Stray Heart escrita por Kiyuu


Capítulo 2
I propose you a truce


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo! Estarei postando todas as quartas, provavelmente. Então o capítulo está em dia!
Obrigada por todos os reviews, de todas vocês! Foi muito bom lê-los e saber que pessoas realmente se interessaram pela fic. Tudo me deixou bem mais feliz e motivada pra escrever!
Então aqui vai o capítulo! Boa leitura~



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Apesar de tudo, ele era solitário. Não que fosse algo que o incomodasse - o caráter que adotara para si mesmo definia aquilo. Na verdade, não era bem solidão. Ele apenas era exigente demais, e nunca aceitava os defeitos de ninguém. Nem mesmo os seus.

Sobretudo, aquela "índole" era apenas uma máscara, uma personalidade falsa que ele exibia a todos para inflar o seu orgulho. Porque ele era um punk, um valentão e o maioral. E todos os punks têm de agir desse modo. É igual a todas as outras “tribos”: Todo emo tem deagir como um emo. Toda patricinha deve agir como uma patricinha. Todas as pessoas têm de seguir, sob todas as circunstâncias, “as regras” criadas pela sociedade, respectivas ao caráter que adotaram para si mesmas. Ou são excluídas.

Arthur era um punk que seguia “as regras”. Mas por dentro, ele sabia que não estava sendo ele mesmo.

Mas há tempos vinha querendo montar uma banda de rock. Ah, como queria participar de uma banda, como sonhava em subir num palco e tocar guitarra para uma multidão de fãs. Ele já tinha até a guitarra e sabia tocar um pouco - porque todo punk que se preze também deve tocar um instrumento. Ele não fazia aquilo por causa das regras, apenas realmente gostava de tocar guitarra. Só que tinha um problema: O único membro da banda era ele mesmo.

Como mencionado, ele mal tinha um amigo que pudesse convidar. Se quisesse mesmo montar a banda, teria que procurar pessoas. Teria que virar amigo delas. Ugh.

Na escola era impossível: Ele tinha fama de valentão e intocável, embora nunca tivesse batido em ninguém pra valer. Ele espantava os outros na escola, e seria extremamente ilógico reverter essa personalidade do nada. Imagine se chegasse no dia seguinte com um sorriso e conversasse com pessoas que antes tinham medo dele, para lhes fazer uma proposta? Ninguém iria entender, e muito menos aceitar a oferta. Pensariam "ah, esse punk quer que eu vire amigo dele pra depois me passar a perna", ou "esse punk é louco, nem vou chegar perto dele ou acabar indo pra prisão junto", entre várias outras hipóteses patéticas que os estudantes inventariam. Eles nem pensariam apenas como hipóteses: Arthur realmente tinha fama de marginal, pelo que ouvia nos burburinhos colegiais. Ele era tudo, menos um marginal.

Mas ah!, é muito bom ver as pessoas com medo de você. Intimidá-las. Ver as pessoas seguindo todas as suas ordens como subordinados. Não há alimento melhor para o orgulho.

Às vezes sentia-se mal por pensar assim, e até ponderava mudar a si mesmo. Todavia, queria continuar a alimentar o orgulho enquanto podia. Se descobrissem quem ele realmente era, tudo desabaria em dois tempos.

Mas estava decidido: Sim, iria encontrar amigos. Não estava apressado em conseguir, embora forçasse si mesmo a tentar.

Durante toda a semana seguinte, Alfred recebeu poeminhas perfumados da sua misteriosa admiradora. Mesmo achando um pouco ridículo, ele se sentia especial quando abria o armário e uma daquelas cartinhas escorregava de lá de dentro, lhe elogiando com mil adjetivos.

