A Culpa é Minha e das Metáforas escrita por Larissa Waters Mayhem


Capítulo 8
Capítulo 8 - Um E-mail para Peter




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Alguns dias se passaram e eu não havia falado com a Hazel Grace, eu juro que já estava com saudades, mas estava meio receio de ligar. Em uma noite estava no sofá assistindo Desventuras em Série. Peguei meu celular e decidi ligar para a Hazel. Em cada chamada meu coração simplesmente batia cadê vez mais forte.

Ela atendeu, então fui espontâneo

— Hazel Grace.
— Oi — disse Hazel — Tudo bem?
— Maravilha — respondi ainda sim nervoso. — Tenho sentido vontade de ligar para você quase de minuto em minuto, mas estava esperando conseguir elaborar um pensamento coerente em ref. a Uma aflição imperial

— E? — perguntou Hazel Grace. Começava meu suor já estava frio.
— Acho que ele é, tipo. Ao ler esse livro, eu fico sentindo como se, se…
— Como se? — a mesma questionou. Parece que me provocava, meu Deus me ajude!

— Como se fosse um presente? — Completei interrogativamente — Como se você tivesse me dado uma coisa importante.
— Ah — disse Hazel. Isso soou clichê, eu sou totalmente clichê, será que ela gosta de caras assim? Ou me malandros? A cara como sou um otário.
— Isso é brega — disse. — Foi mal.
— Não — falei. — Não. Não precisa se desculpar. — Mas o livro não termina.
— É — ela concordou.
— Tortura. Eu entendi totalmente, tipo, entendi que ela morre ou sei lá o quê. – disse, eu já estava totalmente suado, por falar de um livro tão complexo com a garota mais complexa que eu já vi.
— Isso mesmo, foi o que eu deduzi — disse a mesma.
— E, tudo bem, é justo, mas existe um contrato silencioso entre autor e leitor, e acho que o fato de ele não terminar a história do livro meio que viola esse contrato.
— Não sei de certa forma, esse é um dos motivos pelos quais eu gosto do livro. Ele registra a morte com fidelidade. Você morre no meio da vida, no meio de uma frase. Mas eu quero, ai, como eu quero saber o que acontece com os outros. Foi isso o que perguntei a ele nas minhas cartas. Mas, sabe como é, ele nunca respondeu...
— Tá. Você disse que ele vive recluso?
— Exatamente.
— Que é impossível de ser localizado?
— Exatamente.
— Totalmente inalcançável — falei
— Infelizmente, sim — disse.

Então decidi começar a falar o e-mail que recebi como reposta. (Um e-mail totalmente broxante as minhas expectativas
— "Prezado Sr. Waters" — comecei. — "Escrevo para agradecer sua correspondência eletrônica, recebida por intermédio da Srta. Vliegenthart neste dia seis de abril, enviada dos Estados Unidos da América, conquanto se possa dizer que a geografia ainda exista na nossa contemporaneidade triunfantemente digitalizada."
— Augustus, que diabos é isso? – perguntou Hazel Grace.
— Ele tem uma assistente — respondi. — Lidewij Vliegenthart. Achei o contato dela. Mandei um e-mail para ela. Ela repassou a mensagem para ele. Ele respondeu usando a conta dela.
— Tá, tá. Continue lendo.
— Minha resposta está sendo escrita com tinta e papel na tradição gloriosa de nossos ancestrais e, em seguida, transcrita pela Srta. Vliegenthart numa série de 1s e 0s que viajam através da rede enfadonha que vem iludindo nossa espécie nos últimos tempos, por isso peço perdão por quaisquer erros ou omissões que disso possam resultar.
‚Dada a orgia de entretenimento à disposição dos jovens de sua geração, fico grato por qualquer um, em qualquer lugar, que destine a quantidade de horas necessárias para ler meu humilde livro. Mas me sinto especialmente em dívida com sua pessoa, senhor, tanto por suas gentis palavras a respeito de Uma aflição imperial quanto por se dar o trabalho de me dizer que o livro, e aqui o cito ipsis litteris, ‘significou muito mesmo’ para o senhor.
Esse comentário, no entanto, leva-me a elucubrar: o que quer dizer com significou? Dada a frivolidade derradeira de nossa luta pela vida, terá algum valor a efêmera carga de significado que a arte nos empresta? Ou o único valor estará em passarmos o tempo o mais confortavelmente possível? O que uma história ficcional deveria pretender emular, Augustus? O soar de um alarme? Um grito de guerra? Uma injeção de morfina? Obviamente, como todas as interrogações do universo, esta linha de investigação inevitavelmente reduz-nos a perguntar o que significa ser humano e se há algum sentido nisso tudo.
‚Temo que não haja, caro amigo, e que você receberia alentos insuficientes em encontros ulteriores com minha composição literária.
Porém, respondendo a sua pergunta: não, não escrevi nada mais, nem escreverei. Não creio que continuar a compartilhar meus pensamentos com os leitores irá beneficiá-los, ou a mim. Obrigado, novamente, por seu generoso e-mail.
"Atenciosamente, Peter Van Houten, por intermédio de Lidewij Vliegenthart."
— Uau — falou Hazel Grace, esse Uau foi mais mais que satisfatório — Você está inventando isso?
— Hazel Grace, eu seria capaz, com minha capacidade intelectual limitada, de escrever uma carta fingindo ser o Peter Van Houten, com frases como "nossa contemporaneidade triunfantemente digitalizada"? – falei.
— Não, não seria — admitiu Hazel Grace. — Você pode… você pode me passar o endereço de e-mail?
— Claro — Respondi. - lidewijvliegenthart@email.com

– Poxa Augustus, obrigado mesmo, sério. – respondeu Hazel Grace.

– Por nada. – falei.

– Bem, vou ir escrever um e-mail então, tirar minhas duvidas e tal... Nos falamos depois. – disse Hazel.

– Certo... Então Tchau. – disse, um aperto ligeiro no meu coração. Então ela desligou.


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