Virgem de Mãos Ensanguentadas escrita por IndustrialFlake


Capítulo 1
A Segurança da Negação




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Por uma questão de hereditariedade, nasci membro da Realeza. Minha vida estava feita, de fato, mas como se isso não bastasse, fui agraciado com uma beleza exótica, quase feminina; cabelos longos, cacheados e avermelhados, olhos escuros e amendoados, os traços faciais finos e delicados, assim como meus lábios virgens. Achei que iria passar com a maturidade, mas a feminilidade permaneceu e quase nenhum pelo cresceu por meu corpo. E, ironicamente, o desejo sexual foi algo que nunca existiu em mim, por alguma razão orgânica, eu supus. Quando meu prazer explodia, era por uma necessidade tal como é a de comer ou respirar; E logo após esse ato, o nojo e a dor tomavam conta do meu ser. Eu também quase não possuía desejo amoroso, o qual sempre estava coberto por uma tristeza infinita, que eu também acreditei ser um fato orgânico. Mesmo assim, eu admirava o fenótipo masculino, o qual eu nunca teria. Eu costumava observar da janela do meu quarto enquanto os marinheiros atracavam com seus navios no porto, o qual era bem próximo do castelo. E assim que aquela massa de músculos e virilidade começava a fazer um efeito como o do quente do vinho em meu coração bem sedado, eu me afastava e era consumido pela tristeza de novo. Eu sabia que meu destino trágico se aproximava a cada dia; o de que eu me casaria e seria obrigado a dar continuidade à Família Real.

Eu achava irônico que, como príncipe, eu podia ter tudo o que quisesse e na hora que quisesse, e, no entanto não tinha a opção de não me tornar rei e passar meus genes a diante. Esse dia chegou, e eu pude sentir meus últimos momentos se aproximando. Fizeram um acordo com outro reino e me arrumaram uma esposa. A moça não era desagradável, mas eu não queria uma mulher, ou um homem, ou uma criança que fosse gerada por mim. Eu não desejava ser tocado de maneira alguma. Eu era dedicado à minha solidão e assim eu morreria.

Então, foi isso o que fiz na noite de núpcias; o ato não foi calculado, foi apenas um fruto do impulso humano. Aquela mulher, a esposa, se deitou na cama à minha espera enquanto eu chorava em algum canto escondido. Eu voltei para a cama então e ela estava lá, me observando com curiosidade. Eu não queria saber o que sentia por ser esposa de alguém tão feminino como ela. Então, eu me sentei na cama, totalmente despido assim como ela, e a mulher correu uma mão pelas minhas costas esguias. Eu, no exato momento, estapeei sua mão para longe de mim, meu coração batendo com força dentro de meu peito. Eu mandei que não me tocasse mais do que o necessário e ela afundou no colchão, emburrada.Eunuco desgraçado, foi do que ela me chamou e eu senti a raiva subir quente dentro do meu sangue.Eu jamais seria tocado por uma mulher, concluí. Agarrei um travesseiro da cama e o pressionei contra o rosto da moça. Ela lutou desesperadamente, mas eu fui mais forte e logo ela voltou a ficar quieta. Eu senti alívio inundando o meu ser como o sol refrescante da manhã e sorri. Agora eu só teria de inventar uma desculpa esfarrapada para a morte da menina e depois fugiria para alguma floresta ao longe, onde eu nunca seria encontrado e não encontraria ninguém.


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Notas finais do capítulo

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