Perdition escrita por camzlerni


Capítulo 10
Capítulo 10 - There Are Good Days For Us


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores que com toda certeza querem me matar!
Gente, sei que desculpas nunca serão suficientes. Mas um "desculpa" deve amenizar alguma coisa.
Então, o meu Word deu um problema enorme.
Vamos a explicação:
Eu moro com meus pais e o computador que uso é antigo. Bom, não tão antigo (ele foi comprado em 2008). Dessa forma, até hoje ele foi formatado mais de 6 vezes e trocado o programa do Windows.
Como meus pains não manjam nada de tecnologia, entupiram o probre coitado de vírus. E meu pen drive pegou essa "doença" também, danificando minhas pastas com fotos e as fanfics.
Eu fiquei desesperada, mas um amigo conseguiu recuperá-la, mas com um detalhe: eu só consigo abrir o arquivo no Word 2010 e o meu é 2003.
E pra meu azar, todas as pessoas que poderiam me emprestar o computador, viajaram. E gente, eu conheço o básico sobre essas coisas. E agora, essa semana que eu consegui escrever, por que vim passar uns dias de férias com meu avô.
Já tenteei salvar pra compatibilidade para Word 2003, mas meu computador é terrível. Então, se eu sumir, já sabem.
Eu gostaria de ter uma ajuda... então quem souber resolver meu problema por favor me avisem.
Esse capítulo não foi um dos maiores, mas prometo que o próximo vai ser melhor.
Aproveitem!



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Olhei pela janela e tudo estava calmo. Chequei as câmeras do lado de fora e não tinha nada. Procurei algo que iria prender minha atenção por um bom par de horas. Abri o notebook, digitei a senha e comecei a vasculhar. Fiquei sentada um bom par de horas, procurando em um emaranhado de arquivos inúteis. Acabei relendo os arquivos de Ártemis, vi algumas fotos e quando estava prestes a desistir, percebi uma data abaixo de uma pasta de quatro dias atrás. Cliquei e um vídeo tomou conta de toda a tela. Vi o rosto de meu pai e sorriu se espalhou pelo meu rosto.

“Pai.” – Eu disse, com os olhos lacrimejando. Mas logo meu sorriso desapareceu ao ver seu semblante desesperado.

“O projeto deu errado, o vírus se espalhou, achamos que poderia ser controlado, mas é ainda maior do que imaginamos. A Orbis mandou pessoas atrás de mim. Tive um último contato com Gregg, diretamente de Kansas City. Ele me disse que estava transferindo a menina para uma unidade segura dentro do prédio da Orbis. Ela ficará bem, eles nunca irão procurá-la por lá. Rachel está na escola, ela ficará segura longe de mim. Mandei minha esposa e meus filhos para o Acampamento. Eu estive preparado, serei levado para manter minha família bem. Ellisa e Rachel são a chave.” – Ele olhou para o relógio no pulso e parou, analisando alguma coisa. – “Eles chegarão. Desligando.”.

A tela voltou a se fechar. Era o último contato de meu pai, mas ainda sim ele foi esperto o suficiente para me deixar uma dica e eu deveria segui-lá. De uma coisa eu sabia:

Ellisa poderia estar na cidade de Kansas, em algum lugar no prédio da Orbis.

Kansas era a cidade grande e aquilo indicava uma única coisa.

Draggers.

Era a vigésima terceira vez que eu revia aquele vídeo, apenas para escutar a voz de papai. Sentia-me de alguma forma mais aliviada, mas assim que o filme acabava, sentia necessidade de recomeça-lo.

Já eram quase 5 horas da manhã e já podia ver os raios de sol surgindo no horizonte. Havia feito um enorme progresso naquela madrugada. Tinha um suposto paradeiro de Ellisa Graham, algo que poderia me ajudar a entender todo aquele inferno. Mas para chegar até ela teríamos um caminho um tanto quanto... arriscado. Poderíamos morrer em questão de minutos.

Minha família estava em um lugar ao qual papai chamou de ‘Acampamento’. Deveria ser um abrigo com alguma segurança, já que mamãe e meus irmãos estavam lá. Mas papai estava nas mãos da Orbis e algo me dizia que ele não escaparia tão fácil.

Decidi me levantar, não ajudaria em nada ficar sentada ali, revendo aquele vídeo. Levantei-me, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar os gêmeos, mas acho que se uma bomba caísse em nosso quintal, algo me dizia que os garotos continuariam dormindo e babando mais do que agora.

