Culpa e Fúria escrita por nanda_09


Capítulo 1
Capítulo único: marcas do passado


Notas iniciais do capítulo

capítulo único gente, espero que gostem e por favor comentem! :$



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/43418/chapter/1

Luana estava dormindo tranquilamente em sua cama. Era madrugada, e a chuva caia com força no lado de fora. Um trovão estrondoso fez com que ela abrisse seus olhos rapidamente, fitando o céu avermelhado. Ela fechou os olhos com força, nunca em seus vinte e cinco anos ela tinha se acostumado com tempestades.

Se enfiando o máximo possível embaixo das cobertas e com o travesseiro no rosto, repentinamente ela percebeu a cede que a incomodava. Sua garganta estava seca, como se tivesse andado quilômetros no deserto. Mesmo com medo, ela obrigou suas pernas a se mexerem e a descer para a cozinha para pegar um copo de água.

Ela tentava não olhar pelas janelas que a acompanhavam por todo o corredor até a escada. Ela tentava não olhar para os quartos vazios e escuros que agora pareciam tão aterrorizantes. Ela nunca entendeu por que seu irmão saiu da casa dos pais tão cedo. Sempre achou que a historia de faculdade era apenas uma desculpa.

Ela estava feliz pela viagem dos pais. Eles estavam planejando isso há muito tempo, e apenas agora tinha dado certo. Ela chegou finalmente até as escadas e começou a descê-las lentamente. Estava com sono, temia que pudesse tropeçar e rolasse até o andar inferior. As escadas de madeira estalantes faziam com que a casa ficasse com um ar assustador. Seu coração acelerou e a boca apenas ficou mais seca.

Pensando que quando mais rápido ela descesse, mais rápido ela poderia voltar a dormir e esquecer a tempestade, ela aumentou a velocidade dos passos, chegando rapidamente a cozinha, onde ela pegou um copo e o encheu com água da torneira.

Ela fechou os olhos com força, quando outro raio rasgou o céu, sabendo que em segundos o barulho alto chegaria a seus ouvidos. Ela colocou o copo na pia escura. Tudo estava escuro. O que iluminava fracamente a pequena cozinha era a luz do poste do lado de fora da casa, que entrava pela janela.

Ela olhou rapidamente para a luz do poste e depois desceu seus olhos até a rua. Seu coração gelou, suas pernas poderiam traí-la a qual quer momento. Seus olhos se arregalaram por impulso e as mãos fechadas em punho demonstravam o medo que sentia. Não poderia ser verdade.

A menina ruiva como o sangue que jorrava por um corte em sua boca, os cabelos molhados e colados no rosto, o vestido azul claro até o joelho manchado de sangue, a pela pálida como cera, os olhos vermelhos de puro ódio, e a expressão completamente mortal, fitava Luana.

Faltou ar nos pulmões da menina que ainda tinha um pouco de água na boca e que agora escorria pelo canto, como se fosse impossível engoli-la. Luana fechou os olhos com força, tentando acordar de seu pesadelo. Surpresa, a menina não estava mais sob a luz do poste.

É apenas o sono, Luana disse a si mesma, se virando lentamente para voltar ao seu quarto. Ainda tremendo, porem mais calma, Luana foi para a sala para voltar a subir as escadas. Quando ela estava no segundo degrau, o som da maçaneta girando a vez olhar para trás. Não tinha nada. Nem ao menos uma borboleta tão comum no calor excessivo. Ela soltou o ar de seus pulmões lentamente, voltando a pensar na menina.

Ela sabia que a menina estará morta há algum tempo. Deveria ter sido uma alucinação, causada pelo sono. Tranqüilizada por seus pensamentos, ela voltou para a escada subindo até o meio.

Ela já não lembrava mais dos trovões que a acordaram. Seus pensamentos estavam na menina de vestido azul. Seria um dia que ela lembraria por toda sua vida. Nunca contara a ninguém o que aconteceu aquela tarde, porem ainda era assombrada pela sua consciência. “Que idiota que sou”, ela falou para si mesma outra vez. Estava quase chegando ao fim da longa escada, quando novamente ouve um barulho que a faz gelar.

Não era o som da maçaneta girando outra vez. Não era o som de uma janela abrindo ou de um ladrão tentando entrar na casa. Antes fosse isso, ela pensou. Era um gemido alto. Um gemido torturado, de dor e fúria misturados. Lentamente ela virou para trás, para novamente se deparar com o nada. A casa estava vazia, não tinha nenhuma viva alma a não ser Luana naquele lugar.

Assustada, apavorada, com as lágrimas começando a fugir por seus olhos, Luana terminou de subir as escadas com um pulo. Olhando para todos os lados, ela tomou a direção de seu quarto, evitando ao máximo olhar para dentro dos quartos escuros.

Novamente o barulho de um trovão, e dessa vez por puro impulso ela olhou para a janela. Novamente ficou branca como cera, os olhos verdes perderam o foco e o cheiro de terra molhada era completamente evidente naquele lugar. A imagem da mesma menina ruiva estava novamente refletida nos vidros da janela.

Não era a mesma expressão de uma menina doce, que fora. Eram os olhos de uma perfeita fúria e raiva, os machucados nos braços finos e longos, o vestido azul rasgado e as pequenas trancinhas arrepiadas e desgastadas. Luana gritou alto e se encostou na parede. Um segundo depois a imagem não estava mais lá. Apenas outra alucinação. Ela tentou se convencer outra vez, porem estava apavorada demais para ouvir suas próprias palavras.

