'' 19: Havendo, pois, o Senhor Deus formado da Terra, criado o Homem e todos os animais do campo e todas as aves dos céus,trouxe-os ao Homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o Homem desse a todos seres viventes, esse seria o nome deles.''

   Acontece pois algo que o Senhor Deus não esperava;
- Não. Disse Adão, seco como uma vara de goiabeira.
O Senhor ficou perplexo.
- Como não?
Adão respondeu com um ar filosófico:
- Fazendo distinção entre eles, há de haver disputa por superioridade. ''Animais'', já está de bom tamanho. Me soa muito bem aos ouvidos.
Tamanha era a surpresa do Senhor Deus. Não se recordava de ter dado á Adão, além da inteligência, tanta ousadia. Replicou:
- Homem, acaso sabes quem te criaste?
- Tu, meu Pai.
- Exato, e por isto me deves obediência.
- Não me deste junto com a vida o livre arbítrio, ou me engano?
Deus mal podia acreditar no que estava ouvindo. ''Algo deve ter dado errado'' ele pensou, mas logo se desfez do pensamento e pegou outro; é impossível, dizia consigo mesmo; eu sou o Alfa e o Ômega, criador dos céus e da Terra, onisciente, onipotente e onipresente, mas algo está errado... ''Satanás tem dedo nisto'' enfim concluiu. Mandou que buscassem o Tinhoso.
- Oque fizeste com meu Homem? Disse o Senhor Deus ameaçador.
- Com o seu oque?
- Com meu Adão, ande, não se faça de desentendido.
- Nem ao menos sei do que se trata.

Mesmo sabendo que bem a sua frente tinha o pai da mentira, o Senhor Deus sentiu que estava sendo sincero, por mais que fosse estranho. Resolveu então mostrar-lhe Adão para ver qual seria sua reação.
Ao ver Adão, o Tinhoso ficou, ou fez-se, estupefato:
- Pelas barbas do profeta! É magnífico.
Deus novamente sentiu sinceridade.
- Como o-fizeste? Disse Satanás maravilhado, sem tirar os olhos de Adão.
O Senhor sorriu triunfante e respondeu em forma de aforismo como esta máxima de alguma ordem ou seita secreta que não me recorda no momento:
- Poder revelado é poder perdido. Tire os olhos de meu Adão e cace seu rumo, é andar, vá vá. E ele foi.
  Refletia o Senhor Deus arduamente sobre oque poderia ter corrompido a sua Obra Prima já que não fôra Satanás. Teve a ideia de ir ter com Adão e perguntar-lhe o que tinha  á cabeça, e o encontrou frente a Árvore do Conhecimento.
- O que fazes, Adão meu filho?
- Penso. Este respondeu sem desviar os olhos da árvore.
- E oque pensas?
- Ora, bem sabeis.
- Sim, mas quero ouvir de tua boca.
Adão refletiu, e enquanto cofiava a barba disse:
- Tu, Pai, me fizeste animais, plantas, ervas, árvores e muito mais, sim?
- Sim.
- E de todas estas coisas me permite gozar, lhe sou muitíssimo grato por tudo isto, mas...
- Mas?
- Porque me fizeste uma árvore, belíssima árvore, da qual o fruto eu não posso comer?
- Ora, filho, já lhe disse; o dia que comeres do fruto desta árvore provavelmente morrereis.
- Então porque á fizeste?
  Deus entristecera, e a natureza fôra o reflexo de sua tristeza; o céu fez-se cinza, o vento suave tornou-se um vendaval e logo caiu copiosa chuva sobre a face da Terra. Adão correu buscar proteção e o senhor Deus voltou aos céus. Houve tarde e manhã, o oitavo dia.