Segunda-feira. Por que existia? Seria tão simples, se assim que acabasse o final de semana, já fosse quarta-feira. Seria menos cansativo, menos estressante, menos tudo. Talvez, se fosse quarta-feira, o rapaz que agora estava de frente para uma mesa lotada de papéis, não estaria tão estressado como estava no momento.

– Sr. Jaegerjaquez – chamou a recepcionista pelo telefone – A Srta. Nelliel está aqui em baixo.

– Diga a ela que estou ocupado no momento, Akane.

– Eu já disse senhor, mas ela...

– Hey Akane-chan! Manda aquele idiota descer aqui logo. – ouviu a voz de Nelliel soar – Não tenho todo o tempo do mundo, não.
– Srta. Nelliel, o Sr. Jaegerjaquez, está ocupado no momento... – o rapaz suspirou, ouvir a discussão de Nelliel com a recepcionista da empresa onde trabalhava, não lhe era nada atrativo.

– Akane... – chamou.

– Humpf! Deixe então Akane-chan! – falou a esverdeada – Se ele não descer eu subo.

– Akane. – chamou o rapaz novamente.

– Não Srta.Nelliel! Ele não autorizou sua subida. Srta.Nelliel! Espere Srta. Nelliel! – ouviu um suspiro vir de Akane – Sr. Jaegerjaquez, sinto muito, mas a Srta. Nelliel está subindo, eu tentei impedir, mas...

Suspirou: - Sem problemas Akane, eu iria autorizar a subida dela mesmo.

– Ok... Deseja algo Senhor?

– Não.

E então, a voz da recepcionista não chegou mais ao seus ouvidos. Suspirou e voltou sua atenção para os papéis. Precisava terminar de revisá-los logo, se não, seu chefe lhe mataria e jogaria os restos para os cães. Ouviu um barulho vir da porta. Um sorriso surgiu em seus lábios.

– Deveria bater na porta antes de entrar Nell – disse, sem desgrudar os olhos azuis dos papéis – Eu poderia estar em reunião.

– Humpf! Precisamos ter uma conversa séria Grimmjow! – respondeu, fechando a porta e se aproximando da mesa do rapaz, sua expressão não era a das melhores.

– Diga – respondeu sem olhá-la.

– Grimmjow Jaegerjaquez! – exclamou batendo as mãos na mesa dele, amassando alguns papéis – Olhe para mim, quando eu for falar com você!

– Tsc! Nome completo... A coisa ta feia... – suspirou e a olhou – Diga logo Nelliel, estou trabalhando!

– Então quer dizer, que você ligou para o Ryu e disse que, eu não queria mais sair com ele e que eu não tinha, coragem de dar um pé na bunda dele, por isso pedi pra você o fazer?

O rapaz, a observou por uns momentos e então, caiu na gargalhada: - E-ele... Te disse isso, foi? Bela forma de dispensar uma garota!

– Idiota! – deu um cascudo na cabeça de Grimmjow – Não ria e diga a verdade!

– Ok, ok... Eu acho que liguei pra ele sim... Mas – fez cara de pensativo – Não sei, se falei que você não queria mais sair com ele... – sorriu debochado – O cara era um banana mesmo, melhor pra você.

O rosto geralmente calmo da moça estava corado, pela raiva que sentia. Ela amava Grimmjow, mas sabia que não tinha chances com ele. Era a ultima garota que seu melhor amigo pensaria em namorar, ela não fazia o estilo dele. Era infantil demais, apaixonava-se fácil demais e principalmente, não era o bonita o bastante para ele. Nem ao menos sabia se vestir adequadamente. Tanto que, desde que ele dissera que a blusa que usará no aniversário do mesmo, não havia ficado boa nela. Ela nunca mais a usou. E então, quando enfim arranjou alguém, que poderia fazê-la esquecê-lo. O idiota simplesmente acabava com tudo.

– Eu ainda vou te dar uma surra Grimmjow.

O rapaz suspirou. Sim, ele havia ligado para Ryu e dito tudo aquilo, e ainda teria dito mais. Não suportou quando a viu conversando animadamente com ele dentro da pequena lanchonete próxima a sua casa na semana retrasada e odiou quando viu ambos quase se beijarem na semana passada. Estava com ciúmes, muito ciúmes e não aceitaria vê-la com outro. Não enquanto ele ainda não tinha se declarado, o que logo aconteceria, se ele conseguisse coragem.

– Olha Nelliel, eu estou ocupado agora e se você só veio até aqui, pra brigar por que o banana do Kyiuh...

– Ryu – corrigiu ela.

–... Não quis mais você – ignorou a correção – Ai minha filha, não é problema meu e eu não vou mais perder tempo com essa discussão sem fundamento.

– Argh! Vai ter volta Grimmjow! – respondeu – Você vai...

Mas, ele não escutou nada do que foi dito depois. Os longos cabelos ondulados, caindo sobre os ombros. As esmeraldas de seus olhos brilhando intensamente, a pequena boca rosada, mexendo-se enquanto a mesma falava. Estava perdido na beleza de Nelliel, ela o hipnotizava. Não, a palavra certa era enfeitiçava. Nelliel havia enfeitiçado-o com sua beleza estonteante e sua personalidade infantil. E ele, não estava nem um pouco afim de se livrar desse feitiço.

