As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 9
Capítulo 9 - Shhhh!


Notas iniciais do capítulo

Para a HeyLuce, que estava animada pela primeira fita :3



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"Adolescence didn't make sense

A little loss of innocence

The ugly years of being a fool

Ain't youth meant to be beautiful?"

— Teen Idle, Marina & The Diamonds

— Fawn, eu... Eu não sabia — Holden chamou-a na hora da saída, enrubescido. — Eu não deveria ter sido tão duro com você.

— Não precisa ser legal comigo porque tomamos o mesmo remédio. Quer dizer, eu não tomo mais. Eu estou bem. Você é quem está com problemas. Estou aqui para te ajudar, só isso.

— Está me ajudando porque quer, ou porque é o que David ia querer?

— Eu não sei o que David ia querer. Ele provou que havia muito sobre ele que eu não sabia quando engoliu um frasco inteiro de remédios de sei lá o quê — Fawn resmungou.

— Os meus remédios, se você não se lembra.

— Podemos, por favor, parar de falar disso?

Jensen! — Jenny correu até eles. — Cara, você não sabe o que... — foi quando ela notou a presença de Holden. — Hum, oi.

— Holden — ele acenou levemente.

— Ceeerto... Fawn, vem comigo — e então empurrou Fawn pelos corredores.

— O que foi? — Fawn ergueu uma sobrancelha.

— Você e sua queda por caras que só te trazem problemas — Jenny revirou os olhos.

Fawn gelou por um instante, e depois se deu conta de que ela se referia a Holden.

— Eu não gosto do Holden.

— Então por que diabos estava falando com ele? São parceiros de Biologia ou algo do tipo?

— Hã... Na verdade, ele está no último ano, e era melhor amigo do David.

— David... David, seu ex-namorado que se drogou e...

— Simmons.

— Certo, desculpe.

— E ele não era meu namorado.

— Tá, que seja. Mas você precisa seguir em frente, e aquele garoto Holden não está ajudando.

— Acho que isso sou eu quem decido.

— Fawn, eu sou sua amiga. Só quero que você viva, ok? Venha para uma festa comigo.

— A última festa em que eu fui não acabou muito bem.

— Mas essa é diferente! Vamos, vai ser legal!

Era sempre Cassidy quem empurrava Fawn para festas. Jenny sequer queria ir na maioria das vezes.

As coisas mudavam rápido demais.

— Onde é?

— Na casa do amigo de um amigo.

— Que amigo? Afinal, fomos convidadas?

— Jensen, é claro que fomos convidadas. Está dentro?

— Hã... Tá.

— Ok, sábado às dez estou na sua porta.

— Combinado.

Jenny correu até Danielle, provavelmente para convidá-la também. Fawn caminhou melancolicamente até o próprio armário.

Guarde isso. Vai ser útil, prometo.

Se eu fosse você, pegaria a correspondência antes da sua mãe hoje. Eu odiaria que a querida sra. Jensen descobrisse o que sua filha perfeita anda fazendo.

O jogo começou, Número Um.

Antes do último período, Fawn disse que estava se sentindo mal e fez Peter levá-la para casa. Ele odiou a ideia, mas ficou feliz por se livrar de uma aula de Biologia.

Fawn correu até a porta, onde encontrou um pacote lacrado. Ótimo, sua mãe ainda não tinha chegado. Pegou uma faca e abriu a caixa, rompendo o lacre.

Dentro encontrou as últimas coisas que esperava:

Um tocador de fitas.

Pequenas caixas com cadeado.

Um bilhete.

E uma fita cassete.

Ela foi primeiro para o bilhete, é claro. Mas desejou não tê-lo feito.

Querida pessoa,

Essa é provavelmente sua primeira fita, mas não a última. Ah, não. Ainda tenho muitas outras coisas para compartilhar. Comece a ouvir. Tudo vai ficar claro como água.

Aqui estão as regras: você ouve. Você repassa. O que acontece se não repassar? Bem, eu tenho muitas outras cópias dessas fitas. E se não fizerem exatamente o que estou mandando, juro que elas vão parar nas mãos da pessoa que você menos quer que ouça.

Algumas histórias foram feitas para serem contadas. E eu planejo contar. Uma. Por. Uma.

Fawn estremeceu. Pegou a fita — que possuía um grande número "1" escrito no meio dela com esmalte vermelho — e colocou-a no tocador mesmo já sabendo exatamente o que viria.

