Anjos na Terra escrita por Jessie Austen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedico essa história à minha amada irmã.
E a todos os anjos na Terra.



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Houve uma vez em que um anjo veio a Terra.

Mas por que um anjo viria para cá? Quais seriam suas razões?

Apesar das inúmeras teorias ninguém chegou numa conclusão sobre o motivo de tão especial visita.

A verdade é que todos que estiveram em sua presença foram presenteados com bondade, inocência e infinita e verdadeira beleza.

Mesmo sem pronunciar sequer uma palavra, ele podia transmitir tudo que há de bom só com um olhar.

Com a aparência que nós humanos consideramos feminina, o anjo tinha estatura média, cabelos castanhos avermelhados (um tom jamais visto até então) e lindos olhos. Seu rosto possuía uma expressão de paz infinita e mesmo sem sorrir suas feições eram de uma criatura muito feliz.

Quem o encontrou foi um jovem surfista, que voltando da praia o viu observando o mar em um final de tarde.

Obviamente sua beleza chamou atenção, mas nada podia se comparar com a perfeição de suas enormes asas.

Ao se aproximar dele, o anjo o olhou de forma simpática, de certa forma convidando-o para compartilhar aquele momento com ele.

Se anjos falassem, provavelmente aquele estaria elogiando tamanha beleza que muitos pareciam ignorar, pensou o jovem.

Sentados ao seu lado, ele logo pode sentir muita paz e decidiu que trataria o belo ser como sua anja.

“Ela” estava imensamente feliz. Sua alegria era tão grande que fez com que seu companheiro humano se sentisse da mesma forma.

Este ainda tentou conversar, mas logo concluiu que não era possível se expressar com palavras. E ficou impressionado ao perceber que ao lado dela tudo parecia mais verdadeiro, simples e natural.

Ele a convidou para a sua casa e a apresentou para toda a sua família e amigos. Ela parecia muito feliz de estar ali e todos foram agraciados com sua presença inesquecível e o surfista percebeu que era muito sortudo por ter encontrado uma criatura tão maravilhosa em um dia qualquer, em um lugar comum.

O tempo se passou e a vinda do anjo logo virou notícia na cidade. Todos queriam saber sobre, vê-lo. Perguntas como “de onde veio” e “por quê” eram bem comuns.

Ele ficou contente com tamanha repercussão e o resultado da presença dela continuava a mesma, que sempre era bondosa e demonstrava-se honrada com toda a atenção.

Canais de TV, jornais de grande circulação e revistas importantes procuravam agora por ela e ele tentava atender a todos conforme a sua lotada agenda.

Com toda sua beleza incomum, não é necessário dizer que muitos convites foram feitos para que ela fosse garota propaganda de tal marca ou a nova face de tal produto e muito dinheiro foi oferecido por isso.

Ele então começou a se perder quando viu o quanto tinha ganhado e o mais tentador era que o motivo de todo o sucesso não ligava para lucro e o tratava da mesma forma de sempre, com paz, alegria e bondade.

O jovem não conseguia ver o quanto estava se enganando. Não enxergava que só porque algo é possível não significa que seja certo. Infelizmente ele só perceberia mais tarde.

Em todas as manhãs, o anjo visitava um pequeno parque que havia perto da casa onde viviam. Apesar de suas enormes asas, ele agia da forma mais humana possível e ia e voltava a pé, sempre parando atentamente quando alguém o reconhecia, ou uma criança o chamava.

Um dia, porém ele não voltou.

O jovem que não surfava mais devido a falta de tempo começou a ficar preocupado.

Após uma semana já havia procurado por toda a parte, avisado a polícia, colado cartazes e colocado um anúncio, mas sem sucesso algum.

Um mês inteiro se passou até que a polícia finalmente trouxe a notícia de que o anjo havia sido levado para um laboratório na cidade vizinha e ele então, furioso, partiu imediatamente para o local.

Ao chegar, pediu para que o levassem imediatamente a ela, mas o avisaram que isso só seria possível após falar com o diretor.

Tentando se acalmar, ele seguiu então acompanhado por dois seguranças até uma sala com aparência imponente, rica e muito limpa.

Assim que entrou avistou um homem sentado à sua mesa, este possuía aparência descontraída e vestia roupas caras.

Sentindo-se novamente impaciente, o jovem se sentou e começou a questionar o motivo de tudo aquilo. Nada foi respondido e quando o homem mais velho teve uma oportunidade, disse:

”- E será mesmo que o que estamos fazendo por aqui é muito diferente do que você fazia antes? Tudo bem, meus métodos são um tanto quanto diferentes, mas temos que concordar que o meus motivos são mais grandiosos! Você sabia que nós descobrimos que as asas daquele anjo é feito de um material único? O cabelo é simplesmente uma preciosidade…mas por quê essa cara? Anjos não sentem dor, não possuem sentimentos ou sequer raciocínio lógico. Na verdade eles nem ao menos choram, falam ou dão risada não é mesmo? Não são como nós, humanos! Alguma utilidade eles devem ter no final das contas…e ah, uma boa notícia: descobrimos a pouco uma maneira de extrair lágrimas dele. É bem trabalhoso, não negarei. Mas a nossa equipe médica confirmou através de estudos científicos que elas possuem poder de cura para diversos tipos de vírus e bactérias. Já pensou? Isso seria uma revolução!”

