Festa do chá escrita por Celestia


Capítulo 1
Festa do chá




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O chá esfriava na xícara que repousava nas mãos pálidas da moça, enquanto ela apenas o fitava sem expressão. A bruxa de cabelos azuis a encarava do outro lado, os lábios crispados e os olhos exprimindo toda a irritação que sentia naquele momento. O único homem do aposento apenas observava as duas, a xícara vazia que antes bebia agora largada em cima da mesa. Os olhos dele vagaram até a cabeça curvada sobre a xícara de chá, que apenas encarava o chá movimentando-se dentro da porcelana conforme movia a xícara. Os cabelos verde-claros da moça estavam espalhados pelos seus ombros e costas, o chapéu sobre seus cabelos era adornado com babados e laços e era delicado como todo o resto de seu vestuário.

Não tinha opinião formada sobre Clair, mas certamente não a detestava. Não poderia detestá-la. Quem detestaria uma pessoa tão quebrada, apática e rejeitada quanto aquela mulher? Ah, Bernkastel. No entanto, a bruxa tinha a capacidade de odiar qualquer ser vivo que existia sobre a terra, exceto a si mesma. Ou pelo menos era o que considerava como certo. Porém ele não conhecia nenhuma das duas o suficiente para fazer tais afirmações sobre elas. Tudo o que sabia a respeito da moça de cabelos verdes é que ela já vivenciara sofrimento suficiente por uma vida, e que fazer com que passasse qualquer outro aborrecimento que pudesse abrir seus feridas jamais cicatrizadas seria apenas a obra de um sadista entediado. E ele podia sentir o cheiro do tédio da bruxa ao seu lado, enquanto os olhos dela arrastavam-se até ele.

- Tome um pouco de chá, Willard. – Perguntou a bruxa, a voz dela provocando certa irritação inexplicável nele. Nunca conseguira entender direito porque aquela voz lhe irritava tanto quando não passada de uma voz calma.

- Não, obrigada. – Responde, irritadiço, não suportava os jogos daquela bruxa e não suportava ser usado por ela. Tudo o que queria fazer era terminar seu trabalho para poder deixar para sempre aquele lugar. – Não sou Alice. Não bebo ou como algo porque me mandam fazê-lo.

- Hm. – Resmunga Bernkastel, sem alteração em sua expressão.

Continuou observando as mulheres naquele cômodo, sem entender qual era o propósito de fazerem uma festa do chá quando ele não estava com a mínima vontade de tomar tal bebida e quando tudo o que Clair fazia era olhar para sua xícara com um olhar desolado. Não que realmente quisesse entender as motivações de Bernkastel para juntá-los ali naquele exato momento, preferia apenas ficar como um observador até que a bruxa se desse por satisfeita. Era irônico até, uma festa do chá com um executor, uma bruxa e uma garota morta.

- Ushiromiya Battler infelizmente não pôde vir e contemplar nossa festa do chá. – Comentou Bernkastel, com um tom malicioso, enquanto observava os ombros de Clair tremerem com a menção àquele nome. – Olhe pelo lado bom, Clair. Ele não verá o desperdício de espaço que você é. Clair fez apenas um som. Um pequeno e doloroso som. E então as lágrimas fluíram.

Uma gargalhada sádica saltou da garganta da bruxa, enquanto ela fitava Clair com os olhos roxos transbordando ódio e o sorriso de escárnio estampado em seu rosto. Willard apenas assistiu, sem intervir, enquanto a garota abaixava mais a cabeça e tremia violentamente. A irritação e a ira cresciam dentro dele, mas não poderia intervir ainda sem gerar conseqüências demais para si mesmo naquele momento. A bruxa levantou-se de seu assento, sem desviar os olhos da figura patética de Clair, andando até ela. Com um único e bruto puxão nos cabelos verdes, ela fez com que o corpo de Clair fosse na sua direção e a xícara de chá que antes repousava em seu colo cair no chão e se quebrar em inúmeros pedaços e o chá se espalhar. Segurou o rosto da moça diante de sua face, fitando-a e gargalhando com a sua dor.

- Por que acha que Battler não cumpriu sua promessa, Clair? – Perguntou, puxando mais forte o cabelo da moça, que permaneceu sem soltar qualquer exclamação de dor, mas seus olhos azuis estavam arregalados com o terror. – Porque você é patética!

Insatisfeita em apenas machucá-la mentalmente, Bernkastel empurrou o rosto da moça contra o chão com uma violência descomunal, fazendo com que os cacos de porcelana do que antes era uma xícara perfurarem a pele pálida da garota. Mesmo com toda a dor que devia estar sentindo, Clair permaneceu muda, apenas olhando para a bruxa com aqueles olhos grandes e azuis e cheios de dor. Ainda não satisfeita, a bruxa ergueu o rosto de Clair mais uma vez, para então afundá-lo no chá frio e nos cacos de porcelana mais uma vez. Deve ter doído. Deve ter doído muito. Will não poderia nem imaginar quanta dor aquela garota estava sentindo naquele momento.

- Então você é do tipo de pessoa que machuca, humilha e pisa nas outras para provar que é melhor que os outros? – Perguntou Willard, levantando-se e indo até a moça caída e a bruxa. Como ele odiava aquela maldita bruxa. – A única pessoa patética aqui é você. Com seus escândalos, suas birras e sua atitude infantil e mimada. O mundo não gira a sua volta.

A bruxa ergueu o rosto, e ela estava furiosa, fuzilando Will com seus olhos roxos. Largou o rosto de Clair bruscamente contra o chão, erguendo-se para encarar Willard de frente. Ela rosnou, a boca se abrindo e gritos e xingamentos saindo e enchendo aquele lugar. Will recuou, a cabeça doendo com os gritos daquela mulher insuportável.

- Então agora você quer ser o príncipe encantado? – O sarcasmo e a acidez na voz da bruxa quase corroíam sua pele. – Mas aquela criatura patética, rejeitada, aquele desperdício de espaço digno de pena, não é nenhuma princesa! Nem humana ela é! É só um pedaço de algo antigo e quebrado! E só estou terminando o serviço incompleto. – Rosnou, erguendo o pé e pisando diretamente no rosto de Clair que continuava no chão, ensangüentado e dolorido. Pisou novamente, ouvindo os urros de dor que deixavam a boca da garota. Iria pisar mais uma vez, porém Will a empurrou, fazendo-a tropeçar e cair no chão. – COMO OUSA?

A fúria daquela mulher de cabelos azuis era quase palpável, ele podia sentir todo o ódio dela enquanto ela se erguia. Will pegou o rosto de Clair com delicadeza entre suas mãos, sem dar atenção a fúria que lhe era direcionada. Ajudou a moça machucada e humilhada a se erguer do chão, sendo interrompido pelas mãos de Bernkastel que a empurravam de volta para o chão. Will ficou realmente irado e ele avançou contra Bernkastel.

- Por que precisa tanto pisar nos outros? – Grunhiu enquanto empurrava a bruxa com as mãos firmes em seus ombros. – Não chame Clair de desperdício de espaço, a única pessoa digna de pena aqui é você, Bernkastel.


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Notas finais do capítulo

Então, eu realmente necessitava escrever algo com os personagens de Umineko. Então por que não da Bern? E logo de cara já colocar a Clair e o Will? Umineko é um jogo/anime/mangá que tem muitos plots disponíveis para se trabalhar, então não tem desculpa para não escrever. ~pyon
Espero que tenham gostado ♥~



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