Mas ele se perguntava por que essa garota não se declarava logo. Os bilhetinhos eram fofos, claro, emboraseria muito melhor se ele soubesse quem era ela. Seria sua primeira namorada! Ah, como ele sonhou com aquilo! Como a sua família o encorajou, como as tias alheias o constrangeram com perguntas sobre o assunto. Se ele conseguisse uma namorada, a sua vida mudaria completamente. Para melhor.

Ele ficava pensando em quem talvez ela pudesse ser, e isso acabou virando uma investigação. Sempre que uma garota caía de olhos nele sem querer, ele prontamente a adicionava na lista. Observava todas as alunas da sua classe atenciosamente, procurando por pistas, e até tentava cheirar discretamente o perfume delas, mas nenhum era igual ao das cartas. Nenhum era tão doce e tão suave quanto o dela.

Na segunda semana, Alfred começou a ficar frustrado e pensar em desistir. Ele já havia cheirado milhares de perfumes, procurado por folhas de caderno parecidas com a dos bilhetes e esperado na frente do seu armário para caso alguém aparecesse e enfiasse o papel ali. Contudo, nada deu resultado.

Talvez fosse só alguém brincando com ele. Talvez ele nunca fosse ter uma namorada. Talvez fosse tudo uma ilusão desesperada e patética que ele criara para acabar com a solidão.

Estava prestes a desistir, mas decidiu que iria investigar um dia - só mais um dia - antes de esquecer aquilo. Ele não ia mais atrás dela. Ele não tinha a obrigação. Se ela realmente quisesse conhecê-lo, ela que se pronunciasse.

Era uma quinta-feira quente de Abril, e raios fracos e tenros da manhã iluminavam a sala. Alfred não conseguia prestar atenção na aula, e estava lutando contra o sono, debruçado na cadeira. Num momento aleatório olhou para trás, e percebeu que a cadeira do punk estava vazia. Será que tinha faltado? Bem, melhor pra ele; não precisaria evitá-lo toda vez que olhasse sem querer para lá.

Entretanto, contrariando-o, o garoto de cabelos verdes chegou na segunda aula e ocupou o seu lugar. Alfred olhou para ele discretamente: as mesmas camisas de banda e os mesmos piercings brilhantes de sempre. Mas havia algo diferente: A carranca que ele sempre exibia no rosto aparentava ter se desmanchado em uma expressão meio bem-humorada. Era muito estranho vê-lo bem-humorado.

A personalidade atípica dele permaneceu até o horário do almoço. O nerd nem sabia por que estava se fixando tanto nele, porém não conseguiu evitar procurá-lo com o olhar pelo refeitório. Talvez pudesse sentar-se com ele. Será que conseguiria? Bem, talvez o cara não fosse tão anti-social assim, talvez fosse maleável para uma nova amizade. Mas por que logo comigo?, Alfred perguntava-se, enquanto os seus olhos ainda bisbilhotavam cada mesa do lugar. Quando finalmente caiu de olhos naquela cabeleira verde, surpreendeu-se ao encontrar uma outra pessoa sentada ao seu lado.

Imediatamente parou para indagar quem seria aquele alguém tão, digamos, privilegiado para conseguir falar com o punk. É, realmente as coisas não estavam normais aquele dia.

Mas, ele concluiu, quem liga para o punk? Alfred tinha uma - possível candidata a - namorada agora, e não precisaria mais ficar correndo atrás de "amigos" apenas para "subir de nível" na sociedade escolar. E o pior amigo que tinha inventado de tentar ganhar fora aquele valentão idiota. Sinceramente: Por que iria ser simpático com um cara que só lhe lançava palavrões e ameaças e sempre o encarava com aquele olhar amargo no rosto? Se deu conta daquilo naquele instante e se sentiu extremamente patético.

Estava indo rumo ao canto do refeitório onde sempre se sentava sozinho, quando ouviu alguém proferir uma palavra que lhe era conhecida. Espera, era o seu nome...!

