It Has A Meaning Now escrita por Tuany Nascimento


Capítulo 1
Capítulo Única - It Has A Meaning Now


Notas iniciais do capítulo

Sobre a fanfic:
"Se eu tivesse sentimento e fosse Klaroline, eu choraria."
— Aline Bomfim.

Dedicado à Raphaella Paiva.



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(POV Klaus)

Família.

Esse termo sempre me provocou reações dúbias demais. Não sabia se amava meus irmãos ou se eu apenas sentia uma afinidade por conta de nosso sangue em comum e por nossa história com a terrível Esther, a mulher que chamamos de mãe e que nos transformou em quem somos hoje.

Ver meu irmão morto simplesmente me trouxe um gosto exageradamente amargo na boca, fazendo com que eu sentisse em minhas veias a chama da raiva, da dor e do sentimento de vingança. Eu queria arrancar o coração de Elena Gilbert e de seu irmão caçula. Eu queria fazê-los pagar pela morte de Kol.

Mais um Original morria pelas mãos Gilbert. Mais um Mikaelson se ia. Mais um irmão que morria sem que eu pudesse protegê-lo.

Rebekah me odeia e Elijah está o mais longe possível de Mystic Falls. A minha segunda família, a que eu criei para que eu nunca ficasse sozinho, havia sido morta por minhas próprias mãos. Tudo por culpa do energúmeno do Tyler Lockwood. Eu tive minha vingança. E não me importava nenhum pouco por ter a morte da mãe dele, a prefeita Carol Lockwood, em minhas costas. Eu merecia essa pequena sensação de recompensa, de vingança cumprida. Eu havia tirado a vida de doze híbridos, doze vidas, por culpa dele e nada mais justo do que a mãe dele morrer. Minha mão segurou com força sua nuca para que ela não conseguisse nenhum miligrama de ar. Ela morreu afogada, debatendo-se até o último momento por sua vida, lutando para sobreviver e perdendo para mim. Ninguém podia me destruir ou acabar com qualquer uma de minhas convicções e vontades.

Talvez só uma pessoa poderia.

Aquela que eu estava ouvindo os gemidos de dor. Aquela que fazia com que eu me sentisse mais humano a cada olhar que me era direcionado. Aquela que jogou as verdades do mundo em mim sem se importar com as conseqüências que elas poderiam lhe ter. Aquela que eu feri de muitas maneiras. Aquela que estava deitada em um sofá, pálida e soltando grunhidos de dor que me martirizavam. Aquela que estava morrendo por minha culpa. Por causa do meu veneno de lobisomem. Por causa da minha estúpida ideia de me mostrar o alfa-macho mais uma vez.

Caroline Forbes mais uma vez me fazia cair em meus joelhos e perceber que o mundo à minha volta é muito maior do que minhas birras. Ela jogou na minha cara que estou apaixonado por ela e que vê algo humano dentro de mim. Algo que nem mesmo eu consigo ver. Ela viu o quão dolorido e amargurado estou pela perda de meu irmão e que minhas atitudes só foram ações de um homem ferido. Será que poderei aceitar essa condescendência dela? Será que poderei me agarrar em suas afirmações em busca de algo parecido com a absolvição?

- Durma, minha doce Caroline.

Meu sussurro foi a última coisa que ouvi, antes de me permitir dormir e segurar o seu corpo um pouco mais aquecido desde que eu a deixei beber meu sangue para que se curasse do meu veneno.

(...)

Eu havia acordado alguns minutos atrás e me senti agradecido por não ter Tyler por perto. Eu podia me deixar sentir Caroline totalmente entregue em meus braços por alguns minutos. Ela dormia tranquilamente, ressonando sobre meu peito e com um pequeno sorriso em seus lábios rosados. Concentrei-me o suficiente para ler sua mente e perceber que ela sonhava com uma paisagem paradisíaca, algo como uma praia caribenha ou uma ilha sul-americana. O sol batia em seu corpo alvo dentro de um maiô azul e sensual na medida certa. Havia alguém às suas costas, trilhando beijos em seus cabelos e em sua bochecha, mas não pude ver quem era. Provavelmente, era o irritante Lockwood.

