Stray Heart escrita por Kiyuu


Capítulo 8
Insecurity


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem, eu demorei mais do que o previsto, mas felizmente não foi uma quinzena inteira, ahaha. Eu tinha escrito tudo de uma vez e estava tudo pronto, só não postei semana passada porque... Escola e derivados. [ugh.] (ugh duplo também para o título desse capítulo - e para todos os títulos dos meus capítulos em geral. Mas bem, sendo otimista, o que importa mais são as palavras do capítulo, né?)
Mas bem, não tenho muito para falar dessa vez por aqui, só nas notas finais, então espero que curtam esse capítulo! :3



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Assim que Matthew pôs os pés dentro de casa, encontrou sua irmã sentada no sofá ao lado da mesinha, apenas encarando o telefone. A televisão estava ligada, mas ela nem sequer estava atenta.

Ainda era manhã, por volta das onze horas de uma sexta-feira ensolarada. Realmente, o tempo havia esquentado demais nos últimos meses, e dentro de seu usual casaco de capuz vermelho, o garoto canadense estava derretendo. No Canadá não era assim... Ele sentia um pouco de falta da sua antiga casa.

– Oi, Maddie – Cumprimentou o garoto, pondo as sacolas que trouxera do mercado na cozinha, mas sem tirar os olhos da irmã.

Ela não respondeu. Começou a roer as unhas da mão direita, olhando para o telefone como se esperasse que ele se transmutasse em alguma coisa. Tinha os cabelos cor de caramelo claro soltos e ainda meio bagunçados, como se tivesse acabado de acordar. E parecia que tinha feito isso mesmo.

– Maddie – Chamou Matthew, aproximando-se, com um pouco de preocupação em sua voz tranquila. – Tudo bem?

– Ah? Matt? – Ela despertou ao ouvir a voz do irmão. – Onde você tava?

– Eu só fui no mercado comprar o que a mamãe pediu pro almoço – Ele sorriu daquele seu jeito sutil e pacífico, colocando as mãos nos bolsos do casaco. Era um hábito que ele tinha quando não sabia onde pôr as mãos, embora o calor estivesse vencendo-o naquele dia. – E você? Tá esperando alguma ligação ou...?

– O Alfred. – Ela disse, parecendo nervosa.

– O Alfred?

– Ele disse que ia me ligar hoje. Hoje a gente vai sair... O papai vai conhecer o Alfie.

Matt engasgou.

–... O papai? – Ele disse, com cautela. – Oh... Então agora é sério mesmo? Será... Que o papai vai aceitar isso agora?

– Ah, eu não sei... Eu queria que fosse sério. – Ela fez uma careta que beirava a tristeza. – Mas...

– Mas...?

– Ahn, não sei... Queria saber se o Alfie também quer namorar de verdade comigo. – Confessou Madeleine, fitando as próprias mãos. – Por isso eu marquei esse jantar com o papai. Agora tô esperando que ele ligue pra confirmar...

– Ah... – Matt hesitou um instante, buscando as palavras corretas. – Mas ainda é cedo. Quer dizer, não tanto, mas... Sinceramente, eu acho que o Alfred ainda deve estar dormindo.

– É... Ele é preguiçoso – Ela riu de leve. – Mas mesmo assim... Ah, eu tô nervosa.

– Relaxa, vai dar tudo certo. – Assegurou Matt, bagunçando sutilmente os cabelos longos e sutilmente ondulados da irmã.

Bem, pelo menos ele tentou lhe dar segurança. A julgar por como era, Alfred teria que se comportar muito bem para ser aceito pelo rígido senhor Williams. Mas pelo menos ele já sabia que Maddie tinha um pretendente, e não gritara – tanto – com ela.

Deixando a irmã ansiosa grudada ao telefone, o garoto seguiu para o seu quarto, arrancando o moletom, trocando-o por uma camiseta e sentando-se na cama.

Até a Maddie tem alguém que goste dela. Só parece que ninguém me enxerga...

Sim, Matthew estava feliz por ela. Sua irmãzinha nunca tivera nenhum namoro sério, e ela parecia realmente gostar de Alfred. Ele parecia correspondê-la. Matthew não sabia como era ser correspondido. Mas mesmo assim, esforçou-se para ficar contente por ela.

Vamos, Matt, não seja egoísta...

