As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 14
Capítulo 14 - Velhos hábitos




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"We're searching for something

Just trying to make it happen

We listen to no one

Don't forget we won't forgive

They'll write a story of the lives we lived

Fucked up kids."

— Fucked Up Kids, The Maine

Fawn achava que Cassidy falava muito. Isso foi até ela conhecer sua nova colega de quarto, Courtney Stevens.

— Aquele ali é o refeitório — Courtney apontou para o dito cujo, que era todo branco com mesas de madeira aqui e ali. — É onde comemos.

— Jura? — Fawn murmurou, sarcástica.

Courtney a ignorou.

— O ensopado é muito bom. Não sei direito o que tem nele.

O resto do tour foi igualmente agradável. Quando finalmente chegaram ao quarto — pequeno, branco e sem graça —, Fawn jogou-se numa das camas, fitando o teto com uma expressão pensativa no rosto. Poderia ter ficado ali o dia inteiro, mas sabia que tinha de dar um jeito de ligar para alguém. Tinha que avisar Jenny, Danielle ou Cassidy onde estava, se não elas de certo pirariam.

— Courtney.

— Sim?

— Você tem celular?

— Não podemos usar celulares aqui, bobinha.

— Essa não foi a pergunta.

Ela sorriu.

— Não é muito fã de regras, é? Mas deveria segui-las.

Ótimo, uma santa. Isso era tudo o que Fawn não precisava.

Elas ouviram uma batida na porta depois de duas horas. Diana colocou a cabeça para dentro do quarto, sorrindo.

— Hora da Terapia em Grupo.

— Vou passar — Fawn sorriu.

— É obrigatório, bobinha — Courtney se levantou, animada. — Vamos, vai ser ótimo!

* * *

Fawn se encolheu na própria cadeira, olhando para o chão. Diana havia feito um círculo com as cadeiras, então o único jeito de não fazer contato visual com ninguém era manter a cabeça baixa.

Um a um, todos começaram a dizer seus problemas e falar sobre como estavam superando tudo aquilo. Ninguém era realmente fodido na vida. A maioria era viciada em pornô, ou masturbação, ou sofria bullying na escola (como Courtney, apesar de Fawn realmente não entender por quê).

— E você, Fawn? — Diana sorriu, e a garota sentiu todos os olhares em si. — O que está tentando superar?

Fawn suspirou.

— Estou bem.

— Aqui é um lugar seguro, querida. Pode nos contar.

— Estou com sono.

— Mas não é só isso, é? Vamos, deixe que te ajudemos.

Fawn sorriu, já pensando na expressão que encontraria no rosto da tal mulher quando terminasse de falar.

— Minha mãe me odeia. Ela não me conhece, então acha que sou viciada em drogas ou sei lá. Mas eu nunca usei drogas. Nunca mesmo. Eu fugi de casa algumas vezes, mas ela nem percebeu. Meu quase-namorado se matou, então eu comecei a ter uns problemas. Tenho algum tipo de complexo masoquista ou sei lá, porque eu sempre estrago tudo.

Diana assentiu.

— E seus amigos?

— Eu tenho uma melhor amiga, a Cassidy — respondeu, e Diana sorriu. — Mas ela está muito brava comigo porque eu trepei com o namorado dela. — Todos arregalaram os olhos. — Desculpe, essa não é a palavra certa? Hummm... Eu dormi com o namorado dela. É. Numa das vezes que fugi de casa. E agora ele está apaixonado por mim. O que, você sabe, complica um pouco as coisas. Mas sabe como é.

A cara dela deu a Fawn a certeza de que não, Diana não sabia como era, mas a mais velha assentiu mesmo assim.

* * *

Fawn não era muito fã de branco, mas o uso era obrigatório. Ela estava em uma de suas consultas particulares com Diana no dia seguinte quando recebeu a bomba:

— Sua ficha diz que recebeu remédios para controlar o humor.

— É — concordou baixinho.