A voz que saiu de lá fora modificada por um computador para parecer a de uma boneca de corda, ou algo do gênero. Ter uma voz tão infantil e delicada dizendo algo assustador fez Fawn pensar seriamente no que estava metida.

Número Um. Primeira a ouvir. Primeira a saber. Primeira a cair. O que me diz, querida? Todos nós já fizemos algumas coisas que gostaríamos de simplesmente esquecer... Mas e se alguém descobrisse? E se alguém ameaçasse... contar?

E se esse alguém fosse eu?

Pausa. Fawn teve que se lembrar de respirar.

Aqui está como funciona: isso aqui é o que eu gosto de chamar de Fitas da Retaliação. O que é isso? Um jogo? Talvez. Todos vocês gostam muito de jogar, não é? Mas odeiam perder. Vocês não precisam perder. É só fazer o que eu mando.

Simples, certo? Pena que alguns de vocês têm sérios problemas em perceber quais atitudes vão ferrá-los... Talvez por isso estejam aqui.

Só para deixar claro: não é porque estão ouvindo isso que seu nome será citado. Há vários motivos para você estar recebendo isto. Você pode ser o culpado. Pode ser a consequência. Pode até mesmo ser a vítima, mas logo vão aprender que não existem vítimas nessa história. Não existem vítimas na retaliação. Só os vencedores. E os que são fracos demais para revidar. Ou você pode ser simplesmente um espectador. Talvez haja algo aqui que você realmente gostaria de saber.

Bem, vamos logo para a primeira história.

Fawn engoliu em seco.

Nossa protagonista, a Número Um, como vocês podem ler na fita, não é necessariamente uma pessoa ruim. Também não é necessariamente quem vocês pensam. É de sempre que ela tem muita má sorte com o amor, não é? Sempre se escondendo. Sempre mentindo. Sempre não sendo boa o suficiente.

Mas sabiam que ela, na verdade, roubou um coração recentemente? É, um coração que ela não deveria roubar. Que beleza, Numero Três. Como explica isso?

Alguém me diz onde Número Um estava na noite de sexta-feira, exatamente seis dias depois que uma figura muito conhecida saiu da cidade?

Fawn pausou a fita.

— Puta merda — soltou, e demorou alguns minutos para ter coragem de continuar rodando.

Pois bem. Eu sei. E o Número Três também sabe. Quem diria que ele tem uma queda por garotas chorosas no meio da noite? Depois de um copo ou dois, quem não iria mais fundo?

Certamente não esse canalha que, olha, tem uma namorada. Mas será que ela é tão legal assim quando comparada à nossa liberal Número Um?

Sabemos o que você fez. Todos os detalhes sórdidos de como suas roupas inexplicavelmente foram parar no chão do quarto, ao lado de uma camisinha usada. E se não quiser que sua melhor amiga saiba, repasse essa fita. Abra a caixa com o seu número e veja o endereço. Tenho certeza de que você vai amar.

Bem que eles dizem que melhores amigas dividem tudo, não é?

P.S.: Não duvide de mim. Mamãe já quase pegou essa caixa, não é? Mais alguns minutos e... Ops! Imagina só?

E aquele foi o fim. E Fawn nunca estivera tão apavorada em sua vida toda. Quando suas mãos finalmente pararam de tremer, ela abriu a caixa com a chave que achara em seu armário.

Bakery Street, 1298, apto. 110

Era o endereço de Cody Lee Hinara.

* * *

Fawn não conseguiria fitar Cody no dia seguinte. Sabia que ele havia recebido a fita. Ela se certificara disso.

Meu Deus, ele com certeza contaria para o mundo inteiro. Transformaria a vida dela em um inferno maior do que já estava. Aquela noite valeu mesmo a pena?, pensou Fawn consigo mesma.

Como se sabe que algo é um erro? Fawn achava que era quando você pensava Se eu voltasse no tempo, faria de novo? e a resposta era não. Mas ela tinha medo de responder a essa pergunta.

E certo, Cody podia ser um mané magrelo, mas ainda era mais alto do que ela. E mais forte. Então, ei, não foi nada legal quando ele a pressionou contra um dos armários no corredor vazio no meio do segundo período. E olha que ela só queria beber água.

— Ei, eu sei que você me ama, mas a sua coisa é com a Jenny, beleza? — provocou ela, tentando usar o sarcasmo para esconder a própria hesitação.

— Isso nunca impediu você antes.

Ai.

— O que você quer, Goku?

— Olha, cultura certa! — ele aplaudiu. — O que eu quero? Retaliação. Mas, por enquanto, me contento em esfregar um monte de verdades na sua cara.

