Meu coração desesperado corre pela madrugada em busca de seu socorro. A batida ritmada de meus passos embala minha mente atormentada e as lagrimas escorrem descontroladas pelas minhas bochechas. Uma dor indescritível que me afugenta e apunhala. E o arrependimento pelos meus atos de instantes atrás me fez fugir das garras da decepção que arrancará meus últimos suspiros.

O amor que sinto pelo meu irmão desde a infância, esse amor que surgiu da gana de protegê-lo, meu sujo e corrompido amor que reprimo pelo bem de meu amado. Todos os dias ao olha-lo dormindo em sua cama, sem os óculos a esconder seus brilhantes olhos que encontram-se serenamente adormecidos , ou andando com seus passos delicados, ou ensinando com sua voz melodiosa ou mesmo lutando com seu corpo ágil e movimentos velozes. Nesses simples e diários momentos meus olhos persistem em encara-lo e observar cada ponto de sua pessoa e meu coração insiste em latejar ao lembrar que não posso toca-lo, nem passar meus dedos em seus sedosos cabelo, nem sentir seus lábios rosados contra os meus.

Eu preciso de seu amor, preciso dessas chamas gentis que aquecem meus dias, preciso desses olhos penetrantes olhando somente para mim, desejando somente a mim e chorando somente por mim. Necessito sentir o calor de sua pele aveludada contra a minha, quero me afundar nesses braços delicados e faze-los de refugio contra minha dor.

Meu coração clama por sujar-te com o meu pecado e banhar-me com as aguas cristalinas de sua alma. Desejo fazer-te meu, somente meu e trancar-te em meu mundo e faze-lo gemer pelo meu nome.

Estou alucinado pelo seu cheiro, pelo seu doce sorriso, pelo seu corpo sedutor, eu já sabia que não conseguiria suportar mais tempo ao seu lado sem toca-lo. Esforcei-me pelo seu bem, não quero que se vá, quero poder continuar ver você sorrindo belamente como sempre fez, quero ouvi-lo me repreender como de costume. Jurei que não deixaria meus vergonhosos sentimentos me deixarem levar. Mas não fui capaz.

Não conseguirei suportar sem você lá, ao meu lado. Será difícil me conformar que, não importa quantas vezes chame seu nome, você, meu irmão, não virá me acalmar.

Não existem lágrimas o suficiente para descrever o que eu sinto. Como se em um toque fosse me despedaçar. Arrependo-me pelos meus atos, seu rosto naquele momento me faz querer correr e pedir perdão, ajoelhado aos seus pés e acorrentado ao seu coração, mas tenho medo de encara-lo e ver seus olhos reprovadores em direção a mim, talvez o que eu fiz não tenha perdão. Meu irmão quero que me perdoe, meu irmão, meu gêmeo, meu sangue, meu amado, meu amante, quero seu perdão ou meu coração se despedaçara.

Ao me deparar com o corpo nu de meu irmão no banheiro, com as gotas peroladas da agua escorrendo pelo seu corpo, os olhos cerrados e o escuro cabelo escorrido grudado em sua testa. Meu coração, depois de tantos anos sem ve-lo banhar-se, falhou por um momento. Todo o desejo por mim aprisionada explodiu em uma onda frenética de cobiça. O seu cheiro penetrando em minhas narinas me fez arfar em deleite e naquele sufoco diante da perdição de seu corpo em minha frente, fui incapaz de controlar minha volúpia.

Eu o ataquei e difamei, jorrei nele toda a perdição de meus caprichos, seus olhos vermelhos que escorriam lagrimas sem controle e gemia e gritava e clamava pela minha piedade. Libertei tudo e lhe contei minhas dores, expus meu coração a pessoa que corrompi. E meu amado, meu pecado, meu irmão foi afogado em meu gozo profano.

E agora estou aqui embaixo desse céu que desaba em rajadas turbulentas, embaixo dessa chuva cai indiferente, dessa agua que escorre e que anseio que leve consigo toda minha dor .

Yukio POV’S ON

Cade você meu irmão, cade voce meu amado, que procuro desesperado nessa noite escura e embaixo desses relâmpagos raivosos. Meu lindo e doce demônio que depois de tocar seus lábios aos meus e sentir o fulgor de meu corpo saiu correndo indignado, me deixando abandonado e desamparado naquele banheiro frio.

Sai correndo a sua procura na pequena cidade, e o encontro a dois quarteirões de distancia, sentado em um banco de praça e permitindo a chuva cair em seu rosto. Os cabelos negros emaranhados grudavam na testa clara, os olhos mortos voltados a um horizonte imaginário e seu rosto desfigurado em dores, com lagrimas que rolavam fazendo seus olhos azuis oscilarem em agonia.

Corri em direção de meu demônio que se levantou em um salto, o abracei e disse incontáveis vezes o quanto o amava, em resposta de suas clemencias de instantes atrás. Sua mãos já não tinham a mesma exasperação, estavam inacreditavelmente ternas. Circundou meu corpo com seus braços e senti as batidas aflitas de seu coração.

Só ouvia seus soluços e seus perdões, e finalmente para acabar com dolorosas lembranças que temos de nossos corações que não podiam ser livres, toquei seus lábios com os meus com a doçura em proporção do nosso amor, e assim acabaria com todos as nossas duvidas e restringimentos.

Para você, meu demônio, concedi meu corpo e minha alma, para você, meu irmão, que domina meus sentimentos, darei todo o meu ser. Acabarei com seu tormento, então permaneça ao meu lado.