Mas o garoto não conseguia. Ela estava bem mais feliz do que ele. Matthew nem sabia o que podia acontecer se dissesse aos pais que era gay. E nem sequer cogitava que a pessoa que ele gostava pudesse retribuir os seus sentimentos.

Onde estaria Arthur agora? Ele viu-se perguntando. Talvez, divertindo-se com seus novos amigos. Talvez, namorando alguém. Outra pessoa.

Matthew engoliu o aperto que se formara em sua garganta. Apenas o pensamento de Arthur estar com outra pessoa o machucava de um jeito que ele nem entendia.

Mas o punk não tinha culpa. Afinal, Matt nunca tinha se confessado para ele. Ele não deve ter nunca percebido como o canadense ficava vermelho quando Arthur sorria para ele. Ou o quanto ele ficava feliz e esperançoso quando Arthur lhe protegia. Só que logo depois, ele percebia que Arthur não lhe via como nada mais que um amigo. E aquela dor no peito se restaurava.

Entretanto, Matthew não era capaz de forçá-lo a retribuir. Afinal, o garoto não tinha quase nenhuma qualidade e era extremamente tímido e calado – diferente de Alfred, que era extrovertido, alegre e conversador. Não sabia fazer nada direito, nem sequer falar, e só usava moletons grandes e nada estilosos. Ninguém teria atração por um garoto assim.

A não ser que ele encontrasse alguém...Que gostasse dele do jeito que ele era. Alguém excepcional, que não se esquecesse dele e tratasse-o como alguém querido... E as chances reais de algo assim acontecer eram realmente baixas.

Matthew suspirou, escondendo a face no travesseiro. Embalado pelas suas próprias lástimas, acabou caindo no sono.

Jantar para conhecer o pai da namorada? Alfred estremeceu.

Tinha mesmo que ir? E além disso, tinha mesmo que fingir ser alguém que ele não era para conformar o tal coroa que nem conhecia? Ainda mais, ia ser em um restaurante francês caro e chique, e ele teria que usar smoking e agir como se fosse um senhor britânico e elegante só para não decepcionar o sogro. E ele nem sequer sabia dar nó numa gravata!

Mas não, não podia simplesmente não ir e deixar Madeline triste. Ela confiava nele, e provavelmente queria “oficializar” o relacionamento... O que ele podia fazer contra isso?

Às vezes... Alfred sentia como se simplesmente não conseguisse retribuir o tanto de sentimentos que Madeline tinha por ele. E sentia-se mal por isso. Sentia como se estivesse mentindo para ela, ainda mais depois de tudo que a garota fez por ele. Todas aquelas cartas, perfumadas e bonitinhas, que alegravam as suas manhãs. E ele, que sempre esperou para conhecer a dona daquela letrinha, agora a tinha mas não a valorizava. Ele sentiu-se como um completo idiota. Não queria partir o coração dela depois de apenas um mês juntos.

Alfred suspirou outra vez e desceu as escadas, encontrando a sua mãe preparando o almoço na cozinha.

– Bom dia, dorminhoco. – Ela cumprimentou, olhando para o filho ainda sonolento que adentrava o cômodo.

– Bom dia – Ele repetiu, abrindo a geladeira e pegando uma coisa aleatória de lá, e em seguida sentando-se à mesa.

– Estou preparando aquela lasanha que você adora, filho! – Ela sorriu, mexendo na panela. Mas era como se estivesse falando sozinha. - Ainda bem que meu chefe me deu folga nas sextas...

– Mãe, eu preciso de um smoking.

A senhora Jones virou-se para enxergar melhor o filho, parecendo meio surpresa. A mulher divorciada tinha cabelos cor de caramelo assim como os de Alfred, embora os seus olhos não sustentassem o mesmo tom de azul dos olhos do garoto, que tinha os puxado do pai.

– Um smoking? Por que, querido? Vai sair?

– É... Uh... Eu vou jantar com o pai da Maddie hoje. – Confessou, limpando a garganta.

– Ah, aquela sua namorada? – Exclamou ela. A senhora Jones não sabia muito sobre o filho, embora tentasse ao máximo demonstrar que se importava (até demais) com ele. Ela era ocupada com o trabalho, e tinha que sustentar a pequena família sozinha, então nunca tivera muito tempo para conversar com Alfred. Sabia da namorada, mas nunca fora aprofundada no assunto. –Então é sério agora? Que bom! Estou contente por você, filho.

