Doux Apollo et sa muse escrita por Laëtitia


Capítulo 20
Chapitre Vingt




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Esme não tinha certeza de quando começou a voltar a si, mas provavelmente foi a partir do momento no qual ela começou a ter noção de onde estava.

Primeiro sentiu um colchão macio em baixo dela, algo que nunca pensou que fosse sentir novamente. E pelo cheiro ambiente, ela sabia que estava no seu velho quarto na mansão Pontmercy.

Depois resolveu abrir os olhos e ficou cega momentâneamente por culpa da forte claridade que vinha da janela. Esme grunhiu, xingando quem quer que seja que tenha esquecido de fechar as cortinas, porém, começou a analisar tudo ao seu redor, a começar pelas roupas que estavam jogadas em cima de uma cadeira próxima à cama.

Eram as roupas que ela usava nas barricadas, e na camisa, havia um enorme furo com manchas escuras ao redor e que tinham um formato como se tivessem escorrido pela camisa a baixo. Foi quando Esme se tocou de que as manchas eram de sangue seco. Também percebeu que estava com a parte superior do corpo quase inteira enfaixada por debaixo da camisola que usava.

No mesmo momento em que todas as memórias do que havia acontecido vieram à cabeça dela, a porta do quarto se abriu devagar.

Entrou no seu quarto, a empregada Julliet, que carregava roupas limpas para a menina. Assim que notou que Esme havia acordado, ela abriu um sorriso, depositando a pilha de roupas na cama.

"Oh, a senhora acordou! Isso é ótimo, chamarei a Madame, ela deseja vê-la" E saiu rapidamente. Esme estava apreensiva, com medo do sermão que provavelmente iria receber.

A moça nem teve tempo de arranjar uma desculpa qualquer pois sua tia entrou correndo no quarto e foi direto a abraçar.

"Graças a Deus Esme, você está bem!" Esme soltou um gemido de dor e se lembrou que estava ferida.

"Não continuarei tão bem se continuar me apertando assim"

"Oh, claro, sinto muito" Se afastou.

Esme se esforçou para sentar-se na cama, ou ao menos tentou, pois fazer força com os braços fazia seu ferimento parecer estar pegando fogo.

"Onde...onde estão os meninos?" Perguntou meio sem ar.

"Nos quartos de hóspedes. Alguns deles, especialmente o garotinho e um outro rapaz que foi ferido por uma baioneta, precisaram da visita do médico assim como você." Respondeu.

O coração de Esme se apertou, lembrando-se do estado no qual seus amigos se encontravam quando chegaram na mansão.

"E meu irmão..." Tentou falar, porém sua voz sumiu.

"Não tivemos notícias dele ainda"

Assim as lágrimas vieram e mesmo lutando para que não caíssem, seus olhos acabaram virando caichoeiras, tanto que sua tia teve que lhe emprestar um lencinho para que as secasse.

"Eu e seu avô desejamos conversar com você. Sobre os fatos que aconteceram."

"Me recuso a conversar com vocês sem estar na presença dos meus amigos" Respondeu.

"Pois bem. Vou reuní-los na sala de estar e espero que se vista com algo que não seja essa camisola, afinal, são visitas, deve estar vestida de forma decente."

"Claro"

"Ah, e depois teremos uma conversa em particular, somente eu e você"
Julliet foi chamada para ajudar Esme a se vestir, o que não foi tarefa fácil já que a menina mal conseguia ficar de pé ou mexer muito os braços. Depois de estar apresentável, com um vestido verde escuro e sem corpete (já que estava machucada) e sapatilhas combinando, a empregada apenas arrumou seu cabelo em uma longa trança que caía por suas costas.

A sorte é que a sala de estar era no mesmo andar do quarto de Esme, pois ela duvidava que fosse conseguir descer ou subir a escadaria da mansão no estado em que estava.

Chegando na sala, viu seus amigos ali, inclusive o pequeno Gavroche com a perna enfaixada, sentado numa poltrona maior que ele. Todos estavam presentes, com excessão de Enjolras e Courfeyrac.

Os meninos pareceram notar que Esme procurava por eles e Jehan se pronunciou.