Enfiei o notebook novamente na bolsa e depositei-a em cima da mesa. Levantei-me, indo em direção à porta. Adentrei o corredor e passei novamente em frente ao quarto de Claire e Kim, felizmente estava tudo quieto. Estavam todos dormindo, profundamente, mas eu estava sem sono. Entrei para meu quarto, apenas para tomar uma ducha e ver se conseguia me concentrar em algo.

Peguei uma muda de roupa limpa e dirigi-me ao banheiro. Fiquei ali por quase uma hora, deixando a água quente escorrer pelos meus ombros, colocando meus pensamentos em ordem. Desliguei o chuveiro e me sequei. Se havia algo ao qual eu rezava para não perder neste mundo, era poder desfrutar de um bom banho.

Coloquei minha roupa e sai do banheiro. Zoe estava deitada de bruços, sendo afogada pelo emaranhado de cobertas. Aquela garota podia ser bela quando estava acordada, mas dormindo era um completo desastre. Dei uma rápida olhada em Hanna, ela dormia profundamente. Sorri para o seu semblante tranquilo. Ela era ainda mais bonita quando dormia.

Desci as escadas, vagarosamente. Se não tinha sono, restava-me preparar o café. Não levou muito tempo, não tínhamos muitas opções além de alguns poucos ovos, frutas enlatadas, uma pequena quantidade de café e água. Deixei tudo posto à mesa e fui para o lado de fora da casa, me sentando na varanda.

Respirei profundamente o ar do campo. Era estranho ter um momento tão quieto e sereno como esse. Olhei para a pequena área de treinamento ao lado, algo me dizia que aquilo não chegava nem perto do que enfrentaríamos fora daqui. Meus olhos se desviaram para uma parte do muro, notei um tipo de buraco, protegido por uma tela firmemente presa, mas improvisada. Dois draggers se espremiam contra a grade, tentando de toda forma ultrapassa-la. Aquilo me deu uma ideia. Levantei e peguei meu arco, que estava em uma mesa, ao lado das outras armas. Fui caminhando até a grade e encarei bem aqueles draggers. Peguei uma pedra no chão e a joguei por cima do muro, um pouco para a direita. Ela fez um pequeno barulho, mas foi o suficiente para que se distraíssem por alguns segundos.

Puxei o arame que estava preso à parede, liberando a passagem. Era pequena, mas suficiente. Distanciei-me alguns passos para trás e puxei uma flecha, posicionando-a em meu arco. Não demorou muito para que eles voltassem para perto do buraco e assim que perceberam algo diferente, se aproximaram. O primeiro deles entrou, olhando em volta no ambiente até me notar. Ele ficou me encarando alguns segundos, até poder entender que eu era a presa. Veio se arrastando em passos lentos. Arrastava-se com dificuldade, devido ao tamanho do seu corpo. Aquele cara com toda certeza não tinha uma vida muito saudável antes de morrer.

Logos atrás vinha mais um dragger, dessa vez o que pude supor ser uma mulher, pelos tufos de cabelos ainda presentes em sua cabeça. Não era nada bonito de ser ver. Era magra, ossuda e um pouco mais alta do que eu. Estava em um vestido florido e não mais limpo, completamente rasgado e sujo de sangue.

Puxei mais a corda do arco, firmando a flecha para atirar, quando um terceiro e menor veio á passos um pouco mais apressados que os outros. Mas aquele dragger me fez ficar totalmente em choque.

Era uma criança e não deveria ter mais do que quatro anos, pequena e voraz. Uma menininha, ou o que sobrou dela. Ela me encarou e eu não pude conter os filetes de lágrimas que agora escorriam do meu rosto. Pobre criança. Ela me lembrou de Annie, a minha irmãzinha de apenas seis anos.

Eles vinham em minha direção, prontos para arrancar a carne do meu pescoço, mas por algum motivo, aquela criancinha havia me paralisado. Eu ainda mantinha meu arco estendido, com as mãos trêmulas, mas já não conseguia firma-lo. Preparei-me para o ataque, mas nada aconteceu. Fechei os olhos, sem perceber. Estava pronta para ter meu pescoço dilacerado em uma mordida. Mas nada aconteceu. Fiquei um tempo ali, parada. Escutei o barulho metálico da grade, sendo recolocada em seu lugar original. Ameacei abrir os olhos.

“Não abra os olhos, espere até que eu diga que pode fazê-lo.” – Era Luke.