– É, mãe, mas eu ainda preciso de um smoking. O cara quer ir a um restaurantefrancês ou algo do tipo, com aquelas coisas requintadas e tudo.

– Hmm! Então ele deve ter dinheiro, né? – Ponderou a mulher, sorrindo um pouco. – Será que ele é casado?

– Argh, mãe. – Foi o que Alfred se limitou a responder, engolindo uma colher de seu cereal em pleno meio-dia.

Não era nada provável que sua mãe alugasse um smoking para ele ou pelo menos pegasse um emprestado de um colega, qualquer coisa. Alfred ia ter que arrumar um sozinho... Mas como ia fazer isso? Não tinha dinheiro o bastante, nem ninguém que pudesse lhe emprestar uma daquelas roupas pomposas nem que fosse por apenas uma noite.

Pensou em diversas possibilidades enquanto mastigava o cereal. A única saída que tinha era pegar um smoking emprestado ou simplesmente roubar um de uma loja. A primeira opção soava mais plausível. Só que ele não tinha nenhum amigo que tivesse um smoking. Ele nem sequer realmente tinha amigos.

A não ser…

Assim que terminou o café da manhã em horário de almoço, Alfred subiu apressado de volta para o quarto, pulando os degraus. Agarrou o celular na mesinha de cabeceira e discou depressa o número na tela touch.

O telefone ainda chamou muitas vezes até que uma voz de tom conhecido respondesse arrogantemente:

– O que é, Alfred?

– Bom dia pra você também, Arthur – Disse Alfred, sorrindo.

– Eu disse pra me ligar na sexta à noite! À noite, Alfred! – Ele parecia estar sussurrando no telefone, mas ainda num tom furioso.

– Nossa, foi mal! Por que você tá sussurrando?

– A-Ah... Não é nada – Resmungou rápido, e prontamente mudou de assunto. – Enfim, por que você me ligou essa hora, hein?

– Ah, bem... Eu queria saber se por acaso você tem um smoking.

– O quê?

– Um smoking. Acontece que eu vou sair com a Maddie hoje, pra conhecer o pai dela e tal. E daí ele escolheu um restaurante requintado, então eu vou ter que ir vestido feito um velho inglês chique, e eu nem sei dar um nó numa gravata. Tipo, se você tiver um smoking e puder me emprestar, vai ser bem bacana, mas se você não tiver ou não quiser me emprestar então eu acho que vou ter que arrumar outro jeito, mas não sei se vou conseguir arrumar outro jeito...

– Caralho, Alfred, para de falar! Não precisa explicar tudo nos mínimos detalhes, seu estúpido tagarela! – Arthur explodiu, sentindo a cabeça doer do outro lado da linha.

– Mas você tem algum smoki...

– Tenho, Alfred! Eu tenho um smoking, eu empresto pra você, só para de falar!

– Sério? – Alfred inspirou o ar sonoramente, abrindo a boca num sorriso amplo. - Caraca, valeu mesmo, Art!

– Ah… Tá, de nada. Enfim,erm... Eu vou aí levar o smoking mais tarde, tá? – Arthur disse, titubeando um pouco e diminuindo o tom de voz, que tinha se tornado um pouco mais calmo.

– Você ainda vem trazer? Você é um anjo, Art. – Brincou Alfred, embora estivesse sinceramente grato.

–... Tá, então tá. – Arthur hesitou, optando por tentar terminar a conversa logo. - Acho que lá pelas cinco da tarde eu passo aí.

– Ok! Obrigado, Art! – Exclamou, com aquela típica alegria na voz. – Até mais tarde!

–… Até mais, Al.

O garoto desligou o telefone e pôs o aparelho sobre a mesa. Ficou ali, só sorrindo com seu jeito abobalhado de sempre. E então percebeu que Arthur tinha lhe chamado de “Al”. Ou ele tinha encerrado a chamada antes que ele terminasse a frase? Porque Arthur chamar-lhe por um apelido era tão atípico que Alfred realmente cogitou essa possibilidade.

Mas por fim, percebeu que Arthur realmente tinha lhe chamado de Al, e isso trouxe um esboço de sorriso às suas feições. Alfred estava a ponto de dominar a habilidade de destruir as defesas de Arthur, de modo que ele se esquecesse da arrogância e começasse a ser legal com o nerd. Bem, pelo menos já era um começo.

