Luzes. Luzes e risos. Luzes, risos e gritos. Luzes, risos, gritos e sangue. Luzes, risos, gritos, sangue e aplausos. Aquela sequência distorcida me deixava completamente inconsciente, só conseguia ver os pontos iluminados na tenda daquele circo de artistas fadados a morrer. Triste é o líder de tal atração, tão miserável que sua única esperança é no sofrimento de outras crianças. Assim era o meu pai. Vi-me refletida nos olhos vermelhos de sangue dele. Os meus tinham uma tonalidade avermelhada, mas eram inocentes.

-Venha... Hitomi. Ficará tudo bem. Venha com o papai.

Caminhei com minhas pernas trêmulas até ele. Achava que naquelas mãos que tanto fizeram os outros sofrerem, comigo seria diferente. O Dark Woods Circus talvez fosse uma coisa boa. Seria aquele destino melhor do que a morte? Ou apenas uma morte prolongada? O Circo de Horrores continuava na cabeça delas. Abracei meu pai.

-P-Papai... Não me abandone... – Comecei a chorar, minhas lágrimas molhavam a vestimenta suja dele.

-Não irei, querida. – A voz dele era doce e suave. Como se nada estivesse acontecendo. Isso me incomodou profundamente. Ficaria talvez até mais confortável se a voz dele fosse mais temerosa.

Abri meus olhos lacrimejantes. Eu vi uma figura deitada no chão. Parecia que ela estava cansada da apresentação... Eu deveria acordá-la? Era Eika, minha querida irmã. A única que eu tinha. Mas... Sangue de sua boca?

-Pa-Pa-Papai... Eika... -me desvencilhei de seus braços e me aproximei do cadáver de Eika. Ela estava sorrindo. Um sorriso costurado.

Ele sorriu e pôs a mão pesada dele sobre meu ombro.

- Agora Eika poderá ficar para sempre conosco... Isso não é ótimo?

Alguma coisa tomou conta de mim e eu simplesmente sacudi meu ombro, e me virai para meu pai, chorando novamente.

-Para... Sempre..? E-Eu... Desculpe-me. MAS EU NÃO FICAREI COM VOCÊ NUNCA MAIS! –gritei, correndo para fora da tenda.

Meu pai corria atrás de mim, enquanto me perdia na imensidão do bosque negro, eu conseguia sentir a respiração ofegante dele perto de mim, por mais que eu me transformasse em uma silhueta fugindo no meio da noite. Os galhos das plantas me arranhavam, mas era um castigo por eu tê-lo abandonado... Certo? Não havia coisa pior do que ver Eika morta, agora forçada a sorrir pela eternidade. Eu queria sorrir também, mas será que era preciso agulha e linha para isso?

-Garota... Do que está correndo? –senti uma mão leve em minha cabeça.

- Do... Circo... Eika... Papai... –minha respiração estava difícil e as palavras intercaladas com lágrimas.

-Não conseguirei entender o que falas assim. Acalme-se. – Respirei fundo e olhei para a mulher. Era alta, bela e tinha cabelos rosados.

-Meu pai... é dono do Dark Woods Circus... E-Ele matou...minha irmã...

-Ora, não deixe esses sentimentos te atrapalharem. Megurine Luka, prazer.

-H-Hitomi Hamuya. –disse, nervosa e soluçando.

A mulher segurou minha mão e começou a andar comigo.

-Vamos, acho que tenho um lar provisório para você.

Sorri, esperançosa de um novo começo, andando junto com a mulher e desaparecendo na escuridão noturna.