A Domadora - O Fragmento da Profecia escrita por Maria Beatriz


Capítulo 2
Capítulo 1 - Lacuna de Sorte. Moon




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Apenas um zunido irritante tomava conta de meus ouvidos, recebendo totalmente minha atenção e deixando-me praticamente surda com o que havia ao redor, estava distraída demais olhando aquele local. Era como se, eu estivesse ali, e, ao mesmo tempo, em outro lugar. Estávamos em Moon, à cidade que fora destruída há treze anos e que, era onde Aghata morava antes. Embora, ela pedira para que eu buscasse algo que estava na sua antiga casa. E de fato, eu não estava sozinha, mas no momento, minha mente parecia longínqua.

Estava em uma rua extensa da cidade e ao final dela, havia o que deveria ser um antigo templo. Com as paredes altas e o teto arredondado, com pilares e vigas já acinzentadas e acabadas devido o tempo, assim como toda cidade, eram apenas ruínas cinzentas. Ainda continuava com aquele maldito zunido em meu ouvido, sendo assim, instintivamente sacudi minha cabeça, em um movimento nada eficaz que servira apenas para me deixar tonta.

–Ei! Sora! – Finalmente, aquelas palavras me tiraram do transe e, ajudaram a dar um fim naquele zunido.

Olhei para frente, encarando o fim da rua, pude ver Denzel parado em frente à porta do templo. Ele acenava pedindo para que eu fosse até ele. Não, Denzel não morrera, e aquilo me fazia não sentir tanta com culpa, e estava grata por Aghata ter feito o que fez. Embora, mesmo não tivesse acontecido nada tão demasiado “radical”, Denzel ainda mantinha os olhos iguais aos de um dragão. A íris castanha fora substituída pelas douradas com pupilar em um risco fino na vertical, assim como o maldito animal que quase destruíra Temesia há um ano.

Você ainda não se acostumou, não é? – Arcano finalmente falara comigo, enquanto eu calmamente começava a caminhar até o templo.

Com os olhos de Denzel? Talvez, mas ainda lembra-me de todo aquele acontecido.

–O que foi Denzel? – Falei séria.

Parei de caminhar em frente á ele. De fato, Denzel não mudara tanto em um ano, nem mesmo eu mudara. Ele vestia uma camisa de linho branca e com mangas compridas, sob um colete de cor cinza com botões dourados. Seus cabelos continuavam com o mesmo corte, um pouso bagunçado com fios caindo em seu rosto, usava calças pretas e sapatos marrons. E sim, o que mais mudara nele foram os olhos – no mais, era o mesmo Denzel de antes -, que agora tinham aquele tom dourado, iguais aos de um dragão e que, não sei se ainda havia me acostumado por completo com aquilo.

–Apenas me siga.

Maneei minha cabeça positivamente e fiz o que ele pedira. Sendo assim, adentramos o templo abandonado. Contudo, tive a estranha sensação de que estava sendo observada e instintivamente olhei para trás, mas a rua continuava erma. Maneei minha cabeça negativamente, devo estar enlouquecendo. Deve ser apenas impressão minha.

–O que ouve? – Perguntou-me Denzel, enquanto caminhava dentro do templo abandonado.

E sim, um fato que eu teria de aturar era que, nunca ouve o caso de alguém ter o coração de um dragão, ou seja, Denzel deveria ter sido o primeiro que fora anunciado com sucesso. E, sendo assim, ninguém poderiam dizer quais seriam as consequências, o que levou a Arcádio tomar uma decisão que, mesmo não me atrapalhasse tanto, eu não estava acostumada: eu tinha de tomar conta de Denzel. Como se ele fosse um bebê - até parece -, mas acho que era uma espécie de castigo por ter feito o que fiz. Está bem, ele estava sempre comigo em todo o tipo de missão que a fortaleza me mandara fazer nesse ultimo ano, embora, ainda sentia um pouco de saudades da época em que eu poderia fazer tudo sozinha. Ao menos, tudo que fizemos para a fortaleza, não fora deixado em vão e ainda recebíamos uma quantia relativamente boa para cada tarefa cumprida. Denzel ajudava-me agora, afinal.

–Não ouve nada. – Falei após alguns instantes de silencia, finalmente acordando-me de meus devaneios e cálculos sobre o que acontecera.

E só então fui me tocar do que havia ao meu redor.

Apesar de o templo estar abandonado e já com marcas do tempo, era um lugar que transmitia uma estranha paz. Talvez apenas para mim, mas era inevitável. As paredes tinham uma pigmentação que, aparentemente, um dia aquele templo já fora pintado em um tom de azul. Havia alguns pilares espalhados e alinhados em seus devidos lugares, mais a nossa frente, havia um altar no qual, a parede atrás continha alguns desenhos indecifráveis, a meu ver. O teto era bem alto, o lugar em si era enorme.

–É estranha a paz que esse lugar transmite. – Denzel falou também analisando o que havia ao redor.

–É... – Falei ainda meio em transe.

–Esta vendo aquele desenho, na parede atrás do altar? – Ele apontou para os desenhos que eu ainda não decifrara o que era.