Ele tinha se disposto a emprestar o smoking, e sem a necessidade de Alfred insistir tanto! O garoto riu sozinho sentado na cama do quarto. Ele era excepcional. Dominar um punk como o Arthur não era nada fácil!

Mas assim que um aroma delicioso vindo do andar de baixo atrapalhou os seus pensamentos, Alfred despertou e desceu as escadas quase correndo, gritando “Lasanha” repetidas vezes até ouvir a sua mãe começar a gargalhar da cozinha.

Arthur desligou o celular e expirou o ar que estava prendendo. Quem era Alfred para ligar-lhe uma hora daquelas? Não que fosse cedo – já passava do meio-dia -, mas... Precisava ser justamente quando ele estava com Drake?

Ainda estava embaraçado para voltar a olhar na cara do namorado depois que seu telefone interrompeu-os. Recolocou o aparelho no bolso da calça e retornou uma mão na nuca e o rosto tingido de carmim suave.

O rapaz de moicano laranja estava sentado num banco de concreto de uma praça que não ficava muito longe da casa de Arthur. Haviam pessoas na residência, então Arthur não podia convidar o mais velho. Nem a sua mãe e muito menos o seu irmão sabiam o que ele fazia da vida o dia inteiro, e nem sequer tinham ideia de que o garoto pudesse estar namorando com um punk de dezoito anos. Ele não sabia quais seriam as possíveis reações se ele contasse isso para a família, então o melhor era mentir e arrumar qualquer desculpa para justificar o tempo que passava fora.

– Quem era? – Drake indagou, batendo de leve em sua própria coxa, um sinal para que Arthur sentasse ali.

O garoto de cabelos verdes sentou-se no colo do mais velho, que o envolveu com os braços.

– Ninguém. – Ele sorriu de leve. – Só... Ligaram errado.

– Ah. – Ele nem pareceu interessado em pressioná-lo mais, beijando suavemente o seu pescoço. Arthur era bastante sensível naquela área, e às vezes o outro tirava proveito disso para persuadi-lo. Em pouco tempo, o beijo começou a tornar-se mais quente, e Drake passou a morder e sugar de leve a sua pele clara, ao que Arthur estremeceu de leve. Ele subiu os lábios e decidiu mordiscar o lóbulo de sua orelha e os piercings dali por um tempo.

– Ah... Drake, para com isso, a gente tá em público... – Pediu Arthur, sua voz falhando ligeiramente.

– Quem liga. – Retorquiu o outro punk, retornando ao seu pescoço e mordendo-o outra vez.

–... Sério, Drake, para – Insistiu, agora com a voz mais contida.

O outro largou os lábios de seu pescoço e apenas encarou-o com seus olhos negros mirando os verdes ácidos. Tinha uma expressão mista de seriedade e chateação, com um pouco de tédio.

– Até quando vai me rejeitar,Art?

– O quê...? – Balbuciou o garoto. – Eu não estou te rejeitando, é só...

– Eu entendo que você é virgem, mas já faz um tempão que você tá comigo. – Começou ele de repente, fazendo Arthur enrubescer no mesmo instante. – Tipo, eu tô me aguentando há esse tempo todo porque você nunca tá pronto.

– A-Ah... Desculpa...! – Arthur abaixou o rosto quente e escondeu-a nas mãos, mais constrangido impossível.

– Não, tudo bem. Eu só queria que você confiasse em mim, tá ligado?

– Eu confio em você...

– É, mas se confiasse mesmo não ia ter medo. não devia ter medo de mim, tipo, eu prometo que faço tudo direito, se você disser que sim.

Drake ficou esperando-o replicar. Arthur hesitou, ainda escondido nas próprias mãos.

Era verdade que ele tinha medo... De fazer sexo. Ele sabia como funcionava entre dois homens, claro, mas nunca conseguiu imaginar como seria a sensação de realmente fazê-lo com alguém. Será que ia doer? Claro que ia doer... Além disso, Arthur era bastante inseguro sobre o seu próprio corpo, e expô-lo inteiramente aos olhos de outra pessoa, incluindo as suas partes físicas mais íntimas ou sensíveis.

Ele não sabia se estava verdadeiramente pronto para aquilo, mas... Nunca iria saber se nunca tentasse. Uma hora, ele ia ter que ceder, ou Drake poderia ficar chateado, ou na mais drástica das hipóteses, terminar tudo com ele.