— Mas parou de tomá-los há algum tempo? — Fawn assentiu. — Por quê? Sentiu que não precisava mais deles?

— Eles... me faziam mal. Me deixavam fora de mim, confusa. Eu não gostava de como eles faziam com que eu me sentisse.

— Bem... Eu gostaria que desse mais uma chance a eles — Diana entregou-lhe um frasco com pílulas. — Uma vez por dia. Podem realmente ajudar.

Fawn assentiu e deixou o consultório. Trancou-se no banheiro do quarto e engoliu uma das pílulas.

* * *

Blake não dormira nada, e qualquer um podia ver isso. É claro que todo mundo apenas assumiria que ele passara a noite com uma garota, e ele não os culpava por isso. Exceto pelo fato de as visitas à faculdade estarem se aproximando e ele não fazer ideia de o que ia fazer. Mas é claro que não pôde escapar do assunto por tempo suficiente.

— Yale é minha primeira opção, é claro — divagou Jenny. — Mas vou visitar Brown também, e talvez alguma outra faculdade que fique em cidades pequenas. E você, Danielle?

Danielle abraçou as próprias pernas, hesitante. Blake queria apenas abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas para isso teria de admitir que Fawn lhe contara sobre a gravidez.

E ele não queria pensar em Fawn Roth Jensen.

— Eu... Eu não sei — admitiu ela. — Uma parte de mim sempre quis levar a sério a carreira de bailarina, e...

— Bem, eu já vi você dançando, e é muito boa — encorajou Blake.

Danielle lançou-lhe um leve sorriso.

— E quanto a você, Blake Diggory? — Jenny fitou-o com os grandes olhos verdes. — Quais são os planos para o futuro?

Em resposta, ele apenas deu de ombros.

—... Qual é, suas notas são legais, e você provavelmente consegue uma bolsa pelo futebol. Um oceano de possibilidades.

Ele estreitou os olhos, surpreso. Nunca havia pensado assim, mas havia um fundo de verdade.

— Eu...

— Posso pegar uns catálogos para você — ofereceu Jenny. — Tenho zilhões lá em casa.

Blake sorriu.

— Seria legal.

* * *

— Pai, mãe, cheguei! — Jenny gritou, batendo a porta da frente de sua casa.

— Oh, olá, Jennifer — Margo Miller, a possível amante de seu pai, estava parada em sua sala de estar.

Jenny arregalou os olhos. Seu pai veio rapidamente da cozinha.

— Hmmm... Pai?

— Margo trouxe brownies — ele sorriu. — Sei o quanto gosta de brownies.

— Onde está a mamãe?

— No trabalho, querida.

Jenny revirou os olhos, frustrada, e correu escada acima, trancando-se no próprio quarto, para apenas depois perceber que não estava sozinha.

— Ah — Luke abriu um meio sorriso. Ela percebeu que ele estava com o violão dela em mãos. — Oi, Jenny. Seu violão está bastante desafinado, pensei que deveria lhe fazer um favor.

— Eu não toco, na verdade — ela admitiu. — Deve ser por isso.

— Bem, é um desperdício. Esse violão é muito bom. Talvez eu possa te ensinar.

Ela sorriu, sentando-se ao lado dele.

— Eu gostaria disso.

— Eu não sabia que estava vindo para cá, minha mãe não quis dizer. Suponho que a sua esteja trabalhando até tarde?

Ela assentiu.

—... Sinto muito.

Jenny deu de ombros.

— Tudo bem.

Luke a envolveu com os braços, pressionando as costas dela contra seu peito.

— Imagina se eles se casassem ou algo do tipo? — ele soltou um riso baixo. — Eu estaria sempre ali no quarto ao lado — Ela sentiu o rosto dele se aproximando de seu pescoço. — Seríamos como... — Sua respiração fez os pelos dela se eriçarem. — irmãos.

Jenny mordeu o lábio com força para não emitir nenhum som.

