Entre reis e rainhas escrita por Natasha Bonni


Capítulo 6
Capítulo 6 - No fio da Espada


Notas iniciais do capítulo

Atualização especial para Júlia Castro - amo você, amiga!



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A possibilidade de perder alguém que amamos, é quase tão forte quanto a certeza de perdê-la. O que diferencia esses momentos é a fé.’— Mary.

 


A tempestade se agravava enquanto o barco deslizava pelas águas, a fúria do mar fazia a embarcação balançar tão forte quando possível. Mariana agarrou-se á lateral da proa numa falha tentativa de se manter segura, mas não pode evitar o grito de horror que cortou os céus quando a imensa onda cobriu o barco e a arrastou para imensidão das águas. E de repende ela estava sozinha, gritando por um socorro que sabia que não viria, não depois da chegada de Susana, não depois de dar as costas à sua vida comum... Não depois de desafiar Kyron.

A jovem sentou-se na cama arfando, os olhos arregalados e o suor escorrendo pelo testa indicavam que aquele era apenas mais um dos muitos pesadelos que vinha tendo nos últimos dois dias. Desde a chegada dos Pevensie no castelo, tudo mudara. As garotas passavam a maior parte do tempo treinando com os antigos reis, Caspian pouco falava com ela, já que andava ocupado com novas descobertas e sempre levava Susana consigo, Júlia estava cada dia mais determinada á conquistar Benson, não que isso fosse uma tarefa difícil. Os pesadelos tornaram-se sua única companhia, seus medos mais profundos afloravam na calada da noite enquanto ela repousava, as lembranças que ela tentava esquecer voltavam para atormentá-la como fantasmas, tudo estava de mal a pior.

Com um suspiro pesado a jovem atirou as cobertas de lado e saiu da cama, cambaleou até a porta e apoiou-se na parede. Suas pernas estavam fracas e o coração ainda disparado, a menina olhou dos lados certificando-se de que estava só, e quando teve certeza, deixou o quarto e rumou para as escadas. Com os pés descalços, pode evitar fazer barulho. Ela precisava de ar puro. Parou apenas quando alcançou as portas que dariam para o jardim, não pensou duas vezes e as abriu; caminhando com cautela em direção ao banco que ficava escondido em meio as tulipas. Estava quase sentando no banco de pedra, quando o som de vozes a fez parar.

— Não quero me precipitar Caspian, mas acho que agora que voltei podemos firmar um compromisso. - o estômago de Mariana revirou, tentando não fazer barulho ela se esgueirou pelas moitas e então os viu. Primeiro Susana, depois Caspian sentados na borda do imenso chafariz que enfeitava a área das peônias, ele a olhava com uma admiração desmedida enquanto a pele dela parecia brilhar sob a luz do luar, suas mãos estavam juntas sobre a pedra.

— Não posso dizer que a ideia é ruim. - um sorriso bobo apareceu nos lábios do rei, e naquele momento Mary quis sumir. O coração despedaçou e sua vontade era de correr para o amis longe possível.
Naquele momento ela entendera a verdade, Mariana não havia tentado ir embora para seu mundo porque não queria deixar Cair Paravel, não queria deixar Caspian. Agora, com a chegada dos outros reis ela não tivera coragem de pedir as amigas para regressar, elas estavam felizes com suas possíveis conquistas. - Mas será que seria o certo a fazermos? - a pergunta cortou ainda mais o coração da garota.

— Claro que sim, somos adultos, não precisamos de permissões. - Susana soava tão confiante que Mary teve vontade de morrer, ela nunca fora ousada ou desmedida como a jovem rainha. - Minha volta só pode ser um sinal, querido. - A gota d'água havia pingado, Mariana não ficaria ali para ouvi-los, não queria testemunhar aquilo. Em silêncio ela deixou o jardim e retornou para o castelo, mas não seguiu para o quarto.

— Precisamos fazer uma competição. - a voz animada de Júlia invadia o salão de jantar, todos estavam reunidos á mesa degustando das delícias preparadas por Katy.

— Concordo com Júlia, podemos fazê-la depois do café. - Edmundo animou-se.

— Você só concorda porque sabe duelar, duvido que tenha uma boa mira. - Isabele opinou, o moreno a sua frente sorriu diante do desafio.

— Hey, isso não tem nada a ver, a Júlia com uma espada na mão é pior do que a Isabele na cozinha. - Allessandra intercedeu, recebendo um olhar de censura de Izzy e as gargalhadas dos demais.

— Verdade, a única que saber manejar a espada é a Mary. - confessou Júlia, olhando para o fim da mesa em seguida. - Ué, cadê ela? - a pergunta despertou a atenção do rei, que até o momento mantinha-se pensativo.