Esperei algum tempo naquela posição. Senti meus braços queimando e lembrei que ainda mantinha o arco estendido. Abaixei a arma e guardei a flecha. Pude sentir cheiro de queimado e misturado a ele, algo muito podre que fez meu estômago embrulhar.

“Pode abrir os olhos agora.” – Eu os abri, mas preferia ter mantido eles fechados. – “Onde você estava com a cabeça Rachel? Tem noção de como acabou de arriscar não só a sua vida, mas de todos daquela casa?”.

“Eu pensei que assim eu podia...” – Eu me sentia culpada agora e ele tinha razão. – “Eu queria provar pra mim mesma que poderia fazer alguma coisa. Mas aquela criancinha...”

“Aquilo não era mais uma criança Rachel. Ela deixou de ser quando se transformou. Ela era algo que iria te matar, e francamente? Existem coisas muito piores do lado de fora deste muro, coisas terríveis e se você não está preparada para matar, você não está preparada para sobreviver.” – As palavras dele foram duras, caindo como um peso em mim. Ele tinha razão, em tudo, por mais que papai tenha me preparado, era diferente. Era minha vida e a de todos que estava em jogo. – “Olha, desculpa. Okay? É só que é muito estressante isso tudo aqui pra mim. É um saco quando você acaba sendo atingido por tanta coisa ao mesmo tempo.”

Olhei para ele agora, um pouco curiosa. Fiz um pedido mudo para que pudéssemos conversar sobre aquilo e ele pareceu entender, me guiando de volta para a varanda. Ele indicou as escadas e nos sentamos ali.

“Acho que se vamos ser companheiros por algum tempo, você tem todo o direito de saber algo sobre mim. Não por ser nossa líder, mas por sentir que posso confiar em você, além de Kim e Geist.” – Concordei com a cabeça, abrindo um sorriso cúmplice e fazendo um gesto para que continuasse. – “Meu nome é Luke Marking Gale, filho do Tenente das Forças Especiais da Orbis: Jason Gale. Minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, de forma que fui criado por meu pai desde então. Sempre correndo em meio às armas, aos soldados, nas bases militares. Meu pai sempre foi muito atencioso e nunca me deixava só. Ele dizia que eu era tudo que ele tinha.”

“Continue.” – Eu o encorajei.

Ele puxou um colar do pescoço e o abriu. Pude ver uma foto. Nela estava uma mulher muito bonita, dos olhos azuis e com um sorriso muito branco. Eu via Luke naquela garota, por inteiro. Ao seu lado estava um garoto trajando uniforme do exército. Seu semblante era sério, mas existia em seu olhar um brilho diferente. Ele estava com a mulher em seus braços, enquanto os dois sorriam para a foto, como se ali não existisse mais ninguém.

“Eles se conheceram em um posto médico. Ela estudava para ser médica e ele era apenas um cadete militar. Eles tinham 19 anos. Nesse dia ele precisou levar alguns pontos e só tinha minha mãe para fazer o trabalho. Acontece que ela precisava de supervisão, mas fez sozinha. Acabou dando uma dosagem extra para ele de anestesia, deixando seu braço em estado morto. Para compensar, ela teve que sair com ele.” – Ele sorria, encarando a foto.

“Ele formam um casal bonito. Muito bonito.” – Eu sorria. – “Mas como ele foi para a Orbis?”

“Meu pai tinha um melhor amigo, o Doutor Silas Fox. Eles se conheciam desde que tinham sete anos de idade. Silas queria estudar ciências e meu pai queria servir no exército. Assim, cada um seguiu seu caminho, mas eles ainda mantinham a mesma amizade de sempre. Quando ele se tornou presidente da Orbis, chamou meu pai para comandar seu exército.” – Ele pausou, olhou ao longe e continuou. – “Quando meu pai conheceu a minha mãe, ele logo levou para que ela conhecesse Silas. Mas ele também ficou encantado por ela, e nunca disse para meu pai. Minha mãe começou a conviver com os dois e os amava. Mas seu coração sempre bateu mais fortepelo por meu pai, assim ela o escolheu.

Silas levou isso bem, por que não queria perder os dois. Mas quando mamãe morreu, as coisas desandaram e meu pai e Silas brigaram feio. Ele saiu da Orbis e me levou para o interior. Não me deixava sair, eu tinha aulas em casa. Sempre achei que estávamos nos escondendo. Mas ele sempre negava isso.

