O Poeta da Lei escrita por Thiago Olivieri Dantés


Capítulo 3
Cap. III




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/434774/chapter/3

Serei breve; o meliante atingiu Otto em cheio, na cabeça... Sem sangue, gritaria, choro ou trocação de tiro. Pulemos esta parte. Equipes do resgate chegaram rapidamente e prestaram os primeiros socorros, mesmo que inúteis, pois o tiro havia sido letal, mas só estavam cumprindo com o seu dever, como todo bom profissional deve fazer. Tendo feito isto, acionaram o Rabecão (IML) e levaram o corpo. Seis funcionários do posto, incluindo um segurança noturno e a atendente do caixa da lojinha de conveniências foram levados como testemunhas para a 18ª DP para prestar depoimento. Não tive acesso a muitas informações do caso, mas parte de um depoimento dado por uma das testemunhas me foi primordial: ''... O policial deu um chute na porta que já tava aberta, era só ele empurrar e entrar. Ele estava assustado e gritou para o ladrão abaixar a arma, que era um três-oitão. (Taurus, Calibre 38) O ladrão ficou parado, tremendo, então o Policial ao invés de apontar uma arma, apontou um caderninho e uma caneta para ele, dai ele deu um tiro no Policial... Meu Deus... Foi horrível! O ladrão já ia sair correndo quando o André (segurança do posto) agarrou ele e tomou a arma.'' Toda a PMRJ comentava sobre o inusitado caso. Uns discutiam por que motivo Otto abordara o meliante, desarmado. Outros policiais idiotas faziam troça, outros, mais politicamente corretos, criticavam a displicência que era botar um único homem para fazer a ronda, e assim ia. O Delegado Falabela recebera em seu escritório os pertences do nosso triste poeta. Uma parte do pessoal da IML, e a outra do seu pessoal. Entre estes pertences, algo que lhe chamou muito a atenção foi uma pistola com a numeração raspada e uma folha de papel que trazia no topo a seguinte descrição: ''Devolução de arma irregular''. Achou aquilo muito estranho e resolveu ler o papel que contia as seguintes anotações:

''Recolhi a tal arma sem esforço e penitência,
o velho cumpriu o trato sem gastar resistência,
o velho nunca mais o vi.
Em memória do velho da distante Estrada do Fontela,
que entregou sua arma sem desejar glória ou farpela,
aqui deixo os meus versos e humilde relato
ao Dr Delegado Falabela,
e peço que por derradeiro aplauda o velho do Fontela
                                                                       SD Otto Sipriani.''

Era um Bolhetim de Ocorrência improvisado. Literalmente improvisado.
  Mesmo que Otto tenha quebrado uma das normas de um Policial, não levando imediatamente a arma e o ''velho'' para depor, o Delegado, que também era apaixonado por poesia, achou aquilo tão bonito que ficou comovido e disse para si mesmo:
- Inexperiente, mas um Policial excelente... O espírito ainda era de poeta... Que Deus o tenha, Poeta da Lei.
Caíram lhe algumas lágrimas pelo rosto que ele logo enxugou, afinal, um homem na sua posição não poderia ser visto chorando.
  Enquanto separava os pertences pessoais do Poeta, Falabela pensava: ''mas por que diabos ele abordara o meliante, desarmado?'' Refletia com afinco quando deixou um papel dobrado cair. Pegou-o do chão, desdobrou e leu:

  ''...E não se esqueça,
tenha sempre á disposição
papel e caneta,
estas são suas armas de proteção
contra as mazelas deste mundão.''
                                      Heitor Sipriani O. Dantés.''


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Meus mais sinceros agradecimentos á Mariana Odara e á um Policial que conheci na rua, cujo nome não me recordo. Sem suas informações eu não teria terminado conto.
T. O.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Poeta da Lei" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.