Anjo Chacineiro escrita por bew


Capítulo 1
Anjo Chacineiro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/43516/chapter/1

 

Sei que muitos reclamam de meu egoísmo, de meu egocentrismo. Admito; sou casmurra, incoerente e infantil. Porém, antes de reclamarem, deviam saber a razão de ser o que sou, fazer o que fiz e agir como ajo.

Fui criada até os três anos em um orfanato. Todos eram simpáticos e prestativos, cuidavam bem de mim e de meu irmão. Depois, fomos “escolhidos” por um casal. A mulher, Rose, ruiva, cabelos lisos até a cintura, olhos verde-musgo brilhantes, pele branca e algumas pintinhas pelo rosto. Sua boca, nunca vi sem o batom vermelho-sangue, assim como nunca vi os olhos sem a pesada maquiagem. O homem, Lacoonte, moreno, cabelos curtos, olhos negros e pele branca. Ambos possuíam olhares dignos de maníacos, dois chacineiros que eu deveria chamar de pai e mãe.

Lembro-me do que faziam comigo. Prendiam-me pelos pulsos e deixavam-me sem comer ou beber por, no mínimo, uma semana; chicoteavam-me e cortavam-me, jogando álcool sobre as feridas abertas. Certa vez queimaram a carne magoada, cicatriz que carrego até hoje sob minhas costas. Nestas horas desejava ser Tira, filha legítima do casal que fora para o reformatório. Eles quiseram preservar a filha que fizeram, e acabar com os que não eram deles.

Lacoonte não deixava que o chamássemos pelo nome. Dizia que éramos vermes. Ensinou-me a ser fria e cruel, como uma assassina. Ele disse-me que deveria deixar a piedade e a compaixão morrerem dentro de mim e dar fim a vidas alheias. Rose e ele eram os que decidiam quais seriam as vítimas e as armas que usaríamos. O tipo de morte também ficava a critério deles. Enforcamento, espancamento, facadas, tiro.

Meu irmão me acompanhava, sem opção como eu. Atualmente, está igual a mim. Confiamos apenas em nós mesmos.

Nosso primeiro assassinato foi com dez anos. Lembro-me até hoje dos gritos e súplicas. Pouco após, aos quinze anos, matamos Rose e Lacoonte. O único caso que não nos arrependemos de sujar as mãos com sangue.

Frederick e eu estamos na “prisão”. Réus confessos e menores sem pais, nós fomos penalizados a ficar por apenas uma no na “cadeia”. Não desejávamos matar, portanto até esse ano é inútil para nós.

Sairemos daqui para o reformatório ‘Amai Kirai’ em algumas horas. Estamos ansiosos para ver o sol de novo, sentir o vento. Apesar de inútil em relação às mortes, o tempo aqui serviu para algo. Referi a mim mesma como casmurra, incoerente e infantil; agora sinto que devo mudar minhas palavras, pois aquela não é mais eu. Eu me transformei. Frederick e Elizabeth não são mais os mesmos. Não sou mais um anjo chacineiro. Meu irmão e eu somos apenas... Pessoas. E vamos continuar assim. Sendo pessoas normais. Não dá pra mudar o passado mesmo, então é melhor viver o presente de uma vez.

-Frederick, Elizabeth. Estão liberados.

O sol nunca esteve tão bom antes.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!