A Feiticeira escrita por rkaoril


Capítulo 5
Filha de Atena




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V

SUZANA

SUZANA SEGUIU RAPHAEL pelo acampamento, seguida de Elizabeth e Sabrina. Elas tinham deixado os cobertores e mantas em excesso ao lado da fogueira, para o caso de qualquer outro jovem cair no lago. Raphael era amigável, divertido e gentil, mas Suzana não pôde evitar o pensamento de que ele era meio viajado.

Ele explicou a elas a respeito do acampamento. Aparentemente, ele era o único lugar seguro para jovens especiais, como elas. Semideuses era a palavra, filhos de deuses com mortais.

Suzana estava tendo dor de cabeça com tantas explicações. Ele disse a elas a respeito dos chalés – cada um pertencente a um deus, onde seus filhos ficavam quando estavam no acampamento – ele falou a respeito dos monstros, falou a respeito das armas e falou a respeito do acampamento em si. Aparentemente, era uma versão mitológica de uma escola interna, um lugar que os semideus podiam chamar de lar.

Suzana não tinha muita certeza sobre isso. Passara a vida toda a mercê do pai, que passava a vida toda a mercê do hospital no qual trabalhava. Ela lembrava-se de ficar até as duas da manhã esperando ele chegar para que ele pudesse coloca-la para dormir, até que um dia ele não voltou. Por causa disso, ela era obrigada a morar com uma tia distante, em uma escola onde todos a odiavam sem razão. Tudo chegou a um ponto tão ruim que suas colegas haviam colocado drogas em sua mochila e então dedurado ela para a diretora, dizendo que ela havia tentado vende-las. Suzana tinha passado por tantas coisas ruim por causa daquilo – reclamações, desprezo dos outros, alguns poucos dias em uma delegacia – até que os policiais decidiram que pela ficha limpa, ela poderia ficar até os 18 em um colégio interno e nunca mais o assunto seria mencionado.

Desde que conhecera Sabrina e então Elizabeth, por pior que o Colégio para Jovens Problemáticos de Washington pudesse parecer, aquela escola para delinquentes havia sido sua única casa depois que seu pai havia morrido. Ela gostava de dividir seu quarto com as meninas, de estudar com Sabrina e de discutir música com Elizabeth, além de trafegar salgadinhos e doces para o dormitório. Segundo Raphael, a não ser que as meninas fossem suas irmãs – o que ela duvidava muito – ela se separaria delas, e não tinha certeza se queria mais amigos depois do incidente.

Além disso, por mais que o ambiente parecesse amistoso com as árvores, o lago e os chalés, tudo estava em um clima de guerra.

Suzana se pegou perguntando sobre isso a Raphael.
– Qual o problema desse lugar? – ela disse sem rodeios. Isso fez com que todos parassem e olhassem para ela. Ela se sentiu mal por um segundo, até que Raphael falou.
– Estamos sob ataque. – disse ele.
– Nesse momento? – perguntou Sabrina exasperada.
– Agora não. – tranquilizou Raphael – Mas toda a noite somos atacados por monstros.
– Como aquele cavalo de bronze? – disse Suzana.
– Não, aquele cavalo era um autômato. Um robô programado para atacar vocês. Monstros... bem, eles são um pouco piores, embora as vezes mais fácil de matar.

Suzana não estava exatamente tranquilizada.
– Quem é seu pai, ou mãe? – perguntou Suzana, tentando parecer mais amena. Diferente de Elizabeth, ela geralmente tentava ser legal e gentil.
– Hermes. – disse Raphael orgulhoso – O deus dos ladrões, viajantes e comunicações. Se seus pais ou mães não reivindicarem vocês hoje, vão dormir no chalé 11 até que isso aconteça. Mas não se preocupem, desde uma guerra que aconteceu cerca de 50 anos atrás, os deuses são obrigados a reivindicar os seus filhos até os 13 anos. Vocês devem ter oque? – ele olhou para Suzana – Você tem uns 16, você – ele olhou para Sabrina – uns 15 e você – ele piscou para Elizabeth – uns 13.
– Eu tenho quinze. – disse Elizabeth, ríspida. Suzana segurou o riso, mas Sabrina soltou uma gargalhada violenta. Raphael parecia pronto para pedir desculpas, mas Elizabeth o interrompeu – Não tem problema, é um erro comum.
– Uh, okay. – disse ele, olhando para Suzana como se dissesse ‘sua amiga é uma loli assustadora’ – Quem vocês pensam que podem ser seus pais, ou mães?
– Eu não sei – disse Suzana – nenhuma ideia. Quais deusas estão disponíveis?
– As de sempre – disse ele – Athena, Afrodite, Deméter, Iris, Tique, e por aí vai.