–Sim, o que têm eles?

Antes de responder, ele seguiu caminhando em direção ao altar e fiz o mesmo que ele, seguindo-o. Subimos alguns degraus que havia no mesmo, e logo em seguida paramos um do lado do outro, ainda vislumbrando aqueles detalhes já desgastados.

–Nessa cidade, eles eram seguidores da deusa Alvorada.

Arqueei uma sobrancelha, não que eu me importasse muito com historias e lendas antigas da Terra, mas a palavra Alvorada não me era estranha.

–Já ouvi falar dessa tal “Alvorada”... – Comentei.

–Pois então, eu li uma vez sobre a história dos três deuses que criaram os três mundos. Alvorada era a deusa que regia a Terra, Névoa era o deus que regia as Trevas e Candido a Luz. – Ele fez uma pausa, e isso, me fez pensar que eu realmente não me lembrava daquela história. – Mas hoje em dia isso já nem é mais tão lembrado, as pessoas já esqueceram. – Denzel continuou a fitar os desenhos da parede.

–Você lia bastante antes, não é? – Falei e instintivamente, olhei para Denzel, vendo-o fitar-me com aqueles olhos dourados.

E então, novamente voltei a olhar para a parede a nossa frente e pude ter a sensação de que ele fizera o mesmo. Não conseguia encara-lo por muito tempo.

–Tem razão, mas acho que já devo ter dito alguma coisa sobre isso, a você.

Forcei meus olhos e tentei decifrar os desenhos, não era possível ter muita certeza, mas aparentava ser de fato a imagem de uma mulher. Seus cabelos deveriam ser de cor preta, mas não pude ter certeza. Seus olhos, talvez lilases, mas poderiam ter sido de outra cor em outro tempo, já que devido os anos abandonados, a cor verdadeira poderia ter desbotado. Aparentemente, sua pele já deveria ter sido em tom de porcelana, mas estava manchada e com um tom cinzento e a maior parte com tinta descascada. Aparentemente, deveria estar vestindo um vestido longo de cor azul, que provavelmente, misturava-se com a cor das paredes. E por algum motivo, aquilo me fez querer imaginar como era o local antes de ter acontecido o que aconteceu, como eram os pilares, as vigas, as cores, os detalhes as pessoas, a vida... E havia me pegado imaginando aquilo por um momento, como era tudo antes da cidade não ter praticamente todos seus habitantes mortos de maneira cruel, e ainda por cima, era culpa de Argalon.

Mas Argalon não irá trazer mais problemas.

Espero que sim, Arcano.

–Acho que deveríamos procurar a casa de Aghata. – Falei, já virando de costas e começando a descer os degraus, enquanto ajeitava minha inseparável capa branca. Aliás, eu tivera de trocar por outra, já que antiga, ficara um horror. E esta, tinha as bordas douradas, enquanto a outra não e sim, continuava usando o brasão de Argos preso nela, embora, nesta ficava ao lado esquerdo de meu peito.

E então, antes que eu de fato alcançasse os últimos degraus, senti Denzel segurar meu pulso, impedindo-me de continuar.

–Espere-me.

Ele soltou-me e fiz o que ele pedira, sendo assim, logo descemos o fim dos degraus. Atravessamos o templo e seguimos caminhando em direção à saída do local. Embora, ainda tinha a sensação de que alguém estava nos observando, talvez estivesse errada, mas não conseguia parar de pensar nisso.

–Tem alguma ideia de onde fica a casa de Aghata? – Denzel perguntou-me, enquanto saíamos do templo.

–Se este é o templo que ela me falou, a casa dela deve ser uma dessas. – Apontei para as casas da esquina da direita e esquerda. – Poderíamos nos dividir, eu procuro em uma e você em outra.

Ele assentiu.

–Está bem. – Denzel disse já se direcionando para a esquerda.

Então, segui caminhando para a direita, já que fora à casa que me sobrara. Suspirei. O que Aghata queria que eu pegasse, afinal? Bem, ela comentara que estava guardado em um baú trancado, mas não me dera nenhuma chave, então, provavelmente ela mesma quer abrir. Embora, isso pouco importa agora.

Mas ainda gostaria de saber o que poderia haver dentro do tal baú que Aghata mencionou.

A curiosidade matou o gato, Sora.

Não respondi e continuei caminhando, aproximei-me da casa de madeira cautelosamente, afinal, Moon era uma cidade que não era mais habitada há anos, e eu não tivera uma boa experiência na ultima cidade abandonada que colocara os pés. Ainda em silencio e com uma ligeira calma e falta de pressa, dei uma analisada ao redor da casa que Aghata indicara, ou não, pois poderia ser a casa errada. A casa tinha a pigmentação escura, típica de madeira velha que começara a se deteriorar com o tempo. Havia varias frestas nas paredes, que deixava a mostra uma ligeira bagunça dentro da casa, assim como, apenas de aproximar-me, já pôde notar que aquele local deveria estar cheio de poeira.

Empurrei a porta também feita de madeira, seu trinque estava aberto e, provavelmente, estragado. A porta rangeu, e novamente tive a mesma sensação de estar sendo observada.

