Distúrbio escrita por Cappuccino


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

-HISTÓRIA FEITA PARA O CONCURSO DE HALLOWEEN 2013 DOCES OU TRAVESSURAS.

Boa leitura



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Distúrbio

Por mais que grite, lute e transpire, nada resulta. Estou presa no vazio, rodeada pelas suas memórias torturantes que insistem em me perturbar. Porque, no fundo, eu sei que meu esforço nunca irá fazer uma mera fissura nestas paredes invisíveis que tanto me sufocam. Mesmo sabendo disso, eu não posso e não quero deixar de combater. Porque a minha função é protegê-la

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O som irritante do despertador ecoou dentro das paredes pálidas do seu quarto. Sakura acorda, observando fixamente o relógio, aclamando, mentalmente, para que este se calasse.

Suspirou e, lentamente, desligou-o. Paciência não era o meu forte, se eu pudesse já teria atirado o maldito despertador contra a parede.

Aliás, a paciência e a calma era duas virtudes às quais eu admirava em Sakura. Mas havia situações em que me irritavam profundamente…

Levantou-se e olhou-se ao espelho. Sua mão subiu rumo aos seus cabelos rosas, puxando-os bruscamente. Seus lábios abafaram um clamor urgente e seus olhos, céus… seus olhos gritavam a sua vontade de desaparecer!

Então, reparou que, numa mecha do seu sedoso cabelo, estava presa uma folha seca. Sakura achou estranho, mas ignorou. Ainda não me tinha acostumado que, para ela, era difícil lembrar…

Desceu as escadas antigas de madeira, encontrando a sua avó recheando a mesa de bolos e biscoitos. Mas, como sempre, Sakura só pegou numa maçã dando uma trinca e deitando o resto fora. Depositou um beijo na testa da sua avó e saiu porta fora, sem esquecer os preciosos auscultadores.

Rapidamente tapou os olhos de tanta luz que sol irradiava. Sakura não gostava do sol, pois este só zombava dela mostrando a cada dia o quanto era brilhante e cheio de luz. Também não gostava da chuva porque uma gota nunca está sozinha, vem sempre acompanhada. E ela odiava mais a si mesmo por saber que nunca viria a ser como o sol e a chuva.

Konoha era uma vila pequena e aconchegante onde cada casa tinha seu canteiro plantado. E, estranhamente, hoje, as habitações tinham uma abóbora a enfeitar as portas de entrada.

Dia 31 de Outubro, lembrou-se. Pessoalmente, gosto deste dia. Aliás, tudo o que tenha algo de relacionado ao sangue e superstições, eu amava. Mas Sakura não… para ela era indiferente… raramente havia algo que despertasse a sua curiosidade. Para ela, existir era um peso que teria que suportar o resta da sua vida. Só não acabava com ela porque não queria deixar que a solidão fosse a única companheira da sua avó. E também tinha Naruto e Sasuke, alheios ao seu sofrimento.

E isso, corroía-me por dentro…

O ónibus passa por ela em direção á escola e Sakura nunca o apanhava porque não queria ser o alvo de risada logo de manhã. Mas olhando para a última fileira do automóvel lá estava ele, sorrindo diabolicamente. Deidara, um dos principais que não a deixavam em paz. E, inesperadamente, não estava lá o outro – Sasori.

Eu não percebia… Não entendia o porquê de tanto menosprezo. Sim, Sakura era diferente das demais garotas mas era isso que eu gostava nela – a sua diferenciação. E ninguém percebia isso…

Tudo porque pintava o seu cabelo de rosa e porque carregava sempre consigo os auscultadores que não emitiam música. Eles apenas não permitiam que ela ouvisse as acusações injustas e nomes estranhos que lhe apelidavam. No fundo, eles serviam para lhe dar o silêncio que tanto prezava.

Quando chegou á escola que tanto repudiava, Sakura repara no tumulto gerado no pátio do instituto. A policia também estava lá.

A rosada foi-se aproximando, não que quisesse saber o que se passava mas era sempre bom precaver.

Foi então que a notícia a bombardeou como uma bala pesada em cheio no seu coração – Sasori fora assassinado, por estrangulamento. Algumas meninas até diziam que era efeito do Halloween. Tsc… ridículo!

