"A oposição produz a discórdia. Da discórdia surge a mais bela harmonia.” Heráclito de Éfeso

Barbie tinha certeza que tinha feito algo muito errado.

Dia quatorze.

Eu estava viva, eu estava bem. Então porque eu não me sentia aliviada? Ah, é porque eu não estou vendo Annabeth em lugar nenhum.

Eu estava dentro de uma loja, pelo menos era o que parecia ser. A questão é que dentro do lugar só tinha gente morta. Comecei a me desesperar e sai do local, avistei Lucas logo na porta.

– Lucas! - grito e corro em direção a seu encontro. Ele me abraça forte e solto um suspiro de alívio. - como você me encontrou? - pergunto.

– Eu não sei, estava pensando em como eu ia te achar pulando em espelhos diferentes, acabei aqui. - afasto do abraço pensativa.

– Ah, agora faz sentido. - digo desanimada.

– Em que você pensou, Barbie? - ele me questiona preocupado, mas estou muito ocupada organizando meus pensamentos para responder. - Barbie, em o que você pensou? - ele repete a pergunta.

– Eu juro... Eu queria encontrar ela... Mas... - lagrimas se acumulam em meus olhos e tenho que criar muita força de vontade para inibir o choro.

– Ei - Lucas levanta meu queixo com as pontas dos dedos para que olhasse em seus olhos - em que você pensou?

– Eu pensei que se eu tivesse uma arma decente eu poderia ter matado aquele maldito touro. - dou de ombros tentando acabar com as lágrimas. - e você, como por Zeus você acabou no mesmo lugar que eu? Aqueles espelhos eram...

– Eu sei, também não foi uma experiência muito boa para mim - percebo que ele não quer comentar sobre o lugar, mas chego a conclusão que eu também não queria falar a respeito.

– Bem você me encontrou, seja lá onde nós estamos.

– Barbie é meio óbvio não acha? Quero dizer, você pensou que precisava de uma espada, e você de qualquer maneira teria que achar a espada da lenda dos três.

– Imortalitites - digo reflexiva.

– Que seja. Eu acho que o espelho deve ter te levado para o local onde você acharia a espada. - ele conclui.

Tudo fez sentido, eu não conseguia pensar? A loja em que acabei chegando, cheia de gente morta, aquela era a entrada para o mundo inferior.

– Meu Hades. Chegamos na entrada do mundo inferior - digo boquiaberta. - Mas não era para ser assim - me corrijo - era para eu encontrar Annabeth, esse era o plano. Deuses onde ela está agora? - a culpa toma conta de mim, fui egoísta, agora a tinha perdido.

– Barbie o seu plano não era Annabeth, mas sim achar a Imortalitites e Percy, nós vamos encontra-la depois que tudo isso acabar. - ele tenta e falha para me acalmar.

– Percy nunca vai me perdoar - tento assimilar a ideia, o único que me acolheu vai me dar as costas. - depois que eu for abandonada por ele também... Para onde eu vou? - não, eu não estava falando com Lucas, mas sim tentando aceitar os fatos. Sou uma incompetente.

Ele percebeu que de nada adiantaria me reconfortar, então não disse nada, o que fui extremamente grata, mas para minha total surpresa ele me abraçou forte e me deixou segura em seus braços até que eu me afastei mesmo sem querer. Eu não estava sozinha, eu estava com Lucas, eu não era odiada, ele de todos os lugares que ele poderia estar ele acabou aqui comigo. Fiquei ali e me deixei esquecer por um longo tempo que eu tinha uma missão para cumprir, mas é claro que eu não poderia fugir disso para sempre.

– Então, você realmente quer entrar comigo para o mundo inferior? - pergunto avaliando o porquê dele estar aqui, afinal.

– O que seria uma vida de semideus se você nunca foi para debaixo da terra? - eu rio e olho para a loja decidida. - Alguma ideia de como entrar?

