas conheço esse carinha de algum lugar, não me lembro de onde.

Esses são Emily e, o amigo dela, Beto. Vão ficar conosco neste feriado. Apresenta minha mãe Essa é minha filha, Anne. Cumprimento-os com um aperto de mão e percebo que o garoto me observa com um misto de alegria e compreensão Pessoal, esses são Yan, sua esposa, Melody, e os filhos Tom e Júlia. O senhor Jerry vai ser o novo sócio do Túlio.

Opa! Esse sobrenome eu já ouvi em algum lugar. Como é mesmo o nome do garoto? Tom?

Olho para o Tom que ainda me encara sorrindo e logo me lembro dele. Ele é o garoto que me deu o pomo de ouro na convenção do Harry Potter, claro. Santo Gandalf! Tantas pessoas para conhecer e tinha que ser a família Jerry. Olho para a Emi e sei que ela também se lembra dele porque fez uma dos famosos sorrisos maléficos. A vingança ainda não terminou.

Acompanho minha mãe e os outros até a varanda que fica logo acima das águas do lago, mas fico um pouco para trás tentando calcular uma rota de fuga. Fico tão distraída que nem percebo uma aproximação.

Oi Luna! Você está bonita. Diz o ser Que coincidência meu pai vir trabalhar com o seu não?

Oi Tom! É mesmo uma tremenda coincidência. E obrigada. Digo sem olhar para ele.

Então! Sem querer ser chato, sua amiga pegou meu número, pensei que você ia me ligar.

Sinceramente, eu nunca quis seu número e muito menos quis ligar para você. A Emily pegou porque gosta de me infernizar, ela me fez por esse vestido ridículo até quando bem quiser. Murmuro, normalmente, e viro de frente para ele Desculpa, mas eu não costumo conhecer pessoas e depois querer que elas sejam minhas amigas.

Ai! Essa doeu. Diz fazendo uma careta e depois sorrindo Sabe, eu prefiro pessoas como você. Odeio gente oferecida ou que fica com um sorriso no rosto a todo o momento. É irritante. E sobre suas roupas, são realmente muito fofinhas. Parecem as roupas da minha irmã.

Ei! Não fala isso. Sussurro Ta me deixando mais desesperada para ter minhas roupas de volta.

O que ela fez com suas roupas? Fala rindo.

Escondeu... E só vai me devolver se eu me comportar.

Nossa, meus pêsames. Desejo boa sorte para você, sei que isso vai ser difícil. Começo a rir e ele me acompanha. Acho que não será tão ruim ter mais um colega.

Você está hospedado aqui perto?

Estou no sítio dos meus pais. Fica bem perto daqui.

Conversei com o Tom por um bom tempo até ouvir meu pai chamando para o almoço. E que refeição saborosa...

[...]

Depois do delicioso almoço, Tom e companhia foram embora. Conversei com a irmã do Tom, Júlia, e adorei ela, uma menina muito simpática. Mas nesse momento não há motivo para alegria, pois estou sendo levada a força para o quintal pelo meu irmão e ele não tem pena de mim, aperta meu pulso com toda força, tentei fazer ele me soltar, porém não deu certo. A uns 50 metros da casa ele me solta e me fita apreensivo.

Idiota você deixou meu pulso machucado. Digo furiosa.

Ai meu Deus! Desculpa maninha, eu estou nervoso. Fala fazendo carinho no meu pulso Desculpa mesmo.

Ta, mas por que me trouxe aqui? E por que está nervoso?

Bom, não posso mais disfarçar, preciso falar sobre o que você leu no meu diário. Olha, sei que é difícil para você e talvez você não entenda. Eu não sei como começou, apenas aconteceu e não tinha mais volta. Tentei consertar, fingir que nada aconteceu, mas o sentimento tomou conta de mim. Arthur realmente está nervoso, passa a mão no cabelo a cada 3 segundos Sei que sempre te contei as coisas, nunca escondi nada de você, mas Anne, entenda que isso não é fácil de dizer, eu tinha medo de magoar minha irmãzinha. Por favor, me perdoe por não ter te contado.

Nossa, nunca pensei que meu irmão ia ficar triste com isso, seus olhos estão cheios de lágrimas. É claro que eu tenho que perdoá-lo, afinal não foi por querer.

Arthur, não se preocupe. Digo limpando uma gota de lágrima do rosto dele Você é meu irmão e eu deveria ter adivinhado isso. Claro que eu te perdoo.

Jura maninha? Ele diz me abraçando Muito obrigado, então tudo bem estar apaixonado pela Emily?

O QUE?!

Como assim você está apaixonado pela Emily? Digo empurrando o moreno Eu não acredito nisso Arthur! Como você pôde? Ela é minha melhor amiga. Trate de consertar isso agora. Murmuro com raiva.

Mas eu pensei que você sabia. Fala me encarando O que você leu no meu diário?

Li a parte que você confessou ter matado meu hamster, o senhor Fuligem, quando eu tinha 10 anos. Digo com os braços cruzados Ai! Eu não acredito que você está gostando da Emi, Arthur. Que saco!

Calma ta legal? Não se pode simplesmente deixar de gostar de alguém, Anne. Só aconteceu...

Bufo, chateada, com os braços ainda cruzados. Vai demorar um tempo até eu me acostumar com essa história... E se me acostumar.