— As férias estão chegando, nem parece, não é? — Tamires cochichava com Evellyn e Mariana no sofá do apartamento, Fernanda encontrava-se na varanda, observando o amanhecer.

— Sim, estranho eles colocarem as férias na metade de junho.. Mas também, eles voltam com as aulas no meio de julho, né? — Mariana parecia confusa com tudo aquilo, bufou.

— Eles sempre fazem uma festa, sabiam? É como uma tradição, como toda festa por aqui. — Evellyn abriu um sorriso de imediato.

— Nada de festas para mim, certo? Se quiserem ir, vão, eu não quero, obrigada. — Fernanda cruzou a sala, indo para a cozinha, parecia dispersa desde o aniversário de Marcelo, e tinha uma razão óbvia para tal.

— Você que sabe, Fer. Eu vou, e certeza que a Evy também vai. E você, Mari?

— Eu não sei.. Acho que se o Lucas me chamar, vou sim. — Suas bochechas coraram de imediato, todas riram, sem exceção.

— Acho que ele está finalmente te fisgando, sabia? — Riu Tamires, cutucando a amiga.

— Parem! Até parece que sou um peixe ou coisa do tipo..

— CAIU NA REDE DO LUCAS, FINALMENTE, MARI! — Fernanda voltava da cozinha ainda rindo.

— Bobas! Você vai também, Fernanda. Não é nosso grupo completo sem você. Precisamos de você lá.

— Eu não sei, Mari. Realmente não estou animada com isso.. Marcelo vai estar lá com aquela cretina, os garotos também.. Você sabe. Eu não quero.

— Você vai e pronto! — Disparou Evellyn.

O ânimo de Tamires e Evellyn vez ou outra poderia ser considerado algo que realmente contagiava, pois logo o sorriso de Fernanda se fez presente e todas fizeram questão de se colocar de pé e sair do apartamento, quase não saíam nos últimos tempos e tinham que se preocupar com algumas coisas até a festa chegar, e não demoraria muito.

Era fim de tarde, a praia certamente estaria lotada e elas não estavam muito interessadas em ver o mar naquele dia, o que era algo raro, portanto perderam algumas boas horas conversando e perambulando por todo o lugar nos carrinhos de Estrela Dourada, revezando quem dirigiria, sempre dando algumas boas risadas a cada vez que uma nova motorista tomava seu lugar e fazia o pequeno veículo mover-se. Foi bom para distrair, essa foi a conclusão que todas tomaram e sabiam muito bem que deveriam fazer aquilo muito mais vezes independente das circunstâncias.

— Então quer dizer que é basicamente um baile de máscaras? — Uma das sobrancelhas de Tamires estava erguida. — E onde vamos arrumar roupas e máscaras?

— Pelo que o Leandro me explicou, poderemos escolher essa semana no ginásio. Vai estar lotado de roupas para escolhermos por lá, então já viu.. Temos que ser as primeiras, ou quase isso. — Evellyn disse antes que as amigas dissessem alguma coisa.

— E como vamos fazer para chegar lá antes que todos? — Perguntou Fernanda, as mãos pousadas em sua cintura conforme encarava Evellyn.

— Vamos agora mesmo! — Murmurou Mariana, tomando a mão de Fernanda e Evellyn e agitando a cabeça rapidamente na direção de Tamires, para que a mesma as acompanhasse.

Não demorou até que houvessem alcançado o ginásio e, embora quisessem ser as primeiras, ou estar dentre as primeiras, foi decepcionante notar o número de pessoas que já estava no lugar, vasculhando roupas e tudo que tinham direito para se preparar o suficiente para o baile. Garotas corriam de um lado para outro com vestidos nos braços, levando-os para os vestiários onde poderiam experimentá-los tranquilamente, ou algo que se aproximasse disso. Os garotos já não eram todos animação, buscavam as blusas e calças sem sequer observar atentamente o que pegavam, pareciam alheios a o que quer que fossem vestir, o que não seria nenhuma novidade.

Agitado, o quarteto não perdeu tempo. Mariana, Tamires, Evellyn e Fernanda, todas correram para onde os vestidos estavam. Eram de outra época, como se fossem a um baile do século passado, o que despertou um interesse ainda maior em pelo menos duas das garotas.

Mariana foi a primeira a decidir que vestido usaria; Fernanda também não demorou, mas Tamires e Evellyn fizeram questão de demorar quando se tratou de experimentar o que poderiam ou não vestir, o que lhes cairia bem e os que serviriam ou não.

— Vamos aproveitar o máximo que pudermos, garotas. — Fernanda parecia mais animada que antes de irem procurar pelas vestes.