– ...Tá. Sim – Foi tão baixinho que Arthur pensou que só ele mesmo pudesse ouvir.

Mas Drake estava perto demais dele, e conseguiu facilmente captar o som. Ao ouvi-lo aceitar, o punk mais velho sorriu e beijou-lhe a boca.

– Até que enfim você cedeu – Disse, e em seguida sussurrou próximo ao seu ouvido. – Mais tarde, depois da festa do amigo do Joey, a gente vai lá pra casa.

Arthur engoliu em seco ao sentir a respiração de Drake e aquelas palavras tocarem sua pele, mas assentiu. Drake beijou-lhe mais algumas vezes, tendo em vista que não havia quase ninguém na praça – e se houvesse, eles nem ligavam mesmo. Algum tempo depois, o punk de moicano checou a hora no celular e resmungou baixinho.

– Ah... Que merda. Esqueci que eu ainda tenho uma coisa pra fazer hoje de tarde na loja, é melhor eu me apressar.

– Você tem trabalho hoje...? – Perguntou Arthur, referindo-se à loja de discos onde Drake trabalhava durante metade da semana, exceto nas sextas, sábados e domingos.

– Não, na verdade o cara que fica nas sextas lá não foi hoje, não sei por que, e o chefe me chamou pra ficar no lugar dele. – Drake deu de ombros, não dando muita importância. – Ele vai me pagar um extra no fim do mês, então vou ficar lá até umas seis da noite e depois fecho a loja. Quero ver meu garoto antes da festa. – Completou, sorrindo sugestivamente para Arthur.

Ele riu de leve, meio envergonhado, e apenas assentiu.

Drake ofereceu-se para deixá-lo em casa, mas Arthur objetou que ele não podia se atrasar no trabalho e que a sua casa era perto o bastante para que pudesse voltar andando. Sem insistir – ele nunca insistia, a não ser que fosse para alcançar o que queria -, o mais velho despediu-se com outro beijo e sumiu na sua moto barulhenta.

Arthur ainda ficou ali na praça, sentado, por um tempo, apenas olhando os carros passarem na rua. Seu semblante parecia completamente tranquilo, mas dentro de si, ele estava extremamente nervoso. Queria que a noite daquela festa nunca chegasse, mas ao mesmo tempo queria que o tempo passasse cada vez mais rápido. Ele ainda não se sentia pronto, mas por outro lado, estava ansioso para que a hora chegasse. Não tinha exata certeza se aquela experiência seria boa ou ruim.

Ponderou em passar o resto da tarde inteira ali sentado, com o olhar perdido, mas então lembrou-se de Alfred. Ele ainda tinha que ir à casa de Alfred às cinco horas para entregar o tal smoking emprestado.

Arthur se viu perguntando silenciosamente como estaria o relacionamento de Alfred e sua namorada. Pelo visto, as coisas estavam começando a ficar sérias. Quando o garoto conhece o pai da namorada é sempre um relevante evento. Eles já deviam se chamar de “namorado” e “namorada” normalmente, também.

O garoto não conhecia os pais de Drake, e este muito menos conhecia os seus. Drake não lhe chamava de namorado, embora usasse alguns variantes, como “meu garoto”, “verdinho” ou simplesmente “Art”. Eram denominações carinhosas, mas mesmo assim, Arthur sempre quis que alguém não tivesse vergonha e chamasse-o de “namorado”...

Suspirou repetidas vezes. Talvez Drake... Ou talvez outro alguém lhe chamasse assim um dia.

Depois de passar um tempo que ele julgou ser cerca de meia hora divagando, Arthur finalmente levantou-se do banco e foi embora. Mas ele não sabia para onde ir.

Não queria ir para casa. Pensou em passar na loja de discos e ver Drake outra vez, mas não lhe parecia muito convidativo. Não sabia onde os outros punks estavam, mas não queria incomodá-los. Chegou até a pensar em ir à casa de Alfred, mas repeliu a ideia. Já ia ter que visitá-lo daqui a algumas horas, de qualquer forma. Mas ele ainda queria conversar com algum amigo, qualquer um. Que amigo lhe restava?

E foi aí que ele lembrou-se daquele garoto canadense que tivera coragem o suficiente para ser seu amigo meses atrás. E de quem ele sempre se esquecia. E quem ele magoara.

