Antes que o tempo acabe escrita por Acydya


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

HISTÓRIA FEITA PARA O CONCURSO DE HALLOWEEN 2013 DOCES OU TRAVESSURAS.

Inspirada em "Alice no País das Maravilhas".

Boa leitura!



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Antes que o tempo acabe.

Do pequeno espelho de bolso eu podia ver meu batom borrado. Tentei limpa-lo ao máximo, mas no fim o ônibus estava balançando demais para que eu pudesse fazer algo. Ainda me lembro do que Ino me disse há poucas horas atrás pelo telefone. “- Sakura, você precisa ir nessa festa. Deveria parar de ficar tanto tempo estudando e sair mais comigo. E eu sei que você vai adorar, afinal, quem não gosta de halloween?!”. E foi assim que eu acabei parando neste ônibus lotado de pessoas fantasiadas ás 23h30min á caminho da incrível festa que Ino falou, e digamos que eu era a única que não estava caracterizada para a noite.

Guardei o espelho dentro da bolsa, ajeitei minha calça jeans e meu casaco bege tentando parecer no mínimo um pouco apresentável. Minha cabeça estava latejando, e eu daria tudo para estar deitada na minha cama. A faculdade estava exigindo cada vez mais de mim, e eu não podia passar meu tempo indo a festas.

Suspirei e verifiquei novamente a quantidade de pessoas que estavam no ônibus. Então finalmente percebi que um cara muito estranho sentado ao meu lado. Ele vestia um sobretudo marrom escuro que chegava até os pés, sapatos sociais pretos e uma cartola incrivelmente grande, pude notar também que ele havia levantado a gola do sobretudo para que nenhuma parte do seu rosto fosse exposta. Bem, de todas as pessoas, sua fantasia era a mais misteriosa e medonha.

Virei-me para a janela do ônibus a fim de admirar as luzes da cidade do lado de fora, mas poucos segundos se passaram até eu sentir algo apertando meu pulso. Procurei pelo que estava errado e então vi a mão do cara ao meu lado apertando meu pulso cada vez mais.

Não tive tempo de perguntar o que estava acontecendo, o estranho simplesmente se levantou do assento e me arrastou até a porta de saída do veiculo e no segundo seguinte as portas se abriram revelando a cidade em movimento.

– Pule. - Disse o homem.

– Você ficou maluco? Sai de perto de mim ou eu vou gritar. – Falei tentando me soltar.

Olhei em volta procurando por alguém que estivesse vendo minha situação e quisesse me socorrer. Ninguém. Simplesmente ninguém estava vendo que havia um maluco querendo que eu me jogasse do ônibus em movimento.

– Pule, agora! – Gritou com a voz ainda mais medonha.

Eu iria protestar novamente, mas nesse instante um vento forte passou por nós e a cartola do cara voou para algum canto do ônibus, revelando que a pessoa tinha uma cabeça de abóbora. Abafei o grito ao ver que o sorriso da criatura se alargou quando pode ver melhor.

Não pude gritar nem correr, o homem simplesmente segurou meus ombros e me jogou para fora do ônibus em movimento. Então tudo ficou escuro. Não houve sangue, não houve dor nem desespero.

Dizem que quando você morre sua vida inteira passa diante dos seus olhos. Mentira. Você é apenas coberto por um manto preto, como se tivessem apagado a luz do mundo. E a única coisa que você sente é a terrível vontade de respirar novamente, a vontade de viver nem que seja por apenas mais cinco minutos.

[...]

Não queria abrir os olhos, mas pude sentir que estava deitada em um confortável gramado e a luz do sol queimava delicadamente a minha pele.

– Levante-se logo! – Resmungou uma voz masculina.

Obedeci e abri os olhos lentamente. Foi então que pude vislumbrar o imenso céu azul acima de mim. Me sentei e fiquei maravilhada ao ver o lugar em que me encontrava. O gramado perfeitamente verde se estendia pela grande floresta coberta por árvores frutíferas e no fim podia-se ver o pico branco das montanhas.

– Vamos logo garota! – Disse novamente a voz ao meu lado.

Do canto do olho pude analisar a pessoa que falava comigo. Era um rapaz, provavelmente da minha idade ou um pouco mais velho. Ele estava usando um kimono em bom estado e calçava chinelos que pareciam novos. Seus olhos pretos e frios combinavam com o cabelo rebelde.

– Vai continuar me olhando ou vai tirar essa bunda do chão?