Desliguei-me de seus sonhos e movi-a delicadamente para longe de mim, escorregando para o lado e sentando-me no chão. Tirei seu cabelo de seus olhos e de sua testa, colocando-o atrás de sua orelha. Eu adorava a maciez de seus cabelos louros, brilhantes como o mais reluzente ouro, e cheirosos, com um toque de camomila que me acalmava profundamente. Passei a ponta de meus dedos por sua bochecha e desenhei a linha dos seus lábios, desejando ardentemente prová-los.

Caroline Forbes. Meu primeiro, e talvez, único amor.

Afastei-me de Caroline antes que eu fizesse uma besteira e fui até a janela da sala, sentindo os raios do sol aquecendo meu rosto e balancei a cabeça, tentando livrar-me de pensamentos nada inocentes que me assaltaram ao sentir a delicada textura de sua pele leitosa e macia.

Eu me virei quando o poder do olhar de Caroline fez com que uma agitação irritante começasse em meu âmago. Encontrei o par de orbes azuis me encarando profundamente. Ela não sorria e tão pouco chorava. Ela apenas estava ali, deitada e inerte, fitando-me como se lesse minha alma ou como se fosse capaz de ler meus pensamentos mais sórdidos e românticos em relação a ela.

- Como se sente, love? – inquiri, tentando quebrar o silêncio incômodo que o seu olhar provocava.

- Melhor. – seus lábios entreabriram-se algumas vezes, até que ela sentasse no sofá com sua postura ereta e altiva de predadora. – Eu sei que não deveria lhe agradecer, mas... Obrigada, Klaus.

Balancei minha cabeça e voltei meu olhar para a janela, tentando me concentrar nos pequenos feixes de arco-íris que a luz solar provocava ao passar pelo vidro. Eu apenas queria que ela fosse embora logo e saísse de minhas vistas, me deixando em paz com a sombra de tudo o que ela representava para mim.

Eu conseguia ouvir seus ruídos atrás de mim e vesti minha máscara de indiferença, aquela mesma que ontem ela derrubou falando que qualquer pessoa capaz de amar é capaz de ser salva. As mesmas lágrimas, que eu quis que lavassem a minha alma e o sangue em minhas mãos, acumularam-se em meus olhos e respirei fundo, tentando conter minhas emoções.

Meu corpo instantaneamente travou assim que senti um toque quente e uma respiração hesitante batendo contra minhas costas. O ar parou em meus pulmões e não consegui expeli-lo, sentindo-me sufocar enquanto sentia Caroline me tocando.

- O que foi? – grunhi, sentindo cada pedaço de meu corpo correspondendo àquele pequeno toque. – Caroline, o que foi? – sibilei a pergunta novamente, devido à sua falta de resposta.

- Por que você me salvou? – ela inquiriu, retirando a sua mão e me deixando sentir o vazio me consumindo novamente.

Girei sobre meus pés e lá estava ela, exatamente atrás de mim, encarando-me com seus grandes olhos azuis e com uma pequena ruguinha em sua testa. Curiosa e petulante como sempre.

- Klaus, por que você me salvou? – ela repetiu seu questionamento, aproximando-se um passo de mim e praticamente grudando nossos corpos.

- A ideia de te... A ideia de te perder simplesmente me pareceu dolorosa e aterrorizante demais. – confessei em um murmúrio.

Caroline deu alguns passos para trás e seu olhar caiu, focalizando o chão. Seus braços circundaram seu corpo, como se ela se abraçasse e buscasse algum apoio. Se ela quisesse, eu seria o apoio dela. Seu suporte e alicerce para toda a nossa eternidade.

- Eu amo o Tyler. – ótimo, apunhale meu coração da pior maneira, Caroline. – Mas, eu sinto que algo vem mudando dentro de mim. Algo que me parece ser muito maior do que meu amor por Tyler. Algo que me vem fazendo pensar em você todo o tempo. Algo que me faz querer esquecer todas as coisas horríveis que fez. Algo que me faz querer jogar-me em seus braços e pedir para que me mostre o mundo como você me disse que pode. Algo que me faz querer te dizer que eu também estou apaixonada por você.

Eu nunca entendi a expressão meu coração falhou uma batida até aquele momento. Até que o meu próprio falhasse e eu sentisse que tudo ao meu redor estava congelado naquele instante. Naquele minuto em que Caroline me disse que estava apaixonada por mim também. A letargia tomou conta de mim e me encontrei estático, perto de uma janela, encarando fixamente a garota que havia roubado meu coração para algo tão clichê como o para sempre.