E eu sei que Sakura ficou contente, e eu também. Eu desejava a morte mais torturante e sangrenta para aquele verme imundo. Agora só faltava Deidara…

Desviando seu caminho daquela multidão infectuosa, Sakura foi-se sentar nos degraus, refugiada dos demais. Foi, então, que um quase sorriso lhe escapou ao vendo um riso escandaloso emoldurado por uma cabeleira loira – Naruto Usumaki – vindo em sua direção. Ao seu lado, o indiferente e discreto Sasuke Uchiha - um obstáculo que, se pudesse eu já teria eliminado e ultrapassado. O problema que me impede de tal coisa é o facto de não ter poder e controlo suficiente.

Estes três se conhecem desde sempre, pelo que vi. Naruto possuía uma paixão platónica por Sakura, que, pessoalmente, considerava apenas como “admiração”. E a pequena de cabelos rosados apaixonara-se pelo Uchiha assim que fizeram o primeiro contacto de olhos.

E por isso eu não gostava dele, por isso que eu o repudiava e desprezava. Porque ele não fazia bem a Sakura, porque ele a desviava de mim, porque ele arrancava pedaços da minha existência na memória de Sakura.

E Sakura era minha e só minha…

- Sakura-chan – chamou o loiro tipicamente infame e tímido – porque não vem á festa de Halloween de logo á noite?

- E-eu não sei, Naruto… - Sakura desvia o olhar insistente de Naruto para outro indiferente e sombrio para despois fixar um ponto qualquer no chão. Naruto percebeu esse pequeno deslize.

- Todo o mundo vai lá estar, Sakura! E Sasuke faz questão que você vá, não é, Sasuke? – esta frase lhe pesou na voz.

- Hm…

Em momento algum, Sasuke ousou olhar Sakura nos olhos e eu sei que isso a magoou.

Sakura não gostava muito desse tipo de coisas. Gostava de estar no seu canto sem que ninguém a perturbasse. Mas ela era frágil e fraca e por isso era lhe difícil dizer um “não” às pessoas, principalmente a Naruto.

- T-tudo bem…

Quando faltavam cinco minutos para dar o toque de entrada, Sakura foi ao seu cacifo para pegar nos livros específicos. Naruto continuava a lhe atormentar com a festa de Halloween, dizendo o quanto iria ser divertido, e isso já me estava a irritar. E o Uchiha, sempre com o seu ar poderoso e de superioridade, continuava a segui-los com as mãos nos bolsos.

Quando Sakura abre o cacifo, algo brilhante e dourado escorrega e cai aos pés de Sasuke.

- S-Sakura-chan… isso não é o relógio de bolso de Sasori? – Pergunta Naruto atónico, ainda olhando para o objeto radioso. Todos sabiam como Sasori era rico e ganancioso, carregando sempre consigo aquele relógio de bolso de puro ouro, transmitido de geração em geração.

- Sakura, o que isso tá fazendo no seu cacifo? – Desta vez, Sasuke é quem decide questionar e, pela primeira vez, olhando-a nos olhos.

A rosada não consegue dizer nada, as palavras estão presas na sua garganta e recusam-se a sair. No entanto, com o resto das suas forças ela abana a cabeça, negando quaisquer acusações. O olhar acusador de Sasuke penetra diretamente no corarão de Sakura, estremecendo-a.

- Foi você, Sakura? – Sua voz rouca do Uchiha ecoa pela sua mente e eu daria tudo para a fazer calar. Sakura limita-se a fixa-lo, tremendo.

Só Deus e eu sabemos o quanto Sakura tem sofrido nas mãos daqueles dois seres. Sempre, sozinha e indefesa. E estes dois, que se dizem serem amigos dela, nunca repararam o quanto seus olhos verdes denunciavam o seu medo. E agora estavam a acusá-la, injustamente.

- Claro que não, Sasuke-teme, Sakura era incapaz de matar uma mosca quanto mais um ser humano! Alguém está tentando a incriminar! – Defende Naruto.

- Em todo o caso, isso fica comigo – aponta para o relógio, guardando-o de seguida no bolso – e atuem normalmente. Iremos descobrir que te está incriminando, Sakura.

Seus olhos enigmáticos escondiam algum mistério. Eu desconfiava dele, a sua boa vontade não era gratuita e á toa.

O tedioso dia de aulas terminou e a noite de Halloween estava chegando. Já se ouviam o riso das crianças enquanto tocavam às campainhas das casas com seus sacos de guloseimas, luzes e enfeites nos tons laranja e preto. Tudo remetia para o dia das bruxas.

Sakura estava linda, vestida de noiva zumbi. Seu vestido branco estava sujo com tinta vermelha, dando a entender o sangue viscoso, seus cabelos despenteados davam um ar selvagem e natural e seus olhos grandes e verdes contornados por lápis preto. E os auscultadores davam um toque de menina inocente.

