A tarde toda se resumiria às disputas que levassem até, ao menos, até a final, pois a última competição só viria a acontecer no dia seguinte e os vencedores enfim seriam nomeados e homenageados.

Todos acharam a praia mais lotada do que de costume. Várias barraquinhas de torcida foram montadas no passar do tempo e as pessoas vibravam extasiadas a cada nova onde que se formava e pouco depois quebrava. Às vezes, umas maiores que outras, arrancavam gritos de entusiasmo dos espectadores.

– Vou ficar surda. – Evellyn estava paralisada ao lado de Mariana.

– Eu vou é surtar mesmo. – Disse a caçula.

Wallace e Caio apenas aguardavam calados ao lado das garotas.

O calor se intensificava e a vibração da plateia era cada vez maior.

– Caio e Wallace são a primeira dupla. Eles terão quinze minutos para mostrar as melhores de suas manobras e habilidades. – A voz de Alexandre ecoou pela praia. – Estão preparados?

– Estamos! – Gritaram os dois enquanto corriam rumo ao mar.

– Wallace, cuidado. – Evellyn viu-se gritando de repente e preocupada.

Mariana sorriu e apenas assentiu com a cabeça para os amigos, incentivando-os.

A maré carregou facilmente a dupla para uma área mais funda, pequenas ondas se formavam e os dois rapazes apenas mergulhavam e passavam por baixo delas. Wallace tomou a dianteira, sabendo que suas manobras lhe garantiriam uma boa pontuação, o suficiente para ser o pontapé inicial que os levaria a vencer aquela competição. Caio afastou-se um pouco, remando com os braços e sentando-se na prancha enquanto observava o amigo começar a agir.

Ondas e ondas, o vento forte e o sol queimando sua pele quando se colocou de pé e rapidamente equilibrou-se na prancha. Wallace sorriu; Evellyn o fitava de longe, nervosa e hipnotizada pelo rapaz que tão facilmente a encantava.

A primeira onda quebrou, era pequena, e Wallace apenas passou por cima da mesma como quem não se importava, como se realmente não fizesse diferença seu tamanho. Foi arrastado um pouco mais para o fundo e então viu a nova onda se formando, grande e monstruosamente forte, pronta para suga-lo e fazê-lo sumir naquela imensidão que era o mar. O moreno desviou da onda e seguiu para seu início, faria algo comum: surfar dentro da onda enquanto a mesma quebrava. Ela tinha mais de dois metros e ele rapidamente se posicionou, inclinando o corpo e agachando-se levemente enquanto passava por dentro da onda, a canhota cortando a água enquanto sua risada expunha o quanto parecia realizado.

Quando a onda quebrou e foi finalizada, todos na praia vibraram ao ver Wallace sair ileso e Caio seguir para fazer o mesmo que o amigo, porém, numa onda menor, natural e claramente. Não teve dificuldade alguma, o que o deixou um tanto mais confiante do que realmente suspeitaria que ficaria.

Os dois amigos intercalavam entre si quando perceberam que o tempo acabava. Deixavam-se ser levados pelas ondas e rapidamente subiam nas pranchas e punham suas habilidades sobre as mesmas em prática, ziguezagueando com maestria nas ondas ferozes e ameaçadoras. Wallace ouviu gritos e garantiu pontos com alguns saltos e loops que deixavam todos boquiabertos.

Uma sirene tocou anunciando o final da prova dos garotos. Mariana e Evellyn suavam frio quando eles voltaram para a areia e os nomes delas foram anunciados.

Wallace selou os lábios de Evellyn quando ela e a amiga caminharam rumo ao mar. Mariana sentia as pernas bambearem e sentiu logo a outra segurar sua mão e apertá-la, buscando alguma maneira de fazê-la se acalmar, por mais que ela mesma estivesse estranhamente nervosa. Não gostou da ideia de ser rival de Wallace já para início de conversa.

Ambas seguiram o mesmo ‘ritual’ que os garotos, remando até uma área onde tivessem total liberdade para surfar sem que se machucassem ou sem que pudessem ser desclassificadas por besteiras. Mariana foi quem iniciou, sabendo que não era assim tão boa quanto a amiga. Não houve muita diversificação nas manobras feitas por Mariana. Na verdade, nem mesmo nas feitas por Evellyn. Ambas deram o seu melhor, mas naturalmente não eram profissionais e não conseguiriam fazer muito mais do que os garotos já haviam feitos.

