Gates of Hell escrita por GAS


Capítulo 4
Festa Sangrenta




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POV Lorde

Finalmente o pôr do sol. O momento em que tudo no mundo fica dourado, o momento o qual sente-se o calor do ar como um abraço. E principalmente, a hora em que podemos caçar sem nossos corpos queimarem. Sim, nós queimamos no sol, não brilhamos. Brilhar é coisa de fada.

Visto meus shorts e meia calça preta e carrego no rímel. Seria uma longa madrugada. Abro a gaveta da minha mesa de cabeceira e lá está ele: meu amuleto. Um cordão preto com um escaravelho azul como pingente. “Use-o e atraia apenas o bom”: conseguia visualizar perfeitamente a imagem de minha mãe falando isso. Afasto ao máximo essa lembrança, não era hora de se abalar. Amarro o colar no pescoço e saio em direção à floresta onde todos os outros do grupo já me aguardavam.

-Atrasada para variar. – diz Wachovia virando os olhos. Wachovia se achava líder de todos nós e não enxergava o quão patético isso parecia. Ser 2 anos mais velha e ter uma voz um pouco mais grossa não lhe dava o direito de comandar tudo. Eu até bateria de frente com ela, mas agora não era o momento. Estávamos todos com pressa e fome. – Vamos logo. Já são quase 20h e nós nem começamos ainda.

Andamos em meio à neblina da floresta, devem estar uns 11ºC, porém não sinto frio. É como se a garoa gelada fosse apenas uma brisa agradável, daqueles que vem apenas em bons momentos. Era como observar o mar.

Divagar sobre o vento faz com que me distancie do grupo. Éramos em um total de 13 pessoas. Não gostávamos todos uns dos outros, mas sempre andávamos em bando. Era necessário andarmos em bando.

-Lorde!- ouço um dos vultos à frente me chamar. Provavelmente era Regan me apressando.

- Calma ai, já estou indo. – corro até ele.

-Ei, fique mais atenta. Depois você reclama que Wachovia pega no seu pé.

- Olha, eu realmente não estou nem aí

- Tanto faz. Já sabe qual o esquema pra hoje à noite?

- Não. Como faremos e pra onde vamos? – pergunto

-Vamos para Crowsville mesmo. A cidade não é muito grande, o que nos deixa com menos testemunhas, e já estamos perto. – ele passa o braço por cima de meu ombro e eu copio o movimento. Adoro andar assim com alguém. Principalmente com Regan. Não que eu sentisse uma atração especial por aqueles olhos castanhos e cabelos loiros. Mas éramos melhores amigos, então era comum estarmos juntos na maior parte do tempo.

Caminhamos mais alguns minutos até que ao invés de mais árvores, nos deparamos com um vazio estacionamento de super mercado.

-Certo – Como de costume, Wachovia já começa dando as ordens – São 21h10, separem-se e às 2h nos encontramos novamente aqui. – ela sai apressadamente antes que qualquer um discorde com o plano e puxa Regan para si. Ás vezes acho que ela tem ciúmes de nossa amizade. Outras vezes tenho certeza.

-Então ta né. – digo e saio andando em direção ao centro da cidade. Queria algo mais agitado, quem sabe um bar ou algo do gênero. Todos me consideravam a festeira do grupo, aquela que dizia “uma noite sem dança, uma noite perdida”. Até pode ser. Realmente eram muito raras as sociais que eu dispensava.

Ficar vagando à noite, sozinha, em uma cidade desconhecida não era a sensação mais agradável do mundo. Coloco meus fones de ouvido no volume quase máximo. Bem melhor.

Passo em frente de diversas lojas fechadas, mas todas com um aviso na porta: “Abriremos no Dia dos Finados”. Uma das minhas épocas do ano preferidas: Dia De Los Muertos. Minha vontade era viajar para o México todo o ano só para comemorar o feriado com cores e música. Aqui no Kansas era muito mais mórbido, todos os católicos saiam com uma cruz de cinzas carimbada na testa. Sim, era bizarro.

