As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 7
Capítulo 7 - Histórias Mal-Resolvidas


Notas iniciais do capítulo

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"My God

Amazing how we got this far

It's like we're chasing all those stars

Who's driving shiny big black cars"

— Secrets, One Republic

— Eu fiquei tão feliz quando você me ligou — a mulher no volante riu sozinha, animada.

— Legal, Tia Suzzie — Fawn suspirou, já se arrependendo. Não que tivesse escolha.

— Entãão... Vai me contar onde estava?

— Parte do acordo não era sem perguntas?

— Tudo bem, tudo bem! — Suzzana ainda parecia estar se divertindo muito. — Mas essa camisa é do seu namorado?

— Eu não tenho namorado. É que... usar camisas masculinas está na moda. Chanel mesmo disse.

— Esses jovens de hoje...

E há quem diga que não é fácil enganar gente velha..., pensou Fawn.

Tia Suzzie, irmã do pai de Fawn, era o tipo de pessoa que poderia usar Semancol. Ela tinha, sei lá, sessenta anos? E usava vestidos curtos com estampa de animais (além dos casacos que realmente eram feitos de animais. A ideia enojava Fawn), muito dourado e batom rosa-choque combinando com as unhas enormes.

Possuía uma voz aguda e irritante, e sempre alongava as sílabas quando falava. Fawn já perdera a conta de quantas vezes Suzzana dissera "Néér?" ao invés de "Né?".

Porém, seu maior sonho era se aproximar de Fawn. Que lindo. Só que a mulher era horrível com Fawn, sempre criticando suas roupas, seu cabelo, seu peso, seus livros, seus hábitos... Basicamente qualquer coisa.

Mas a garota simplesmente não tinha mais para quem ligar. Arrependeu-se quando o primeiro comentário de Suzzie foi:

— Aaaah, sua magricela! — abraçou-a, dando tapinhas em suas costas.

Fawn odiava aqueles tapinhas.

Como se sua vida não pudesse descarrilhar ainda mais.

Suzzana deixou-a em casa, dizendo que havia ido buscá-la na casa de Danielle. A vontade de sua tia de "se enturmar" com Fawn era tão grande que ela não se importava com o fato de não fazer ideia de o que estava acobertando.

A mãe não teve escolha senão acreditar, mas obrigou Fawn a soprar um bafômetro — coisa que ela fez com prazer, apenas para descobrir que não havia álcool dentro do próprio corpo. Não que ela já não soubesse disso.

Mas é claro que teve de explicar a camisa, o que foi... Bem... Complicado. A mãe certamente não acreditaria que "estava na moda".

— Encharquei minha camiseta sem querer, a torneira explodiu. Aí, tipo, a Danielle é mais de cinco centímetros mais baixa do que eu, e ela também tem mais busto, então as camisetas dela ficaram muito esquisitas. Então ela pegou uma camisa do irmão dela, que não estava em casa.

Ela não tinha acreditado, dava para ver. Mas o que poderia falar?

— Você está cheirando a bebida — resmungou.

— O bafômetro disse que eu não bebi. Então não bebi.

A conversa não estava terminada, Fawn sabia disso. Então passou o dia trancada no próprio quarto. Tomou um banho e vestiu um moletom e jeans.

Obrigou-se a repassar a noite anterior. Quantos crimes havia cometido? Vamos ver. Ela fugiu — isso era desacato à autoridade? Sei lá —, invadiu uma propriedade privada depois do horário de funcionamento (o parque era da família Miller, e não do governo), tomou bebida alcoólica sem ter 21 anos...

Mas não dava a mínima para nada disso. Era o fim da noite que estava atormentando-a. Em que diabos estava pensando?!

Se Fawn costumasse ser essa garota, poderia até entender por que a mãe não confiava nela, mas costumava ser bem boazinha.

Não que alguém fosse acreditar nisso agora. Oh, especialmente Blake.

O que ele deveria estar pensando dela? Meu Deus, ela nem queria imaginar. Depois da antipatia inicial por conta das memórias do ônibus, ele finalmente estava sendo legal com ela e talvez eles até acabassem amigos.

Ela riu de si mesma. Isso certamente não ia mais acontecer.

Como ela o encararia no colégio?! Mal sabia como encarar a si mesma. E Cassidy...

Não, ela não queria pensar em Cassidy.

* * *

— A Margo é muito legal, tenho certeza de que vai gostar dela — Roger Simmons sorriu para a filha enquanto dirigia naquela tarde de domingo.

— É, bem, já que você gosta tanto dela — Jenny resmungou, fitando a paisagem.

— Não gosto tanto assim.

— Que seja.

— Chegamos!

Era uma daquelas ruas típicas americanas, com casas de dois ou três andares totalmente iguais, e grandes jardins extremamente bem-cuidados, onde teoricamente viviam várias famílias felizes com seus cachorros.