Virou-se no mesmo segundo, incrédulo e até assustado, para dar de cara com um garoto loiro de óculos - que se parecia muito com ele, de fato - que usava um moletom vermelho e acenava de leve para ele, um sorriso sutil nos lábios. Alfred juntou as sobrancelhas e olhou em volta, ainda crente de que o garoto tinha chamado outra pessoa. Quando o nerd olhou de volta para o loirinho, conseguiu enxergar a pessoa que sentava junto dele. Ah, não podia ser. Era o amigo do punk.

O loirinho chamou-o outra vez, e ele não pôde fazer nada. Caminhou estranhamente até a mesa onde eles estavam, pronto a perguntar se haviam o confundido com alguém, mas ao aproximar-se foi tomando a certeza de que realmente já conhecia aquele garoto de algum lugar.

– Alfred...! É você? - Sorriu o garoto desconhecido.

Tentou com urgência, mas não conseguiu lembrar-se do seu nome e simplesmente esperou que ele falasse alguma outra coisa, antes que o punk o chutasse longe dali. Na verdade, Arthur parecia nem notar a sua presença ali, embora Alfred soubesseque ele estava observando-o do canto dos olhos, escondidos sob a franja.

– Lembra de mim...? Sou Matthew, Matthew Williams...

As memórias pareceram voltar lucidamente à sua mente. Matthew, sim, ele lembrava! Matthew fora um de seus melhores amigos da sua tenra infância, quando tinha uns seis ou sete anos e morava em Toronto. Na verdade, Alfred se aproveitava dele um pouco, usando-o como um empregado, e ocasionalmente deixava-o para trás, mas não era por mal. Ele era criança, e apesar de tudo, eram como bons irmãos. Até na aparência: A vizinhança até costumava confundi-los com gêmeos!

Ele tinha realmente se esquecido de Matthew, e se sentiu até um pouco mal por causa disso. Mas depois que veio aos Estados Unidos, quando tinha dez anos, eles perderam totalmente o contato.

– Matthew! - Alfred abriu um sorriso simpático, mostrando todas as borrachinhas azuis do aparelho. - Cara, há quanto tempo...!

– É verdade, faz tempo mesmo... E ah, você vai sentar em algum lugar?

O sorriso sumiu por um instante e ele engoliu em seco. - Ah, eu? N-Não... - Tossiu, tentando olhar para o punk, que ainda estava completamente indiferente à conversa.

– Quer sentar aqui com a gente? - A pergunta veio, e Alfred olhou outra vez para o punk. Matthew também o fez, esperando uma aprovação, mas Arthur estava encarando fixamente a sua bandeja sem dizer uma palavra.

Diante disso, ambos acharam que estava tudo bem, e Alfred finalmente balbuciou um "Sim" muxoxo, antes de sentar-se no banco, justamente ao lado do cara intimidador. Tentou evitar olhar para ele, e ficou se perguntando por que não fingiu que não tinha escutado o Matthew. Bem, era melhor do que sentar no chão, pelo menos. Ou talvez não.

– Ah, Alfred, esse é o, um, o Arthu-

– Ele sabe o meu nome. - O punk resmungou, embora ainda se mostrasse despreocupado. Alfred engoliu em seco novamente.

– Ah, então, todos nós nos conhecemos...! Que ótimo - Matthew ligeiramente quebrou o gelo.

O nerd forçou um sorriso - É - e olhou discretamente para o lado -,eu acho...

Aquilo com certeza fora uma indireta que qualquer um notaria, porém Arthur não se moveu. Alfred começou a ficar com medo.

Matthew pigarreou. - Alfred, você não mudou nada desde criança... - Ele soltou, mas pareceu arrepender-se logo depois.

– É, você também, Mattie - Ele riu, ficando empolgado. - Só ficou mais gordinho...

A piada não surtiu muito efeito - aliás, efeito nenhum -, e ele riu sozinho até notar o constrangimento que tinha criado na situação. A risada virou uma tosse frenética típica de tuberculose, e ao olhar para o lado, recebeu um olhar severo e verde, o qual o fez tremer e calar a boca.