Viro a esquina e algum ruído externo começa a competir com minha música nos fones. Aumento o volume, porém não adianta. “Mas o que é isso?!”. Retiro meus fones e é aí que minha frustração vai embora. O som que me atrapalhava vinha de uma casa logo à frente e era conhecido popularmente como “música eletrônica”. “Uma House Party”. Parecia que o destino tinha ouvido minhas preces. Nada mais adequado em uma noite de Halloween do que uma House Party.

Solto o coque e arrumo meus cachos para ficar um pouco mais apresentável para a situação. Atravesso a rua e vou em direção a entrada da casa. Ao chegar ao jardim, percebo que a festa já havia começado à algum tempo, devido aos bêbados e maconheiros de plantão, jogados na grama e gritando palavras aleatórias. Toco a campainha e poucos segundos depois atende uma garota com um chapéu de bruxa e uma maquiagem que a deixava com cara de travesti.

- Você foi convidada? Tem nome na lista? – ela pergunta com uma voz que me deixou em dúvida se ela era realmente um travesti.

- Na verdade eu tenho sim. É Emily. – “Emily” é o nome mais comum do mundo, tinha que dar certo.

- Desculpa, mas as 4 Emily’s que estavam na lista já chegaram. – “Merda”- Na próxima vez tente “Margareth”, quem sabe sua mentira seja mais convincente. – ela bate a porta na minha cara e alguns bêbados riem.

Certo. Pela porta não consegui entrar. Mas para que servem as janelas de uma casa além de ajudar os outros à entrar de penetra em alguma festa temática de Dia das Bruxas?

Contorno o terreno da casa até achar uma janela possível de arrombar. Encontro uma na lateral da casa e empurro para tentar abrir. Em vão. Apoio meu rosto e minhas mãos no vidro para tentar enxergar algo lá dentro e vejo apenas uma movimentação de pessoas em meio às luzes neon picando. Bato com meu punho no vidro com a intenção de quebrá-lo, porém o resultado é ainda mais animador. Um cara alto e ruivo abre-a para mim:

- Quer entrar? – ele ri. “Sim, é obvio que eu quero entrar”.

- Obrigada. – pulo a janela e entro. Lá dentro estava muito mais abafado e o som estava alto até demais. Mas pelo menos eu tinha conseguido invadir.

- Só abri por que te achei muito atraente- ele exclama e começa a rir novamente. Seu bafo denunciava que não havia tomado apenas suquinho de groselha esta noite. Concluo que poucos nesta festa estavam sóbrios. – Você não é daqui, é?

-Na verdade, não. – tento falar mais alto que a música, mas ele não me entende:

-Que?! – ele ri ainda mais. – Vem comigo, vamos conversar lá em cima.

-Não acho que seja uma boa ideia.

-Ah! Só vem comigo! – ele me segura pelo braço e me leva até as escadas da sala.

Subimos e entramos em uma suíte na qual um casal se beijava no chuveiro do banheiro. Ele fecha a porta do banheiro e do quarto também. Isso não iria acabar bem.

- Agora sim estamos a sós, gatinha. – o ruivo vem pra cima de mim e me beija no pescoço.

-Ow, vai com calma ai. – eu tento parecer calma. Mas estava quase gorfando.

- Calma nada. – ele ri e começa a tirar a camisa. “Tão rápido assim?”. Ele continua me beijando no pescoço e me empurra com força na cama. Era a gota d’água! Ele se deita sobre mim e eu sussurro em seu ouvido:

- Eu disse que não era uma boa ideia. – sorrio maliciosamente e antes que ele volte a se esfregar em mim, cravo os dentes no seu pescoço.

Ele grita de dor.

– Ohh... O que foi? Não veio aqui em cima com a intenção de levar umas chupadas? – era minha vez de rir. Ele murmura algumas palavras de ódio e lágrimas escorrem pelo seu rosto. Sugo seu sangue até seus lábios ficarem pálidos. Limpo o sangue ao redor da minha boca e cubro o cadáver com o cobertor estampado sobre a cama.

Fecho a porta do quarto e desço as escadas. Meu relógio marcava 2h15 da manhã. Wachovia iria me matar, mas pelo menos, consegui saciar a fome.

~~Browne~~


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Notas finais do capítulo

Escrito por: Browne



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