Teoricamente.

Roger parou o carro em frente a uma delas (como ele sabia qual era? Meu Deus, aquela mesmice estava matando Jenny por dentro) e buzinou.

Uma mulher alta e loura — tingida! — veio atendê-los, sorrindo.

— Roger! Ah, essa deve ser sua filha, Jennifer! Que linda! — Margo abraçou Jenny, que apenas ficou parada e murmurou:

— Oi.

— Entrem, eu fiz biscoitos!

— Que ótimo! — Jenny abriu o sorriso mais amarelo que conseguiu, e seu pai lançou-lhe um olhar de advertência. Eles se sentaram no sofá de visitas. Margo colocou um pote de biscoitos no centro da mesinha. Roger pegou alguns biscoitos, mas Jenny apenas murmurou que não estava com fome.

Uma música dedilhada que Jenny tinha quase certeza de que Fawn gostava — Red Hot Chilli Peppers, ou sei lá — soava no andar de cima da casa. Jenny não entendia muito de instrumentos, mas sabia que era uma guitarra.

Ela fechou os olhos. A música era muito bonita, e soava muito bonita nos dedos de seja lá quem estivesse tocando.

— Desculpem pelo meu filho, ele não larga essa droga de guitarra — Margo suspirou. — Tenho certeza de que ele vai adorar conhecer vocês, vou chamá-lo.

— Não se dê ao trabalho — Jenny murmurou.

Seu pai ignorou-a.

— Por favor! Adoraríamos conhecê-lo!

Margo subiu as escadas, animada. Jenny puxou o próprio celular e enviou uma mensagem para Fawn.

GreenEyedChick diz: Esperando para conhecer o filho da megera.

FawnForPresident diz: Ela é terrível? ;/

GreenEyedChick diz: Sabe a Meredith de Pretty Little Liars?

— Jennifer, este é meu filho, Lucas. Lucas, essa é a Jennifer, filha do Roger.

Os olhos dela focaram-se nos orbes acizentados do garoto, e no mesmo momento ela desejou não tê-lo feito. Eles desceram para o piercing no lábio.

Certo, aquela situação era uma daquelas coisas que simplesmente não aconteciam. Mas estava acontecendo. Ô se estava.

— Pode me chamar de Luke — disse ele cordialmente, mas Jenny percebeu sua hesitação.

— Jenny.

GreenEyedChick diz: Cara, eu odeio minha vida.

* * *

Pronto, a sessão de problemas de Jenny começaria novamente. Fawn suspirou. Mas, naquele momento, estava feliz por Jenny não perguntar sobre os problemas dela, porque ela de certo não iria contar.

E os problemas de Jenny a faziam parar de pensar nos dela própria.

* * *

A última coisa que Fawn queria era ir à escola na segunda-feira, mas sua única outra opção era passar o dia trancada em casa com a mãe reclamando sobre como a filha estava estragando o próprio futuro.

Então foi. Além do mais, queria provar que não acontecera nada demais (mentira). Que ela não fora afetada (mentira). Que nada mudara (mentira). Que tudo. Estava. Bem (MENTIRA!).

Para uma pessoa que era conhecida por ser muito sincera, Fawn já não sabia mais o que estava fazendo.

Foi só quando viu Danielle que se lembrou de como era uma amiga terrível. Passara o fim de semana tão ocupada consigo mesma que sequer se lembrou da loura. A preocupação voltou de uma só vez.

— PAAAAAAAARKINSON! — deu um longo abraço na amiga, mesmo sem saber por quê. — Está tudo bem?

— Hã... Por que não estaria?

— A sua ligação de sexta.

— Ah, não era nada — Danielle sabia que Fawn sabia que ela estava mentindo, mas continuou mesmo assim.

— Danielle, se for o que eu estou pensando...

A loura suspirou.

— Não seja paranoica. Olha, eu preciso ir.

— Mas...

— Tchauzinho!

E então desapareceu. Fawn queria correr atrás dela, mas sabia que a amiga precisava de espaço. Estava indo beber água no pátio deserto quando uma mão segurou a dela. Um perfume mais conhecido do que ela gostaria invadiu suas narinas.

Se por um lado ela estava odiando ver Blake, por outro se sentia grata por ele ter vindo falar com ela longe do resto da escola. Fawn imaginou que ele não fazia ideia de qual seria a reação dela.

— Oi — ele sorriu levemente.

— Oi — ela tentou soar confiante, mas não conseguiu.

— Aquela noite...

— Nunca aconteceu — Fawn não queria olhar nos olhos dele, então focou-se nos próprios pés. — Até eu descobrir o que fazer, pelo menos.

