O Pacto do Sigilo escrita por Murilo Wendler


Capítulo 3
Dolorosa Decisão




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“[...] Daqui a uma semana fará um ano desde que tudo aconteceu e muita coisa mudou de lá pra cá. Eu mudei e não há como negar. Mudei com todos, até com a Alexandra, me afastei um pouco dela. Perdi a amizade do Thiago, ele agora nem fala mais comigo”

Murilo fechou seu diário. Realmente tudo havia mudado desde a morte de Luisa. Os pais dela se separaram após o pai dela tentar matar a mãe, culpando-a pelo sumiço da filha. Todos pensavam que Luisa tinha fugido por causa dos problemas familiares, mas apenas cinco adolescentes sabiam da verdade e isso atormentava todas as noites Murilo.

– E os pesadelos, Murilo? – Perguntou o Doutor Crove, em mais uma consulta.

– Diminuíram um pouco, mas continuam a me assombrar toda a noite, aquele mesmo homem com capuz e uma foice. – Murilo sentiu um arrepio ao lembrar.

– Já receitei diversos remédios para seus pais, mas ainda continuo achando que é algum trauma. Fiquei sabendo das suas últimas brigas com Alexandra, quer comentar sobre isso? – Renato Crove, o melhor psiquiatra da cidade. Era um homem de olhos grandes e cinzentos, cabelo castanho bem ajeitado. Havia se formado em uma das melhores universidades do ramo e voltou para sua cidade natal após ter terminado seu romance com uma mexicana, em uma de suas visitas ao México.

– Não sei o que está havendo conosco. Ando estudando muito para o Vestibular, e aí acabo ficando nervoso e desconto nela.

– Entendo. – Disse Doutor Crove anotando algo em sua prancheta. – E ela te entende? Digo, em relação aos estudos?

– Alexandra também estuda, mas não como eu, já que ela começou a trabalhar na biblioteca para ajudar nas despesas. Ela é incrível, mas não me merece. Não sabe pelo o que estou passando, pelos pesadelos que estou tendo ainda, ela acha que não tenho mais.

– Talvez você precise contar a ela, um namoro é construído pela confiança, Murilo. Se vocês se sentarem e conversarem sobre tudo, quem sabe assim melhora um pouco as coisas. – Doutor Crove olhou o relógio. – Veja, já deu seu horário. Nos vemos semana que vem então? – Murilo assentiu e apertou a mão do doutor.

Murilo saiu do escritório e foi para a biblioteca. Alexandra agora trabalhava junto com Charlie e sua esposa, Joana, desde o começo das férias de Julho.

– Ei, Charlie, tudo de boa?

– Ah, olá Murilo. Alexandra está lá atrás com Joana. – Charlie disse sem tirar os olhos do livro.

– Ok. – Murilo encontrou Joana e Alexandra colocando alguns livros em umas prateleiras.

– Mu, como foi a consulta? – Disse Alexandra dando um beijo no namorado.

– Naquelas, como sempre. Oi, Dona Joana.

– Sem o “Dona”, Murilo, por favor. – Joana, diferente de seu marido, não era mal humorada, era uma mulher com cinqüenta anos, muito intelectual.

– Desculpe. – Disse Murilo sorrindo. – Bom, vou voltar para casa, estudar mais um pouco. – Alexandra torceu o nariz para o namorado.

– A Ya me mandou uma mensagem, disse que me ligava à noite. – Alexandra deu outro beijo no namorado e bagunçou seu cabelo, ele achou ruim com ela. Murilo se despediu de Joana e Charlie, e voltou para a casa.

Murilo era filho único e em sua casa havia 3 quartos, ele ficou com o maior, depois de seus pais, o menor ficou para visitas. A parede do seu quarto era azul, a janela estava com o vidro coberto pelas persianas, a cama de solteiro estava arrumada com seu notebook em cima.

A primeira coisa que fez foi abrir seu armário e pegar seu caderno de estudos para refazer todos os exercícios que aprendera no dia. Ele detestava, era muito cansativo e ocupava muito do seu tempo. Mas se ele queria sair daquela cidade e esquecer de tudo, então tinha que se esforçar.

Teve uma tempestade naquela tarde e a energia da cidade acabou. Sem poder estudar, devido a falta de luz, Murilo foi tomar banho na água fria e mesmo na escuridão conseguiu captar um certo movimento rápido na sua frente e sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem, mas continuou avançando para o banheiro.

O jantar foi à luz de velas, seu pai era engraçado e sua mãe uma reclamona. Murilo não era de ajudar em casa, só lavava a louça do almoço e arrumava seu quarto, achava que isso era o suficiente. Na hora de dormir, o sono não chegava, pois era muito cedo, então deitou na cama e milhares de pensamentos e lembranças invadiram sua mente, até mesmo aquela de um ano atrás, da festa, da morte, do pacto. Acabou pegando no sono e teve pesadelo, ele se revirava muito, choramingava como se estivesse sentindo dor.

No outro dia, Murilo acordou com um arranhão no braço e um hematoma nas costas que doía. Murilo sabia que terapia não iria ajudar, sabia que tudo o que estava acontecendo com ele era culpa de Thiago e seu pacto, então tomou coragem e ligou para ele. A energia ainda não tinha voltado e era feriado na cidade.