Quando eu fiz dezesseis anos, meu pai morreu em um acidente de carro e eu fiquei sozinho. Uma tia da minha mãe me levou para casa e alguns dias depois recebi a visita do próprio Silas, me dizendo que estava montando uma força especial e que me queria como líder, já que eu era filho do melhor amigo dele. E desde então eu trabalho para a ele.

Quando todo esse inferno eclodiu, Silas pediu para que te encontrássemos e a levássemos direto para a Orbis, mas tínhamos de fazer todas suas vontades. Então, resumindo, temos que encontrar essa garota e levar você para ele.”

“Mas por que eu?” – Eu desconfiava por que, mas ainda não poderia depositar todas as minhas fichas neles.

“Ele apenas disse que você é a solução para o fim disso.” – Ele me encarou, enquanto apertava o colar na mão. – “Mas sinceramente, eu prefiro este mundo. Ao menos tenho sua companhia.”

“RACHEL? RAAACHEL?” – Pulei assustada, ficando em pé imediatamente. Luke levantou-se vagarosamente ao meu lado, bufando em resposta a quem estava gritando.

Uma Hanna descabelada e ainda com cara de sono surgiu no hall, vindo à minha direção. Ela parecia um tanto quando aflita e meio preocupada. Mas logo que me viu, soltou um suspiro aliviado.

“Eu pensei que você tinha fugido.” Ao meu lado, Luke revirou os olhos.

“Cara, ela estava bem aqui comigo.” – Ele disse, cruzando os braços.

“Aí Ken, não estou falando contigo. Então fica na sua.” – Ela me colocou para trás e deu um passo ameaçador em direção a Luke.

“Seu tom ameaçador não move uma mosca garota. Sua coragem é questionável.” – Ele se aproximou ainda mais dando um sorriso debochado.

“E você é o herói não é? Mas escuta cara, minha garota não vai ficar com você.” – Ela se aproximou, perigosamente.

“Sua garota?” – Ele levantou a sobrancelha em questionamento e percebi Hanna corar.

“Parem os dois. Eu não sou de ninguém e vocês parecem duas crianças mimadas!” – Bati o pé e entrei, esbarrando em Matt no caminho.

“Ow, calma aí tigresa.” – Péssima hora para apelidos. – “Qual é a dela?”

Subi correndo as escadas. A porta do quarto das garotas ainda estava trancada. Francamente, o mundo estava acabando, mas nada justificava esse desespero delas. Passei direto pelo meu quarto e fui para o sótão. Por sorte, ninguém estava ali. Sentei-me de frente para a janela, encarando novamente o horizonte, onde o sol já brilhava intensamente no céu.

Fechei os olhos e me lembrei novamente das tardes em que papai deixava de lado o trabalho para me empurrar no balanço. As risadas da pequena Rachel me fizeram curvar os cantos dos lábios em um sorriso, e logo as lágrimas desceram. Outra vez eu me encontrava ali, com aquele grande buraco no peito.

Ouvi batidas na porta e um pigarro.

“Eu não quero conversar Hanna. Vai embora.” – Afundei a cabeça nos joelhos.

“Aah, não é a Hanna.” – Virei-me e vi Rick, com o que tinha sobrado do braço em uma tipoia. O garoto esperava minha permissão para entrar e eu fiz um sinal positivo com a cabeça.

“Dia terrível não é?” – Eu não me mexi. Ele suspirou e continuou. – “Qual dia não será daqui pra frente?”

Soltei um muxoxo em concordância. Ele tinha razão, os dias agora estavam fadados a serem terrivelmente desastrosos. Famílias perdidas, pessoas mortas. Estava tudo perdido. Era um silêncio que gritava em meus ouvidos.

“Sabe qual a vantagem de ter perdido metade de um braço?” – Olhei para ele por um tempo e balancei a cabeça negativamente. – “As pessoas fazem tudo para mim. Elas ficam com dó. Principalmente as meninas.”

“Mas sabe que as meninas não te darão mais do que uma simples ajuda, não é?” – Eu disse, soltando uma pequena risada. Ele deu de ombros, fazendo uma careta em concordância.

Ele olhou para o horizonte, onde o sol estava exatamente no meio de seu trajeto do dia. Fiquei observando-o, seu olhar estava perdido. Ele soltou um suspiro se levantando e arrastando a cadeira com um pouco de dificuldade para perto de mim. Ele parou para tomar ar e quando fiz menção ir ajuda-lo, fui parada por um gesto de que estava tudo bem.