– A-Ah... Uh... Eu, eu perdi a fome, vou ao... Banheiro...! - Alfred tropeçou nas sílabas, o rosto enrubescido. Levantou-se e andou o mais rápido que pôde, como se quisesse se esconder,

Foi repetindo xingamentos mentais contra si mesmo e teve que lavar o rosto para tirar o suor nervoso que havia se formado na testa. Até quando tentavam virar seu amigo e davam o primeiro passo, ele acabava com tudo sendo um idiota. Não sabia nem por que tinha dito aquilo, talvez tenha se empolgado demais, mas a pressão daquele cara assustador o deixava extremamente nervoso, e babaquices escaparam dos seus lábios sem querer.

Quando levantou o olhar para o espelho, deu um pulo de susto e teve que morder a língua para não gritar.

Era só pensar naquele cara e ele aparecia do nada. Estava em pé e encarava Alfred pelo espelho como um fantasma. O nerd encostou-se na bancada da pia e levou uma mão ao coração.

–...Você quer me matar? - Ofegou, ainda sem conseguir encará-lo completamente.

O punk deu um passo à frente e o nerd tentou recuar, porém não havia mais como. Ele estava a um braço de distância, e subitamente, agarrou a sua camisa com a pretensão de intimidá-lo. Mas ele era, na verdade, muito fraco, e a tentativa falhou. Alfred teve que reprimir o riso.

Arthur suspirou, tentando manter a calma. - Olha, quatro-olhos. Você tá incomodando, seu inconveniente. O Matthew é muito bonzinho e sensível, mas eu não sou. Eu não quero mais você sentado naquela mesa, tá certo?

– Mas foi ele quem me convidou.

– Mas... Mas sou eu quem estou te expulsando - Rebateu.

– Ou o quê? Vai me bater?

Ele hesitou, deixando as palavras pairarem no ar - visando causar um pouco de suspense -,embora soubesse perfeitamente o que responder:

– Ou eu não vou te falar quem é ela.

O corpo de Alfred enrijeceu, e os seus olhos se arregalaram. - Como é que você sabe? V-Você conhece ela...?

Arthur inclinou a cabeça de leve e abriu um sorriso de canto, mas não deixou o segredo escapar pela sua boca. O nerd apenas olhou para ele, esperando, e mesmo não recebendo palavras, ele tinha plena consciência de que aquele punk sabia de alguma coisa que ele não sabia. Mordeu a bochecha interior e expirou o ar que havia prendido com um monossílabo:

– Ok.

– Muito bem, filhinho de papai. - Arthur zombou sarcasticamente, soltando a camisa dele e lhe dando um leve empurrão. A sua expressão ficou séria, embora fossefalsa.- Na próxima, eu te surro.

– Até parece. - Cuspiu Alfred, e Arthur parou de costas a ele por um segundo ao ouvi-lo. O nerd imediatamente arrependeu-se e já ia se desculpar, mas o punk virou-se com aquele mesmo sorriso sarcástico de canto.

– Se eu fosse você, não duvidaria tanto assim de mim. - Foi o último aviso que ele deu antes de sair porta afora.


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Notas finais do capítulo

Sei que o cap. ficou pequeno, perdão... Mas eu garanto que o próximo vai ser bem maior!
E sim, a aparência de mais um personagem! O Matt também tem uma vasta importância na história, então não se esqueçam dele (desculpem a piadinha, não resisti fhdfds)!
Fiquei meio preguiçosa pra revisar, já que esse capítulo foi escrito faz tempo também, então se encontrarem algo errado não hesitem em me avisar, please!
Anyway, obrigada por ler até aqui~ Se possível, mandem reviews, eles me deixam muito feliz, you know. Leitor fantasma ou não, espero que esteja aqui na próxima semana!