"Courfeyrac está descansando. O ferimento dele era bem grave. E Enjolras saiu há mais ou menos uma hora. Mas não se preocupe, logo logo ele chega."

Grantaire andou mancando até Esme e a abraçou delicadamente.

"Como está se sentindo?" Perguntou à ela.

"Bem, eu acho, embora eu adoraria voltar a dormir. E você?"

"Um lixo" Respondeu com um sorriso no rosto.

De repente, eles ouviram o barulho da porta sendo aberta e de vários passos em direção a sala. Surgiu então Enjolras, com os cabelos ainda sujos de pólvora e completamente desgrenhados.

Atrás dele seguiam Joly e Musichetta. Quando os viu, Bossuet correu para abraçá-los.

Esme só não fez o mesmo por Enjolras pois tinha certeza de que se tentasse correr iria se desequilibrar e cair.

"Como está Eponine?" Perguntou Gavroche esperançoso. Joly riu.

"Está bem. Consegui retirar a bala e Montparnasse e Azelma estão cuidando dela. Quando sua perna melhorar o levarei para vê-la" Disse para o garoto, que se animou. Joly olhou para Esme de olhos arregalados.

"Meu deus, como se sente? Algum sintoma anormal? Está com febre? E o ferimento, foi limpo corretamente? Pode infeccionar..."

Esme revirou os olhos.

"Estou bem, Joly. Quer dizer, bem para alguém que levou um tiro"

Assim que ouviu sua voz, Enjolras andou rapidamente até ela e parou bem na sua frente.

"Oi" Ela disse, corando um pouco com a proximidade.

"Oi..." Respondeu meio ofegante.

Vendo que Enjolras não sabia o que fazer e estava tão nervoso quanto ela, resolveu fazer a única coisa que veio em sua mente: ficou na ponta dos pés, segurou seu rosto nas mãos e o beijou.

Pela primeira vez, os dois puderam se beijar sem precisar se sentir arrependidos por isso, e a sensação foi maravilhosa. Os braços de Enjolras envolveram sua cintura e os dela desceram para seu pescoço. A língua dele pediu passagem e ela ficou mais do que feliz em ceder.

"Eca!" Ela pôde ouvir uma exclamação de desgosto vinda de Gavroche que foi logo seguida de aplausos provavelmente de Bahorel.

"Ah por favor, vão para um quarto, ninguém merece ver isso!" Brincou Grantaire, que continuou gritando. Porém nada os abalou. Naquele momento, nada mais importava a não ser os dois.

Os gritos e aplausos foram então morrendo até pararem completamente. Esme e Enjolras se separaram, achando aquilo estranho. Foi quando viram que a tia de Esme e seu avô estavam parados na porta, olhando para a cena boquiabertos.

A vergonha era tanta que Esme mal conseguia olhar para os dois.

"Bom, já que estamos quase todos aqui..." Gesticulou sua tia para cima, onde Courfeyrac estava.

"...podemos ter a conversa que queríamos." Terminou.

Todos procuraram um lugar para se sentarem e Esme acabou no sofá, sentada no meio entre Enjolras e Grantaire, o primeiro segurando em uma de suas mãos e o segundo com o braço ao redor de seus ombros.

"Podem começar" Disse Esme. O clima na sala ficou mais tenso.

"Tudo bem, por que resolveu fugir?" Começou seu avô.

"Porque eu estava infeliz" Respondeu.

"O que lhe causava infelicidade?" Perguntou sua tia, com a maior paciência do mundo.

"Várias coisas. Eu estava me sentindo péssima morando aqui. Eu queria estudar, fazer faculdade e não queria me casar com alguém que não amo."

"E por isso foge no dia do seu casamento?" Perguntou seu avô. Esme revirou os olhos.

"E o que esperavam que eu fizesse? Pedisse para cancelarem o casamento? Mesmo que eu fizesse isso, vocês jamais iriam dar ouvidos. Minhas opiniões nunca importaram."

"Você é uma dama, deve fazer o que mandam."

