A garota das mulas se tornando uma princesa, parecia uma piada para a maior parte dos habitantes do Vale, e para Mya também.

Ela costumava dizer que o pai dela havia sido um bode e a mãe uma coruja, mas ela sabia a verdade, que era o sangue de Robert Baratheon que corria por suas veias, ele costumava visitá-la quando ela era menina, ele brincava com ela e a jogava no ar, ela costumava amar as tardes que ele aparecia, e ela costumava amá-lo também, tanto que demorou bem mais tempo do que Mya se orgulhava para ela aceitar que ele tinha se esquecido dela. Lhe ocorre que talvez ele tivesse pensado nela nos últimos momentos, e logo ela se repreende por isso, ele não pensara nela, com toda certeza foi apenas mais uma punição para a mulher que o traiu, ver os bastardos recebendo o trono e a Fortaleza Vermelha enquanto os seus filhos de cabelos dourados eram caçados pelos Sete Reinos.

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Vendo o menino na sua frente se jogando no chão por não querer comer as suas ervilhas Mya se perguntou se ela tinha algum parentesco com ele. Os Targaryens eram a família do incesto oficial, mas com todas as grandes Casas de Westeros casando entre si eventualmente todos acabavam como primos de segundo ou terceiro grau de todos. Ela ainda assim se pegou torcendo para que esse não fosse o caso com ela e o pequeno Robert Arryn.

Aquela era a sua última noite no Vale, pela manhã ela, Catelyn e seus guardas iriam rumo ao Porto Real. Mya não conseguia imaginar como seria chegar lá, ela nunca havia saído do Vale. Mas pelo menos isso significaria o fim dos jantares desconfortáveis no Ninho da Águia com as irmãs Tully e o Lorde Protetor do Vale.

Lisa Arryn tinha lhe dado caros vestidos de seda para Mya usar até que elas fossem rumo ao Porto Real, ela se sentia uma farsa neles, podiam colocar ela em qualquer vestido que ainda poderiam ser vistas as marcas de sol em sua pele de ter passado os últimos anos subindo e descendo o Vale com suas mulas, ela tinha os cabelos negros dos Baratheons mas esse era bem mais curto e bem mais selvagem do que as senhoras bem-nascidas usavam, seus modos eram mais bruscos e suas mãos bem mais duras do que as de Lisa e Catelyn, e apesar de não terem dito nada ela podia ver que as duas também haviam reparado nessas diferenças. Ela via o jeito como o rosto de Catelyn endurecia toda vez que falavam sobre bastardos, e como ela evitava olhar para ela. Lisa era mais dada a bajulação, mas era óbvio que seus pensamentos deveriam ser bem próximos as coisas que seu filho falava. Não havia muitas coisas positivas que podiam ser ditas sobre Robert Arryn, mas pelo menos o menino era honesto, ele ficava reclamando que o lugar dela não era ali, que ela era uma bastarda, que ela devia estar com as mulas.

E era verdade que uma parte dela queria estar com suas mulas, há um mês atrás tudo parecia infinitamente mais simples, mas agora havia mais possibilidades a aguardando no Porto Real, e no momento se ver livre de ter que jantar com aquele menino já era o suficiente para que ela ficasse um tanto animada com a sua partida.