O Torneio escrita por BobV


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos 19 e 20 eram apenas um. Para não ficar um capítulo gigante, eu os dividi.

Boa leitura :D



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"Estúpida, Estúpida, Estúpida..."

Akane se lamentava repetindo a mesma palavra diversas vezes em sua cabeça.

"Como eu pude ser tão burra ? era tão óbvio. O lenço, a forma como ele sempre brigava com o Ranma, os nomes que o Ranma usava para xingar o Ryoga... tudo tão óbvio e eu não percebi nada. Estúpida, estúpida..."

'A ignorância é uma dádiva' é como eles dizem. Se fosse assim, o segredo do Ryoga ainda SERIA um segredo, o Ranma não teria ido embora e todos estariam felizes.

"Ranma... Como... ?"

Akane ainda tentava entender os motivos que levaram seu ex-noivo a guardar esse segredo. Ela não engoliu de forma alguma a história de honra como artista marcial.

"Deve ter alguma coisa. Por que ele faria algo assim ? será que ele não se importa nem um pouco comigo ? depois de tudo o que já passamos juntos, por que esconder algo tão importante assim ? Idiota! Ranma IDIOTA ! "

"É claro que nós nunca fomos um exemplo de cordialidade um com outro, mas acredito que sempre fomos amigos ou algo próximo disso. Em diversas oportunidades sempre ajudamos um ao outro."

"E o Ryoga... eu ainda não consigo acreditar. Ele disse que era meu amigo, sempre se mostrou muito educado em contraste total com o Ranma. Ele teve coragem até para dizer que me amava, mas não conseguiu me contar o segredo dele, por quê ? bando de idiotas pervertidos. É isso que ele são."

Quando o segredo foi revelado, Akane passou a noite inteira aos prantos. No dia seguinte, ela quase não foi para o colégio por estar se sentindo extremamente mal. Além do desgaste mental, seu corpo parecia pesar uma tonelada. Tudo o que ela queria era passar o dia inteiro deitada na cama tentando esquecer tudo o que aconteceu.

Durante o intervalo, quando Ukyo e Shampoo apareceram para oferecer almoço para o seu ex-noivo, pela primeira vez, ela não sentiu nem raiva e nem ciúmes, apenas uma tristeza imensa que ela não sabia explicar o motivo.

Ranma tentou vir falar com ela mais de uma vez durante todo o dia. Ela simplesmente o ignorou, deixando o garoto extremamente frustrado.

Akane percebeu que não tinha ânimo algum para treinar assim que chegou da colégio. Ela decidiu ficar em seu quarto até a hora do jantar, que foi o mais tranquilo dos últimos meses. Ninguém, nem mesmo seu pai, disse um palavra sobre os acontecimentos da noite anterior.

Hoje, quando Ranma tentou vir falar com ela novamente, Ukyo, Shampoo e até mesmo Kodachi apareceram para 'atacá-lo'. Antes, porém, as três lançaram olhares sórdidos em direção a garota de cabelos curtos.

Ranma sumiu e só apareceu na horário de saída. Sem qualquer vontade de encará-lo naquele momento, Akane fez o que ela jamais havia feito: ela usou um gato que passava na rua para espantá–lo. Ela viu a expressão de terror do garoto, de alguém que havia acabado de ser apunhalado pelas costas por um amigo. Enquanto ele fugia do gato, suas noivas apareceram e correram atrás dele.

"Com certeza elas já tomaram conhecimento sobre o que aconteceu. Provavelmente, Nabiki já as tenha vendido essa informação. Nabiki..."

Akane tentava se concentrar em seu dever de casa quando bateram na porta de seu quarto. Era sua irmã Nabiki.

O lápis na mão da garota de cabelos azuis se partiu em dois, resultado da força com que ela fechou as mãos. Nos dois dias que se passaram, Akane ignorou Nabiki assim como ela fez com Ranma. Apesar dele e Ryoga serem os grandes responsáveis, Nabiki também teve sua parcela de culpa. Aliás, ela já vem fazendo coisas que a irmã mais nova preferiu ignorar. Até agora.