Sorriu de canto, enquanto ela começava a gesticular com as mãos. Era tão linda brava, mais linda ainda quando estava brava com ele. Olhou para a boca dela por alguns segundos e foi como ascender uma chama sobre uma poça de álcool. Uma enorme vontade de beijá-la, o tomou, já sentirá vontade de beijá-la inúmeras vezes, mas dessa vez. Ah, dessa vez a coisa estava realmente séria.

A vontade era insuportável, beirava a necessidade, era como se ele estivesse meses sem beber algo e a boca dela fosse um poço d’água. Infelizmente ou felizmente, ele não iria conseguir se segurar dessa vez e até assumia, não queria se segurar. Se levantou e deu a volta em sua mesa, aproximando-se dela lentamente.

A garota do nada ficou nervosa. Grimmjow a olhava de uma forma que ela conhecia muito bem. Um olhar sedutor e desejoso, o mesmo olhar que ele lançava para as “vítimas” dele, o mesmo olhar que fazia mulheres por todos os lugares derreterem e caírem apaixonadas por ele, o que surtia o mesmo efeito nela. A proximidade entre ambos, foi crescendo e os centímetros de distância diminuindo. Nelliel, estava confusa e perdida. No fundo pensava que ele a beijaria, mas não acreditava nisso.

– G-Grimmjow...? – sussurrou.

– Sim...? – respondeu, aproximando-se mais dela.

– O-o-o que... Vo-cê ta fazendo?

Ele parou de frente para ela, com um palmo de distância os separando: - Como assim?

– V-v-você... T-ta... P-perto d-demais e t-ta me o-olhando de um j-jeito es-tranho.

– Estou? – perguntou, aproximando-se mais um passo dela.

Ela recuou um: - S-sim... N-não está b-brincando comigo... E-está?

Ele balançou a cabeça negativamente. Sim, estava na hora. Deveria dizer a ela tudo o que sentia, declarar-se para ela e beijá-la como nunca beijou outra pessoa. A amava e não guardaria mais isso para si mesmo. Uma onde de coragem o tomou, a coragem que ele nunca havia tido antes. Era agora ou nunca.

– Sabe Nelliel... – começou, aproximando-se mais dela, míseros centímetros os separavam. Dessa vez, ela não recuou – Eu preciso lhe contar uma coisa, muito séria.

– P-pode contar G-Grimmjow... – respondeu envergonhada. A proximidade entre eles era muita.

– Eu... – olhou-a diretamente nos olhos, mostrando a ela o que na verdade não deveria mostrar – Gosto... Não... Eu amo...

– Sr. Jaegerjaquez – Aquela onda toda de coragem, se extinguiu assim que a voz de Akane, chegou ao seus ouvidos. Desviou o olhar envergonhado. E se afastou, aproximando-se de sua mesa novamente.

– Sim Akane.

Nelliel estava atônita. O que viu estampado nos olhos azuis de seu amigo deveria ser fruto de sua imaginação. O que achava que ele estava prestes a dizer, fazia parte de uma fantasia sua, com certeza era apenas fantasia. Não poderia ser verdade. Não havia essa possibilidade. Ele não poderia, gostar dela, ou poderia?

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– Eu estou confusa! – disse Nelliel, afundando o rosto entre as mãos – Será que... É verdade? Que... Ele gosta mesmo de mim?

A ruiva suspirou e olhou para o moreno ao seu lado como se pedisse ajuda: - Nell-chan... Eu... Não sei.

– Grimmjow é babaca, mas acho que não faria o que fez se não gostasse de ti – pela primeira vez na noite, Ulquiorra se pronunciou, da mesma forma gélida de sempre.

– Como você pode ter certeza? E se for só minha imaginação trabalhando? E se ele gostar de mim, mas não da forma que eu quero que ele goste? Eu... Eu...

– Calma Nell-chan... – disse Orihime – Ele chegou a dizer que gosta de você?

– Bom... Não – respondeu levantando-se e se aproximando da janela do apartamento – Mas... Sei, lá eu acho que... Ele estava prestes a se declarar pra mim...

A ruiva suspirou e deitou a cabeça no ombro de seu namorado: - Me explique novamente tudo o que aconteceu.

A esverdeada voltou a se sentar no sofá, de frente para Orihime e Ulquiorra. Odiava atrapalhar os amigos, quando eles estavam a sós, mas ela necessitava de um ombro amigo no momento e de conselhos, que ela sabia que só Orihime e Ulquiorra conseguiriam lhe dar. A história de amor deles, já era um conselho junto a um sermão de como se deve valorizar quem te ama. Com certeza, eles eram os melhores conselheiros do momento.

– Ok... Eu fui lá na WB pra tirar satisfação com aquele idiota, por ele ter ligado para o Ryu-san e dito que eu não queria mais sair com ele.

– O que não era verdade... – comentou Ulquiorra.