— Seria bastante fodido — admitiu ela.

— E um pouco interessante?

Ela torceu o nariz, cravando os olhos nos dele.

— Provavelmente apenas fodido.

Ele riu e deitou por cima dela, por fim beijando-a nos lábios.

Parecia idiota sentir algo tão forte por alguém que conhecia há tão pouco tempo, mas ele se sentia simplesmente cativado. Ninguém jamais entenderia tudo o que ele passou tão bem quanto Jenny. Ninguém poderia ser como Jenny. Era uma conexão tão forte que de certo era apenas fruto de sua imaginação. Ele se convencia disso toda vez, mas aquela teoria voltava a ser estúpida quando ela olhava em seus olhos.

Luke desceu os lábios para o pescoço dela, descendo as mãos até sua cintura. Ela girou até estar por cima, e ele afastou-a rapidamente. Quando abriu os olhos, encontrou os grandes orbes verdes inquisitores encarando-o.

— Desculpe — murmurou ele rapidamente, tirando algo do bolso. — Eu só... não quero que estrague.

Jenny sentou-se, arrumando a camiseta que subira um pouco e o cabelo.

— O quê?

Hesitante, Luke mostrou-lhe a foto velha e amassada. Havia um garoto pequeno nos braços de um homem, porém não dava para ver o rosto do mais velho.

— É a única foto que tenho de meu pai — admitiu ele, corado. — Eu... a guardo no bolso em dias difíceis.

Jenny assentiu, entrelaçando os dedos da mão nos dele. Olhou para a foto por um minuto e se deu conta de que o anel no dedo do pai de Luke parecia familiar. Devia ser bobagem, pois era um anel prata simples.

LUCAS! JENNIFER! VENHAM JANTAR! — Eles ouviram a voz de Margo no andar de baixo.

Os dois se levantaram e desceram as escadas rapidamente, apenas depois se dando conta de que pareciam ter sido atacados pelo furacão Katrina.

— Lucas estava afinando o violão — contou Jenny, tentando soar descontraída. — E aí, o que tem para a janta?

Eles comeram a lasanha em silêncio. Margo vez ou outra fazia algum comentário quebra-gelo para Jenny, geralmente para recomendar uma nova loja que abriu no centro ou um novo shampoo aprovado por sei-lá-quem em Paris. A garota estava tão interessada na conversa quanto Luke, cujo se perdera em "ele age com o poder de lipídeos", ou uma dessas babaquices que comerciais de shampoo falam.

— Filha, pode passar o refrigerante? — pediu seu pai, estendendo a mão.

Os olhos dela cravaram-se instantaneamente no anel de prata que ele usava na mão direita. Ela ficou atônita por um minuto.

—... Jennifer?

— Ah. Eu... Hmmm...

— O refrigerante.

Ela assentiu, atordoada, e passou a garrafa. Depois do jantar, Margo e Luke estavam indo embora. Jenny segurou o garoto na porta.

— O anel que seu pai está usando na foto — começou ela. —, meu pai tem um igual.

Luke riu.

— Qual é.

— É serio, Luke. Olhe — ela apontou para Roger, que estava conversando com Margo.

O garoto arregalou os olhos.

— Você não acha mesmo que...?

— Eles sempre disseram que eram velhos amigos.

Luke apertou os lábios.

— Faria sentido o fato de ele ter deixado eu e minha mãe. Quero dizer, é casado e tal. E faria sentido o quanto ele quer que você se dê bem com a minha família. — ele fez uma pausa. — Deus, o que estou dizendo? Isso não faz sentido nenhum.

— Mas, mesmo assim, faz — ela mordeu a própria bochecha.

— Ei, o que há com vocês dois? — Margo se aproximou, sorrindo. — Parece que acabaram de ver um fantasma.

Eles deram de ombros e se abraçaram.

Vamos dar um jeito, não fique obcecada — sussurrou Luke.

Jenny assentiu e observou-o se afastar com a mãe.


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