De repente, Arthur sentiu-se mal por Matthew. Realmente sentiu. Não queria tê-lo magoado... Tinha sido um egoísta idiota.Talvez...Talvez ele não tenha ficado tão chateado assim. Quem sabe, poderia perdoar Arthur. Ou não.

Sem escolha, Arthur procurou na agenda telefônica do celular e conferiu se tinha o número do canadense. Felizmente, ele tinha salvo em algum momento de um passado remoto, e ligou sem hesitar.

O telefone sobre a mesinha de cabeceira tocou, o som irritante penetrando nos ouvidos de Matthew, que tirou a cara do travesseiro e esticou o braço para alcançar o aparelho, perguntando-se quem seria. Quase ninguém ligava para ele, a não ser pessoas da família.

E foi com um susto que ele leu o nome de Arthur na tela que vibrava em sua mão. Não, não podia ser. Ele só podia estar ligando errado. Na verdade, aquilo tudo ainda era um sonho. Só podia ser um sonho… Ele ainda estava dormindo. Então… Não havia perigo em atender.Nada assim era possível de acontecer de verdade…

– Arthur?

–… Oi, Matt. – A voz dele era gentil e doce. – Tudo bem?

Não. Aquela voz, ela era real demais... Era como se Matthew realmente estivesse ouvindo-a ecoar nos seus ouvidos no seu sono. Matthew beliscou o seu ombro para checar se ainda estava dormindo.

Não estava. Aquilo não era um sonho.

– A-Arthur! – Foi o que ele conseguiu balbuciar assim que a realização o atingiu. – Ah...! O-Oi, Arthur! Você... Ligou pra mim.

– É, eu liguei – Arthur achou engraçado como ele ficou nervoso de uma hora para a outra. Devia ter acabado de acordar. – Escuta, eu posso passar aí, tipo agora? Queria conversar com alguém, sei lá, se você puder... Espero que não esteja mais chateado comigo.

– Não! N-Não estou chateado com você... Tudo bem…! Você pode vir, er… Eu…

– Então tá, eu chego daqui a uns vinte minutos. Até mais, Matt.

Matthew tentou despedir-se também, mas hesitou tanto que Arthur desligou o telefone antes que ele pudesse mesmo abrir a boca.

Cerca de meia hora depois, o punk bateu na porta. Ela abriu-se imediatamente, revelando um garoto de cabelos cor de caramelo claro, levemente ondulados, e seu moletom vermelho. O garoto parecia visivelmente nervoso, mas abriu um sorriso quieto ao ver o amigo.

Arthur entrou e tirou a sua jaqueta pesada de tachas, a qual Matthew fez questão de encarregar-se de pendurar ao lado da porta, como um garçom ou cavalheiro. Ainda ofereceu-lhe chá, ao que Arthur recusou, porque aquilo se parecia mais com um encontro de negócios num restaurante do que uma visita comum de um amigo.

Madeline ainda estava na sala, agora assistindo alguma série na televisão, e pareceu espantada quando viu aquele garoto de cabelos verdes e roupas com “pregos” adentrar sua casa.

– Ah, Maddie, eu me esqueci de te falar que o Arthur vinha... – O irmão disse, ao perceber o olhar da garota ao ver o estranho em sua casa.

– Oi – Cumprimentou Arthur educadamente.

–... Oi.

– Ouvi que você vai ter um jantar chique com o seu namorado hoje.

– É... Vou ter, sim? – Ela pareceu confusa. – Por quê?

– Não suja ou amassa o smoking que ele vai usar. Ele é meu. – E apenas sorriu, deixando a garota ainda mais desentendida.

Arthur e Matthew seguiram para o quarto do segundo – que pareceu extremamente embaraçado, por algum motivo. Arthur ficou surpreso em como o canadense mantia sempre a ordem no lugar – a cama feita, as roupas nas gavetas, todos os livros organizados na estante -, diferente do quarto comum de um adolescente tipicamente bagunceiro. Mas aquilo combinava com a personalidade de Matthew, como concluiu o punk, se sentindo um estranho em um quarto tão arrumado.

O canadense sentou-se na cama, mas Arthur vagueou até a estante, observando os livros que Matthew ali guardava, ordenados pelo nome do autor. Em sua maioria, eram poesia e romance, clássicos da literatura, alguns volumes com seus títulos em francês.