– Eu acabei brigando com e ele e de repente... Bom... Ele se aproximou de mim me olhando de uma forma tão... Intensa... Era o mesmo olhar que ele costuma mandar para as garotas com quem ele fica na balada...

– Continue – disse Orihime.

– Bom – ela olhou para uma das paredes do apartamento – Disse que tinha algo para me falar, eu disse que ele poderia falar, ele disse “Eu...Gosto... Não... Eu amo...” E então a Akane-chan interrompeu.

Ulquiorra olhou para Orihime, que lhe lançou um olhar significativo de volta. Como eles queriam dizer a ela, o que descobriram na semana passada. Amariam dizer que Grimmjow na verdade a amava e por isso havia acabado com as chances de Ryu se tornar o recém-futuro-namorado de Nelliel e que ele havia lhes dito aquilo com todas as palavras sem tirar nem por. Suspiram juntos. Mas, Grimmjow havia pedido para que eles não contassem nada, para Nelliel e trair a confiança de um amigo, era algo que eles nunca fariam.

Ulquiorra olhou para Nelliel: - Acho que vocês devem conversar.

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Suspirou e virou mais uma vez o copo cheio de uísque. Afrouxou a gravata e pediu mais uma dose para o barmen. Percebeu alguém se acomodar no banco ao lado do seu, mas pouco se importou. O barmen lhe entregou mais um copo cheio da bebida amarga. O rapaz bebeu um gole, sentindo o líquido lhe queimar a garganta.

– Uma surpresa lhe ver por aqui. – disse o rapaz que havia sentado ao seu lado – Não sabia que freqüentava esse bar.

Grimmjow olhou para o lado, vendo Ryu sentado ao seu lado, bebendo cerveja diretamente de uma garrafa. Suspirou e resmungou, “Quando pensei que meu dia não poderia piorar”.

– Trabalho na empresa WB logo à frente – respondeu, virando o copo novamente.

Ryu encarou-o por uns momentos e suspirou: - Eu sei que o que você disse pelo telefone, era mentira – comentou voltando sua atenção para a cerveja – Nelliel não é do tipo que termina pelo telefone e muito menos pede para o Melhor Amigos o fazer.

– Humpf! E descobriu a América, me dizendo isso – ironizou.

O silêncio se instalou entre eles, Grimmjow havia pedido mais uma dose para o Barmen, que enchia o copo do azulado meio hesitante. Ryu suspirou novamente, virou-se de frente para Grimmjow e decidiu quebrar o silêncio.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Não, eu não estava na parada gay no Brasil – respondeu, olhando para a frente.

– Eu não ia perguntar isso – respondeu o loiro.

– Meu cabelo é azul natural, eu não o pintei, apenas nasci assim, por que Deus ou sei lá quem quis.

– Também não ia perguntar sobre seu cabelo.

Grimmjow o encarou: - Perguntaria sobre o que?

– Só queria saber qual o seu problema.

– Ahn?

– Aff... Como você passou na prova da faculdade do Tóquio hein? Qual é a sua cara? Porque mentiu em relação a Nelliel?

Sorriu de canto: - Porque eu a amo e não quero ela com outro além de mim, pelo menos até eu levar o fora diretamente dela – respondeu como se fosse óbvio demais.

– Que coragem... Assumir assim que ama ela...

– Só aqui – respondeu ele – Porque na boa... Pra ela... Eu não consigo.

Ryu sorriu, abaixou a cabeça e a balançou negativamente. Bebeu mais um gole de sua cerveja e depois encarou Grimmjow. Nunca havia visto ser mais lerdo e burro como Grimmjow era.

– Você é lerdo ou o que? – perguntou o rapaz.

Grimmjow ficou emburrado: - Cale a boca! E você! Me diz, se sabia que eu estava mentindo, porque não continuou saindo com a Nelliel?!

– Por que não é de mim que ela gosta e sim de... – ele hesitou, encarou Grimmjow e soltou uma risadinha – Não vou dar esse gosto a você... Descubra sozinho, o porque! – se levantou e saiu dando risada.

– Humpf! Idiota... – resmungou Grimmjow voltando a beber seu uísque.

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Ela olhou para o teto de seu quarto entediada. Ulquiorra estava certo. Ela tinha que conversar com Grimmjow, mas estava com medo e confusa. E se ele não fosse se declarar pra ela como ela havia pensado? E se ele só estivesse fazendo mais um de suas brincadeiras bestas? E se ele fosse dizer a ela que estava apaixonado por alguma garota que não fosse ela? Não queria, ter que ouvir isso de seu Melhor Amigo e primeiro amor. Suspirou e se virou na cama ficando deitada de lado. Observando a parede de seu quarto pensativa. Estava sem falar com ele desde que brigaram e isso já fazia três dias. Pela primeira vez, eles brigaram e não voltaram a conversar logo depois. E parte, porque ela o evitava.

Agarrou o travesseiro com força. Nunca se sentiu tão sozinha como se sentia no momento. Nem mesmo Orihime preenchia o vazio que estava em seu peito. Ficar sem falar com Grimmjow era horrível e acabava com ela. Suspirou. Acabaria com essa situação no dia seguinte.