Quando a sirene tocou, elas saíram da água e foram para o lado dos rapazes mais uma vez, mas agora ao lado da mesa dos jurados, os quais escreviam freneticamente em seus papéis enquanto Alexandre aguardava com o microfone em mãos.

Os quatro se deram as mãos e esperaram pelo momento em que ouviriam qual das duplas seria a vencedora. Engoliram em seco uma, duas vezes, todo o corpo parecia em estado de alerta quando enfim foi passado um envelope para o locutor da vez. Alexandre segurou o envelope e fez suspense por alguns segundos, todos na praia estavam em silêncio quando enfim abriu, leu e falou com um sorriso nos lábios.

– Wallace e Caio foram os vencedores dessa rodada!

Eles gritaram e ergueram os braços, se abraçando e rindo de alegria. Mariana e Evellyn bateram palmas junto aos espectadores. Estavam cabisbaixas por serem desclassificadas, mas felizes pelos rapazes. Eles se viraram e trocaram abraços entre si, exceto por Evellyn e Wallace, que trocaram um beijo enquanto ele a prometia a vitória.

– Façam seu melhor. – Disse Mariana aos amigos enquanto recuava com Evellyn para onde estavam os demais amigos.

– Vocês se saíram muito bem! – Disse Fernanda ao receber as duas amigas, Tamires concordou com um gesto de cabeça.

Marcelo abraçou a irmã e a parabenizou rapidamente enquanto os outros também as elogiavam por seu desempenho na competição até então.

Lucas puxou Mariana para si quando ela se sentou, ele a abraçou por trás e todos viram a expressão levemente impaciente da garota quando começou a receber os beijos do loiro no pescoço. Gostava de Lucas, mas realmente estava começando a acreditar que ele estava passando dos limites. Levantou repentinamente e agitou os braços quando o loiro, confuso, tentou puxá-la para si mais uma vez.

– Lucas, me deixa. O que há de errado com você?

– O que houve? Mariana!

A caçula saiu andando a passos firmes, Marcelo foi atrás com Fernanda. Tamires e Phellipe conversavam com Evellyn e seguraram Lucas para que ele não fizesse o mesmo e corresse atrás da garota.

– Mariana, o que está acontecendo? – Perguntou Fernanda assim que se aproximou da caçula.

Alcançaram um carrinho e Mariana sentou no banco do motorista do mesmo, suspirando longa e profundamente enquanto voltava o olhar para o irmão e a amiga.

– Estou tentando fazê-lo me odiar, Fer.

– Por que? O que há de errado em ele gostar de você? De ficarem juntos?

– Mariana, o que está acontecendo de verdade? – Marcelo segurou a irmã pelos ombros e encarou seus olhos azuis levemente perdidos.

– O problema é que eu não consigo gostar do Lucas como ele gosta de mim. Algo em mim me impede. Eu cedi facilmente no início por estar magoada e ele me ajudou a esquecer o Alexandre, mas começou a parecer algo forçado pelo simples fato de que eu não consigo acreditar e confiar completamente no que o Lucas diz e faz. Algo me diz que a qualquer momento ele vai voltar a ser aquele babaca que ele sempre foi quando o conheci. – Respirou fundo, desviando o olhar. – E se ele estiver realmente gostando de mim, sinto que o farei sofrer, porque não consigo sentir o mesmo, então o estarei iludindo. Eu sei o quanto é ruim quando isso acontece, eu sei o quanto é ruim ter alguém mentindo para você sobre um sentimento que não existe de verdade. Ele tem que me odiar, é melhor do que eu simplesmente falar que não consigo sentir o mesmo que ele.

– Mari, calma.. – Fernanda e Marcelo abraçaram a garota enquanto ela recuperava o fôlego e também o ritmo de sua respiração, queria chorar e aquilo estava claro na maneira que sua voz começou a se tornar rouca no final de suas palavras.

– Você poderia simplesmente falar para ele, seria tão mais fácil.

– Lucas não é assim. Ele não vai simplesmente aceitar. Ele pode ter mudado a maneira de agir comigo para melhorar nosso relacionamento, para termos um relacionamento. Mas ele ainda é estourado, ele ainda surta quando não consegue o que quer. E ele vai se tornar um monstro, o mesmo monstro que me agarrou naquele dia depois da festa.. – Mariana balançou a cabeça negativamente.

– ELE O QUE? – Marcelo gritou, surpreso e repentinamente furioso.