- O que... O que você falou?

- Não me faça repetir, Klaus. Por favor. – ela pediu.

Uma lágrima solitária caiu de seu olho e mais do que rapidamente, eu estava em sua frente, segurando seu rosto com minhas mãos e limpando o rastro molhado em sua bochecha. Caroline parecia hipnotizada por cada pequena parte de minhas feições, ela me observava como se quisesse decorar meu rosto. Como se essa fosse a última vez que nos veríamos.

- Não chore. – implorei. – Eu não gosto de te ver chorar.

- Se não gosta de me ver chorar, por que quase me matou ontem? Sua sede de vingança é tão enorme assim que você seria capaz de me deixar morrer por sua culpa? – ela jogou suas perguntas em mim em um tom mais alto do que o normal.

- Perdoe-me, love. Eu... Eu não sei o que me fez agir daquele jeit...

- Sim, você sabe! Deus, não minta para você mesmo Klaus! – Caroline se afastou de mim e andou pela sala, remexendo os braços e batendo os saltos das botas no assoalho envernizado. – Você viu seu irmão morrendo! Kol morreu na sua frente sem você poder ajudá-lo. Isso desestabiliza qualquer um. Até mesmo o mais solitário e indiferente Original de todos. Você quer que todos sintam sua mágoa, por isso me atacou. Você poderia ter feito isso com Elena, com Bonnie, com Damon, com Stefan... Eram tantas as possibilidades. Você só me atacou porque eu estava aqui. Eu estava parada na sua frente cuspindo todas aquelas baboseiras sobre moral sendo que você só estava sentindo dor pela perda do seu irmão. Eu fui a insensível e não um Gilbert ou um Salvatore. Eu fui a sua rota de escape para se libertar da dor que o queimava. – ela parou, dessa vez fixando seus olhos em mim e parando de tremer. – E eu agradeço que tenha sido eu, porque se tivesse sido qualquer um de meus amigos eu sei que não haveria salvação para eles. Você não se importa se eles estão vivos ou não. Mas, você se importar comigo e estar apaixonado por mim foi o que me salvou. Aliás, foi o que nos salvou.

- Nos salvou? – perguntei confuso, ainda digerindo suas palavras.

- Me salvou da morte e te salvou do erro.

- Erro? – retoricamente a questionei, sorrindo tristemente. – Quem me garante que realmente foi um erro te deixar viver, love? Você sempre está cooperando para que seus amigos consigam enfiar uma estaca de carvalho branco em meu coração.

Minhas palavras tiveram um efeito estranho em Caroline, que me fitou como se eu tivesse lhe dado um tapa na cara.

- Julgue meus erros, Klaus, mas aprenda a julgar os seus também. – ela grunhiu.

- E o que você acha que eu fiz ontem, Caroline?! – eu vociferei, jogando a mesa de centro para longe de meu caminho. – Eu me martirizei por cada erro meu que me levou a quase te matar.

Nós estávamos milímetros longe um do outro. Eu quase podia sentir seu gosto com a ponta da minha língua e cada fibra do meu ser correspondia ao calor adocicado que emanava do corpo dela. Meus dedos ardiam para tocar em seu rosto e puxá-la para mim, por isso, fechei minhas mãos em punhos, deixando-as seguramente longe dela.

- Por que você ainda está aqui, Caroline?

- Porque eu vejo esperança em seus olhos.

- Então me mostre onde ela está, porque eu, sinceramente, não estou achando.

Sua pequena mão surgiu entre nós e como uma tortura demorada e agonizante, ela se aproximou até que tocou parte do lado esquerdo de minha face. Meu corpo inteiro tremeu com o choque elétrico que passou por mim, um choque que se iniciou em minha bochecha esquerda e desceu até meu coração, fazendo-o bater aceleradamente, muito mais rápido do que em um humano. Quando meus olhos conseguiram focar Caroline, ela me olhava com um pequeno sorriso e com uma ternura que nem mesmo em Esther eu havia visto.

- Você é tão lindo. Tão perfeito. Apesar de no momento eu só conseguir enxergar medo dentro do seu coração, eu também vejo esperança refletida pela sua alma.

- Você é minha esperança, Caroline.