— Ela não desceu para tomar café. - Lúcia se manifestou, pondo-se de pé em seguida. - Vou procurá-la, quem sabe ela não quer duelar conosco? - animação da garota despertou uma pequena fagulha de raiva em Susana.

— Deixe de bobagens, Lú - todos a olharam - ela deve estar apenas... Descansando, ou quem sabe... Não quis se juntar a nós.

— A Mary nunca deixa de tomar café conosco. - Afirmou Alle, pondo-se de pé e saindo em seguida. Os minutos se passaram e não houvera notícia de Mariana, Allessandra já havia alertado aos demais que procuraram por todo o castelo, mas era definitivo, a baixinha havia sumido.

A floresta se estendia diante dela, as folhas sussurravam com o vento e os galhos dançavam a mesma melodia, Dríades passavam diante de seus olhos, com a graciosidade de uma bailarina. Pequenas fadas rodopiavam felizes pelo espaço aberto, era uma bela cena para apreciar. O Sol estava alto no céu, mas nem o calor diminuía o ritmo dos passos da jovem, ela precisava segui-los. Algo chamara atenção da garota enquanto ela caminhava pela orla da floresta, um grupo de homens com armaduras em punho esgueiravam-se pelas árvores, pareciam observar algo.

— Espero que elas saiam logo, não aguento mais ficar aqui. - um dos homens se manifestou, eles estavam há alguns metros do castelo do rei, a copa das árvores formavam sombras extensas que encobriam os vigilantes. Algo estava errado.

Mariana notara uma estranha movimentação vinda do castelo, as meninas estavam saindo, e pior, sem a proteção de ninguém. Isabele trazia consigo uma besta*, Júlia um arco e flechar e Allessandra aparentemente estava sem nada, mas Mary sabia ser mentira, já que o vestido que trajava contava com bolsos onde possivelmente estariam as adagas. O que ela não entendia era o motivo das três estarem armadas, entretanto não houve tempo de pensar, o grupo que espreitava o castelo se deslocou com extrema rapidez em direção as garotas, que agora alcançavam a orla da floresta, ele iriam atacá-las e não havia ninguém para protegê-las.

Sem medir seu atos, Mariana avançou sobre um dos homens, empurrando-o para o chão e tomando-lhe a espada, as demais ouviram o som de metais se chocando e correram para ver o que se passava. Júlia atirou a primeira flecha acertando o peito de um dos soldados, Alle mirara com uma precisão invejável a perna do cavaleiro, que ao cair foi atingido pela flecha disparada por Isabele. As quatro garotas lutavam como guerreiros experientes defendendo suas vidas com lealdade, um dos homens precipitou-se para cima de Izzy, que por pouco não teve o corpo perfurado pela espada; porém, Allessandra e Júlia foram mais rápidas, acertando o agressor com ligeireza. Agora, restavam apenas três homens, um lutava com Isabele que se defendia com bravura, Júlia ajudava Allessandra com o segundo, derrubando-o em seguida e correndo para ajudar Isabele... Enquanto Mariana mantinha a espada á postos numa luta sangrenta com o terceiro.

— Rápido! - gritou Allessandra ao sentir a espada do homem passar próximo ao seu rosto, Izzy estava caída e Júlia procurava suas flechas que haviam se espalhado pelo chão, Alle estava prensada contra a árvore quando uma espada atravessou o corpo do opressor, ela viu Mary lhe dar um pequeno sorriso mas este logo se apagou. Uma brilhante lâmina resplandeu á luz do Sol quando cortou as roupas da jovem ao lhe perfurar oas costas, Júlia conseguiu atirar e dar fim á vida do cruel lutador, mas não fora rápida o suficiente para salvar a amiga.

— Ah minha nossa, Mariana! - Isabele gritou em desespero ao ver o corpo da amiga tocar o chão com estrondo, o sangue fluía do corte profundo, banhando o tecido claro do vestido para um carmim, assim como o solo.

— Meu Deus, alguém chame ajuda! - Allessandra também se ajoelhou ao lado de Mary, amparando-lhe a cabeça, Júlia saíra em disparada rumo ao castelo, precisava chamar Benson.

— Fala comigo Mary. - Izzy dizia, ainda chorando. A menina abriu os olhos, que agora se encontravam pesados e fitou a melhor amiga chorosa. Tentou sorrir, mas não conseguiu, a dor era um martírio grande demais. - Amiga você não pode dormir, fique conosco. - a voz de Isabele saia cada vez mais embargada pelo choro excessivo.

— Mariana, o que você fazia aqui na floresta? - Alle tinha a voz mais firme, porém seu coração estava igualmente dolorido pelo sofrimento da amiga.