— O que você quer, Nabiki ? — Ela perguntou com a voz amargurada. — espere, eu já sei, você quer mais fotos, não é ? que tal eu posar de roupas íntimas para algumas fotos, o quê acha ?

— Eu não vim aqui para isso. — Nabiki tentou se defender.

— Não ? que tal umas assim ? — Akane se levantou, ficou de frente para sua irmã e começou a desabotoar sua blusa. — quanto será que vale uma foto de topless, hein ?

— Pare com isso, Akane.

— Por quê ? não é isso que você quer ? dinheiro não é tudo para você ?

— Isso não é verdade. Ouça, eu vim aqui para pedir desculpas.

— Então você já pode ir embora.

— Eu estou falando sério, Akane. Eu fiz besteira quando eu vendi aquelas fotos para o Ryoga. Eu não sabia que as coisas iam tomar toda essa proporção.

Você está pedindo desculpas apenas por essas fotos ?

— Não. Eu quero pedir desculpas por todas as fotos que eu tirei. Eu nunca deveria ter tirado nenhuma em primeiro lugar. Nem as ter vendido para o Kuno ou para qualquer outro garoto. Eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu. Eu nunca tive intenção alguma de prejudicar você.

Akane não ficou muito impressionada com as palavras da irmã e deixou que ela continuasse.

— Eu não tinha direito nenhuma de fazer o que fiz, entretanto, quero que você entenda que eu nunca fiz isso por motivos egoístas. Você sabe muito bem onde o dinheiro das vendas era aplicado. De qualquer, forma isso não exime a minha culpa.

Dessa vez Akane suavizou a sua expressão. Ela sabia que Nabiki era a responsável pelas finanças da casa e nunca deixou que faltasse nada dentro dela, nem para as irmãs. Ela sempre arrumou um jeito de arranjar dinheiro mesmo sem trabalhar. Se não fosse por ela, eles com certeza estariam atolados em dívidas.

Foi um erro muito grave que eu cometi, principalmente por você ser alguém da minha família. Eu costumava vender fotos para todos aqueles rapazes da horda de pervertidos. Acho que de alguma forma isso os motivava ainda mais a correr atrás de você. Eu nunca pensei no que isso estava te causando e veja o que aconteceu ? você passou a ter um má opinião sobre os garotos, não que isso seja totalmente mentira. Eu parei de vender as fotos assim que o Ranma acabou com os ataques matinais. Nesse caso, o único que ainda comprava as fotos era o Kuno.

Nabiki fez uma pequena pausa para recuperar o folêgo e rearranjar seus pensamentos.

— Eu vim aqui também para te prometer que eu não vou mais vender foto alguma sua para nenhum garoto. Eu realmente sinto muito mesmo, Akane. Eu sinto muito pelos problemas que eu te causei. Eu espero que você me perdoe.

Akane parou para pensar por alguns minutos. A quantidade de coisa dita pela sua irmã foi enorme. Sua palavras pareciam sinceras, entretanto, essa era uma de suas especialidades. Ela era uma mestra em manipular as pessoas ao seu redor. Nabiki poderia muito bem estar fazendo isso para que ela abaixasse a guarda e voltasse secretamente a vender mais fotos.

— Eu quero acreditar em você, Nabiki, mas eu não consigo. Eu não sei se você está dizendo a verdade ou se esse é mais um de seus planos para ganhar dinheiro.

— Eu entendo perfeitamente, irmã. Mas eu lhe asseguro que é tudo verdade. Você pode perguntar a Kasumi.

— O que a Kasumi tem a ver com isso ?

— Antes de vir aqui, ela apareceu no meu quarto e nós tivemos uma breve conversa. Ela me disse algumas coisas, acho que podemos dizer que ela abriu, pelo menos um pouco, meus olhos sobre as minhas atividades. Por isso eu estou aqui de pedindo desculpas. Se você tiver dúvidas pergunte a ela.

