A Bet escrita por Nick Montanari


Capítulo 2
Objeto de Troca


Notas iniciais do capítulo

Hey gente,
desculpem-me pela demora....
Boa leitura!!



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Um suspiro escapa pelos lábios da morena, quase que involuntariamente. Seus olhos ébanos mantém um fervor especial, enquanto observam as brilhantes estrelas no céu claro.

Um vento frio esvoaça suas madeixas chocolates, e a faz se apertar no cobertor surrado que envolve seu corpo.

Mesmo com os membros arrepiados, prefere não entrar em casa ainda. Afinal, a noite está magnífica e isso é raro em Londres. Principalmente agora, perto da época festiva de fim de ano, onde a neve está sempre presente.

Um barulho de vidro se quebrando estala em seus ouvidos, e pelo canto dos olhos Bella vê a luz da varanda dos vizinhos acender.

Vozes alteradas, fazem-na se remexer sob a grama.

Estão brigando de novo.

Conclui, seus dentes prendem seu lábio inferior por segundos.

Emilie young e San Uley são recém casados, e é raro o dia em que não discutem.

–Esteve com ela de novo.- o grito raivoso de Emilie a sobressalta, e seu coração dispara pelo susto.

Não quer ouvir de novo a discussão do casal. Era sempre o mesmo motivo.

–Você é paranoica, Emilie. Leah e eu não temo nada.- As orbes negras de Bella dão um giro de 360º graus. É óbvio que San trai sua esposa.

Antes de Bella se por em pé, o casal atravessa a porta. Ambos exaltados.

–Eu não aguento mais.- os soluços que cortam a voz da moça, é de dar pena.

–Ótimo pois eu também não aguento mais.- com a vontade de ser invisível, a Swan esconde a face no pano felpudo.

–Não precisa mais voltar, San. Pode ficar com aquele vadia.- o nome pesado ressoa nos tímpanos de Bella, que se encolhe ainda mais.

–Eu não voltarei.- garante com a voz firme.

A porta do carro é aberta e momentaneamente fechada com uma força desnecessária. Os pneus cantam com um som terrível, quando o veículo é acelerado.

A calmaria da noite é perturbada pelas prantinas desesperadas da moça. Não gosta de ver os outros chorando, nem sofrendo.

Com um impulso Bella se põe de pé, e atrai os olhar choroso de Emilie. Um rubor cobre o rosto de traços indígenas. As duas abaixam a cabeça constrangidas. O ar adentra profundamente no pulmão da Swan, que começa a caminhar em direção a porta de sua casa.

Com a mão tremula ela roda a maçaneta fria, e empurra a porta que range em tom baixo. Pressiona seu dedo sob o interruptor de luz, que clareia instantaneamente a sala pequena.

O sofá de cor verde claro parece convidativo de mais, para seu corpo cansado. Sem recusa caminha até ele, e ajeita seu corpo sob as almofadas tenras.

Alinha o cobertor sob ela, e estica o braço segurando o controle preto da TV.

–Nada que preste, passando..- sussurra baixinho, seu dedo aperta continuamente o botão, não deixando em canal nenhum.

Um filme de época chama sua atenção, e a faz parar por um momento. Se acomoda no sofá, sentindo seu corpo quente.

Um relaxamento percorre suas veias. A medida que o filme vai passando, os olhos negros de Bella vão se fechando.

A última cena que lembra, é do beijo da mocinha e do mocinho.

[...]

Um estrondo na porta faz Bella se sentar no sofá sobressaltada. Seu coração está disparado e o corpo todo trêmulo.

–Oque eu vou fazer Harry? Ele vem buscá-la em algumas horas.- a voz fraca de Charlie a tranquiliza um pouco.

Sua cabeça encosta no estofado do sofá, enquanto tenta acalmar o coração.

–Não. Era Bella ou minha casa. O que queria que eu fizesse?- a curiosidade a penetra quando ouve seu nome. Eu ou a casa? Pensa confusa.

Com um pouco de esforço consegue olhar por cima do encosto. A claridade deixa seus olhos sensíveis e a imagem de seu pai não passa de um borrão. Permanece em silêncio, a espera ansiosa de ouvir o resto da conversa.

–Eu sei, eu sei.- seu pai divaga.

