Último Adeus escrita por Evye


Capítulo 1
Último Adeus


Notas iniciais do capítulo

É isso ai pessoal, espero que gostem! É a última coisinha de Seasons que teremos, e para quem se interessar, foi escrita ao som de "Mais um Adeus", alias, é linda a musica, bem eu gosto.... Enfim, aproveitem a leitura, espero que gostem!



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Dor.Essa era a resolução para o ritual que adquirira com o passar do tempo, todos os anos no dia 10 de Março a visita ao cemitério era sagrada.

Ergueu os olhos observando as nuvens que vagueavam com calma, pintando o céu em pequenas espumas brancas, suspirou longamente imaginando como seria se ele ainda estivesse ali.

-Provavelmente não estaria em frente a este tumulo...

Sorriu de canto, tomando o pequeno vaso envelhecido que descansava sobre a terra, tirou as flores de lá substituindo-as por outras. A Rosas e as Lótus que estavam juntas desde do último ano, foram reduzidas a pó pelas traças e o tempo, colocou um novo buquê no objeto o posicionando novamente onde estava. Sentou-se, o único braço restante descansando ao lado do corpo enquanto o amputado repousava sob seu joelho, tombou a cabeça para o lado lendo as inscrições gravadas no mármore pela trigésima vez em poucos minutos. Estava naquilo havia cinco anos, no dia de seu nascimento e morte o visitava, gastava horas observando a lápide, conversando com ela, na esperança que um dia fosse respondido.

-Sabe, Afrodite... Nós estamos nisso há tanto tempo, eu venho vê-lo mas você nunca diz nada...

As palavras saiam fracas e vacilavam, era sempre assim. Todos os anos, todas as data que estipulara para si, sempre sentia-se vazio perante aquele local. Atena não poderia mais revivê-los e agora, outros haviam ido embora, mesmo após a guerra. Alguns não aguentaram os ferimentos, outros simplesmente abandonaram a armadura e teve os que se adoentaram em pouco tempo e agora ocupavam o mesmo espaço naquele cemitério...

-Camus foi embora da Grécia há uma semana... Ele e o Milo brigaram, eu não entendo... Eles eram tão unidos, he... Ouvi dizer que foi uma "briga de casal", o tapado de gelo vai voltar para terra natal e aquele pato que ele treinava ganhou a armadura de Aquário... -Suspirou. -As coisas estão mudando... Saga e Kanon também foram embora, o geminiano surtado ficou feliz ao reencontrar o irmão, estranho, não?! Eles se odiavam... Mas, eu sei de quem você quer noticias... Ele não virá esse ano, sinto muito... E, bem... Ele nunca superou, tsc... Como se eu tivesse superado!

Passou a mão livre pelo cabelos, agarrando-a aos fios azulado, inclinou o corpo para frente tentando controlar as lágrimas que teimavam em nascerem em todos os encontros. Máscara da Morte não chorava, não sentia, não sofria.

Exceto por uma pessoa.

Exceto por Afrodite.

-Você fugiu a minha regra em tudo, Peixes... Você foi minha ruína e... Nunca me viu, eu nunca existi para seus olhos... Por que?! Sou o único que continua nessa rotina insana da visitá-lo, não?! Há cinco anos seguidos, sem perder uma data importante... Mas ainda assim, você não me vê... Por que?

~

Shaka arrumou as última malas sob o olhar atento do ariano que permanecia em silêncio o tempo inteiro, no interior do guardião da primeira casa uma reviravolta de sentimentos, um mal estar terrível. Não entendia o porquê de Virgem fazer aquilo, sabia do amor que este sentia pelo falecido cavaleiro de Peixes, sabia que jamais substituiria o homem, porém... Ainda assim, sua esperança tola queria acreditar que as malas que o louro arrumava, as passagens que tomava em mãos e o "olhar" que lhe era lançado, significava que iriam iniciar uma nova vida, longe dos ares do santuário, dos ares do passado.

-V-você tem certeza, Shaka?

-Tenho sim, Mu.

-E-eu... -Agarrou o braço esquerdo como se assim pudesse proteger-se das próprias palavras. -Não quero forçá-lo a nada... Foi apenas uma sugestão.

O cavaleiro de Virgem voltou a face ao ariano que parecia inseguro e tinha a face corada como um tomate, não era tão gracioso quanto Afrodite, mas não deixava de ser agradável.

"Tsc, Afrodite... De novo!"

-Eu tenho que deixar o passado para trás, Mu.