– Eu sou Barbie Simpson, um dos meus pais é o próprio Hades. Eu entro na hora que eu quiser nessa porra. - Me reprimo um pouco, nunca fui de falar palavrões, mas a situação me pareceu adequada, a questão é que não me senti mal por isso, eu entraria lá quando bem entendesse e fim.

– Ok senhorita Simpson. - Ele diz debochado, mas ignoro. Fixo meu olhar na entrada do lugar e avanço sem olhar para trás, fosse o que fosse que estivesse me esperando eu enfrentaria e superaria como já fiz inúmeras vezes.

***

Assim que passo pela porta torço o nariz ao sentir um cheiro mais familiar do que eu gostaria de admitir, cheiro de cadáveres. Entretanto o lugar não tinha um corpo sequer, mas sim fantasmas, verdadeiros e medonhos, mas aqueles não eram ameaça, eram só mortais tentando chegar em algum lugar. Eu podia sentir suas almas desesperadas pela possibilidade de uma vida após a morte, sonhos, conquistas, vitórias, derrotas… De que valia tudo isso se um dia acabarão aqui? Nós semideuses pelo menos temos a oportunidade de renascer ou ir para os Campos Elísios, mas os mortais…

Afasto tais pensamentos e volto minha atenção para a única e verdadeira ameaça no local, uma figura perolada maior e mais temível do que o resto dos fantasmas, que se encontrava bem a minha frente onde deveria se encontrar o caixa.

– Mortais, semideuses - a figura avalia. - o que fazem aqui?

– Quem é você? - digo ríspida sem responder a pergunta.

– Sou o guardião do submundo garota, quem imaginou que eu fosse? - ele diz como se fossem as palavras mais obvias do mundo, talvez fossem. - Agora responda: O que fazem aqui?

– Queremos passar pela portas guardião - solto um sorriso frouxo - o que mais imaginou que queríamos?

– A coragem brilha em sua alma jovem semideusa, mas temo que não possa lhe conceder aquilo que me pede. Morra e depois volte. - solto uma gargalhada. Eu estava estranhamente calma como se estivesse acostumada a lidar com esse tipo de gente desde sempre, eu não tinha o menor medo daquele fantasma.

– Temos um problema, então, porque eu pretendo viver muitos anos, mas também pretendo chegar ao reino de meu pai hoje.

– Reino de seu pai? - sinto a voz do guardião falhando, eu estava tendo sucesso, só precisava pressionar mais um pouco.

– O deus Hades, conhece? Suponho que sim, caso seu pequeno cérebro de fantasma não tenha percebido, sou filha do senhor lá de baixo.

– Prove - as palavras saem amargas e venenosas, mas não me importei.

– Com todo o prazer. - Estralo os dedos e balanço o pescoço de forma teatral. A forma como aquilo me agradava me provocou arrepios, não sabia quem era aquela conversando com o fantasma, mas certamente não era a Barbie chorona e fraca que eu tanto conhecia.

A verdade é que eu não movi um dedo, usando somente a mente abri uma cratera no local onde a mesinha de caixa se encontrava e a assisti se espatifando no buraco enorme.

– Mais alguma exigência? - Ele tenta formular uma frase, mas não consegue, fica apenas ali me encarando, por fim perco a paciência. - Ei! Não tenho o dia todo e eu e meu namorado - puxo Lucas para meu lado - precisamos realmente visitar meu pai. - me acalmo e uso um tom mais delicado dessa vez. - Ele quer conhecê-lo, sabe como são essas coisas de família não é mesmo? - Entrelaço meus dedos aos de Lucas e deixo-os bem visíveis de forma a confirmar a encenação.

– Compreendo, é claro. Uma boa visita e mande lembranças para seu pai. - Dessa vez quando falou seu nariz já não estava empinado, pelo contrário, ele olhava fixamente para o chão.

Duas portas se abriram e eu me aproximei ainda segurando a mão de Lucas. Não via nada, só a escuridão, não importava eu podia sentir o que estava logo a baixo, no final eu realmente iria visitar meu pai.