— Parece que alguém finalmente se animou. — Tamires fez questão de comentar.

A semana seguinte não foi nada tranquila. Era semana de provas, e tudo que o quarteto queria fazer era ficar em paz, estudar, e se concentrar naquilo que tinham como prioridade, e quando se tratava de prioridade, nenhum dos garotos do quarto à frente estava incluído, o que nenhum deles parecia compreender ao cruzar vez ou outra com uma delas, ou com todas. Fernanda pareceu a que mais vinha sendo perturbada por Marcelo, o qual aparecia constantemente de repente para informá-la que surpresas estavam por vir, as quais, embora despertassem a curiosidade de Fernanda, não pareciam sequer fazer com que ela pensasse a respeito e se interessasse em algo mais do que só olhar com desdém para Marcelo.

Física era a pior matéria para Mariana, mas incrivelmente havia se saído bem após uma aula ou outra que Lucas fizera questão de dar a ela. Sequer imaginaria que um garoto como ele seria capaz de saber qualquer coisa que envolvesse cálculos. Ele a vinha surpreendendo muito em tão pouco tempo. Talvez devesse mesmo estar caindo na rede de Lucas, como as amigas fizeram questão de brincar na semana anterior.

Cortar caminho por partes diversas do prédio principal vinha se tornando uma especialidade das garotas, o que não era nem de longe algo de todo ruim. Além disso, quase sempre iam parar na praia, onde Mariana e Evellyn se lembravam de treinar e se preparar para o campeonato que ocorreria em pouco tempo, mesmo que não tivesse sido decidido exatamente se ocorreria em julho ou outubro, pelas ultimas informações que haviam recebido.

Dentro de poucas horas na ultima sexta feira antes das férias, decidiram tirar o restante do dia para descansar, o que não era nada mais, nada menos que justo não somente para elas como para todo o corpo estudantil do Estrela Dourada.

Mariana estava deitada no colo de Lucas, ele havia se tornado um visitante frequente nos últimos tempos desde que se dedicara a melhorar como pessoa e ajudar tanto Mariana como as amigas em quase tudo que pudesse. Sua mudança foi tão drástica que vez ou outra era difícil lembrar do que ele era antes de todo o incidente com Alexandre e Mariana. Tamires, Evellyn e Fernanda dividiam o outro sofá da sala do apartamento 1529, sequer pareciam se incomodar, até o momento que o som de batidas na porta as trouxeram de volta para a realidade.

— Você atende. — Resmungou Evellyn, sem sequer se dirigir a alguém em específico.

— Não, vai você. — Bufou Tamires, cutucando Fernanda com o ombro, que apenas suspirou, deixando os olhos fixos à televisão, como se nem mesmo tivesse ouvido nada.

— Anda logo.. — Evellyn disse ao ouvir mais uma vez batidas na porta.

— Bando de preguiçosas. — Disse um Lucas risonho, levantando tranquilamente ao deixar Mariana resmungando no sofá.

Ao abrir a porta, todas desejaram que Lucas não tivesse levantado para abri-la, incluindo ele mesmo.

Os garotos do 1528 encontravam-se todos ajoelhados em frente à porta, Marcelo à frente de todos os outros.

— Fernanda! — Chamou Marcelo, fazendo a morena arquear uma das sobrancelhas de maneira desconfiada ao se contorcer um pouco para olhar na direção da porta.

Marcelo empurrou Lucas e entrou, acompanhado pelos demais, colocando-se imediatamente diante de Fernanda, voltando a se ajoelhar. Somente depois de ter entrado foi que a garota percebeu a roupa que Marcelo usava: a calça parecia surrada e velha, não duvidava que se a cheirasse federia a algum pó, mas espantou os pensamentos ao voltar o olhar para a blusa, parecia mais folgada que o normal, branca até onde se poderia ser, tinha as mangas com babados, e um enorme V deixava parte do peito do moreno amostra, o que não se diferenciava muito dos demais, exceto por Caio e Phellipe que usavam um colete marrom por cima da blusa de mesmo modelo.

— Aceita ser meu par no baile? — Indagou Marcelo.

O que veio a seguir pareceu mais um sonho do que qualquer outra coisa que pudesse acontecer na realidade. Fernanda levou a mão até a boca e disparou em uma risada escandalosa demais até mesmo para ela, que logo foi acompanhada pelas demais amigas, que riam sem parar enquanto observavam a expressão confusa de Marcelo e dos demais.