Mesmo não vendo seu rosto, pode jurar que ele está cansado. Move seus olhos para o relógio na parede. Força a vista ao observar os ponteiros. Seria umas 07h00min 07h30min mais ou menos.

–Mais não vai ser de todo ruim. Edward Cullen não é uma má pessoa.- ele suspira e se volta pra sala com passos lentos.

Bella gira seu corpo embolado no cobertor, e finge estar alheia a presença de Charlie ali. Assim que o olhar do pai se direciona a ela, o corpo do velho Swan se tenciona. Ela cerra a as pálpebras e fita atentamente a feição dele.

–Nos falamos depois Harry.- anuncia. A mão levemente enrugada alisa o bigode grisalho.

–Não dormiu em casa?- a pergunta sai de seus lábios automaticamente.

–Não.- responde envergonhado. Ela expira chateada.

–Esteve apostando de novo, não é papai?-

–Não filha.. Eu..- o velho começa a responder, mais a mentira faz seu tom sair exitante.

–Não minta pra mim papai.- tenta controlar sua voz. Já não aguenta mais o maldito vício de Charlie pelo jogo. -Você tinha prometido.- se levanta do sofá.

–Eu sei, mais.... Mais..- como não encontra resposta plausível para a filha, Charlie volta ao silêncio. A decepção domina Isabella, que sem dizer mais nada lhe dá as costas. A cada dia o pai se afundava mais e mais nas apostas.

Já perdeu o emprego, e todo o dinheiro que tinham. As vezes um temor a domina, só ao imaginar o que ele aposta naquele cassino imundo.

Pra ela todos aquele homens são uns perdidos. Um bando de homens ricos que não tem vida própria, e gastam seu tempo e dinheiro com aquela perdição. E o pior de tudo é que seu pai acha que tem capital pra se enturmar com eles.

Os dez degraus da escada nunca pareceram tão cansativos.

A noite no sofá não lhe fez bem. Seus músculos parecem estar todos enrolados. E a dor no pescoço... É difícil até de mexer. Com passos arrastados Isabella atravessa seu pequeno quarto.

Coloca a coberta sob a cama, que forma um embolo engraçado. Suas mãos seguram a toalha rosa clara esticada na cabeceira da cama, e com um leve puxão a toma pra si.

Um bocejo sai de sua boca, quando adentra no minúsculo banheiro. O cômodo frio eriça todos os pelos de seu corpo, quando começa a se despir.

A água quente cai do chuveiro e escorre por seu corpo. Seus olhos se fecham e por segundos ela aproveita a sensação relaxante do banho quente. Uma leve tremida no cano, a faz encarar a ducha.

–Ah!- ofega surpresa quando a água quente é substituída por uma gélida. -Mais o que..- rapidamente enrola a toalha em volta de seu corpo que treme de frio. -Pai!- ela sai do banheiro sem esconder sua irritação. -Pai!- grita novamente, e para no topo da escada.

O velho aparece no pé da umbral, com cara de paisagem. Bella trinca os dentes, e respira fundo.

–A água do chuveiro está gelada.- informa pausadamente. -O senhor pagou a conta de luz, não pagou papai?- ele engole em seco e abaixa a cabeça. -Papai..?- volta a perguntar.

A cada minuto sua raiva aumenta.

–Eu, bem...- soluça na palavra, ainda sem encarar a filha. Sabe que ela está uma fera, e Isabella zangada não é nada bom. -Eu esqueci.- diz por fim.

–Pare de mentir, Charlie.- esbraveja. -Você o usou no jogo não foi?-

–Foi.- confirma em tom baixo. -Eu não acredito.- a morena leva a mão até seu cabelo molhado, e sente a angústia dominá-la.

Economizou o quanto pode nas despesas pra poder pagar a luz. Fez faxina a semana inteira pra poder pagar a bendita conta de luz, pra no fim o irresponsável do pai perde-lo em um jogo tosco.

–Como vamos pagar a luz agora pai?- o tom afligido na voz de Bella era quase tangível. -Não temos mais dinheiro. Não tenho onde fazer limpeza essa semana e o senhor nem trabalha...- seus dedos magros e trêmulos cobrem seus olhos fechados, que já começam a lacrimejar.