–...A-Arthur – Chamou Matthew baixinho, não conseguindo olhar para o outro garoto. – O que você queria conversar?

O punk virou-se para o garoto, inexpressivo.

– Ah... Bem... – Arthur hesitou. – Você não tá mais chateado comigo, certo? Promete não contar isso a ninguém?

– Prometo... – O canadense disse tão baixo que quase foi um sussurro. Será que Arthur ia confiar nele para contar um segredo? E o que seria? Matthew ficou ainda mais nervoso.

– Ahn… É que… É que o meu namorado anda insistindo... Pra que eu faça umas coisas...

Matthew congelou. Ele simplesmente ficou ali imóvel e mudo, atordoado com o que o punk dissera. Namorado? Arthur tinha... Namorado?

– Desculpa, Matt, eu não devia ter sido tão indiscreto… - Disse Arthur, ao notar o rosto incrivelmente vermelho do garoto loiro. – Posso não falar disso, se você não quiser.

–... Não... V-Você veio aqui porque queria falar disso... Eh, tá... Tá tudo bem – Mentiu Matthew. Internamente, ele estava partindo-se em pedaços.

– Ah... – Fez Arthur, ficando em silêncio por um instante. – Eu acho que não contei pra você dele, mas então... O Drake é dois anos mais velho, e ele sempre insiste em... Fazer essas coisas comigo. Desculpa, você tá incomodado?

– N-Não!! – Matthew exclamou dessa vez, fazendo um gesto com as mãos. - Tudo bem, pode… Continuar.

– Então... Eu sempre rejeitei quando ele insistia nisso, mas ele não desiste, e... Eu tenho medo... Mas tenho ainda mais medo que ele me esqueça porque... Eu não queria fazer isso.

Fez-se silêncio no quarto por um longo minuto que arrastou-se quase como uma hora inteira.

– Err... Eu... N-Não sei o que te dizer, Arthur, me desculpa... – O rosto de Matthew estava completamente vermelho.

– Tudo bem, eu soei muito indecente mesmo – Arthur sentiu o rosto queimar um pouco, mas riu, como se achasse engraçado o próprio embaraço. –Mas mesmo assim, obrigado por me ouvir. Eu precisava desabafar com alguém.

– De nada... – Matthew tentou abrir um sorriso, mas só conseguiu um sem-graça e nada convincente.

Como Arthur não tinha nada para fazer até a noite, passou um tempo conversando com Matthew sobre alguns de seus livros. Assistiram a um filme na televisão quando a irmã do canadense saiu da sala para arrumar-se (várias horas adiantada), como dois amigos comuns assistindo televisão numa tarde de sexta – mesmo depois de terem tido uma conversa embaraçosa sobre namorados e sexo. Matthew era bem mais inocente que o punk, então até mesmo ele sentiu-se envergonhado por ter tido coragem de falar sobre aquilo com ele. Porém, felizmente, os dois concordaram telepaticamente em agir como se nada tivesse acontecido.

Apenas mais tarde foi quando Arthur olhou no relógio da sala e lembrou-se do que tinha para fazer. Explicou a Matthew que ia ter que entregar o smoking ao namorado de sua irmã, que assentiu.

Então ele se só se despediu como um amigo normal faria e foi embora, deixando um Matthew desconcertado parado na porta, incrédulo de tudo que havia acontecido naquela tarde.


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Notas finais do capítulo

Olá amável leitor que leu tudo! Bem, esse capítulo era muuito maior (felizmente eu tive bastante criatividade pra escrevê-lo, yeah), só que eu resolvi dividi-lo em dois, então essa é a razão do final ter ficado bastante vago. Mas não se preocupem, porque eu já tenho os dois próximos capítulos quase terminados, e vou postar mais breve! Juro que até em menos de uma semana (dependendo do feedback de vocês q) o capítulo 9 (ou capítulo 8 parte dois?) vai estar aqui!
(Ah, sim, e eu acabei esquecendo de associar uma música a esse capítulo porque na verdade eu tinha planejado uma para ele, só que acabou ficando para o próximo x3)
Obrigada por ler, outra vez, e quero ver seus lindos reviews falando sobre a conversa embaraçosa do Arthur e do Matt e o sofrimento do último (e também suas apostas para o final dessa agitada sexta-feira no universo de nossos garotos!) :3 Até o próximo!!