Minha raiva era absurda, eu amava de paixão aquele carro, e de repente eu o vi todo amassado e o capô soltando fumaça...

Parei um pouco para respirar enquanto ele me olhava dos pés a cabeça, curioso...

_Que que é hein? Vai ficar aí parado, só me olhando? Circula caipira... _ Pera um pouco, eu conheço esses olhos verdes, esse cabelo bonito... Ah, conheço sim... É você Noelinha?? _Ele me olhou mais profundo ainda, com os olhos arregalados. _Hã? De onde você me conhece? Ah já sei, papai já alarmou pelas redondezas sobre minha volta não é mesmo? Seu Antônio não toma jeito, sabe que odeio isso!_ Não! _ riu irônico_ Eu num tava sabendo que a senhorinha tava pra voltar não, mas fico muito feliz viu? _Ele se aproximou novamente de mim e me olhou nos olhos estendendo a mão... _Sou o Fernando, você inda lembra de mim? Nós brincava por essas redondezas toda, cê era minha melhor amiga "néra"? _ Ahhh, Fernando , você?? Como está diferente, claro, um homem formado . Mas continua na mesma não é? Não sai desse fim de mundo por nada ! Eu até acreditava no teu futuro, que você fosse mesmo se transformar num cantor, era isso que você falava não era? Mas vejo que foi tudo uma ilusão..._Ele abaixou o rosto entristecido e engolindo em seco minhas palavras, enquanto eu soltava sua mão calejada e dava um jeito no meu cabelo, que com o impulso do “acidente” se armou por completo.
_Não Noélia, eu estou muito feliz aqui, acho que nasci para a natureza, pro ar puro, pros animais... Pelo menos isso me transforma numa pessoa boa e feliz a cada dia..._Isso por um acaso foi uma indireta??_ Perguntei erguendo uma sobrancelha. _ Não, imagina... Só quis responder sua pergunta. A senhora quer ajuda com as bagagens pra chegar até a fazenda? _ Não, não precisa... Afinal já estamos na fazenda! _Saí arrastando minhas malas, deixando pra trás Fernando, o carro, tudo...

_Pai... _Falei com dificuldade entrando lentamente na casa, “na minha casa”, que estranho era aquilo, depois de tanto tempo sem pisar naquele piso amadeirando brilhante, sem ver aquela decoração totalmente mudada, provavelmente pela antiga “senhora” da casa. Mas o fato é que eu mal podia conter a emoção ao vê-lo ali, sentado na sua aconchegante poltrona. Corri ao seu encontro, o abracei com todas as minhas forças. Quanta saudade senti do seu calor, do seu aconchego... Mais uma vez me desmanchei em lágrimas, em seu colo, e perdendo a aposta, como sempre. Que Saco. Papai logo notou meu rosto machucado, e eu lhe expliquei o ocorrido, minha imprudência e claro a de Fernando também(...)

Horas depois fui buscar minha princesinha Maribel no colégio, já se convertera numa linda mocinha, muito educada, doce e gentil. Provavelmente herdou tais características do nosso pai e não da megera de sua mãe, Mariangela... Tomei um banho quente e fui dormir, o dia seguinte seria algo que sinceramente eu não fazia a minima ideia do que seria, sem academia, trânsito, empresa, enfim.... Sem estresse, pelo menos era o que eu imaginava...