Alguns minutos que me foram congelados eternamente na memória se passaram com nós dois no meio da sala de estar dos Gilbert, presos em algo parecido com uma bolha que nos protegia de qualquer interferência externa, mas não nos protegia dos fantasmas de nossos passados. Eu sabia que no momento em que Caroline fosse embora, ela viveria como mais uma sombra jogada ao vento, voando por entre os anseios de minha alma, atormentando-me durante toda a minha existência mundana na Terra.

A minha experiência com o beija-flor não era nada comparada com essa. Foi ali, naqueles minutos, que eu desejei ardentemente me tornar humano novamente. Eu podia imaginar-me casando, tendo filhos e envelhecendo com ela ao meu lado, sendo minha companheira, minha amiga, minha confidente e minha amante. Foi ali que eu pedi que a cura existisse e me libertasse de todas as correntes inquebráveis que Esther usou para me aprisionar em uma vida de amarguras e suposta imortalidade feliz. Ela só não contava que os mil anos que se passaram apenas me fizeram sobreviver mergulhado em um oceano de miséria e desumanidade.

- Você sabe que com apenas uma simples hipnose eu posso fazer com que você esqueça Tyler, sua mãe, seus amigos e qualquer outra pessoa aqui de Mystic Falls. Eu posso te fazer inteira e exclusivamente minha.

- Mas você não vai fazer isso. – ela afirmou.

- Eu sou egoísta, mas eu sei que quem ama deixa o ser amado ir embora para ser feliz.

A mão dela caiu de meu rosto e foi como se o frio engolisse com voracidade cada pedacinho de minha alma. Engoli em seco quando uma lágrima caiu de seus olhos e ela virou-se de costas para mim. Caroline fez o que eu temia, andando para fora da sala e parando na porta. Ela abriu a grossa folha de madeira e antes de sair, me direcionou um último olhar.

- Apenas os covardes e fracos deixam o amor ir embora.

E então, ela saiu. E deixei-me afogar na escuridão dos resquícios de seu cheiro que ainda permanecia no ar.

Eu já havia chorado algumas vezes na minha vida, mas nenhuma delas foi tão intensa e sufocante como essa. Eu sentia meu coração ser esmagado por punhos de ferro, sentia o ar denso demais ao meu redor batendo com força em meus pulmões e eu sentia que cada lágrima e soluço de agonia que saiam de meu corpo eram apenas eu clamando para que ela voltasse e a certeza que meu pedido nunca seria atendido.

Eu não saberia dizer em que momento eu destruí a sala dos Gilbert ou em que momento eu me encolhi como uma bola no chão, em posição fetal, lamuriando por um colo de mãe, um acalento materno que eu nunca teria.

Não poderia nem ao menos ter um carinho de meus irmãos. Rebekah não morava mais comigo, desejando minha morte e Elijah havia fugido de toda a sujeira que havia a minha volta. Eu estava sozinho. Completamente sozinho. E havia deixado a única pessoa que seria possível me tirar dessa solidão ir embora.

Amor. Eu nunca seria digno desse sentimento.

(...)

Ao término da última noite de lua nova, eu finalmente pude sair daquela prisão invisível feita por Bonnie. Não recebi mais visitas de Caroline e Tyler apareceu apenas uma vez para se certificar que eu ainda estava preso. Ele não comentou nada sobre a destruição que eu havia feito ou sobre Caroline. Ele apenas passou para me entregar uma bolsa de sangue e saiu sem falar nada. Eu até poderia ter me preocupado com o silêncio do Lockwood, mas eu estava ocupado demais em remoer todas as palavras ditas por mim e pela vampira loura por quem eu estava apaixonado.

Quando saí daquela casa, simplesmente corri para minha mansão e fiquei sentado por algumas horas em uma poltrona, com um caderno de desenhos no colo encarando todos os estúpidos esboços que eu havia feito do rosto dela. Aproveitei a lareira acesa e os queimei, despedindo-me de um por um e resolvendo que a melhor imagem dela seria uma de minha memória: Caroline usando o vestido azul que eu havia comprado para ela usar no baile que Esther havia promovido em nome da família Mikaelson. A mais doce visão de um anjo.