–Eu darei um jeito filha, eu prometo.- ainda com os dedos presos na toalha, Bella lança um olhar furioso pra Charlie.

–Você vai dar um jeito? Como?-

–Eu... Não sei... Ainda. Mais fique tranquila que...- o modo calmo e desleixado que Charlie murmura, a faz enxergar vermelho de raiva.

–Eu não sei mais o que fazer com você Charlie. Primeiro seu emprego, o carro, a poupança da mamãe, agora o meu salário que era pra pagar as contas de casa!- sua voz sobe uma oitava, e o semblante em seu rosto se torna abatido. -O que vai apostar da próxima vez Charlie? Nossa casa?-

Um calafrio percorre a espinha dele, quando as palavras da filha ecoam em seus ouvidos.

Mal sabe ela que isso ele já fez.

–Bella, vá se trocar, eu preciso conversar com você.- pede com cautela.

–Conversar sobre o que?- o brilho nos olhos do Swan são incógnitos. Um mal pressentimento aperta o coração da jovem moça. -O que você fez Charlie?-

–Apenas vá se trocar, estarei te esperando aqui na sala.- sem pronunciar mais nada, o pai sai de seu campo de visão.

[...]

A limousine branca escoltada por quatro carros pretos anda pelas ruas do problemático bairro Tottenham. Encostado no banco de couro branco, a cabeça de Edward dá mil voltas.

Sabe que o que está prestes a fazer é a maior loucura, mais é o certo não é?

A mãe e o pai sempre lhe dizem que é preciso ajudar as pessoas.

Fazer o bem, sempre. Especialmente nessa época do ano onde o natal está cada vez mais próximo.

A sensação de seu coração estar se revirando dentro de seu peito o atormenta.

Há dias sente essa coisa estranha, junto de umas palpitações incomodas. Estica seu braço coberto pelo terno preto e pega a garrafinha de água gasosa no frigobar, ao seu lado.

A bebida gelada, o acalma quase que instantaneamente. Pelo vidro fumê, observa com seus olhos azuis as casas simples da rua humilde. Já esteve várias vezes em Londres, mais nunca esteve em um lugar tão pobre.

Taylor, seu fiel motorista, estaciona o automóvel luxuoso no meio fio. Por ser extenso o carro abrange 3 casas.

Ela é branca de madeira. O telhado cinza. Não tem como errar.

As palavras de Charlie lhe voltam a cabeça, quando se pega em dúvida de qual a casa certa. O frio doma seu corpo, assim que desce do automóvel.

–Qual a casa senhor?- Taylor lhe questiona. Edward respira fundo, e sente uma leve falta de ar.

–Ele me disse que ela era branca, de telhado cinza. Então acho que é da direita.- responde.

–Certo.- seu empregado afirma, e junto de três seguranças caminham ao enlaço do helênico. Com três batidas na portas, os homens esperam pacientes na varanda casa.

–Edward.- o velho Swan atende, com a voz surpresa. O loiro não se surpreende, afinal, chegou duas horas antes do combinado.

–Charlie.- rebate, em inglês. Sua voz em outro idioma fica mais rouca que o comum e levemente arrastada.-Desculpe por ter chegado antes do combinado mais, preciso voltar para Grécia ainda hoje.- se explica.

O Swan assente e libera a passagem de Edward e seus homens para dentro de sua casa.

–Tudo bem. Mais eu ainda não falei com ela.- o alerta exitante. Edward rola seus olhos. Não pode ficar esperando muito tempo. Seu pai precisa de sua ajuda na empresa. -Tem quinze minutos.- sibila impondo seu tom autoritário.

–Vocês poderiam esperar na cozinha?- Edward abaixa sua cabeça, e controla o riso. O medo que Charlie nutre por ele é quase palpável. -Onde é?- sem hesitações o grego caminhou até o cômodo apertado, junto de seus seguranças.

Com passos rápidos Bella desceu a escada, até a sala. Colocou uma roupa confortável, e calçou seus velhos all star. -Que susto pai!- Charlie parado em frente a escada, a pegou desprevenida.

Sua mão cobre seu peito, com as batidas frenéticas de seu coração.

–Me desculpe.- pede baixo. -Venha precisamos conversar.- sua mão grande e gélida, circula o pulso da garota que o fita metediça.

