Renegade

Jason achou a decisão precipitada, talvez o filho de Hades não tenha pensado direito. Todos estavam fazendo um piquenique na colina e nem perceberam que, depois da 'reunião' com Reyna, Nico havia se retraído e caminhado sorrateiramente pelas sombras e subiu a bordo do Argo II. Jason o seguiu, mas antes deu uma desculpa esfarrapada para os amigos e para a namorada, Piper, que estava com um olhar preocupado. Ele a tranquilizou, beijou sua bochecha, a fazendo sorrir e voltar a despejar a sobremesa com a cornucópia.

Para subir a bordo do navio, Jason passou em frente a Atena Partenos, que media pelo menos dez metros de altura. Ela olhava serenamente para o Rio Aqueronte, com a deusa Nice em uma de suas mãos.

O romano logo encontrou Nico, ele estava na proa, observando a linha do horizonte e o sol quase se pondo. O ouviu fungar, uma, duas, três vezes. Jason sabia que ele estava chorando, e porque não estaria, sua confusão amorosa estava logo abaixo, sem desconfiar de nada.

– Hey.

Nico se assustou, não ouvira Jason se aproximar. Tratou de limpar as lágrimas que teimaram a cair. Percebeu o quanto aquilo poderia ser irritante, aparecer do nada, e lembrou-se que ele mesmo o fazia com frequência com a tripulação do navio.

– Desculpe - Jason riu sem humor até que seu riso virasse um murmúrio e morrer em sua garganta.

– O que faz aqui? - o filho de Hades queria soar ríspido, mas sua voz saiu embargada. Praguejou mentalmente, odiava se sentir impotente, o que se tornara comum ultimamente.

"Eu me odiava. Odiava Percy Jackson."

Essas palavras ecoaram em sua mente novamente. Não sabia ao certo quando esse sentimento começou, apenas sabia que na época não o entendia, será que é possível ele estar apaixonado por outro garoto? Ignorar o que sentia o machucava, mas nada poderia fazer. Pior que isso era vê-lo com outra pessoa, feliz ao seu lado.

Amargurado, observou os vultos negros abaixo do Argo II. Dali não poderia distingui-los, mas sabia que duas daquelas sombras eram de Percy e Annabeth. Eles caíram e voltaram do Tártaro, e agora estavam comemorando por este feito, por terem sobrevivido, juntos. Se Nico sentira inveja? Podia-se dizer que sim. Ter alguém ao seu lado enquanto percorre um território inexplorado por um semideus facilita muito, ao contrário de sua sorte, que sobrevivera no Tártaro, sozinho.

Quase se esquecera da presença do loiro, que depois de um tempo, respondera a sua pergunta, surpreendido com a mesma:

– Vim ver como você está. Acho que você deveria ter pensado mais a respeito de partir com Reyna e o Treinador Hedge, quer dizer, eu me importo com você, Nico.

Di Angelo desviou o olhar das sombras que se mexiam abaixo do navio e encarou os olhos gélidos de Jason. Queria rir, dar uma risada cheia de veneno e escárnio. Se importar com ele? A única pessoa que realmente se importou com ele fora Bianca, e ela estava morta. Há poucos anos, o Acampamento Meio-Sangue não tinha um chalé para os filhos de Hades, pois esse deus não era bem-vindo. Parecia que ser filho do Senhor dos Mortos era um estorvo para os demais semideuses, que automaticamente o olhavam com cara feia, como se ele andasse banhado de sangue ou de água de esgoto.

Nico queria gritar, berrar e jogar tudo isso na cara do filho de Júpiter, o semideus mais querido de seu acampamento, filho do deus mais poderoso e pretor de Nova Roma, afinal, parecia que Jason era perfeito, o que era Nico aos pés dele? Mas ao invés disso, fez algo melhor - e inesperado. Selou seus lábios ao do romano, que se assustou, mas não recusou. O beijo começara com um demorado roçar de lábios, mas começou a se aprofundar aos poucos. Jason pediu passagem com a língua, que fora concedida por parte de Nico. Suas mãos foram instantaneamente para os fios loiros do romano, que segurava sua cintura firmemente. A língua de ambos estava dançando em um ritmo frenético e sensual, explorando cada centímetro da boca do outro. A prole de Hades desejou internamente que Jason tivesse se afastado, gritado com ele e o chamado de problemático, pelo menos Nico estaria preparado para aquilo. Por que Jason tinha que ser tão bom?

O beijo cessou quando ambos sentiram falta do maldito oxigênio. O coração do loiro estava acelerado, como se estivesse prestes a sair boca a fora. Nem acreditava no que fizera consigo mesmo e com Piper. Ele a amava de verdade, mas por que se sentia tão feliz? Já Nico sentiu suas bochechas ficarem coradas e suas orelhas pegando fogo. Seus olhos estavam fixados no chão quando começou a proferir:

– Preciso ir... A Atena Partenos não vai ser levada ao acampamento sozinha.

Antes mesmo de Jason formular uma resposta completa, Nico já tinha ido, saiu correndo sem olhar para trás, deixando um certo romano levemente atordoado com um sorriso bobo brotando timidamente nos lábios.