— Você só pode estar de brincadeira. — Disse Fernanda em meio às risadas. — Mari, diz aí, ele tá de brincadeira, não tá? Pode confessar. Só faltam as câmeras. Estão por algum lugar por aqui? Cadê?

— Não é brincadeira! — Marcelo pareceu ofendido, mas não fez nada além de franzir o cenho e encarar a morena que ainda ria, agora chegando ao ponto de chorar.

— Tá, supondo que não seja brincadeira, apenas supondo, o que é que vocês realmente estão querendo aqui? — Foi a vez de Mariana falar, cruzando os braços.

— Viemos convidá-las para serem nossos pares no baile. — Phellipe disse sem deixar de encarar Tamires.

— Eu topo. — Evellyn deu de ombros. — O que foi? O que vamos perder? Mais decepcionada com esse aqui eu não posso ficar, ou posso? — Os olhares dos demais se voltaram para a garota mesmo quando ela encarou Wallace com certa irritação disfarçada de desdém.

— Você esqueceu que eles vivem grudados com.. elas? — Tamires parou para repensar bem o que dizia antes que pudesse piorar a situação. Todas as meninas sabiam bem a o que se referia a amiga.

— É verdade.. — Mariana encolheu os ombros.

— Mas estamos convidando vocês, não elas. Se não seria bem provável que não estaríamos aqui, não acham? É a mais pura verdade. Acreditem em nós, ao menos dessa vez. Fernanda, lembra do que eu falei.. — O olhar de súplica era notável, Marcelo não desviou o olhar do dela.

— Bom, eu já falei, eu topo. — Evellyn tomou mais uma vez a iniciativa. — Embora possa ser uma grande burrada fazer isso, eu topo.

Wallace sorria, era o único ali até então. Todos os outros tinham os semblantes confusos e inseguros, o que não era uma expressão muito presente no rosto de nenhum. Não fazia muita diferença para nenhuma das garotas, pareciam pensar no que fazer.

— Tá.. Eu vou. — Tamires afundou no sofá ainda mais. Fernanda a olhou, incrédula.

— Fernanda.. por favor. — Pediu Marcelo.

— Mas eu.. Não.. Eu não posso! — A garota debatia mentalmente, sabia bem que parte de si queria, sim, aceitar, mas ainda estava furiosa com os últimos acontecimentos e tudo que conseguia pensar era no quanto queria ver Marcelo naquela situação, suplicando. Era uma cena que certamente a manteria sorrindo por dias, se ele a fizesse com mais alguma frequência.

— Fernanda..

— Tá bom, tá bom, eu vou! — Levou as mãos rapidamente ao rosto, como se dissesse o quanto se arrependeria por aquilo apenas com aquele gesto.

Todos haviam recebido uma resposta positiva, e estranhamente, Mariana só notou um Caio ajoelhado diante de si pouco depois de rir nervosamente com a sensação de alívio ao ver a alegria das amigas.

— Caio?

— Sim? — O garoto a encarava, mas era evidente que a pessoa mais confusa era ela. — Você aceita ir comigo?

Tão inesperado quanto os demais, o pedido de Caio fez Mariana tremer, sem ter a certeza de que aquilo estava acontecendo. Não precisou fazer e nem falar absolutamente nada; Lucas se colocou entre os dois, puxando a caçula pela cintura de maneira possessiva e tão forte que Mariana poderia ter arrepiado com seu toque se não fosse uma situação tão séria quando imaginaria.

— Ela vai comigo. — Disse Lucas, antes que Caio pudesse rebater. — Não vai, Mari?

A bola havia passado para ela novamente, que engoliu em seco e passou a olhar de um para outro. Lucas pareceu nervoso com aquela situação, passando os dedos distraidamente por entre os fios loiros lisos, Caio tinha o cabelo num tom mais claro, com os olhos azuis diferindo-o totalmente quando se tratava dos cor de mel de Lucas. Mariana balançou a cabeça, ignorando quaisquer outros pensamentos. Acreditava que não faria mal ir com Caio ao baile, isso se não estivesse ficando com Lucas e este não estivesse se mostrando tão bom companheiro nos últimos tempos.

— Desculpa, Caio, mas eu já vou com o Lucas. — Mariana desceu o olhar, desculpando-se.

— Tudo bem. — Murmurou Caio, levantando-se, obviamente envergonhado por ter sido o único a ter o pedido rejeitado.

Todos se entreolharam enquanto os garotos do 1528 levantavam, quase todos sorridentes e esperançosos, embora a razão para tal não fosse tão evidente como queriam as garotas que fossem. Lucas manteve a postura, ainda segurando a morena caçula pela cintura até que só restassem ali ele e as garotas.