As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 1
Capítulo 1 - Desconhecidos, Porém Familiares


Notas iniciais do capítulo

Hey ;) Então... Primeiro capítulo. Espero que gostem, eu adoraria saber o que estão achando :3



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"'Cause we lost it all

Nothing lasts forever

I'm sorry

I can't be perfect"

— Perfect, Simple Plan

"Maybe... You're gonna be the one that saves me..."

Pela primeira vez em dezesseis anos, o volume máximo dos fones de ouvido não era suficiente. Os berros irritados da mãe de Fawn Roth Jensen pareciam ultrapassar a voz de Liam Gallagher.

Não que Fawn odiasse sua mãe. Ela amava a mãe. Odiava o que a mãe se tornara: uma completa desconhecida obcecada pela ideia de que Fawn com certeza tinha alguma doença ou problema mental.

Todos os psicólogos diziam a mesma coisa à mãe: Sua filha está ótima. Mas eu recomendaria algumas sessões para a senhora.

Depois daquilo, Fawn decidiu que psicólogos eram um de seus grupos de pessoas favoritos, junto com atendentes de livraria e senhoras de lojas de doces.

— FAWN, DESÇA JÁ AQUI!

Ela o fez. Encontrou a mãe segurando um par de tênis.

— Pode me dizer o que é isso? — a sra. Jensen semicerrou os olhos.

— Um par de tênis.

— Tem um par aqui. E outro jogado no seu quarto. Por acaso você tem quatro pés?

— Você está vendo quatro pés saindo de mim? — Fawn revirou os olhos.

— Senhor, Fawn, você é tão relaxada, e desprovida de qualquer tipo de filtro!

— Filtros são para cigarro.

— Ai, meu Deus, agora você fuma também?! Vou ligar para o seu pai!

Fawn bufou e voltou para o quarto. Pegou seu celular e mandou uma mensagem de texto para seu melhor amigo, basicamente irmão, confidente, e o que fosse: Mark.

FawnForPresident diz: Agora ela acha que eu fumo. Me salva.

Mark1UP diz: Então ela ainda não descobriu sobre a cocaína e o tráfico de pessoas? Ai, meu Deus, isso é ótimo.

Fawn sorriu. Só Mark conseguia fazê-la sorrir depois de falar com a mãe.

FawnForPresident diz: Bobão.

Mark1UP diz: Seus xingamentos são verdadeiramente inspiradores, Jensen.

FawnForPresident diz: Seu... Seu... Argh!

* * *

As coisas também não estavam nada boas para Jennifer Simmons, cujos pais estavam brigando.

De novo.

Sua irmã mais nova, Chloe, chorava toda vez que começava a ouvir gritos no andar de baixo, mas Jenny simplesmente não dava mais a mínima para sua família idiota e dramática.

Eles podiam apenas se divorciar, ela pensou. Mas não era tão simples. Além de todo o desgaste emocional, seu pai não pagaria pela escola das filhas se fosse embora, e a mãe não podia bancar sozinha.

Jenny poderia arrumar um emprego, mas ganharia porcamente um salário mínimo. Não ajudava. Não o suficiente.

Sua irmã tinha quatorze anos, e era a maior fresca do universo. Não trabalharia nem que fosse para salvar sua própria vida.

Não, era bem mais fácil deixar tudo nas costas dos pais.

Jenny amava sua mãe. Amava seu pai também, mas o odiava por chegar em casa tarde e com uma foto de uma loura misteriosa como papel de parede do celular. Sempre mudava quando chegava, mas Jenny já havia visto o tal papel de parede duas ou três vezes.

A garota bufou, passando os dedos mais uma vez pelos cabelos castanho-claros bem ondulados. Seus olhos verdes a fitavam de volta no espelho, e seu lápis de olho estava prestes a borrar. Alguém tem que ser forte. E vai ser você, ela disse para si mesma.

Chegou ao colégio trinta minutos antes de sua primeira aula começar, como sempre.

Cody Lee Hinara sempre chegava mais cedo, porque "seus pais tinham de ir trabalhar". Mas todo mundo sabia que ele vinha de ônibus, e podia vir a hora que quisesse.

A verdade é que chegar mais cedo ao colégio lhe proporcionava bem mais tempo com Jenny Simmons.

Não, eles não estavam juntos. Bem, não exatamente. Gostavam um do outro, e há algumas semanas finalmente tiveram a coragem de admitir isso.

Jenny ficou eufórica por dias depois da declaração recíproca. Agora eles finalmente seriam felizes para sempre, certo?

Errado. Cody disse que não podia namorar agora.

— Ele podia ao menos se dar ao trabalho de inventar uma desculpa plausível. Ou criativa, no mínimo — dissera Fawn uma vez, revirando os olhos. Não era segredo que ela não ia nada com a cara de Cody, mas piorou ainda mais depois daquilo.

