Annie queria por um instante deixar de sonhar com Peter. Sentia um grande desconforto em relação a isso. Não sabia o real motivo sobre isso, só sabia que, quando acordava, sentia um desanimo e uma sensação de desconforto.

O último sonho foi o seguinte:

Ela estava na escola. Todos já haviam saído, exceto por duas pessoas: o diretor Lance, e Peter. Seu namorado nunca foi um exemplo de pessoa. Já foi pego pela polícia umas mil vezes e nunca passava de uma simples conversa, fato que Annie julgava misterioso e estranhamente comum.

No sonho, Peter não estava muito diferente dos dias de aula: jaqueta preta, calça jeans escura, camiseta também preta... em verdade, as únicas coisas que não eram pretas nele eram seus olhos (azuis) e sua pele.

Ela não sabia o real motivo pelo qual ele estava lá mas julgou que boa coisa não seria. Raramente Peter fazia algo de bom. O roqueiro nunca repetiu de ano (Annie não fazia ideia de como ele fizera isso), porém, sua barba rala parecia revelar ao contrário, dava a ele um físico diferente, como se tivesse vinte e dois anos e não dezessete. Seu modo de agir dava um ar de rebeldia que ela tanto gostava. Em poucas palavras, ele era perfeito.

Enquanto o diretor rabiscava o quadro negro, Peter olhou de relance para fora e seus olhos se encontraram. Um brilho faminto tomava seus lindos olhos azuis. Annie sabia o que aconteceria depois. Se preparou para correr o mais rápido possível.

Quando ela menos esperou, o alarme de incêndio tocou. O diretor passou por ela dizendo:

- Fumaça! Fogo! Saia daqui agora!

Annie entrou no clima. Esperou o garoto sair e os dois correram para fora da escola, seguindo o Sr. Lance.

Acabando a correria, Peter e Annie simplesmente caem na neve. Ela não sabia porque, mas não conseguia parar de gargalhar. Quando deu pausa para respirar, faz uma pergunta:

- O que você fez para o diretor sair correndo?

- Não muita coisa- disse ele.

Peter tirou do bolso um esqueiro. Annie havia entendido.

- Apenas ascendi o esqueiro- explicou ele-, e a segurança da escola fez o resto.

- Peter, isso foi...

- Irresponsável?- arriscou ele.

Ela deu um sorriso e beijou sua bochecha.

- Não- disse ela.- Incrível.

Peter sorriu.

- Teria ficado melhor se recebesse um beijo- disse ele.- De verdade.

A garota olhou para ele.

- Veremos, Garoto do Rock- disse ela.- Se você me levar para o show daquela banda... como é mesmo o nome?

- Thirty Seconds To Mars- ele respondeu.- Minha banda preferida.

Annie não fazia ideia de como era um show de Rock, mas simplesmente assentiu. Queria passar mais tempo com o namorado. Só os dois. Sem os amigos, os pais ou a escola. Queria apenas aproveitar. Mesmo que isso significasse ir a um show de uma música que não era bem o seu estilo.

Ela olhou para o céu.

- Se eu lhe fizer uma pergunta- Peter começou a dizer.- Você promete me responder com sinceridade?

Annie não entendeu direito.

- Como assim?- ela perguntou.- Que pergunta?

Peter se sentou. Seus gestos deixavam claros de que era uma pergunta que poderia mudar a vida dos dois. Tanto para bom, quanto para mau.

- Você...- ele começou a enrolar. De certo, não seria uma pergunta fácil de responder.- Você me ama?- foi direto ao ponto.- Digo, de verdade?

Ela queria responder àquilo. Dizer: Que pergunta é essa? Ou, é claro que te amo. Mas seu eu no sonho a traiu. Demorou demais para responder. Annie acordou.

Quando o sonho acabou, a garota percebeu que havia acordado apenas um minuto antes do despertador. Levantou-se e foi se trocar.

Não demorou muito e já estava na escola. Ao passar pela fachada, lembrou-se do sonho que tivera. Lembrou-se de Peter, do Sr. Lance e da pergunta que lhe fora lançada.

Você me ama? Ela podia ouvir Peter dizendo. Digo, de verdade?

Talvez fosse somente uma sensação passageira, mas Annie não sabia mais se realmente amava Peter. Não conhecia mais os próprios sentimentos. Torcia para que nada disso fosse real. Para que voltasse a sentir o que sentia pelo roqueiro.

Uma onda de alívio percorreu seu corpo, dos pés a cabeça, quando o avistou. Seu coração bateu forte, como sempre.

Peter se destacava entre seus amigos (roqueiros ou não). Ela não via ninguém igual a ele.

O garoto fez algo que não a surpreendeu em nada. Deixou seus amigos de lado e correu para ela.

O cérebro de Annie deu uma guinada de trezentos e oitenta graus em sua cabeça quando o roqueiro a beijou. Já estava acostumada aos carinhos que vinham dele, mas aquele foi diferente. Foi a confirmação de que ela tanto precisava. Eles ainda se amavam.

Ficaram naquele beijo por muito, muito tempo. O roqueiro era tudo na vida dela. Se o perdesse...

Quando finalmente se desgrudaram, ela percebeu que ele estava chorando. Seus olhos estavam vermelhos e úmidos.

- O que houve?- ela perguntou.

Ele secou o rosto, embora não precisasse, e disse:

- Não... não é nada. É só...

O sinal tocou, interrompendo Peter.

- É melhor irmos- disse ele.- Eu consigo encarar o Dr. Barra Dura, mas você?- ele forçou uma risada.- Não sei, não...

- É mesmo, Rock Boy?- ela respondeu em sua defesa.- Aposto que posso encarar melhor o Sr. Lance do que você.

Peter olhou para ela com um sorriso no rosto, embora ainda tivesse cheio de lágrimas no rosto.

- Duvido- disse ele.- Nem dar apelido a ele você consegue.

Annie cruzou os braços.

- Posso me esforçar, se quiser.

Peter riu.

- Venha, Miss Simpatia. Hora da aula.