Céus… Como eu a amava…

Foi seguindo, estrada a fora conforme a morada lhe mostrada naquele papel amarrotado e rasgado – típico de Naruto. A casa era enorme, decorada para dar um ar assombrado e místico. A música já estava ao rubro e todo o mundo já estava a se divertir. As meninas, vestidas com roupas indecentes, riam-se de Sakura, deixando-a completamente humilhada e exposta. Raiva era o meu sentimento naquele momento.

Mas Naruto, vestido com um fato de raposa, veio, sendo o seu suporte de apoio, e ela lá conseguiu entrar para se tentar abstrair. Não se admirou ao ver Sasuke encostado a um canto, quase a dormir, vestido de… Sasuke.

Foi então que, no meio de toda aquela multidão, ela o viu a vir na sua direção. Seu fato de diabo caracterizava-o na perfeição, mas se ele ousasse tocar, com um dedo que seja, na minha preciosa, eu podia ser bem pior que o próprio Satanás.

E eu me pergunto, como uma pessoa pode estar numa festa divertindo-se sendo que o seu amigo fora encontrado morto? Esse era o tipo de gente que ele era, desprezível.

Prevendo o que iria acontecer Sakura foge, esbarrando pelas pessoas que se opunham no seu caminho, e sai da mansão. Ela não tem nenhum senso de orientação, mas naquele momento só importava correr. Correr até não sentir suas pernas esguias. E Deidara, aquele sacana, perseguia-a rindo da sua própria estupidez, na minha opinião.

E Sakura continuava a correr. Sua visão já estava embaciada por conta das lágrimas suplicantes que lhe caiam e seus joelhos já estavam esfolados das vezes que caíra. Nem reparara no sítio onde já estava – numa floresta. Konoha era cercada por mata e mais mata, e correndo daquela maneira, Sakura iria parar nos confins do mundo. Já estava perdida…

Ela cessa seus passos, escondendo-se atrás de uma árvore seca e velha. Sua vontade era de se fundir com o tronco da mesma para nunca mais ser lembrada. A respiração instável ecoa pelo sossego da floresta, sussurrando lamúrias implorantes.

Aterrorizada, Sakura reza. “Por favor, por favor, por favor…”

Mas Deus não quer ouvir suas preces e Deidara aparece à sua frente. Seus braços frágeis são presos por uma mão grande e bruta, enquanto seu pequeno corpo é explorado sem pudor. Nem força para gritar ela tem. Ouve-se o som de algo caindo. Seus auscultadores caem e nem mesmo o silêncio a ampara. E agora eu posso ouvir as palavras nojentas e asquerosas saindo daquela boca imunda.

E, Sakura… eu só preciso da sua permissão, querida…

Seus olhos se tornam opacos, e seu corpo não se mexe. Um sorriso diabólico brota nos seus lábios e ela fixa o homem à sua frente. Pobre criatura… em breve estarás batendo nas portas do meu inferno.

Sua força é superior, seu riso assustador e já nada a pode conter. Ela solta-se e apanha os auscultadores. Com o fio dos mesmos, ela enrola o pescoço do verme e aperta com força. Aperta como se sua vida dependesse daquele movimento – e dependia.

- Pare com isso, Sakura…

Aquela voz… o Uchiha. Justo ele, capaz de imobilizar Sakura com apenas um clamor. Ele tinha o dom de aparecer onde e quando não devia. Exatamente como na noite anterior, quando Sasori morrera.

Deidara já não respirava. A marca de estrangulamento era bem visível no seu pescoço.

E ele avança, ultrapassando o meu limite e abraçando Sakura. Suspira em seu ouvido e minha respiração começa a cessar.

- Já chega, você não é assim…

Mas eu gritava e a voz que insistia em manifestar-se no seu corpo, matando quem fizesse mal a Sakura, foi ficando cada vez mais distante e inalcançável. Sakura iria se esquecer de mim, como de todas as vezes em que eu aparecia. A diferença é que desta vez era para a eternidade.

E eu não sei porque me sentia tão frustrada e agoniada, como se alguém estivesse privando-me do oxigénio…

Se era por ver a voz esvair-se e nunca mais proteger Sakura…

…Ou se porque essa voz era eu.

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O Transtorno de Dupla Personalidade ou Transtorno Dissociativo de Personalidade é considerado uma condição mental onde uma pessoa demonstra traços de duas ou mais personalidades, tendo cada uma, uma maneira diferente de interagir e lidar com o meio onde está inserida.


 

Cappuccino


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem e penso que toda a gente soube decifrar o assassino!

É isso ;)



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