A Culpa é Minha e das Metáforas escrita por Larissa Waters Mayhem


Capítulo 12
Capítulo 12 - Ossos Maneiros


Notas iniciais do capítulo

E aqui está mais um



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/435349/chapter/12

Levei a Hazel Grace até um parque atrás de um museu onde vários artistas fizeram grandes esculturas, passamos de carro pela porta do museu, estacionamos perto da quadra de basquete repleta d arcos de aço de diversas cores que simulavam a trajetória de uma bola quicando caminhamos até chegar a uma clareira onde crianças escalavam a escultura de um esqueleto gigantesco. O desenho do esqueleto parece os que eu fazia quando tinha cinco anos de idade.

— "Ossos Maneiros" — falei— Criado por Joep Van Lieshout.
— Parece holandês. – disse Hazel.
— E é — falei. — Assim como o Rik Smits. E as tulipas.

Parei em frente a clareira com os ossos bem na nossa frente, tirei a alça da mochila de um dos ombros e depois do outro, abri o fecho e tirei de uma toalha laranja e uma garrafa de suco de laranja, sanduíches de pão de forma sem casca embalados em um plástico filme. Sim eu sou perfeito.

— Qual é a desse laranja todo? — perguntou, creio que a Hazel Grace já sacou tudo.
— É a cor nacional da Holanda, obviamente. Você se lembra de Guilherme I, o Príncipe de Orange, e tal?
— Ele não caiu no teste que fiz para conseguir o diploma do ensino médio.
— Vai um sanduíche? — perguntei.
— Deixe eu adivinhar... — falou
— Queijo holandês. E tomate. Os tomates vieram do México. Foi mal.
— Você é sempre tão decepcionante, Augustus. Não podia pelo menos ter comprado tomates cor de laranja?

Eu ri, comemos os sanduíches secos e ruins em silêncio. A luz solar banhava-nos, coisa rara em Indiana.
— Tem duas coisas que eu adoro nessa escultura — falei

Eu segurava o cigarro apagado entre os dedos, dando batidinhas nele como se descartasse as cinzas. E coloquei novamente na boca. — Em primeiro lugar, a distância entre os ossos é tal que, se você é criança, não consegue resistir à tentação de pular entre eles. Tipo, você simplesmente tem que pular da caixa torácica até o crânio. O que significa que, em segundo lugar, essa escultura essencialmente força as crianças a brincar
nos ossos. As ressonâncias simbólicas são infinitas, Hazel Grace.
— Você gosta mesmo de símbolos —falei.

— Certo. Por falar nisso, você deve estar se perguntando por que está comendo um sanduíche de queijo ruim e bebendo suco de laranja, e por que eu estou usando a camiseta de um holandês que praticava um esporte que eu aprendi a odiar.
— É, isso passou pela minha cabeça — falou.
— Hazel Grace, como várias crianças já fizeram, e digo isso com todo respeito, você gastou seu Desejo precipitadamente, sem se preocupar muito com as consequências. O ceifador a encarava e o medo de morrer ainda carregando o Desejo não concedido em seu bolso proverbial fez com que corresse atrás do primeiro Desejo em que conseguiu pensar, e você, como tantos outros, escolheu os prazeres inexpressivos e artificiais do parque temático.
— Na verdade, eu me diverti muito naquela viagem. Eu conheci o Pateta e a Minn…
— Estou no meio de um monólogo! Eu escrevi isso e decorei, e se você me interromper vou errar tudo — disse. — Por favor, continue comendo o sanduíche e prestando atenção. — Certo. Onde eu estava?
— Nos prazeres artificiais. – falou.
Guardei o cigarro no maço.
— Certo. Os prazeres inexpressivos e artificiais do parque temático.
Mas deixe-me ressaltar que os verdadeiros heróis da Fábrica de Desejos são os jovens homens e mulheres que esperam, como Vladimir e Estragon esperam Godot, e como boas moças cristãs esperam o casamento. Esses jovens heróis esperam estoicamente, e sem reclamar, até que seu único e verdadeiro Desejo venha até eles. É certo que talvez o Desejo nunca chegue, mas pelo menos esses jovens podem descansar em paz em seu túmulo sabendo que fizeram sua parte na preservação da integridade do Desejo como um ideal. Porém, pensando bem, talvez seu Desejo vá se revelar, no fim das contas: talvez você perceba que seu único e verdadeiro Desejo é visitar o genial Peter Van Houten em seu exílio amsterdamês, e você ficará feliz, de fato, por ter poupado seu Desejo. O Augustus fez uma pausa longa no discurso, o suficiente para que eu
percebesse que o monólogo tinha chegado ao fim.
— Mas eu não poupei o meu Desejo — falou — Ah — falei. E, então, após o que pareceu ser uma pausa calculada, acrescentou: — Mas eu poupei o meu.
— Sério? – falou Hazel.
Bom, fiquei um tempo poupando esse desejo para algo que realmente valesse a pena. E o que vale mais a pena do que passas alguns dias ao lado da garota e fazê-la feliz?

— Ganhei o meu em troca da perna —expliquei— Bem, eu não vou dar meu Desejo para você nem nada. Mas também tenho interesse em conhecer o Peter Van Houten, e não faria sentido conhecer o homem sem a menina que me apresentou ao livro dele.
— Definitivamente não faria sentido — falou Hazel.
— Por isso conversei com os Gênios e eles concordaram em gênero, número e grau. Disseram que Amsterdã fica linda no início de maio. E sugeriram que viajássemos no dia três e voltássemos no dia sete.
— Augustus, isso é sério?

Estendi o braço, toquei a bochecha dela e observei aquele rosto empolgante que realmente me levava a loucuras. Pensei em beijá-la, e ia, mas vi que ficou tensa então me afastei.
— Augustus — falou. — Sério. Você não precisa fazer isso.
— Claro que preciso — falei. — Eu encontrei o meu Desejo.
— Cara, você é demais — ela disse pra mim.
— Aposto que diz isso para todos os garotos que bancam viagens internacionais para você — retruquei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Culpa é Minha e das Metáforas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.