– O quê? – Atendeu Thiago,que já sabia que era Murilo por causa do identificador do celular.

– Acho que precisamos conversar.

– Nós já conversamos tudo, depois do que você fez comigo.

– Depois do que eu fiz? Você que nos encrencou e só fomos para a delegacia. Mas não é sobre isso que quero falar.

– É, apenas fomos para a delegacia, mas você não me ajudou, belo amigo que você é.

– Thiago, por favor. – Murilo tirou o celular do ouvido por uns segundos e colocou de volta. – Todas as noites estou tendo pesadelo, por causa do seu pacto imbecil.

– Isso só acontece com as pessoas fracas que não agüentam a pressão do pacto. Mas sabe, Murilo, talvez seja bom, porque quem sabe assim o Ceifador não vem te pegar logo. – Thiago desligou.

– Ceifador? Mas...

Murilo ligou para Thais:

– Oi, Thais. O que você sabe sobre Ceifadores?

– Olá Murilo, tudo bem com você? Estou bem, muito obrigada por perguntar viu. – Disse Thais ironicamente. – Bom, não sei muita coisa, só sei que é um Anjo da Morte e que ele aparece para a pessoa minutos antes dela morrer.

– Eles podem ser comandados, digo, por um pacto?

– De novo essa história do pacto? Não se pode dominar um Ceifador através de um pacto, porque esses lances não existem, Murilo.

– Mas você estava lá, você também sentiu aquela sensação estranha, aquela voz...

– Murilo, eu estava bêbada, não me lembro de praticamente nada daquela noite, só do acidente. – Thais deu uma pausa. – Bom, Murilo, só isso?

– Só. Obrigado. – Desligaram o celular.

Murilo ainda não estava satisfeito e saiu na rua, pegou o notebook e com a Internet Móvel procurou sobre Pactos e Ceifadores.

Encontrou diversas fontes, uma explicava que pactos só poderiam ser feitos em encruzilhadas com alguns objetos e que um demônio viria para selar. Outra fonte dizia que Ceifadores eram “empregados” d’A Morte, eles podiam parar o tempo, os relógios próximos do local ficavam congelados no momento exato da morte da vítima. Eles podiam ser invocados com um altar e controlados com magia negra pesada.

Murilo foi a mais a fundo em sua pesquisa.

No outro dia na escola, Murilo contou sobre sua pesquisa para Alexandra.

– Estou preocupada com você. – Disse a garota

– Mas você não está vendo? Tá tudo ligado a morte... – Murilo diminuiu o volume da voz – ... a morte de Luisa, o sangue que usamos, isso não foi um pacto, isso foi uma conjura de Ceifador, A Morte. Coisa pesada.

– Ai Mu...– Alexandra colocou a mão no rosto do namorado.

Murilo retirou a mão dela do rosto.

– Pensei que as consultas com o Doutor estavam te ajudando a superar isso. Talvez...talvez você precise ir em outro especialista.

– Você não acredita em mim, acha que estou louco. Não vou te provar mais nada, acho melhor a gente terminar. – Alexandra parou e nem piscou, não acreditava no que estava escutando.

– Murilo, o que você está dizendo? – Alexandra estava chorando.

– Desculpa, mas um relacionamento que não tem confiança não dá certo.

Murilo tinha falado de confiança, mas ele sabia que não havia confiado antes em sua namorada. Mas ele achou melhor terminar, assim poderia ficar livre de um grande peso de segredos que escondia de Alexandra.

Alexandra não sabia o que fazer, chorava e soluçava, Murilo queria tocá-la, mas se segurou e virou as costas, lágrimas rolavam pelo seu rosto.

“Acredite Alex, isso dói mais em mim. Me perdoa”.

Alexandra saiu correndo em direção ao banheiro com as mãos no rosto, chegando, lá estava uma menina, era Thais, estava totalmente diferente, não tinha mais o estilo nerd, não usava mais óculos e sim lentes de contato, seus cabelos estavam soltos e com luzes. Ela estava se arrumando no espelho e viu sua antiga amiga entrar chorando.

– Alexandra? O que foi?

– Murilo...terminamos. – E caiu no choro.

– Mas como foi isso? – Perguntou Thais sentando no chão ao lado de Alexandra.

– Ele disse que eu não confiava nele. Tipo, por causa daquele pacto que fizemos ano passado ele fica imaginando coisas estranhas.

– Murilo ligou pra mim ontem perguntando sobre Ceifadores. Ele nunca foi normal, sempre estranho, mas aí ele terminar só por causa disso... – Disse Thais pegando papel e entregando à Alexandra.

– Não fale assim dele – Alexandra que já estava parando, voltou a chorar mais ainda.

Thais virou os olhos e foi pegar mais papel. O rosto de Alexandra estava todo borrado.

– Vai, Alexandra, levanta daí e pare de chorar. Você é bonita e forte demais para ficar se lamentando por causa de um homem, principalmente do esquisitão do Murilo. Limpe seu rosto e vamos voltar para a sala. – Thais a ajudou a levantar, e após tirar as manchas de maquiagem do rosto, ela mesma maquiou a Alexandra que estava com os olhos vermelhos. – Pronto, você está linda. – Alexandra agradeceu e juntas voltaram para a sala.


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Notas finais do capítulo

Um pequeno e simples capítulo.
No próximo as coisas começarão a ficar interessantes.



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