''... E não se esqueça,
tenha sempre a disposição,
papel e caneta,
estas são suas armas de proteção,
contra as mazelas deste mundão.
                                         Heitor O. Sipriani Dantés.''

Estas são as ultimas linhas de uma carta escrita em forma de verso deixada pelo avô de Otto, a ultima delas, pois este falecera a três anos. A carta tem sim um começo, meio, e fim, mas, para dar sentido ao conto e também economizar papel, fiquemos somente com o fim; para o entendimento do conto não carecemos mais do que isto. Une-se o útil ao agradável. Quanto ao falecimento do avô, digamos apenas que morreu de velhice. Não tenho certeza quanto a verossimilhança do que digo, mas está de bom tamanho. Convenhamos, leitor, que é realmente triste e penoso relatar uma morte, mesmo que ficcional, e é ainda mais penoso quando não se sucedeu por causa natural, então culpemos o tempo, a velhice o levou.
 O Grande Poeta Heitor, diga-se de passagem, era autoridade no assunto quando se tratava de poesia. Não por excelência, este fôra; Mestrado, Doutorado, LL.D e até mesmo Ph.D em Letras. Foi realmente um grande homem. Minto, fôra mais do que isto; figura exemplar do Homem Magnânimo dos gregos, o honnête homme da Europa medieval, o filósofo no séculos XVII. Minto novamente, fôra muito mais do que tudo isto; ídolo do nosso recém formado policial Otto. Na juventude, este maravilhava-se com a facilidade com que o avô fazia verso e prosa das mais variadas formas, cultas, cômicas, poéticas, etc e etc.
  Junto as cartas, Otto tinha volumes de Soares de Passos, Machado de Assis, Shakespeare, Lamartine e muitos outros, todos deixados por Heitor, junto a três volumes do próprio poeta; dois em latim e um em francês. Para o nosso Policial, que mal conhecia o a língua portuguesa, os volumes não tinham serventia, mas os guardava com muito amor e carinho.
   Sim, Otto também fôra poeta, por excelência, mas fôra. Um dia sonhara em ser eminência como o avô, mas desistira no ultimo ano do ensino médio. Agora, com 22 anos, Otto se formara Policial Militar. Não tinha fascínio pela profissão, mas aconselhado por um amigo, fez prova para PM e passou graças ao teste de aptidão física e a redação, na qual somou a maioria dos pontos necessários para aprovação. Fruto das sementes deixadas pelo Grande Poeta, Heitor Sipriani.