"Bom, talvez eu não queira ser uma!" Levantou a voz. A mão de Enjolras começou a massagear a sua para que ela se acalmasse. Ela respirou fundo então.

"Durante todo esse tempo que estive fora, convivi com pessoas que mal tinham um teto sobre suas cabeças, mas se tinham algo que eu invejava, era liberdade."

"E ficou esse tempo todo vivendo com esses...revolucionários boêmios?" Constatou seu avô com desgosto.

"Fique sabendo que considero esses revolucionários minha família mais do que o senhor. Eles ao menos me respeitam. E respeitam minhas escolhas."

Depois disso, ninguém mais falou nada, até a sua tia se pronunciar.

"Então, parece que todos vimos sua cena com esse rapaz. Pode fazer o favor de explicar?" Apontou para Enjolras que parecia desconfortável por ter se tornado o centro das atenções.

"Não há nada para explicar. Como você mesma disse, todos viram, foi um beijo"

"E ele está lhe cortejando?" Perguntou preocupada.

"Não." Respondeu.

"Madame, se me permite..." Enjolras interviu.

"...apenas não estou cortejando sua sobrinha pois disse que só ficaríamos juntos quando a revolta acabasse"

"Então pretende cortejá-la?" Perguntou novamente sua tia mais aliviada.

"Se ela não se opuser a isso" Olhou para Esme que estava confusa.

"Eu não tinha pensado nisso mas...é, não me oponho a isso"
Ela nunca havia visto um sorriso tão genuíno no rosto de Enjolras.

"Acho que nossa conversa acabou. Não se esqueça de que quero vê-la mais tarde Esme. Na biblioteca, às 23:00"

Todos se dispersaram, alguns voltaram aos quartos que lhes foram dados, outros continuaram a conversar na sala. Esme voltou para seus aposentos onde pôde tirar aquele vestido e se deitar. Tomou um remédio que aparentemente o médico havia receitado para a dor e tirou um cochilo.

Ela foi acordada algumas horas depois por batidas na porta.

"Pode entrar"

Enjolras colocou a cabeça para dentro do quarto.

"Sua tia deseja falar com você" Disse.

Esme se levantou lentamente e Enjolras a ajudou a ficar de pé. Ela vestiu um roupão de seda por cima da camisola. Os dois foram andando juntos com os braços entrelaçados até a porta da biblioteca.

"Ela quer falar comigo em particular. Vá para meu quarto e me espere lá. Logo lhe farei companhia" Sorriu e beijou sua bochecha.

Ela entrou na grande biblioteca da mansão e encontrou sua tia sentada em uma poltrona com uma expressão muito séria no rosto. Ao lado dela, em outra cadeira estava um senhor baixinho de cabelos grisalhos, óculos e feições árabes. Era o médico da família.

"Monsieur Khalid, é um prazer em vê-lo" Esme andou até ele e o cumprimentou.

"É ótimo ver que já começou a se recuperar." Disse com um forte sotaque.

"Então foi o senhor que me atendeu?" Perguntou. Ele riu.

"Sim minha querida, e a todos os seus amigos também"

"Mas porque está aqui? Pensei que a conversa era só entre mim e a Madame..."
Sua tia se mexeu, desconfortável em seu assento.

"Ele também está envolvido" Disse, gesticulando para Esme se sentar em um lugar vazio de frente para eles.

"O que houve? Há algo errado?" Perguntou preocupada. Não se lembrava da última vez que a havia visto tão séria assim.

"De certo modo sim." Começou. Esme olhou para o Ms. Khalid, que tinha um pequeno sorriso no rosto.

"Diga Esme. Você já teve seu despertar sexual?" Perguntou o médico.

"Meu o que?" Esme estava alarmada com a pergunta repentina.

"Já se deitou com algum homem?" Esclareceu. Ela corou, mexendo nos cabelos.

"Hm...sim." Nesse momento Esme achou que sua tia fosse morrer, pois estava extremamente vermelha.

"Mas o que isso tem haver?" A menina continuou confusa.

Os dois mais velhos se entreolharam, Khalid respirou fundo, se enclinou na direção de Esme e tomou suas mãos nas dele.

"Está grávida, Esme."


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