Subi os degraus da escada ouvindo tudo que me rodeava, ou seja, o silêncio. Eu era sozinho e isso, pela primeira vez, pesou em meus ombros. Entrei em meu quarto e encarei a cama King Size posicionada estrategicamente no meio do cômodo. Grande e vazia. Sem a perspectiva de uma jovem vampira loura fazendo-me companhia nela. Fui até meu closet e arrumei todas as coisas de que eu precisaria. Deixei tudo pronto e desci para o escritório da mansão, sentando atrás da mesa de mogno e pegando uma caneta tinteiro francesa, enquanto olhava sem emoção para a pequena pilha de papel timbrado, com o brasão da minha família na parte superior e central.

Deixei que a tinta tomasse forma no papel conforme eu escrevia as cartas, expondo meus sentimentos e meus desejos. Terminei tudo depois de duas horas e subi novamente, pegando as minhas coisas e entrando no SUV que estava na garagem, dirigindo até a casa de Rebekah. Aproveitei que minha irmã provavelmente estava com Stefan e deixei duas das cartas com ela, sentindo um pequeno sorriso surgir em meus lábios ao sentir seu perfume ainda presente no lugar. Corri de volta até o carro e me encaminhei para a casa de Caroline, deixando dessa vez, uma carta apenas, dentro de sua caixa de correspondências.

- Adeus, love. – sussurrei para a casa.

(...)

Quatro meses. Dezessete dias. Três horas. Quarenta e nove minutos.

O tempo nunca me havia sido tão interessante como nesse período de exílio auto-imposto. Eu podia contar na mão as horas que passei fora da mansão situada em um bairro nobre de Nova Iorque. Havia escolhido a cidade que nunca dorme como refúgio, pois acreditava que todo o barulho e agitação iam me tirar pensamentos mais do que inconvenientes da cabeça.

Doce ilusão.

Rebekah veio me visitar apenas uma vez, junto com Elijah. Os dois me perdoaram por tudo e tentaram me convencer a voltar para Mystic Falls, onde moraríamos novamente juntos. Recusei até o último instante. Minha irmã até mesmo tocou no nome dela, mas diante de meu olhar ela se calou. Elijah com todo o seu sentimentalismo tentou usá-la como motivo para eu voltar, mas quando percebeu que eu estava irredutível apenas me lançou um olhar de pena.

Eu quis voltar a ser o Original malvado e arrancar a cabeça de meu irmão ao ver aquele sentimento de dó espalhado por cada ação dele. Eu já vivia em miséria demais para aguentar a benevolência falsa dos outros. Os dois não sabiam o que eu sentia. Nunca saberiam.

Eu passava a maior parte do tempo sentado em uma poltrona de frente para um quadro original de Degas, onde eu observava cada milímetro de pinceladas que formavam uma delicada bailarina loura curvada sobre seu tronco e acariciando seu tornozelo, enquanto ao seu lado, uma mulher inteiramente de preto parecia levemente decepcionada ou entediada. O quadro retratava – em minha humilde opinião – a derrota e o fracasso da bailarina e a impotência de sua mãe. Ou talvez, eu só quisesse enxergar isso por saber que esses sentimentos eram os que estavam impregnados em mim.

Engoli mais uma dose de whisky e continuei parado, no mesmo lugar, como sempre. O crepúsculo já invadia minha sala e não me preocupei em ligar nenhuma das luzes. Eu gostava da escuridão, pois era onde eu me perdia, me misturando ao negror que engolia tudo. A campainha soou em algum momento, mas não me dei ao trabalho de ir ver quem era. Rebekah e Elijah não precisavam de permissão para entrar, assim como qualquer outro vampiro. E se fosse um humano, ele que fosse embora. Eu não estava com vontade de aguentar olhares curiosos, luxuriosos ou amedrontados.

A campainha soou novamente e deixei que ela tocasse o quanto quisesse. Nada ia me fazer levantar daquela poltrona. Ouvi a maçaneta girando e revirei os olhos. O quadro mudou suas cores conforme o crepúsculo tornava-se mais intenso e a diminuta luz pareceu ter dado um aspecto ainda mais triste para a mulher de preto.

- Esse lugar está horrível. Quando foi a última vez que você limpou essa casa, Klaus?

Cada pelo de minha nuca eriçou-se ao ouvir a voz que me atormentou por tanto tempo. Virei-me lentamente – porque eu tinha medo de que ela evaporasse como uma alucinação – e a encarei em pé, alguns passos atrás de mim, olhando-me com um brilho e uma áurea que eu havia me esquecido existir.