— Vá em frente.

Eu mereço, ela pensou.

— Eu posso ter perdido a Jenny por causa disso. Tudo porque o seu querido Blake me falou sobre uma garota que ele não consegue esquecer, e em quem fica pensando o tempo todo, e logo depois encontrei-o abraçando a Jenny. Confrontei-a por causa disso, enquanto, na verdade, era você a vadia traidora. Eu deveria ter sabido.

— Ei — ela protestou, empurrando-o. — Não vou dizer que o que eu fiz foi certo, mas não aja como se a culpa fosse toda minha. Quando Jenny negou, você deveria ter acreditado. É o que um amigo faria. Nem isso você consegue ser?!

— Seria um discurso inspirador, se não viesse da garota que transou com o namorado da melhor amiga.

Fawn suspirou.

— Certo, eu mereci essa. Vai fazer o quê? Contar para todo mundo? Tudo bem.

— Não, nada disso — ele sorriu. — Aquela louca das fitas parece ter um plano bem maior para a sua desgraça. Eu jamais interferiria. Ela parece saber bem mais técnicas de tortura do que eu.

— Você é psicótico.

— Sua incapacidade de aceitar as consequências de seus atos me fez perder a Jenny. A única coisa que me anima é que, quando tudo isso vier à tona, você vai perder bem mais, Jensen. E vai desejar que eu tivesse contado.

— Você é completamente psicótico — Fawn cuspiu nele.

— Vadia! — ele cerrou os dentes, se afastando para desviar do cuspe.

A garota saiu correndo de volta para a classe.

"Blake me falou sobre uma garota que ele não consegue esquecer, e em quem fica pensando o tempo todo"

Deus, ela estava tão ferrada.

* * *

— Essas botas não foram a melhor opção — foi o cumprimento de Jenny quando Fawn entrou no carro no sábado à noite.

Fawn suspirou. Arrancar um elogio de Jenny era sempre um sacrifício.

— Eu gosto — retrucou ela, ajeitando seu vestido verde-claro. Fitou as botas marrons de cano baixo. Ficara ótimo.

— Hã... Fawn, esse aqui é o Lucas — ela apontou para o garoto muito bonito no volante. — Também conhecido como Luke. Também conhecido como filho da meger... Quero dizer, Margo.

Luke riu.

— Tudo bem, Jenny. É um prazer, Fawn.

— Hã... Igualmente.

Ele deu partida. Eles logo estavam em uma casa desconhecida no centro. Jenny arrastou Fawn e Luke para dentro. Luke foi apresentando Jenny a um pessoal, mas Fawn não estava ligando muito para a coisa toda.

Então foi pegar um copo de cerveja.

* * *

Os olhos verdes de Blake rondaram o salão durante alguns minutos. Algumas garotas realmente bonitas com vestidos realmente curtos sorriam para ele e o convidavam para "dançar", mas ele realmente não dava a mínima.

Cansou de tentar convencer a si mesmo de que a súbita indiferença quanto a outras garotas fora causada por Cassidy quando a viu.

Os cabelos escuros caindo em ondas até um pouco abaixo dos ombros, o vestido verde bem menininha até um pouco acima dos joelhos e coturnos marrons de cano baixo. De algum jeito, aquilo se tornara um tipo de country folk que sempre fora a marca registrada de Fawn.

Ele caminhou até ela, cujos olhos escuros pareciam perdidos no meio da imensidão de pessoas.

— Não consegue ficar longe de mim?

Fawn quase derrubou o copo, tamanha foi a surpresa.

— Blake — ela se virou, respirando fundo. — O que está fazendo aqui?

— O dono da casa é meu amigo. Ryan Johnson — ele deu de ombros. — E você?

— Hã... Jenny conhece um amigo desse cara aí. Ela me fez vir.

— Você parece meio hesitante. O que foi?

"Blake me falou sobre uma garota que ele não consegue esquecer, e em quem fica pensando o tempo todo"

— Hã... Nada. Eu... Sei lá.

— Se alguém aqui tinha que estar se segurando, esse alguém sou eu — ele desviou o olhar, suspirando. — Você se olhou no espelho, por acaso?

— Nós temos que conversar.

— Estamos conversando — lembrou Blake, e tentou não demonstrar o quanto estava orgulhoso do próprio autocontrole.

— Em particular.

Eles foram até a lavanderia e trancaram a porta.

— Blake, eu estava pensando, e...

