O Elo Perdido escrita por Conta órfã


Capítulo 5
Origens


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo mais fofinho e bastante esclarecedor. Um pouquinho mais longo que os outros. Boa leitura!



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– E então? – o Doutor perguntou, ansioso e preocupado. Ele pressionava um pano contra o lugar de onde ele tirara o sangue.

– Parou. – Clara murmurou, com os olhos arregalados e fixos em Aline.

– Parou?! – um sorriso se formou nos lábios do Doutor.

– O coração dela parou de bater. – Clara olhou para o Doutor, achando que deveria ser mais específica. A alegria do Doutor estava a assustando.

Ao ouvir a frase, o Doutor pulou pelo salão, gritando na mais genuína felicidade, e abraçou Clara. Ela o empurrou.

– Qual é o seu problema?! Ela está morta, e você está comemorando?!

– Clara!! – o Doutor segurou o rosto dela com ambas as mãos e a olhou nos olhos. – Significa que ela vai regenerar! Meu sangue funcionou, olha!

Clara virou o rosto e olhou para a barriga de Aline, que brilhava naquela luz dourada cegante e magnífica. Ela podia ver os ossos, músculos, órgãos e tecidos de Aline se reconstruindo, o que era um tanto bizarro, mas ao mesmo tempo, lindo. Após alguns momentos, Aline respirou fundo e seus olhos se abriram. O Doutor a abraçou afetuosamente, seus olhos transbordando.

– Achei que a tínhamos perdido!... – ele acariciava os cabelos dela, e a deu um beijo no rosto. Ela devolveu o abraço, apertando-o.

Clara sorria, feliz por ter conseguido trazer Aline de volta. No entanto, algo a fazia se sentir desconfortável, e ela olhava para o chão.

– Ei. – ela levantou o olhar e Aline estava logo à sua frente. Ela abraçou Clara apertado, de um jeito carinhoso. Um daqueles abraços que Clara adorava, e que esperaria de qualquer um, menos de Aline, que, por sua vez, roçava sua bochecha levemente na de Clara.

– Como você fez aquilo? – impressionantemente, até seu tom de voz era diferente. Mais doce, mais suave. – Digo, com a furadeira sônica.

– Cruzei dois dos cabos internos e liguei-a em ambas as funções, pois a precisão refinada garantia que a energia gerada fosse tão grande, que conseguiria atravessar o escudo do Dalek.

– Você foi genial, Clara. – ela não parava de sorrir, o que estava se tornando um tanto estranho.

– Acho que você sofreu uma contusão cerebral. – Clara riu, e Aline soltou uma alta gargalhada. Clara pôde perceber o quanto ela estava feliz e agradecida de estar viva.

– Eu sobrevivi a dois tiros de um Dalek, Clara! E não foi por mim que eu consegui.

Clara deu de ombros, sorrindo timidamente. Aline a beijou no rosto e foi corredor adentro atrás do Doutor.

A sensação do beijo de Aline permaneceu na bochecha de Clara por um bom tempo, a área formigando. Clara permaneceu paralisada por alguns momentos, incrédula.

Mais tarde, Clara bateu na porta do quarto do Doutor e entrou, encontrando-o sentado na cama e Aline deitada no seu colo, no mais profundo sono. Ele brincava com os cabelos mágicos e irresistíveis dela.

– Ela pegou no sono nesta mesma posição há três horas e meia. – ele sussurrou, sem desviar o olhar.

Clara sorriu com o canto dos lábios e puxou um banquinho, acomodando-se próxima à cama. Agora, ela e o Doutor mantinham o olhar fixo em Aline, como se ambos estivessem hipnotizados. Havia algo extremamente fascinante naquela garota, apesar de nenhum dos dois saber dizer exatamente o quê.

Clara sabia que o Doutor gostava de humanos, mas não viajava somente com eles. E ela achava um tanto improvável que, algum dia, mesmo num futuro muito remoto, humanos conseguiriam regenerar-se daquela forma. Mas Clara não levaria isso em consideração no seu julgamento, afinal, quem era ela para determinar qualquer coisa sobre o futuro de sua espécie?

Por isso, ela tentou chegar aonde ela pretendia por outro caminho.

– Doutor? – ela o tirou do transe.

– Sim?

– Se eu estivesse ferida e você me doasse sangue, meu machucado se curaria?

O Doutor riu. – Não.

– Por quê?

– Pois você não possui o código genético que permite a regeneração.

– Então a Aline não é humana. – Clara concluiu, e o Doutor assentiu. – Ela é como você? Uma Dama do Tempo?

– Não. Ela é diferente de mim.

Clara observava o sono relaxado de Aline.

– O que ela é?

– Aline é uma criatura única. Ela não é uma humana ou uma Dama do Tempo ou mesmo uma Dalek. Mas ao mesmo tempo em que ela não é nada disso... Ela é isso tudo. A Aline é tudo.

Clara o fitava, curiosa, interessada. Na verdade, entendendo muito pouco daquilo. Mas logo tudo faria sentido, ela esperava.

– Diferente de mim... – o Doutor continuou, paciente. – Ela não é a última do seu povo, pois nunca houve outros. Nem nunca haverá. Aline é capaz de coisas muito além de regeneração celular, acúmulo e transferência de energia ou mudança de aparência... Ela é capaz de criar espécies inteiras...