- Caroline. – tive que respirar fundo ao ver que ela não se dissipou ou foi embora. – O que está fazendo aqui?

- Eu não sou covarde. Eu não deixo o amor ir embora... Love.

E a próxima coisa que senti foram seus lábios sobre os meus, em um beijo cheio de saudades e reconhecimento. Era o nosso primeiro beijo. Quer dizer, o nosso primeiro beijo comigo em meu corpo. Aquele beijo quando eu estava no corpo de Tyler não foi nada comparado com esse. Era muito mais explosivo, explorador e sensual. Era um descobrindo o amor do outro.

Nós nos separamos e um sorriso lindo estava fixado na face de anjo dela. Minha respiração estava descontrolada e eu ainda a encarava como um idiota.

- Eu... Eu não estou entendendo. Como você me achou? Como você veio até aqui? E o Lockwood?

Caroline empurrou-me de volta para a poltrona, onde cai sentado e ela aproveitou-se e sentou-se em meu colo.

- Dois dias depois que eu descobri sua carta na minha caixa de correios, eu terminei com Tyler. Eu percebi que doía muito mais saber que você não estava mais em Mystic Falls do que doeu quando ele foi embora para se libertar da ligação dele com você. Eu estava sufocando sem você. Rebekah foi quem me ajudou. Stefan me encontrou perdida demais um mês atrás e nós fomos até ela para pedir ajuda. Ela me contou que você estava aqui, que não queria voltar e nem saber sobre mim. Quando ela viu meu desespero, me ajudou de uma maneira que serei eternamente grata. Depois de resolver algumas coisas com a minha mãe e com meus amigos, fiz minhas malas e quando vi, estava entrando em um jatinho que Rebekah arrumou e voando para cá. Confesso que acabei demorando um pouco, porque eu estava com medo do que eu iria encontrar quando chegasse aqui.

- Pensei ter ouvido que você não é covarde. – brinquei.

- E não sou! Estou aqui, não estou? Como eu mesma disse: não deixo o amor ir embora. Mesmo comigo morrendo de medo de levar um grande pé na bunda quando chegasse aqui.

- Eu nunca te daria um pé na bunda, love.

- Eu estava contando com isso. – ela disse se aproximando. – Mas agora, eu tenho coisas em minha mente muito mais interessantes do que falar sobre minha coragem.

- Que seriam...?

- Você vai descobrir. – ela sussurrou antes de me beijar de novo.

Seus lábios doces moveram-se contra os meus ainda com aquele toque delicioso de reconhecimento, sua língua pediu passagem e eu prontamente cedi, deixando que um gemido saísse de mim conforme ela e eu explorávamos um ao outro. Eu apertei sua cintura e a puxei para mais perto de mim, fazendo sua bunda roçar em uma parte de meu corpo que ficava mais excitada a cada segundo. Seus dedos emaranhados em meu cabelo puxaram meus fios com força e suas unhas arranharam a pele exposta de minha nuca, fazendo com que filetes de sangue saíssem pela pele arranhada. A atmosfera tornou-se mais luxuriosa do que eu imaginei e me afastei, ainda deixando meus lábios em contato com ela, beijando levemente a linha da sua mandíbula.

- Eu acho que devemos sair para jantar. – eu disse.

- Jantar? – ela retorquiu confusa, se afastando brevemente de mim. – Você está falando sério ou isso seria uma metáfora para o que queremos realmente fazer?

- Estou falando sério. – respondi, não escondendo meu sorriso. – Vamos. Eu me lembro de prometer te mostrar o mundo e sinto que se não sairmos agora dessa casa, eu só te mostrarei meu quarto.

- Me contento com a sala, com o balcão do banheiro e com a mesa da cozinha também.

Seu sorriso cínico me enviou tremores pelo corpo, me fazendo imaginá-la em cada um desses lugares embolada em mim enquanto eu investia com força nela. Beijei-a mais uma vez, mas recuei rapidamente, pegando sua mão e a levando para fora comigo.

(...)

- Um carrinho de cachorro-quente? Sério, Klaus? – Caroline perguntou, enquanto se esquivava de alguns pedestres apressados que andavam rapidamente pela Park Avenue – Você me oferece o mundo e me traz para comer cachorro-quente? Eu estava pensando em algum restaurante badalado e sofisticado... Algo como o Petrossian ou o Masa.