-Hm?

Suspirou pesarosamente tomando uma das mexas roxas entre os dedos.

-Eu sei que nunca vou esquecê-lo e quero que tenha consciência disso, a questão não é o que eu aceito... Mas se você aceitará viver assim, nós somos amigos há anos Mu, e talvez isso nunca mude independente de nossos esforços...

-E-eu sei...

-Só não quero mais prendê-lo à terra...

-Do que está falando?

Sorriu levemente, soltando os fios macios do outros e cruzando os braços rente ao corpo.

-Me prendi a ele de um modo que não consigo soltar... Mas já é hora, não?! Afinal,ele merece ser livre... E eu também...

Tomou a mão do jovem o guiando até a saída do templo. Era 10 de Março. E ele sabia o quanto esta data lhe doía, como todos os dias de sua vida longe do pisciano... Porém era hora de deixá-lo ir e começar novos dias. Entravam em uma nova era, portanto precisaria de uma nova vida.

"Estou indo embora, Afrodite. Não há mais lugar para mim no santuário. Não há mais lugar paranós.

Me perdoe por estar sendo 'fraco', mas os ventos trazem novos dias e a dor da perda a cada dia cicatriza um pouco mais, não é justo prendê-lo a mim... Ainda sofrerei pela sua ida tão precoce aos braços da morte... Talvez, até meus últimos dias... Mas tanto a vida quanto a dor continuarão e... Eu sei o quanto você quer sua liberdade... Me perdoe por aprisioná-lo durante cinco anos...

Me perdoe pela demora por estar ao seu lado... Novos dias virão e logo, prometo que logo, estaremos reunidos novamente.

Adeus."

~

Os olhos do italianos estavam perdidos no belo por do sol que fazia-se no horizonte, o farfalhar das árvores que derrubavam pequenos flocos de neve anunciando o fim do inverno grego, o suave calor do sol que ia embora aos poucos aquecendo-lhe a alma. Deitou-se na grama gelada, apreciando a aparição das primeiras estrelas estava ali há hora, nem sabia dizer quanto... Umedeceu os lábios mordendo o inferior, desejando a companhia física de Peixes.

-Eu fui tão tolo... Quer dizer, uma guerra começou e... Eu simplesmente me mantive um orgulhoso estupido e burro! Não posso mentir... -Riu, pousando a mão livre sobre os olhos, escondendo-se. -Me arrependo. Me arrependo de ter me deixado levar pela raiva, de não acreditar nas suas palavras... Deuses, quantas vezes os mortos já não me ouviram dizer isso?! Pelos céus!

-Enlouquece de vez, Cancer?

A voz calma atrás de si, causou-lhe arrepios, arreganhou o sorriso sádico que mantinha nos lábios. Apoiou o corpo sobre o cotovelo tombando a cabeça para trás analisando o ex-Cavaleiro de Virgem que o observava de braços cruzados, transpassando o corpo terrestre e fuzilando sua alma.

-Oh, achei que não viria esse ano. Estávamos te esperando.

-Estávamos? Não, apenas você me esperava.

Angelo arregalou os olhos fazendo uma careta diante das palavras do colega, odiava quando falavam de Afrodite como se ele não estivesse ali... Bem, de fato não estava... Mas precisavam recordá-lo disso o tempo todo?!

-Achei que iria embora para a terra do Mu, junto com ele.

-Irei.

-Então?

-Máscara.

-O que é? Desembucha logo, seu fresco, não tenho tempo para conversa fiada.

-Não acha que é hora de parar com isso?

-Ahn? Do que você está falando?

Shaka suspirou longamente, sentando-se ao lado do italiano que mostrava-se irritado com sua presença, definitivamente, europeus eram complicados...

-Estamos nisso há cinco anos...

Abraçou-se as pernas analisando o tumulo a frente. Os olhos azuis abriram-se lentamente contendo a força destrutiva, observava o mármore talhado com atenção, como se assim pudesse tatuar em sua memória a lembrança do que fora e do que seria -eternamente- o pisciano para si. Tocou a pedra deslizando os dedos por sua extensão com o mesmo carinho com que um dia tocara a pele pálida do sueco, com a mesma delicadeza com que enroscava seus dedos pelos fios dourados.

Angelo olhava a cena com ciúme, sim, ciúme de uma pedra! Poderiam pensar "Mas que rapaz mais estupido", porém o sentimento de Câncer era possessivo o suficiente para isso, ainda mais ao notar como os toques do loiro caminhavam sobre a lápide, já presenciara aqueles gestos no passado entre ambos e a memória de vê-los juntos arrancava pedaços de sua alma a sangue frio.