Eles estavam passando pela área dos chalés. Suzana achou muito lindo o modo no qual alguns chalés se podia adivinhar qual deus pertencia – como o de Zeus parecia um banco, o de Ares era um lugar pintado de vermelho com arame farpado, o de Afrodite parecia uma casinha de boneca.

Haviam outros chalés duvidosos também. Um deles era completamente negro, com chamas verdes na entrada. Não parecia ter janelas, e Suzana pensou que seria um lugar onde Elizabeth gostaria de morar.
– Qual deus é o daquele chalé? – perguntou Suzana, apontando para o chalé negro.
– É o chalé 13, Hades. – disse Raphael – Ninguém mora lá a cerca de 50 anos.
– Qual é o chalé de Athena? – perguntou Sabrina, de repente.
– É aquela construção cinza – indicou Raphael, apontando para um pequeno prédio cinza, com janelas simples e uma grande coruja pintada na frente – Você acha que ela pode ser sua mãe?

Antes que Sabrina pudesse responder, algo brilhou sob sua cabeça. Era como uma um pequeno holograma de uma coruja cinza, ela olhou para cima e a imagem seguiu sua cabeça. Ela deu um grasno de susto, pulou e correu de um lado para o outro, mas a imagem continuava a segui-la. Após várias rizadas dos outros três, a imagem finalmente sumiu.
– O que foi isso! – disse ela.
– Sua mãe, Athena – disse Raphael, ainda vermelho das gargalhadas – ela te reclamou.
– Sua nerd. – disse Suzana. Elizabeth sorriu e deu um pequeno soco em seu ombro.
– Então, quem é a próxima? – ele olhou para Elizabeth – Seu pai ou sua mãe?
– Meu pai. – disse ela. Ela parecia um pouco transtornada, mas Suzana decidiu que iria questioná-la depois.
– Você tem alguma ideia de quem seria? – ela deu de ombros.
– Me diga você. Acho que vive com deuses a mais tempo do que eu. – ela sorriu fracamente para ele – Afinal, onde estamos? Quero dizer, onde fica esse acampamento?
– Long Island, Nova York. – disse Raphael. Suzana quase engasgou com sua própria língua, tinha ido de Washington para Nova York em menos de meia hora.
– Zeus, eu quase esqueci de você pequena – ele deu uns tapinhas do cabelo de Sabrina – eu vou levar você aos seus irmãos, depois continuo com as duas. Meninas – ele olhou para Suzana e Elizabeth – fiquem paradas aqui. Não vão a absolutamente lugar algum sem mim, certo?

Ele não deu tempo para respostas. Pegou Sabrina pelo braço e a arrastou colina acima, até a área onde estava o chalé de Athena. Sabrina gritou um ‘eu vejo vocês depois’ para elas, e então desapareceu na elevação das colinas.

Lá se vai uma – pensou Suzana, então olhou tristemente para Elizabeth que encarava a floresta enevoada. Ela se perguntou quando Elizabeth iria embora também. A outra menina olhou para Suzana e sorriu, um sorriso autêntico com suas maças do rosto baixas elevando-se.
– Qual o problema querida? – disse ela – Tenho certeza que a sua mãe logo vai te reclamar. – Suzana queria dizer que não era isso, mas resolveu não comentar.
– Quem você acha quer pode ser?
– Honestamente? Afrodite. Todos os meninos babavam por você. – Suzana deixou escapar um sorriso.
– Ah, não. Corta essa. De qualquer forma, eu perguntei sobre você. Quem você acha que é o seu pai? – o rosto de Elizabeth se escureceu por um segundo.
– Eu... eu não sei. Que deus deixa os outros verem fantasmas?

Suzana não sabia o que responder. Ela queria dizer que era Hades, o deus grego do submundo. Mas a resposta ficou trancada em sua garganta. Fantasmas? Desde quando Elizabeth via fantasmas? Ela se recordava da menina falando sozinha mais de uma vez, escondida em cantos escuros e debaixo de escadas. Talvez até uma propensão a visitar cemitérios nos fins de semana livres.

Foi quando Raphael apareceu ao lado delas, simplesmente do lado. Suzana tapou a boca quando ele disse um feliz ‘olá’ e Elizabeth deu um pulo. Elizabeth estava pronta para estapeá-lo. Felizmente, Raphael apenas riu ao invés de ficar bravo ou retornar o tapa, o que fez Suzana pensar que talvez o acampamento não fosse tão ruim assim.


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