–O que houve?- pergunta. Suas mãos pegam a almofada branca e a ajeitam em seu colo, quando se senta no sofá.

Seu pai a sua frente, evita o olhar.

–Ontem eu fui pro cassino.- confessa de uma vez.

–Eu sei.- ela replica, sem, esconder a acusatória em sua voz.

–E eu apostei.- volta a dizer.

–Eu sei também.- seus olhos ébanos rolam veementes.

–Eu apostei nossa casa filha.- a boca da morena se escancara, e o olhar se torna turvo. Um tremor domina seu corpo, junto com calafrios incômodos. Ela fica muda por vários instantes. Sua voz simplesmente não sai.

–Você.. Você fez... O-oque?- gagueja ainda trêmula.

–Apostei nossa casa filha, e... Perdi.-

–Meu Deus!- exclama se pondo de pé. As mãos vão para o cabelo preso em um coque frouxo. O desespero domina cada célula do corpo de Bella. É impossível evitar as lágrimas.-Você não fez isso! Por favor me diz que é mentira.- pede chorando entre soluços.

–Eu fiz, mais... Não se preocupe, eu apostei de novo e recuperei a escritura.- ela solta um gemido aliviado. Ela cai sentada inerte no sofá. Suas pernas tremem mais que vara verde.

–Por Deus, quer me matar?- ela ri ainda nervosa.

–Bella eu ainda não terminei.-

–O que aconteceu, pai?- volta a a questionar aflita.

–Pra recuperar a casa eu tive de dar algo em troca.- fala simplesmente.

–O-o que você deu?- seu coração se aperta, e seus ouvido ficam temerosos com medo da resposta.

–Você.- a palavra gira várias vezes na mente de Bella, que permanece estática. -Eu troquei você Bella.-

Eu troquei você. Eu troquei você. Eu troquei você. Eu troquei você. Como um eco, a frase se repete milhares de vezes. Duas lágrimas caem dos olhos dela.

–Filha me desculpe, mais eu estava desesperado..- ele estica sua mão e tenta tocá-la no rosto.

–Não rela em mim.- grita, saindo do estado de estátua. -Eu não... Você, é um monstro!- cobre seu rosto com as mãos. -Que tipo de pai troca a filha por uma casa?- -Eu não tinha outra solução Bella, o que eu podia fazer?-

–Parar de ir nesses malditos cassinos seria uma solução!- fica de pé, suas pernas fraquejam por alguns instantes, e a obriga a se apoiar no braço do sofá.

–Você está bem?-

–Já disse pra não relar a mão em mim.- pede pausadamente com a voz controlada. -Eu já aviso Charlie, arrumarei minhas coisas e irei embora daqui agora. Não servirei como objeto de troca pra ninguém.- arruma sua postura e se recompõe. Um palidez além do normal abrange o rosto da moça.

–Filha o homem com quem apostei, é um carrasco. Ele sempre me achou inferior a eles. Sempre disse que eu era um suburbano. Ele é um demônio de tão ruim.- ela dá de ombros.

– O problema é seu, e além do mais ele não disse mentira nenhuma.-

–Mais...-

–Mais nada.- ela o corta novamente. -Você que se vire. Eu não sou um bicho, ou um objeto pra ser tratada assim.- bate o pé.

Com passos leves Edward adentra a sala. A moça de costas a ele, deve ter no máximo 1.63m. Ela é magra e os cabelos de um marrom intenso. Mesmo sem ver seu rosto, ele aposta que ela é mais delicada que um pêssego. Seja firme com ela. Pensa. Com um suspiro baixo, ele toma fôlego.

–Sinto muito prinkípissa.- fala observando seu corpo ficar tenso. -Mais eu ganhei você na posta, e não estou disposto a troca. Você a partir de hoje, é minha...- Edward se aproxima dela mais dois passos, e reclina sua cabeça. -Isabella Swan.- sussurra no ouvido da moça. Por instantes, Bella não assimila nenhuma das palavras que o homem estranho pronunciou.

A única coisa que passa por sua cabeça, é o timbre rouco de sotaque arrastado, que fez seus cabelos da nuca se eriçarem.


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Notas finais do capítulo

É isso ai meninas,
espero que estejam gostandoo.
Volto em breve, beijinhooos!!



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