– Marcelo, calma. Já passou e já foi resolvido, Mariana só tem medo de algo como aquilo se repetir novamente. – Fernanda segurou o braço do rapaz para mantê-lo ali quando viu que ele quase saiu andando rumo à praia novamente.

– Marcelo, está tudo bem. Eu preciso resolver isso sozinha. Ou eu o faço me odiar para não ter que vê-lo sofrer, ou eu o faço sofrer. – Murmurou a caçula, abaixando a cabeça e forçando um sorriso nos próprios lábios. – Vão torcer por Wallace e Caio, eu vou ao apartamento tomar um banho e logo apareço.

– Tem certeza? – Indagou Fernanda, encarando a amiga.

– Sim, certeza. E Marcelo, por favor, tente se controlar. – Mariana sorriu para o irmão e acariciou seu rosto, ele apenas suspirou e concordou com suas palavras. – Ótimo. Aliás, vocês dois estão uma graça juntos.. – Brincou por fim, dando partida no carrinho e saindo dali.

Fernanda e Marcelo se entreolharam rapidamente e coraram fervorosamente, riram juntos e voltaram para a praia.

Os outros observaram o casal voltar de mãos dadas e logo começaram com uma cantoria que os fez rir e fazer gestos obscenos na direção de todos.

Esperaram mais uma vez pelas competições e acompanharam Caio e Wallace vencendo aos poucos, por mais difícil que estivesse começando a ser. Pouco antes do pôr-do-sol, foram anunciadas então as duplas que conseguiram chegar até a final.

– Caio e Wallace, Pedro e Ricardo. – Disse Alexandre no microfone.

Os gritos na praia se fizeram mais altos e logo o homem continuou dizendo.

– Bom, por hoje é isso, encontraremos vocês amanhã aqui logo cedo para a final. Boa sorte às duplas e vamos embora agora, pessoal. Amanhã é um grande dia! – Riu Alexandre, dando fim à competição daquele dia.

Caminharam todos juntos e rapidamente de volta aos carrinhos, sabiam que seria difícil conseguir algum se demorassem devido ao grande número de pessoas que havia na praia, e cansados como estavam, não lhes agradava a ideia de ir andando até os apartamentos. Wallace e Caio tinham quase certeza que estariam quase que aleijados até lá. Não tiveram descanso algum durante as provas a não ser alguns poucos minutos enquanto outras duplas competiam entre si.

Lucas parecia confuso e cabisbaixo ao mesmo tempo, como se não soubesse de nada que estava acontecendo por ali. Notou Fernanda e Marcelo olhando-o estranho quando ele mesmo os encarou, chegou a perguntar sobre Mariana mas não obteve resposta alguma, pois o casal se empenhava em mudar de assunto tão rápido quanto qualquer outra coisa.

– Bom, meu apartamento é para lá.. Vejo vocês amanhã. Boa sorte aí. – Lucas murmurou, acenando para os outros e tomando seu próprio caminho em direção ao prédio onde ficava.

– E aí, o que a Mariana disse? – Perguntou Phellipe repentinamente.

– Ela não gosta do Lucas como ele gosta dela, quer que ele comece a odiá-la para que assim ela não acabe fazendo ele sofrer caso esteja sendo verdadeiramente sincero com relação aos sentimentos que diz ter por ela. Resumindo, é mais ou menos isso. – Fernanda respondeu, dando de ombros e crispando os lábios.

Ninguém comentou nada, todos pareceram pensativos enquanto iam para o prédio Safira. Assim que chegaram, viram Mariana sentada do lado de fora com um meio sorriso nos lábios esperando-os.

– Quem seremos os campeões? – Brincou Caio caminhando na direção da morena.

Ela se levantou e riu.

– Sério? Vocês conseguiram chegar até a final? – Perguntou ela.

– Claro, nós somos muito extraordinários, garota. – Wallace cruzou os braços, egocêntrico.

– Estava pensando que poderíamos ficar todos aqui embaixo um pouco hoje, não sei. – Disse Mariana, sorrindo para todos, que acabaram olhando-a de maneira desconfiada, mas concordaram. – Eu os espero aqui.

Todos os outros subiram para seus devidos apartamentos e tomaram banhos demorados para descansar, puseram qualquer roupa simples e voltaram para o térreo, onde Mariana permaneceu todo o tempo sentada, no aguardo dos amigos. Quando apareceram, ela parecia radiante e ao mesmo tempo travessa.