O tal homem continuou falando sobre lucros, investimentos, divisão de valores, fama, mas o jovem simplesmente não conseguia mais pensar em nada.

Como tudo havia chegado aquele ponto? Ele nunca teria coragem de machucar um anjo, mas tinha que admitir que possuía uma parcela de culpa por aquilo tudo estar acontecendo.

Quando finalmente conseguiu falar, pediu que apenas o deixassem vê-la.

Após descer alguns andares de elevador, ele caminhou por um corredor estreito e escuro repleto de salas pequenas com grades espessas.

No final deste, o segurança que o acompanhava abriu o cadeado de uma dessas salas, que agora ele percebia ser prisões, A empresa bem sucedida havia se transformado aos seus olhos.

Então ele a viu. Lá estava ela. Deitada no chão, de forma encolhida e de costas para a grade. O lugar era de fato muito pequeno, mal dava para duas pessoas ficarem ali. Neste momento ele percebeu também que os braços e pernas delas estavam acorrentados.

Pensou em questionar ao segurança o motivo de tudo aquilo, mas este já estava longe e apenas respondeu que era por causa das normas.

Quando ficaram apenas os dois no local, o jovem se aproximou encostando de leve suas mãos no ombro dela, que estava com a respiração acelerada.

Não conseguindo suportar, ele se afastou e se sentou no chão, do lado de fora, no corredor.

Aquele lugar era horrível.

Como podiam ser tão ruins, cruéis? Naquela cela ela não tinha espaço suficiente para se mexer direito, que dirá abrir suas lindas asas.

Além disso, o que de ruim um anjo seria capaz de fazer? Por que ela era uma prisioneira se jamais seria capaz de fazer algo ruim?

O jovem se aproximou novamente e devagar conseguiu tirar as correntes que prendiam os braços dela. Estas eram muito pesadas e por isso, ela não poderia aguentar por tanto em pé. Tentou tirar também as correntes que imobilizavam as pernas, mas era impossível.

Ao perceber isso um desespero o tomou e ele pode vê-la de perto: mesmo com as asas amarradas era possível perceber que estavam muito menores do que eram. Uma parte foi arrancada e a outra tinha manchas grandes. Sua pele tinha marcas e em seus braços agora havia sequências de números que provavelmente equivaliam aos códigos de testes do qual ela havia sido submetida. Não possuía mais cabelos, sua cabeça estava raspada e seus olhos choravam de desespero apesar de não haver nenhuma lágrima.

Se ajoelhando então ele a abraçou muito forte começou a chorar e pedir perdão por diversas vezes seguidas. E mesmo com medo, ela retribuiu de forma carinhosa.

Quando seus olhares finalmente se encontraram, ela parecia fazer apenas uma pergunta: “Por quê?”. Foi nesse instante que ele percebeu que sentir muito não era o bastante e que aquilo tinha que acabar.

O fim desta história ganhou muitas versões. Uns dizem que o anjo foi libertado por ele e fugiu outros dizem que até hoje é possível vê-lo na praia. A verdade é que nunca mais o jovem apareceu para contar o que aconteceu.

A versão que eu mais gosto é aquela que conta que os dois conseguiram sair de lá, mas que o jovem ficou muito triste com tudo que havia acontecido, e não conseguia se perdoar, até que um dia então recebeu uma carta de Deus.

Dele mesmo, o Criador. Nela dizia algo mais ou menos assim:

“Meu filho,

Obrigado por ter ajudado meu outro filho. Ao libertá-lo você fez com que o Meu amor fosse adiante, fosse lembrado.

Quando ele foi para a Terra, conhecia os riscos que corria, mas mesmo assim quis ir.

Ele ama muito viver com vocês, apesar de todas suas limitações.

Você foi bom, não sofra mais com que aconteceu. Ele ficará bem, pois Eu cuidarei disso. E de você também.

Eu os criei e Eu os amo da mesma forma. Todos são iguais para mim e Eu espero pelo dia em que todos conseguirão perceber isso.

Não há melhor, ou superior, todos são diferentes e extraordinariamente únicos e importantes. Ao procurar pela grandiosidade vocês perdem a simplicidade dos pequenos e belos detalhes. Desta forma jamais conseguirão perceber que o que há de mais maravilhoso, vocês já possuem: a Vida.

A partir de hoje cuide dele e cuide para que esta história nunca morra.

Um enorme abraço do Seu pai, que te ama.”

E então, a partir disso, o jovem finalmente seguiu em paz, sempre na companhia do seu anjo.


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Notas finais do capítulo

Essa história é a minha primeira postada na Categoria Original e eu não poderia ter escolhido outra.
Eu a escrevi a pouco mais de um ano, quando me sentia, assim como agora muito sensibilizada.
O motivo de eu estar assim hoje deve-se à repercussão do caso Royal e seus testes utilizando cachorros como cobaias.
Sim, eu sei que esse é um assunto polêmico. E sim, eu também sei que ele é muito mais amplo do que podemos imaginar.
Eu não quero polemizar ou "converter" ninguém a nada.
"Anjos na Terra" é apenas a minha opinião, de maneira leve, superficial e até diria boba, sobre tudo isso.
Fala como eu me sinto quando o assunto é os nossos irmãos caçulas, os animais. ♥