Ela correu para o quarto, trancando a porta em suas costas. Estava apavorada. Estava com medo até mesmo de se olhar no espelho. Ela sentou em um canto do quarto, fitando suas meias listradas e tentando regularizar as batidas de seu coração. Sua respiração estava completamente irregular.

Olhando em volta depois de certo tempo de silêncio, ela ficou certa de que nada aconteceria. Voltou para a cama e olhou para suas cobertas, que pareciam estar estranhamente úmidas. Uma goteira agora? Ela pensou olhando para o teto e nada encontrando. Conforme ela se mexia, mais úmidas os tecidos ficavam. Ela se levantou e jogou o edredom no chão, encontrando uma enorme mancha escura no meio de sua cama. Não tinha idéia de como aquilo poderia ter molhado. Ela se aproximou lentamente na mancha, tocando com os dedos e só então sentindo o cheiro forte.

Olhou em volta novamente e nada encontrou. Seu coração, que ainda não estava com os batimentos normalizados, agora batia freneticamente outra vez. Quando ela voltou a olhar para a cama, percebeu algumas gotas que iam até o chão. Uns rastros e marcas, até que paravam em seu próprio pé. “Droga, é só isso.” Ela pensou furiosa com seu próprio corpo e com seus sustos noturnos.

Ela pegou o pacotinho azul claro e foi até seu banheiro. Ela lavou o rosto com água gelada e olhou no espelho, vendo seu rosto branco de culpa e medo. Ela se virou lentamente para o lado, ainda tentando fazer com que se acalmasse. Novos rastros de sangue. Seu coração deu um pulo, sua pele se arrepiou, não tinha mais ar em seu pulmão, a voz que tentava sair era calada.

Marcas de mãos nas paredes, gotas de sangue por todo o banheiro e dessa vez Luana tinha certeza que não era dela. Seus olhos pararam na cortina do chuveiro, onde novamente a imagem estava parada a olhando. Dessa vez sua expressão mudara. A olhava com os olhos calmos, porem seus dentes estavam trincados. As mãos fechadas em punho e o corpo que não parecia ter movimento sequer de respiração. Fazia sentido, não era verdade? Ela não estava viva.

-O QUE VOCÊ QUER? –Luana gritou desesperada. A menina apenas sorriu um pouco. Poderia ser um sorriso angelical, se o fio de sangue não estivesse tão evidente.

-tic tac tic tac... –a menina fez um segundo de silêncio, nunca perdendo o foco dos olhos de Luana. – Seu tempo acabou.

A mesma voz rouca e amigável. A mesma doce criança morta há tanto tempo. Dizendo essas palavras a menina desapareceu. Luana tremia e sentia o medo que nunca sentiu antes. Sentia falta de seus pais, de seu irmão e de qualquer um que poderia ajudá-la ou ao menos estar ali com ela. Desesperava ela saiu correndo pelo banheiro, correndo até a escada onde ela simplesmente tropeçou, batendo a cabeça com toda a força no chão...

O raio cortou o céu, e logo em seguida veio o barulho estrondoso que despertara Luana. Ela abriu os olhos rapidamente, com o coração acelerado ainda pelo sonho terrível. Ela passou a mão pela testa, limpando assim o suor. Ela se virou na cama e olhou para o outro lado, mais calma por tudo ter sido apenas um sonho.

Ela suspirou pesadamente e seus olhos correram para a porta aberta do banheiro, onde seus olhos congelaram. O olhar furioso estava de volta. Sem sorriso tímido ou voz adocicada. Nada. Apenas a imagem mortal que a encarava com os olhos queimando.

Luana se levantou e correu pela porta, descendo as escadas o mais rápido que seus pés permitiam. Ela abriu a porta e saiu para a chuva. Não tinha ninguém na rua, talvez algum visinho pudesse abrigá-la pelo menos até que o dia amanhecesse. Ela deu dois passos e sentiu a sombra por perto. Seus passos ficaram mais rápidos, assim como a velocidade da sombra que a acompanhava.

Ela olhou ao redor e só tinha um lugar para onde ela poderia correr. Ela realmente correu. Uma quadra e ainda sentia o vulto que a perseguia. Duas quadras, e seu coração batia tão rápido que poderia pular de seu peito a qualquer momento. Três quadras, e suas pernas não a obedeciam mais.

Ela se escorou em uma arvore e olhou lentamente para os lados. Nada. Apenas a chuva que batia com toda a força em seu corpo. Deveria estar parecendo uma louca se alguém tivesse a visto. Correndo de pijama no meio da noite e gritando desesperada por uma pessoa que apenas ela era capaz de enxergar.

Ela olhou pela janela e a imagem congelada que ela tinha da pobre menina morta estava perfeitamente representada. As arvores cobertas por terra e folhas secas, o chão que não era possível ver, inteiro manchado de sangue, os pequenos raios de sol que conseguiam penetrar as folhas das arvores e atingiam apenas os olhos da menina...

Luana voltou a correr, chorando desesperadamente, clamando por alguma coisa que pudesse salvá-la. Ela atravessou a avenida sem olhar, apenas sentindo outra vez a presença por perto. Uma buzina chamou sua atenção, e quando se virou para ver o que era apenas os faróis do caminhão se aproximavam e a cegavam. Seu sangue foi derramado pela pista e logo lavado pela chuva. O rastro vermelho ia até o meio fio e o riu vermelho corria rapidamente para a entrada de esgoto, que tinha logo na esquina.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

reviews, reviews???? ++ :D :$
leiam também: the last winter

http://fanfiction.nyah.com.br/viewstory.php?sid=43133&ageconsent=ok&warning=4



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Culpa e Fúria" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.