A expressão de Clara tornou-se confusa, e ele prosseguiu com a explicação.

– Você já ouviu falar na teoria do Elo Perdido?

– Sim...

– Pois bem. O Elo Perdido está deitado no meu colo neste momento.

Clara levou a mão até a boca, em pura surpresa.

– Ela é a criadora de toda a atual vida... Ela me criou, ela te criou, além de muitas outras espécies... Mas ela não sabe de onde ela veio, quem ou o quê a criou. E é isso o que ela está procurando. Quando nossos caminhos se cruzaram, ela não tinha um nome. Chamavam-na de “alien”.

Ele infiltrara-se no grupo de camponeses na tal “caçada ao alien”. O Doutor obviamente não queria caçar ninguém, mas sim descobrir se aquilo se tratava realmente de uma criatura de outro planeta. Queria ajudar a criatura também, se fosse o caso.

Quando ele viu sua silhueta curva, com uma aparência claramente feminina, soube que se tratava de uma espécie que ele nunca vira antes. Ela cintilava num tom de verde água, às vezes ciano, e ele parou. O Doutor sabia o que estava por vir. Ela abaixou-se e sumiu.

Os camponeses ficaram inconformados como a criatura simplesmente desaparecera, mas o Doutor sabia que ela tinha se transformado num animal menor e provavelmente escondia-se por trás daqueles arbustos. Ou então correra para longe. Assim como todos, ele se aproximou do local onde havia acontecido. Ele notou as pegadas. Primeiro, pareciam humanoides, mas tornaram-se do tamanho de patas de cachorro, com quatro dedos, e sumiam mata adentro.

– Ela aparecera próxima de uma cidade interiorana da América do Norte no século XXIII, o que causou uma repercussão e tanto entre os habitantes do vilarejo. Eles a chamavam de alien. Não foi fácil me aproximar dela, muito menos ganhar sua confiança. Passei vários meses tentando, até conseguir falar com ela.

– Você sempre me segue. Parece saber mais sobre mim do que o resto. – essas foram as primeiras palavras que ele ouvira dela, que ressoavam num belíssimo timbre contralto. Ela estava sentada sobre uma pedra, à beira de um calmo rio, os joelhos próximos do peito e os pés mergulhados na água gelada. Possuía a forma de uma garota normal. O Doutor estava do lado dela.

– Provavelmente sei. Não sou daqui.

– Não importa de onde você seja. Os da cidade grande querem me matar para fazer experiências com meu corpo. Os do interior querem me matar pois têm medo que eu os abduza.

– Sou um viajante do tempo, venho de outro planeta. Conheço muitas espécies, mas nem sempre meu catálogo parece suficiente. Nunca vi nada como você. Metamorfose... Ouvi histórias de regeneração celular também...

Ela bufou, abafando uma risada debochada.

– Não existem outros como eu.

– Nem como eu. – ele replicou, no mesmo tom. Após uma pausa, prosseguiu. – Meu planeta natal, assim como toda a minha espécie e a minha família foram exterminados. Viajo sozinho, às vezes tenho companheiros.

– Você teve uma família.

– E você não?

Ela balançou a cabeça negativamente. Falar sobre aquilo a deixava insegura, apesar de ela não demonstrar. Mas o Doutor sabia disso melhor do que qualquer outro.

– Sei o que você está sentindo. Não passei pela mesma situação, mas conheço esse sentimento. Solidão. Não gosto de ser sozinho. Acho que ninguém realmente gosta. – Houve um longo momento de silêncio absoluto. – Poderíamos fazer companhia um para o outro.

A garota virou o rosto na direção dele, com um olhar de surpresa nos olhos.

– Venha viajar comigo. E eu prometo que farei o que eu puder para lhe ajudar a descobrir suas origens.

Ela hesitou, mas parecia ter certeza de sua resposta.

– Certo.

– Qual o seu nome?

– Me chamam de alien. Não importa aonde eu vá, recebo esse apelido. Não tenho um nome. Nunca tive.

– Alien é muito grosseiro para alguém como você. Que tal Aline?

– Por isso ela está escolhendo os destinos de nossas viagens. Ela recebe energias e sente coisas e decide para onde devemos ir. Não discuto. Estou viajando por ela. Aliás, foi ela quem decidiu que você deveria vir a bordo.

Clara piscou algumas vezes, quase incrédula, processando a enorme quantidade de informações novas. O Doutor ainda acariciava os cabelos dela, incansável. Ele a oferecia um olhar terno, carinhoso... Seu toque sempre suave... Ele era tão dedicado a ela, tão dedicado a cuidar dela, recebendo em troca apenas sua companhia. Não que ele o fizesse esperando algum retorno. Não. Apenas empatia, compaixão. Clara sabia que o Doutor não desejaria sua solidão a ninguém, e ele havia encontrado essa garota que passava pela mesma coisa. Mas Clara também sabia o quanto simplesmente tudo em Aline era fascinante, e o efeito que aquilo surtava em qualquer um.

O Doutor estava apaixonado.

Mas ele não era o único.


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