– O-oi? Aonde estou? E-eu morri?

– Não, você não morreu, mas se não correr vai. – Respondeu seriamente.

– Como?

– Você é surda? Eu estou mandando você correr! – Gritou.

Me levantei e no exato momento uma bola vermelha coberta por espinhos verdes e amarelos caiu ao meu lado.

– Droga! Não temos mais tempo! – Falou o rapaz e logo agarrou minha mão e começou a correr.

Seus passos eram largos e eu não conseguia acompanhá-lo. Entramos no meio da floresta e galhos começaram a arranhar meu rosto, passamos por um riacho e por outro caminho coberto por pedras e não paramos um minuto se quer, até chegarmos à outra parte da floresta onde havia árvores maiores. Finalmente paramos.

– O que foi isso? – Perguntei quando ele soltou minha mão, tentando devolver ar para os meus pulmões.

– Não importa agora. Temos que ir até a casa do coelho e te mandar de volta para o mundo humano.

– De volta ao mundo humano? Em que droga de lugar eu estou? – Disse irritada.

Ele sorriu e disse: - Bem, com certeza esse não é o país das maravilhas. – Pegou minha mão novamente e começou a andar tranquilamente.

– Você poderia me dizer o que está acontecendo, por favor? – Questionei. Já estava irritada de ser arrastada para tantos lugares.

– O que você quer saber? – Perguntou indiferente.

– Quem era o cara com cabeça de abóbora?

– Ele é o filho da rainha deste lugar, um moleque um tanto travesso, e toda noite de halloween ele tem permissão para ir ao mundo humano, mas desta vez acho que ele resolveu trazer uma lembrancinha. – Disse em meio a risadas.

– O que era aquela bola vermelha que nos atacou?

– Ah, aquilo era apenas um animal que vive nas campinas deste mundo. Este lugar não tem regras, Sakura. Ou você é a caça ou o caçador.

– Como você sabe meu nome? Quem diabos é você?

Ele deixou a pergunta no ar por alguns minutos, mas logo respondeu:

– Sou Sasuke Uchiha, guardião do filho da rainha, ou seja, eu tenho que desfazer as travessuras do moleque.

– Você ainda não disse como sabe meu nome... – Disse impaciente.

– Já chega garota, você faz pergunta demais. Já estamos chegando ao lugar onde precisamos ir, então cale a boca!

Obedeci ao rapaz que parecia tão impaciente quanto eu e continuei andando.

Não demorou muito para que chegássemos a uma árvore incrivelmente grande que provavelmente servia de casa, pois havia uma porta e duas janelas enfeitando-a.

Sasuke bateu na porta e gritou:

– Sou eu, coelho. Abra a porta.

A porta se abriu e nós passamos por ela, entrando na árvore.

Era um lugar bem organizado e limpo. Então uma voz fina disse:

– Sasuke, venha para a cozinha, estou ocupado com algumas poções.

O moreno me levou até o cômodo de onde a fina voz veio e me surpreendi ao ver o dono dela.

Era um coelho marrom, pequeno e fofo, que vestia um mando roxo brilhante e pulava de um lado para o outro segurando vidrinhos pequenos com líquidos coloridos, assim que achava o vidro certo ele despejava o líquido no fundo do caldeirão que estava fervendo e ficava no centro da cozinha.

– Ela está aqui, quando vamos mandá-la de volta para casa? – Perguntou Sasuke.

Ele pegou um relógio de bolso que estava em cima da mesa ao lado do caldeirão, olhos as horas e franziu o cenho.

– Temos que mandá-la de volta o mais rápido possível. Se não conseguirmos dar a poção para ela em 17 minutos, o tempo no mundo humano ficará paralisado para sempre. – Disse o coelho preocupado.

– O que falta para que a poção fique pronta? – Falou o Uchiha.

– Precisamos da fruta dos deuses, que está na outra floresta. Corra e traga um punhado delas para que eu termine a poção.

Sem hesitar, o rapaz caminhou até a porta e eu o segui. Então ele se virou e falou agressivamente para mim:

– Se você não quiser morrer é melhor não pensar em sair deste lugar. – Abriu a porta e foi embora.

Quem esse cara pensa que é?! Tentei me acalmar e voltei para a cozinha onde o coelho ainda estava pulando de um lado para o outro e despejava líquidos dentro do caldeirão.