O garoto sentou-se ao meu lado, alguns segundos depois. Parecia querer me falar algo, mas sua boca abria e fechava sem que nenhuma palavra saísse. Ficou assim por um tempo, até que respirou fundo e tomou a iniciativa.

“Sabe Rachel, eu perdi tudo. Aquela garota que vimos morrendo quando saímos da escola era de fato minha melhor amiga. Eu a amava, mais do que tudo e estava pronto para dar o segundo passo. Eu sentia que ela também me amava e a única coisa que eu queria era poder tê-la de volta. Ela foi à única coisa certa da minha vida. Os meus pais nunca foram presentes.

O meu pai era um canalha que casou com minha mãe por dinheiro. Minha mãe sempre o bancou, mas ela tinha interesse na empresa do meu avô. Ele só bebia e passava dias fora de casa. Ela só sabia gastar e gastar.

Eu ficava sozinho em casa a maior parte do tempo, mas eu tive a sorte de morar de frente pra Emily. Ela era minha vizinha, então ela me chamava para brincar todos os dias. E eu a ajudava a cuidar da mãe doente, enquanto o coitado do pai dela trabalhava todos os dias para pagar o tratamento. Eu nunca tinha visto tanto amor como naquela casa. Ele chegava cansado e ainda sim tinha energias suficientes para dar amor à esposa.

Quando a mãe dela morreu, as coisas ficaram mais complicadas. Ela se isolou dentro de casa e só eu conseguia tirar algo dela. E foi assim que eu conheci essa galera. Procurando algum jeito de fazê-la sorrir.”

“Eu sinto muito Rick.” – Meus olhos estavam molhados pelas lágrimas que caiam. – “Eu sinto muito mesmo.”

“Eu também. Mas entenda o que quero dizer Rachel.” – Ele pegou a minha mão e abriu um pequeno sorriso, acompanhado de algumas lágrimas. – “Não fique estressada ou brava quando a Hanna ou qualquer um de nós tenta te proteger. Todos perderam algo nesse trajeto, nessa mudança. Mas você ainda tem a esperança de encontrar sua família e nós nos agarramos a este resquício de vida. Nós estamos com você Rachel. Para você ainda existe alguma esperança.”

Eu concordei com a cabeça e ele tinha razão, eu estava reclamando de estômago cheio. Ao menos eu tinha uma chance de reencontrar a minha família e eu tinha a Hanna agora comigo. Ela já era uma parte do meu mundo.

“Ok garoto, me convenceu.” – Ele soltou uma risada um pouco convencida. – “Vou precisar da sua ajuda para fazer uma coisa.”

Ficamos trabalhando por algumas horas na montagem de um plano para apresentar no jantar. Separamos as táticas e o garoto utilizou toda sua habilidade em futebol americano, que foi de alguma forma muito útil. Umas duas vezes Claire subiu para nos levar algum tipo de comida e pedimos a ela silêncio absoluto sobre o que estávamos fazendo.

Na hora do jantar eu e Rick descemos as escadas com o notebook e alguns papéis em mão. Assim que descemos o último degrau da escada, meus olhos foram atraídos para os verdes de Hanna, que estava encostada na bancada que dividia a cozinha da sala de jantar. Abaixei o olhar e depositei o notebook na mesa, Rick estava ao meu lado. Poderíamos dizer que agora ele era meu braço direito, ou deveria dizer... esquerdo?

Todos os olhares se voltaram para nós dois, eu soltei um leve pigarro e comecei a explicar sobre o que meu pai havia dito no vídeo. Todos prestaram atenção em tudo que eu disse, deixando as perguntas para o final.

“Então temos que ir a Kansas City, atrás dessa tal de Ellisa?” – Matt perguntou ao final da palestra.

“Sim. Mas não temos certeza se ela está lá. Pelo que pude concluir, a última vez em que foi vista, algum cientista tinha a levado para um lugar seguro. Não sabemos se a acharam ou ela mesma conseguiu sair de lá.” – Rick concluiu para mim.

“Mesmo que fossemos atrás dessa garota, seria suicídio. Estaríamos indo para o lugar onde tudo começou. Foi lá o primeiro ponto de infestação e se meus cálculos estão certos... deve haver pelo menos mil daquelas coisas ao redor do prédio.” – Dave analisava o notebook, ajeitando os óculos no rosto.

“Mas é nossa única chance de saber se a garota ainda está viva. E se ela estiver precisando de alguma ajuda? Eu estou com a Rachel.” – Luke disse, piscando para mim em seguida. Pelo canto do olho vi Hanna mexer-se incomodada, e piorar ainda mais a carranca que carregava.