Blake não prestou muita atenção no que ela dizia, mas prestou atenção nela. Na forma como a luz da lua refletia em seus olhos escuros, na mecha de seu cabelo que ela frequentemente afastava do rosto. No quanto ela gesticulava enquanto falava quando estava nervosa, frequentemente fazendo pausas longas para recuperar o fôlego.

Cara, como ela era linda. Não só por fora. Ela era muito bonita, sim, mas não chamava tanta atenção. Não tinha o cabelo cheio de ondas perfeitas castanho bem claro de Cassidy, nem os olhos verdes de Jenny. Mas emitia luz própria quando começava a falar.

A ideia de que Blake gostava quando Fawn falava era nova para ele, porque ele sempre gostara bem mais de garotas quando elas estavam caladas.

Mas Fawn era simplesmente magnética. Ele simplesmente admirava tudo nela, cada ideia maluca, cada jeito diferente de ver as coisas, cada palavra gentil... Era como se, não importasse o quão fundo ele cavasse, os metais só fossem ficando mais e mais preciosos.

— Lembra-se de quando eu disse que nenhum de nós dois queria repetir nada do que aconteceu naquela sexta-feira?

Fawn encarou-o. Ele provavelmente a interrompera no meio de uma frase ou algo do gênero.

— Sim.

— Eu não sei você. Mas eu menti — ele se aproximou dela.

Fawn mordeu o lábio.

— Vou me arrepender disso depois.

— Eu também — ele deu de ombros.

E então beijou-a nos lábios.

Foi diferente dos outros beijos, simplesmente porque foi calmo e gentil. Ele envolveu-a pela cintura e eles ficaram ali por alguns minutos, fazendo pausas apenas para recuperar o ar e olhar nos olhos um do outro.

— Deveríamos ir — sussurrou ela.

— Tudo bem — ele soltou-a lentamente, por mais que não quisesse.

Fawn saiu primeiro, e logo correu para procurar Jenny, mas não a encontrou.

* * *

Jenny não sabia por que alguma parte do cérebro dela pensou Ei, vai ser divertido quando Luke sugeriu que eles subissem no telhado.

Mas ela tinha de admitir que tinha uma bela vista da cidade. E, bem, não só da cidade.

— Eu achei que nunca mais fosse ver você — disse Luke, quebrando o silêncio.

— Pois é. O destino tem um jeito esquisito de fazer as coisas funcionarem.

— Eu só não imaginei que nos veríamos de novo porque seu pai está pegando a minha mãe.

Pareceu mais real quando ele falou. Jenny achava que era tudo da cabeça dela, mas Luke também percebera.

— Isso é tão estranho.

Luke riu e, sem pedir permissão ou dar qualquer sinal, simplesmente inclinou-se e beijou-a nos lábios.

Eles se deitaram no telhado.

— Sabe o que é mais estranho? — ele sorriu. — Podemos acabar sendo tipo irmãos.

E então beijou-a novamente. Depois se afastou para dizer:

— Por outro lado, seria legal ter você morando no quarto ao lado.

Jenny riu e ele beijou-a novamente.

—... Para que você possa me ajudar com a lição de Matemática, é claro.

Ela riu novamente.

— Shhh — pediu, e depois beijou-o.

* * *

Blake e Fawn se evitaram inconscientemente durante toda a festa. Ou... Ér... Quase isso.

— Salve, salve, galera! — disse Ryan Johnson no microfone quando a festa estava acabando. — Chegou a hora da maior das tradições das festas Johnson: O desafio dos 8 Minutos!

A "galera" foi à loucura, aplaudindo e incentivando.

— Vocês deixaram seus nomes na porta por um motivo. Metade dos nomes foi colocada em pedaços de papel nesta caixa — Ryan sacudiu uma caixinha de madeira. — Para os novatos, aqui vai o desafio: a metade de vocês cujo nome não está aqui tirará um papel da caixa. O nome que sair será seu parceiro nos 8 Minutos. Sem trocar. Sem reclamar. E então você e seu parceiro passarão 8 minutos trancados. Em um armário. No quarto de visitas. Sozinhos.

A ideia fez Fawn ter vontade de vomitar. Ela provavelmente acabaria com algum pervertido que passaria 8 minutos tentando ficar com ela.

Ela estava na metade que tiraria os papéis. Era como se o universo dissesse: Você tirou o papel! É tudo culpa sua!

Alguém realmente me quer no inferno, pensou Fawn quando leu o que estava escrito.

Blake Diggory


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