–Talvez a alma daqueles que habitavam a cidade ainda vagam por aqui... – Comentei em voz baixa em um tom de gozação, à Arcano.

E no exato momento em que achei que receberia uma resposta, ouvi o barulho de algo de vidro caindo sobre alguma coisa de madeira e logo em seguida chocando-se no chão e quebrando-se, no mesmo momento em que a porta bateu com força, fechando-se e deixando o local relativamente escuro. E sim, aquilo me assustara, apenas não gritei, mas senti que meu coração quase saíra pela boca, assim como minha respiração ficara acelerada. Parecia que iria ter um ataque cardíaco.

Aprenda a maneirar as suas palavras, Sora. Não se brinca com esse tipo de coisa. - Arcano repreendeu-me com um leve tom de ironia, mas que me pareceu sério ao mesmo tempo.

Resolvi que o melhor seria ter cautela, afinal, não queria que algo a mais caísse ou que uma porta de sabe-se lá onde resolvesse bater. Respirei fundo tentando fazer com que minha respiração voltasse ao normal. E, só então observei o local.

Antes deveria ter sido uma cozinha, na verdade, talvez uma casa que se dividia em apenas uma peça, sala, quarto e cozinha junto. Havia alguns móveis chamuscados, devido o que ocorrera há bastante tempo. Havia apenas uma janela, que estava aberta, mas que não deixava tanta claridade entrar, do mesmo modo, que ainda estava mostra alguns quilos de poeira que deveria ter se acumulado. Acabei tossindo e logo em seguida me recompus. Rolei meus olhos ao redor, caído perto do que deveria ter a mesa, havia um vaso quebrado, era feito de vidro e alguns cacos estavam espalhados.

–O vaso caiu da prateleira, depois sobre a mesa, sendo assim, rolou e chocou-se no chão. – Constatei o que vira a Arcano. – E uma corrente de ar, que deveria ter entrado pela janela, fez com que a porta batesse. Então, tecnicamente, acho que foi apenas um fenômeno natural. – Falei calmamente, enquanto dava mais uma analisada no local.

Então, o que derrubou o vaso da prateleira?

Olhei para parede na qual a mesma estava encostada, haviam exatamente três prateleiras pregadas na mesma, sendo que a primeira, estava quase que intacta e as outras duas, estavam penduradas. E aquilo me fez ponderar antes de responder.

–Provavelmente, algum rato poderia ter passado por ali e derrubado. Até mesmo um pássaro que poderia estar morando no forro.

Se você diz...

Suspirei e comecei a remexer nas coisas, perto da janela havia uma cama velha, acho que deveria ser tão velha, que se apenas uma pena caísse sobre, já serviria para desabar devido a grande quantidade de cupins que deveria ter. Talvez isso fosse exagero, mas nunca se sabe. Agachei-me e dei uma rápida olhada no que havia abaixo da cama.

Apenas poeira.

E nenhum baú.

Tateei sobre o chão, sujando minhas luvas brancas a procura de, talvez, algum tipo de “esconderijo”, afinal, havia pessoas que guardavam coisas dentro do assoalho de madeira. Mas, aparentemente, não havia nada naquela casa.

Levantei e comecei a analisar um armário com as portas já quase caindo, este, por sua vez, estava encostado em uma parede em frente à mesa. Novamente analisei-o antes de abrir, era um móvel relativamente grande, e até que não estava em um estado tão deplorável quando o resto das coisas. Hesitei antes de abrir a porta de madeira. Afinal, o que poderia haver ali dentro? Não poderia responder, mas tinha certo receio.

E então o fiz.

Mas o que aconteceu ao abri-lo, não fora o que esperara...

Instintivamente, coloquei meus braços em frente ao meu rosto, em uma tentativa de me proteger da nuvem de morcegos que saíra de dentro do armário. Os bichos voaram com certa raiva por tê-los incomodado, empurrando-me para trás, quase pisei nos cacos de vidro e choquei-me contra a mesa, fazendo com que ela batesse com força na parede e derrubasse o que restava das prateleiras.

Xinguei-me mentalmente e bufei, grande merda que eu acabara de fazer... Abaixei meus braços e rolei meus olhos ao redor, ainda podendo ver um dos morcegos saírem de dentro da casa, voando pela janela e fazendo um barulho fino e irritante.

–Maldição...! – Xinguei entre dentes.

Ajeitei minhas roupas amarrotadas e minha nova capa, já me preparando para sair da casa. Afinal, com toda a certeza, não poderia ser a casa de Aghata. Maldita casa azarada. Talvez Denzel tenha tido um pouco mais de sorte do que eu.

Ainda com passos pesados, sai pisando com força em direção à porta, sem me importar caso o soalho resolvesse cair aos meus pés. Mas também, isso já seria de mais. Ainda com ligeira total falta de calma, abri a porta e saí, finalmente. Mas algo me fez parar.

Era uma lâmina de cor negra.

Alguém havia imobilizando-me com ela, colando sua parte cortante em frente meu pescoço.

E aquilo me fez bufar.

–Mas... Que merda!


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