- Esses restaurantes nós encontramos em qualquer lugar do mundo. A questão não é o lugar em si, mas sim a comida típica. Por exemplo, tem algo mais nova-iorquino do que cachorro-quente? Ou um lanche no Shake Shack?

- É... Você tem razão. – ela sorriu, me puxando para um abraço, antes de me dar um selinho. – Obrigada.

- Qualquer coisa, love. Qualquer coisa que você queira.

- Então... – ela me olhou com seus olhinhos azuis e mordeu seu lábio inferior – Que tal irmos a um musical da Broadway? O Fantasma da Ópera me é muito atraente.

(...)

Os olhos de Caroline ainda estavam vermelhos devido ao seu choro pelo Fantasma. Mas, eles agora mostravam um brilho muito mais bonito. Seu deslumbre e sua vontade de observar e guardar cada detalhe da Time Square me eram genuinamente bonitos.

- Olha que lindo, Klaus. Essa sim é a mais bela visão de minha vida até agora.

- Concordo. – comentei, olhando apenas para ela, fazendo-a se virar e soltar um riso envergonhado. – Eu nunca pensei que esse tipo de sentimento existia. – soltei sem nem ao menos pensar, me repudiando por estar mostrando minha fraqueza.

- Vamos para casa.

(...)

A antecipação era uma mordida na bunda conforme nossos passos se aproximavam da mansão. Percebi que as mãos de Caroline pareciam frias na minha e me perguntei se ela experienciava a mesma ansiedade que eu. Minha mão girou a maçaneta e a permiti entrar primeiro, observando o ondular de seus cabelos conforme ela andava. Caroline parou no meio da sala, em frente ao quadro de Degas que foi minha companhia por tantos dias e ela encarou o lugar com certo desconforto.

- Aceita uma bebida? – inquri.

- Oh, eu adoraria. – ela respondeu, como se estivesse aliviada. – Há quanto tempo você tem esse lugar?

- Desde que eu cheguei à América. Essa é uma das casas preferidas de Rebekah.

- Sua irmã é alguém que passei a considerar. Não sei como agradecer a ajuda dela para lhe encontrar. – ela confessou, sentando-se no sofá vintage de 1890.

- Prometo que não irei mais enfiar uma adaga no peito dela por pelo menos um século. – eu prometi, servindo Bourbon para nós dois e lhe entregando um copo – E sua mãe, Caroline? O que ela falou quando você disse que estava vindo atrás de mim.

- Ela disse que eu tenho que ir atrás do que eu preciso para ser feliz. Mesmo que isso envolva um serial-killer/híbrido. – ela respondeu sorrindo, bebericando o líquido âmbar.

- Fico feliz por ela ter uma concepção tão boa de mim. – falei com ironia – E os seus amigos?

- Eles não entenderam muito bem. Matt foi o único que me deu total apoio. Com Bonnie foi mais complicado. Espero que um dia eles possam entender.

Nós passamos horas conversando sobre sua vida em Mystic Falls desde a minha partida. Caroline me contou tudo sobre seu término com Tyler, o que fez com que um sorriso ficasse permanentemente em meu rosto. Nós bebemos, rimos e eventualmente assaltamos meu freezer cheio de bolsas de sangue.

- Qual é o primeiro lugar onde quer ir? – perguntei, acariciando seus cabelos e sentindo seu corpo moldado no meu, já que ela estava sentada com as costas apoiadas em meu peito. – Paris?

- Paris, Roma, Tóquio... Qualquer cidade. Nós temos todo o tempo do mundo, não temos?

Ela virou-se para mim e sua mão achou seu caminho para meus cabelos, me fazendo um carinho delicioso e que há muito tempo eu não recebia.

- Sim, nós temos. – eu afirmei, selando nossos lábios.

Aquela noite, Caroline foi minha pela primeira vez. Sem medos, sem desconfiança, sem raiva, sem fantasmas de passados. Éramos apenas Caroline e Niklaus. Dois seres que naquela noite se amaram como sempre iriam se amar pela eternidade em que viveriam.

Minha existência tinha um significado agora. E ele se chamava Caroline Forbes, futura senhora Mikaelson.

Eu mostrei a ela o mundo. E ela... Ela me mostrou o amor.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.

Indiquem a One aos amigos, comentem e recomendem, pois isso é o maior combustível de autores.

Obrigada.