“Bom, acho que não há mais nada a se perder. Todos concordam em ir?” – Matt perguntou. Todos concordaram alguns com caras fechadas. Apenas ela manteve-se em silêncio. – “Hanna?”

Ela parecia estar em outro mundo e se assustou quando percebeu que todos estavam olhando para ela.

“Então Hanna, você concorda em irmos a Kansas City?” – Matt novamente perguntou.

“E-e-eu... Eu não sei.” – Ela saiu um pouco nervosa da sala, derrubando uma cadeira no caminho.

Pude ouvir Matt murmurar um: Ela tá assim o dia todo. Eu não aguento mais. Luke bufou, mas se sentou ao lado de Dave para analisar as estratégias. Claire e Kim começaram uma sessão de beijos, sem se importar com os demais. Geist estava com Luke. Os gêmeos e Matt começaram a planejar como iriam matar aquelas centenas de zumbis.

Senti uma mão em meu ombro e me virei parar deparar com Zoe.

“Vai atrás dela. Ela está assim por sua causa.” – Isso soava como um insulto, mas se eu havia aprendido. Era dessa forma que ela tentava ajudar.

Dei uma rápida olhada para Rick e ele acenou positivamente com a cabeça. Retirei-me o mais depressa da sala, indo para a varanda. Percebi o olhar de Luke me seguindo. Havia algo mais ali, e algo me dizia o que era.

Cheguei à varanda e vi Hanna sentada nas escadas, olhando fixamente para o céu acima de nós. Nunca tinha visto tantas estrelas assim. Na cidade tinham muitas luzes e poluição. Aquilo era lindo.

“Hanna?” – Pude ver seu corpo tencionando, mas não recebi nenhuma resposta. – “Hanna?”

Ela continuou virada para frente, mas fez sinal de que estava ouvindo.

“Olha, me desculpa ok? Desculpa-me pelo ataque mais cedo. Desculpa-me pelo que eu disse. Foi uma bobagem. Eu sou sua garota, ou ao menos quero... bom, se você quiser claro. Mas isso não pode ser assim só por que eu estou dizendo. Você sabe, eu tenho esse temperamento que muda do nada, mas o Rick conversou comigo hoje e...”

“Cala a boca Rachel.” – Eu me assustei e me calei no mesmo instante. – “Cala a tua maldita boca. Você fala demais garota, pelo amor de Deus.”

Eu achei que ela iria me bater, mas ao invés disso, ela soltou uma gargalhada pequena, me pegando de surpresa. Veio em minha direção, parando a centímetros de mim. Encarei-a e pulei em seus braços, apertando-a contra mim. Ela me levantou do chão e começamos a rodar, fazendo com que começássemos a rir.

“Ei, eu também senti sua falta.” – Repeti para ela as mesmas palavras que tinha me dito alguns dias atrás.

“Eu sei baixinha, eu sei.” – Ela deu um sorriso convencido.

Encostei nossas testas e ficamos ali, apenas sentindo a respiração uma da outra. Quando eu estava com ela, aquele mundo não existia, e por mim, o tempo poderia parar ali mesmo. Eu seria feliz eternamente.

“Desculpe-me, pelo comportamento que tive.” – Ela olhava pra mim, ainda com as testas coladas. – “É só que... Rachel, eu sou apaixonada por você desde a primeira vez em que te vi naquele colégio. E agora que te tenho, em uma situação tão trágica, eu não posso te perder. Eu tenho medo. Eu ficaria sem rumo. Sem vida.”

“Você não vai me perder garota.” – Eu agora afagava seu rosto delicadamente. Ela era ainda mais linda a cada vez que nos víamos.

“Mas aquele Luke...”

“Esquece o Luke. Ele só está fazendo o trabalho dele. Até por que ele não chega a seus pés.” – Ela sorriu, novamente convencida. – “E eu...”

“Você...?” – Ela parecia confusa pelo que eu ia dizer.

“Vou pra Kansas City amanhã, você vem?” – Ela soltou uma risada e balançou positivamente a cabeça.

“Kansas City nos aguarde.” – Ela comemorou, jogando os braços para cima.

Eu respirei aliviada. Ela não tinha percebido, ou havia fingido que não percebeu o que eu estava prestes a dizer. Eu gostava dela. Na verdade eu a amava, mas não era o momento certo para dizer: Eu te amo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
ME desculpem os erros e até o próximo.



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