Mesmo assim, eles se permitiam ficar abraçados o quanto podiam, e às vezes até alguns selinhos na hora de ir embora. Os outros não entendiam como Jenny podia ser tão paciente com Cody, mas os outros nunca haviam se sentido daquele jeito.

A luta valia a pena.

Fawn discordava. Achava que Jenny simplesmente queria se agarrar a qualquer resquício de esperança em alguma coisa, por causa da coisa toda dos pais, mas nunca dissera isso a ela. A verdade dolorosa era bem-vinda e até necessária ao ver de Fawn, mas Jenny não era Fawn.

Jenny viu Cassidy Stanford — uma de suas amigas mais próximas — e seu namorado, Blake Diggory, conversando e rindo.

— Eles são tão bonitinhos juntos — Jenny sorriu. — Não são?

— Acho que sim.

— Daria um bom ângulo para uma foto, ou uma narrativa...

— Jenny, você está seriamente começando a soar como a Jensen.

Assim como óleo e água, Fawn não se misturava com Cody. Cody não se misturava com Fawn. Leis da física.

Fawn sempre via tudo como uma ótima oportunidade para um livro ou uma foto. Mas Jenny não era Fawn.

— Você tem razão.

— Ai, merda, ela chegou — ele revirou os olhos, mas tratou de sorrir.

Fawn Roth Jensen vinha andando como se estivesse em câmera lenta. Seus cabelos escuros bonitos reluziam diferentes na luz — às vezes puxavam para o marrom-avermelhado, às vezes para o castanho-alourado — e seus olhos castanho-claros instigantes semicerrados fitavam Cassidy e Blake. Mas ela não foi até eles. Deixou sua bolsa junto com as outras e caminhou até Jenny e Cody. Suas botas de camurça marrons faziam um barulho característico no chão.

Ela suspirou ao ver Cody. Ele sempre tinha aquele sorriso bobão no rosto. Sempre. Era tão... irritante.

— Simmons, você disse que precisava falar comigo, né?

— Pode ser depois?

Você precisa falar comigo. Não estou te forçando a nada. Ah, oi Japa.

Ela raramente chamava Cody pelo nome. Era sempre algum apelido. Às vezes, quando estava mais inspirada, criava um na hora. China In Box, Yakissoba, PSY... Grande parte deles não era sequer relacionado ao Japão (que era de onde Cody vinha. Não que Fawn soubesse. Ou se importasse).

Jenny se surpreendeu por ela não ter se dado ao trabalho de fazer alguma referência embaraçosa.

— Você está bem?

— Claro. Por que não estaria?

Mas Jenny conhecia Fawn o suficiente para saber que não, ela não estava bem. Mordia o lábio com tanta força que logo começaria a sangrar. E mexia em seu colar de prata com um "F" gravado. Mark dera a ela. Era seu amuleto da sorte.

— Já vou dar o fora daqui. Só estou pensando em quem vou gratificar com minha ilustre presença. Eu falaria com a Cass, mas não acho que Blake goste muito de mim.

— Alguém que não goste muito de Fawn Roth Jensen — provocou Cody, ainda sorrindo. — Não consigo pensar em nenhum motivo plausível.

Fawn estava perdida em devaneios.

— O que disse?

— Está precisando limpar o ouvido?

— Bem, se você diz, sr. Asiático. Talvez um pouquinho — para intensificar o "pouquinho", Fawn usou o dedo indicador e o polegar para demonstrar o tamanho.

— O que é isso? — ele apontou para o sinal dela.

Fawn sorriu — seu sorriso presunçoso de quem tramava algo. Um sorriso que deveria-se temer. Sempre —, e Jenny pensou em se esconder, mas não o fez. Apenas esperou a bomba.

— Ah, essa coisinha pequenininha? É o seu pinto.

— Como sabe? Observa muito?

— Japonês — ela fez soar como se essa única palavra explicasse tudo. Jenny segurou um riso. — Se me dão licença... — Fawn saiu andando.

Fawn não estava planejando realmente ir falar com Cassidy, mas esta a chamou, em um berro:

— JEEEEEEEENSEN!

As coisas pioram quando se ignora Cassidy Stanford, então Fawn caminhou até a melhor amiga.

— Oi, Cass!

— Oooi!

Blake fitou Fawn de relance e a cumprimentou sistematicamente. Se ela já conversara com ele alguma vez, não se lembrava.

Não é como se ele tivesse algum interesse em conversar com ela. Parecia considerar sua presença um pouco irrelevante, mas também não estava respondendo com muito entusiasmo às ideias de Cassidy.

Blake Diggory é o que você poderia chamar de gato. Cabelos escuros curtos despenteados, olhos verdes pensativos...

Mas Fawn não pensava nele assim. Pensava nele como "O namorado legal porém levemente hostil de minha melhor amiga".

Ela não sabia como Blake pensava nela. Não sabia se queria descobrir.


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