-É hora de deixá-lo ir embora.

-Não estou entendendo, Virgem. Caso não tenha notado, Afrodite está m-... Tsc, não está aqui!

-Morto.

-O que?

-Ele está morto. Fale isso, aceite.

-Não.

Balançou a cabeça negativamente, sentia pena do canceriano que insistia em manter-se assim. Sabia o quanto este amava Peixes e o quanto foi devoto a ele, mas toda aquela negação estava acabando com a vida do italiano. Olhou para a feição morena, envelhecida e sofrida pelos anos.

-Você está sofrendo a toa e...

-Calado.

-O que?

-Isso é tão injusto! -Mordeu o lábio inferior voltando a face para o lado oposto tentando esconder as lágrimas que insistiam em aparecer. -Eu sempre estive ao lado dele, o tempo inteiro! E foi você que ele escolheu, você! E olhe agora, sou o único que ainda insiste em buscá-lo... E ainda assim, ele não parece estar comigo... Nunca.

Os olhos azuis de Shaka arregalaram-se com as palavras de Máscara,passou as mãos pelos cabelos procurando palavras para "consolar" o ex Guardião de Câncer.

.

-Eu o amava tanto quanto você, Máscara.

-Tolice... Você nunca conheceu o Afrodite como eu o conheci, eu posso listar os defeitos e qualidades dele, sempre soube todas as manias e hábitos, os tipos de sorrisos e as feições, cada sentimento! Mas ainda assim...

-Sabe o que não é justo?Você o monopolizando o tempo inteiro. Deuses... Máscara, você acha que não me rasga a lama me despedir assim dele?! Por Buda! Você nunca entendeu o que se passou comigo, age como se fosse o único sofrendo!

-S-Shaka...?

-Não, Angelo, você não foi o único que chorou, o único que não quis aceitar a morte! E sabe o que mais me doía o tempo todo? O fato de tê-lo perdido quando o tive... Você sempre esteve ao lado dele, Cancer. Você pelo menos por dizer o quanto aproveitou seu tempo ao lado de Peixes, e quanto a mim? Eu apenas vivi seus últimos dias... Mas... -Sorriu fracamente, estava cansado daquelas conversas, não seria a primeira vez que discutia com o italiano, no decorrer dos cinco anos ambos discutiam o tempo inteiro sobre a morte do sueco, e isso o cansara demais... Era hora de deixar os mortos para os mortos. -É hora de deixá-lo ir... As rosas de Afrodite se foram junto com ele, aquele casa não tem mais o odor dele e eu juro que nunca mais vi uma fotografia dele... Pelos deuses, você não vê?! Ele quer ir embora! Deixe-o ir...

As lágrimas que tanto tentava esconder do virginiano escorriam livremente por sua face, seu coração apertado em uma dor terrível, a garganta fechada e a sensação de perda ainda maior. Sabia que Shaka estava certo, prendera Afrodite o tempo inteiro, podia ouvir a voz do pisciano sussurrando em seus ouvidos por piedade, para que o deixasse ir para os braços de sua deusa.

"E-eu não quero perdê-lo... Por favor..."

Apoiou o rosto na mão escondendo a feição sofrida, soluços discretos e silenciosos acompanhando as gotas salgadas que pingavam na camisa vermelha. O braço ferido sobre o colo, as pernas perto do peito, tentando proteger-se das palavras do loiro que o observava de cima.

Shaka abaixou-se pousando a mão nos cabelo negros azulados do moreno, em uma caricia quieta e cheia de significados, queria pedir perdão por ter "roubado" o pisciano da vida de Angelo, mas tinha consciência de que essa fora as vontade de seres superiores que amavam demais o cavaleiro das rosas.

"Eles queriam Afrodite tanto quanto nós, Máscara... Afinal, Afrodite era uma criação da deusa que lhe deu o nome e ela o ama também e o quis de volta... É hora de o deixarmos ir..."

Levantou-se tocando uma última vez nos fios rebeldes do colega, suspirou longamente, cruzou os braços olhando as nuvens negras que reuniam-se anunciando uma sutil nevasca que aproximava-se. Sentiu um floco de neve cair em seu nariz, gelando o rosto pálido, sorria.

-Hei, Máscara.

-O que?

Voltou a face para o italiano sendo encarado por duas orbes azuis escuros manchadas em vermelho pelo choro recente.