— Eu... Estava... Só andando... - as palavras enrolavam-se, não deixando a jovem montar uma frase coerente. O som de passos apressados foi ouvido e logo Júlia apareceu acompanhada por Benson, Edmundo, Lúcia, Pedro, Caspian e... Susana.

— Por Aslam! - exclamou Edmundo, abaixando-se ao lado de Isabele e olhando melhor o ferimento da garota deitada no chão.

— Precisamos tirá-la daqui, levá-la até o castelo e então pedirei que chamem o senhor Hoff. - Caspian desatou a falar, ele pediu que todos se afastassem e então tomou o corpo quase inerte de Mariana nos braços, erguendo-a com força e apoiando sua cabeça no ombro, o sangue manchava a blusa do rei, mas ele não ligou, nada mais importava alem de salvar a vida dela. Com passos apressados todos retornaram para o palácio, Katy gritou ao ver o estado da garota.

— Peça para chamarem o senhor Hoff enquanto Caspian à leva para o quarto. - Pedro finalmente se manifestou, mostrando sua autoridade real. Seus olhos se dirigiram para Allessandra, que estava parada ao lado das demais, um pequeno corte sangrava em seu braço. - Você está sangrando. - ele tocou o braço dela. - Venha, vamos limpar isso. - o loiro a puxou pela mão em direção á um dos corredores, Edmundo fez o mesmo com Isabele em direção á cozinha, Benson fitava Júlia com apreensão.

— Será que ela vai ficar bem? - a pergunta soou mais para si mesma, porém ele assentiu.

— Claro que sim. - respondeu o soldando, tomando-lhe as mãos e as beijando calmamente, tentando aplacar um pouco da preocupação que a consumia.

Caspian havia depositado o corpo da garota sobre a cama, ela suava frio e mantinha os olhos fechados, a pulsação estava fraca e a cor se esvaía de seu rosto assim como o sangue que manchava os lençóis.

— Mary... O que aconteceu? - a pergunta não foi respondida, o rei sentou-se ao lado dela na cama e acariciou com leveza a face gélida da moça. - O que você estava fazendo na floresta? Quem fez isso com você? - Perguntas dolorosas feitas para o silêncio, a respiração falha parou, enfim. - Mary? Mariana, abre os olhos se estiver me ouvindo, por favor. - Não houve resposta. As portas se abriram e por elas passaram o senhor Hoff e Katy, que impedira aos demais de subir.

— Preciso ficar a sós com ela. - o senhor de aparência idosa e sábia olhou para o rei, que se mantinha quieto. Katy tocou o braço do moreno, e num pedido mudo, ela o guiou até a porta.

— Lúcia, cadê a poção do vidro de diamante? - perguntou Pedro, depois de se juntar aos demais na grande sala de estar do castelo.

— Não sei onde está, deixei aqui em algum lugar... Não consigo achar. - disse a moça, chorosa. Lúcia estivera aflita todo o tempo em que Caspian estivera com Mariana no quarto, e quando o rei se juntou a eles e Susana rapidamente assumiu um lugar a seu lado, a aflição apenas aumentou. As horas se passavam com lentidão, o senhor Hoff ainda não dera sinal algum, nem mesmo Katy descera para dizer algo. Eles estavam em absoluta escuridão.

Edmundo estava prestes a chamar os demais para subir até o quarto quando as portas duplas se abriram e revelaram duas figuras cansadas e preocupadas.

— E então, como ela está? - todos perguntaram ao mesmo tempo.

— O ferimento foi grave, quebrou-lhe duas costelas e por muito pouco não atingiu um dos rins. - o coração de todos parou por alguns instantes.

— Isso quer dizer que ela...

— Não. - respondeu rapidamente - Ela está viva, eu lhe dei um medicamento á base de ervas selvagens e isso amortecerá a dor por algum tempo, a recuperação dela depende desta noite, se ela resistir as próximas doze horas, saberemos se ela tem chances de se recuperar.

— Mas o senhor disse que...

— Nenhum órgão vital foi atingido de fato, mas ela perdeu muito sangue e as costelas precisam encaixar-se inteiramente. - ele encarou os olhos aflitos do rei, e logo depois as mãos grudadas da mais velha dos Pevensie presa em seu cotovelo. - Ela não pode se mexer de jeito nenhum, e muito menos passar nervoso. Eu volto amanhã, mas se precisar basta chamar. - e então ele se foi.

O silêncio reinou na sala, os únicos sons audíveis eram as respirações ofegantes. O medo era palpável, assim como a aflição e a culpa.

Doze horas... Esse era o tempo que definiria a vida de Mariana.

 


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Notas finais do capítulo

E aí people, espero que tenham gostado, deixem suas opiniões!
Kisses and Cherrys



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