Sentei-me na cadeira que ficava encostada na parede da cozinha para que pudesse relaxar um pouco. E percebi que minhas roupas estavam completamente rasgadas e sujas.

– Se quiser roupas limpas, tenho algumas no cesto da sala. Pode pega-las. – Falou o coelho, mas não deixou de continuar seu trabalho na cozinha.

Me perguntei se as roupas que aquele pequeno coelho tinha para me oferecer serviriam, mas resolvi aceitar sua oferta sem falar nada, apenas caminhei até a sala e enfiei a mão cesto á procura de alguma peça limpa. Puxei um tecido branco e vi que era um lindo vestido que chegava à altura dos meus joelhos. Vesti a roupa limpa e deixei a suja dobrada em um canto da sala. Amarrei meu cabelo em um coque e voltei á cozinha.

– Sabe, Sakura, o Sasuke não é um cara ruim, ele apenas está preocupado com você. – Disse o coelho, não parando seu trabalho nem um minuto.

– Não é o que parece. A gente nem se conhece para que ele fique tão preocupado comigo. – Falei, observando o trabalho do coelho.

E no instante seguinte o coelho parou tudo o que estava fazendo, me fitou severamente e disse:

– Você tem certeza, Sakura? Você realmente nunca conheceu o Sasuke?

Me assustei com a fala do coelho, mas assim que eu fui responder a porta se abriu e o moreno entrou na cozinha cansado e suando, em suas mão haviam algumas frutas de cor azul brilhante. Logo que o coelho as viu, tirou das mãos de Sasuke e as jogou inteiras dentro do caldeirão. Então pegou um pouco do líquido do caldeirão com uma concha e colocou no num frasco, olhou novamente no relógio e se assustou.

– Oh meu deus! Faltam apenas 2 minutos para que o tempo acabe. Tome Sasuke, dê a poção para Sakura beber. – Disse o coelho dando o frasco para Sasuke.

– Beba. – Ordenou o moreno, fixando seu olhar no meu.

– Não! Não, vou beber até que me explique tudo o que está acontecendo! – Falei.

– Abra a boca e beba logo. – Ordenou o moreno irritado.

– Não! – Respondi.

– Vamos, Sasuke. Conte tudo á ela. – Disse o coelho, sem tirar os olhos do relógio.

O moreno suspirou e começou:

– Sakura, você tem certeza de que nunca me conheceu? Nunca conheceu o coelho nem este lugar? Há alguns anos atrás você frequentava este lugar todos os dias, mas agora você simplesmente se esqueceu. O filho da rainha brincava bastante com você, então quando você parou de vir a este mundo ele se revoltou e resolveu te buscar no mundo humano. Sakura, se você não voltar agora ao mundo humano o tempo lá irá parar para sempre, e você irá desaparecer. Sabe por que isso vai acontecer? Porque ninguém pode visitar o mundo dos sonhos, quando não está sonhando...

Ele parou de falar e me olhou profundamente e eu podia ver um brilho de tristeza em seu olhar. Então ele se aproximou de mim e beijou meus lábios suavemente, e meu coração parou por alguns segundos. Assim que ele voltou á sua posição, pegou o frasco e despejou o líquido em minha boca. Então, tudo começou a ficar embaçado, a ultima coisa que pude ouvir, foi Sasuke dizendo:

– Vá embora, antes que o tempo acabe.

E tudo ficou escuro novamente.

[...]

Eu ainda estava segurando o espelho que refletia meu batom borrado. Olhei em volta. Não havia ninguém ao meu lado.

Me levantei e dei o sinal para que o ônibus parasse ali mesmo. Desci do veiculo e coloquei-me á caminho de casa.

Lembrava de tudo. Das visitas á casa do coelho, das brincadeiras com o filho da rainha, e do meu amor pelo Sasuke. Ele era o príncipe encantado dos meus sonhos, mas assim que entrei para a faculdade eu parei de visitá-lo. Eu parei de sonhar.

Cheguei em casa e corri para o meu quarto, joguei minha bolsa no chão, me deitei na cama e apaguei a luz.

Os minutos foram passando e nada acontecia. Então, em algum momento, pude sentir um vento forte batendo em meu rosto e o calor aconchegante do sol batendo em minha pele.

– Bem vinda de volta, meu bem. – Seu hálito fresco fazia cócegas em meus ouvidos.

Abri os olhos e sorri. O gramado estava mais verde do que nunca.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ^.^

Obrigada e até a próxima :}