-Ele está velando por nós... Sempre estará.

Angelo arregalou os olhos ao ver uma única lágrima escorrer pela face do indiano, seu coração pulou um salto diante a bela expressão que ao mesmo tempo serena, trazia consigo uma grande carga de tristeza. Entendia agora, ele sofria também... Tinha razão, não era o único que chorara pela morte do sueco.

Levantou-se tocando a lápide em um delicado beijo de despedida, encostou a testa no mármores murmurando palavras, juras e promessas de reencontro. Ergueu o corpo desajeitadamente ainda sob o atento olhar de Virgem.

-O que fará agora, Máscara?

Suspirou.

-Não sei... Não há muitos caminhos a se seguir, mas talvez eu volte a italiano, não há mais lugar para mim aqui.

-Entendo...- Um meio sorriso fraco desenhou-se nos lábios do jovem. Estendeu a mão oferecendo um cumprimento. -Então, acho que nos separamos aqui, não?

-Creio que sim.

Tocou a mão devolvendo o gesto, os olhares fitavam-se com intensidade, havia milhares de palavras e sentimentos escondidos por trás do brilho cristalino de ambos. Porém, não havia mais tempo e o destino era cruel demais, rindo da desgraça alheia e derramando álcool sobre as feridas. Era tarde, era hora do adeus.

Shaka separou as mãos, acenando um "tchau" para o tumulo e voltou do caminho que viera, braços cruzados, olhar distante, fixos no horizonte, encarando o futuro.

Máscara da Morte observou o loiro afastar-se até sumir de seu campo de vista, voltou a face para a lápide fria que permanecia como sempre.

"Nunca irá mudar... Não como se o ano que vem eu viesse aqui e você estivesse me esperando de braços abertos... Não..."

Engoliu em seco, tomando coragem para decisões definitivas, era hora de dizer adeus. De o passado em seu lugar, guardado em lembranças boas e sentimentos inesquecíveis. Sorriu. Era apenas mais um adeus dos muito que dera em sua vida...

-Acho que é hora de ir...

O sorriso em seus lábios era fraco e triste, algumas lágrimas ainda teimavam em cair, lutando contras as decisões racionais de seu cérebro e unindo-se ao seu coração que gritava para que não abandonasse o melhor amigo.

-Eu sei que você está... Morto. Eu sempre soube, nestes cinco anos... Mas nunca quis admitir, ainda tinha esperança de que um dia iria abrir os olhos e o veria sorrindo ao meu lado, como quando éramos adolescentes, lembra?! -Suspirou, pousando a única mão sobre o peito. -Dói dizer isso, mas é hora de ir. Veja, meu coração ainda palpita, por mais que doa, ainda estou vivo e viverei na desventura de estarmos separados até o dia da minha morte... E-eu espero que me perdoe, Afrodite, por prendê-lo, por afastá-lo, maltratá-lo... He, fazer o que, ciúmes é foda... Tsc, que idiota... -Coçou o cabelo, balançando a cabeça negativamente. -Estou parecendo uma colegial!

Riu alto, disfarçando na gargalhada o nó que se fazia em sua garganta. Aos poucos o som foi diminuindo até sumir totalmente, os olhos encobertos pela franja e o sorriso tremulando nos lábios rústicos.

-Adeus, Afrodite. Obrigado por estar comigo, obrigado por me deixar amá-lo.

Virou-se saindo do local sem olhar para trás.

As nuvens continuavam a reunir-se deixando que os flocos de neve caíssem com mais liberdade; enquanto um misterioso cheiro de Rosas preenchia o ambiente.

Máscara sorriu.

Afrodite despedia-se também.

Sentiu algo enlaçar seu pescoço, não pode deixar e tocar um dos ombros que sentia o toque e o sussurro do vento soprando palavras cálidas em seus ouvido. Sorriu.

-Sim, eu também te amo.


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Notas finais do capítulo

Foi um especial curtinho, admito, mas foi só um gostinho... E um adeus definitivo ao nosso casal de Peixes e Virgem, e um "quero mais" de Cancer e Peixes, entao sim, pretendo escrever algo com nossos tão queridos renegados!
Espero que tenham gostado do especial, peço humildemente que ignorem os errinhos pq é aquela velha historia né... Ainda vou acordar as 4h amanha! Bem é isso aí, postagem aleatoria no meio da semana e um "adeus" gostoso cheio de saudade para Seasons!
Muito obrigada a todos, até a proxima! o/