— Certo, eu sabia que diria isso. Mas digamos que teoricamente ela tenha acontecido — Ela podia sentir o olhar dele nela. — Foi uma das melhores noites da minha vida.

— Teria sido — ela corrigiu. Blake encarou-a. — Subjuntivo. O quê? Você pode até saber Biologia, mas eu sou certamente melhor em Gramática.

Ele revirou os olhos.

— Não desvie a questão.

— Bem, eu não sabia que transar com uma virgem podia ser tão bom — ela resmungou, e depois percebeu que tinha dito isso em voz alta. Começou a andar rápido.

— Espere. O quê?!

— Esqueça que eu disse isso.

Blake alcançou-a bem rápido e a segurou para que parasse de andar.

— Eu não queria soar surpreso. É que... Droga, estou surpreso. Tem, tipo, milhões de caras atrás de você. Eu imaginei que...

— Imaginou errado — ela murmurou.

— De qualquer forma — ele ainda a fitava. — Eu não estava falando só sobre o sexo quando disse que tinha sido uma das melhores noites da minha vida. Tipo... Cara, tudo. Sabe quantas vezes eu salvei uma garota de uma queda da janela do segundo andar, levei uma vegetariana ao Mc Donald's, paguei por um McChicken sem frango e invadi um parque para procurar uma entidade secreta? É o tipo de coisa que só acontece uma vez na vida, sabe? Conhecer alguém como você é algo que só acontece uma vez na vida. Sei lá, Jensen. Algo nesse seu jeito imprevisível e totalmente pirado faz com que todo mundo à sua volta viva as suas aventuras sem querer. Não sei se essas coisas que eu citei são coisas normais para você, mas para mim não são. E eu fiquei fascinado por isso. Fora que fazia muito tempo que eu não sorria tanto.

Eu também, eu também, eu também, ela queria gritar, mas conteve-se.

— Érrr... Também não foi uma noite muito comum para mim. Fora que, se não fosse por você, a aventura teria terminado depois do Mc Donald's.

Ele riu.

— É verdade. Formamos uma boa dupla para fazer coisas loucas e sem sentido.

— Falando em coisas loucas e sem sentido — ela finalmente arrumou coragem para fitá-lo, mas desejou não tê-lo feito. Seus joelhos fraquejaram. — Eu falei sério quando disse que ninguém pode saber sobre aquela noite. Tipo... Meu Deus. Tem muito em jogo, e eu ainda não sei como vou lidar com a Cassidy...

— Ah, tem isso também. Érrr... Só para deixar claro — ele mordeu o lábio. — Eu não planejei nada daquela noite. Não fazia ideia de em que diabos estava me metendo quando cheguei à sua casa. Só... Sei lá. Aconteceu. Então, tipo...

— Eu sou tão culpada quanto você, eu sei disso.

— Não era o que eu ia dizer.

— Mas é verdade. E eu sei que você não planejou.

— Valeu. Certo. Foi um incidente isolado. Nenhum de nós dois pretende repetir o que aconteceu. Ninguém sabe. Então será que podemos simplesmente... seguir em frente?

— Quer dizer, não contar a ela?

— É. Cara, eu sei que fui um namorado de merda. Eu contaria para a Cassidy, porque acho que ela merece isso. Mas vocês duas, Fawn... Vocês são melhores amigas há dez anos — ele desviou o olhar. — Eu me odiaria se fosse o motivo da separação de vocês.

— O caso é que eu também fui uma amiga de merda, se você não percebeu.

— Tá, mas todo mundo estraga tudo às vezes. A coisa minha e a da Cass já está meio desandando faz tempo, mas a amizade de vocês é, tipo, sagrada. É o tipo Blair e Serena de amizade.

— Você acaba de fazer alusão a Gossip Girl?

Ele enrubesceu.

— Minha mãe assiste. O caso é que eu posso falar para ela que fiquei com alguém e não dizer quem. Acho que seria o melhor a ser feito.

— Não, de jeito nenhum. Não é justo com você. Como eu disse, sou tão culpada quanto. Ou contamos tudo, ou não contamos nada.

Blake suspirou.

— Acha que podemos não contar nada por um tempo? Sabe, só tentar. Porque eu realmente acho que sou um mané irrelevante demais para acabar com a amizade de vocês.

Fawn sorriu um pouco.

— Isso é verdade. Bem, ainda não gosto da ideia, mas... tudo bem. Por enquanto. Além do mais, tenho um problema maior agora.

— O que foi?

Fawn fitou-o por um minuto, hesitante.

—... Eu sei que você se odeia por isso, mas sabe que pode confiar em mim — argumentou ele.

E ela sabia que estava certo, então apenas despejou:

— Eu acho que a Danielle está grávida.


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Notas finais do capítulo

TAM TAM TAM TAM