— Você vai mesmo parar de vender fotos minhas ?

— Sim. Eu não estou nem um pouco afim de ter outra conversa com a Kasumi. Pode não parecer, mas ela sabe jogar álcool em uma ferida aberta.

Akane exalou e relaxou os ombros. Ela não sabia o que sua irmã Kasumi havia dito para Nabiki, porém, para fazê–la vir aqui pedir desculpas, era melhor nem saber.

Por mais que ela odiasse as práticas de sua irmã, Nabiki era parte de sua família. Junto com Kasumi, as três passaram por muitas coisas juntas desde o falecimento de sua mãe, e se apoiaram umas nas outras para superar as dificuldades. Apesar das enormes diferenças entre elas três, havia um forte laço que as unia.

— Acho que eu posso de perdoar, Nabiki. Não agora. Eu ainda estou muito magoada com o que aconteceu.

— Eu entendo e quero que você saiba que eu estou disposta a ter a ajudar em qualquer coisa, basta me pedir. Eu não irei cobrar nada, eu prometo. — Ela sorriu.

— Você não muda. Obrigada então. Eu acho. Eu só queria entender... esquece.

— O quê ? o que você queria entender, Akane ?

— É o Ranma e o Ryoga. Eu não entendo por que eles esconderam algo assim de mim.

— O Ryoga eu não posso dizer muito. Sobre o motivo do Ranma, eu tenho um palpite. Ele disse algo sobre a honra dele, correto ? bem, acompanhe o meu raciocínio: Ranma passou dez anos na estrada com seu pai, que convenhamos, não é um exemplo de bom comportamento para ninguém. Ele é um artista marcial competente, devemos admitir, e ele também fez um ótimo trabalho com o Ranma. As únicas pessoas que o superam são a Cologne e o Happossai. A parte interessante, é que o Genma, praticamente não tem honra alguma. Veja o que ele já fez com o próprio filho ? ele chegou ao ponto de o trocar o próprio filho por comida e o engajou em mais de um noivado sem o conhecimento do próprio, da para acreditar ?

— Eu ainda não entendi aonde você quer chegar.

— Apesar de tudo isso, Ranma é bem diferente do seu pai. Talvez ele seja um idiota igual a ele, mas é bem diferente em outros aspectos. Ranma da muito valor a sua honra, algo que seu pai não faz. Eu não sei se foi o próprio que Genma que o ensinou isso, mas se foi, ele foi bem esperto ao fazer. Imagine uma pessoa poderosa como o Ranma sem honra ? para ter uma noção, veja como é o mestre Happossai. Ele é uma pessoa totalmente sem escrúpulos, mesquinha e egoísta. Com todas as habilidades que o Ranma tem, imagine o que ele poderia estar fazendo se não tivesse honra alguma. Até mesmo Genma estaria e perigo.

Por um breve instante Akane imaginou um Ranma com uma mistura de Genma e Happossai. A visão foi um pesadelo. Nenhuma mulher estaria a salva de suas garras e nenhum homem estaria vivo diante dele.

— Acho que podemos dizer, talvez de uma maneira um pouco exagerada, que foi seu senso de honra que o 'salvou' de se tornar um crápula como o pai. É como uma trava de segurança. Se não fosse por isso, quem sabe o que poderia ter acontecido conosco quando ele chegou aqui, e teve a oportunidade de escolher uma de nós como noiva ?

— Ainda assim não faz sentido ele ter escondido isso de mim.

— É verdade. Tudo o que eu posso imaginar é que ele tenha ficado em conflito, já que a honra, nessa minha teoria, é algo muito importante para ele. E quebra-la desse jeito seria algo muito sério, afinal, isso foi-lhe ensinado como errado. Seu pai faria algo assim, mas eu não acho que o Ranma tenha desejo de se tornar alguém igual a ele. É claro que julgando o modo como ele foi criado, não podemos esperar muita coisa dele, isso é apenas uma suposição.

— Acho que eu entendi um pouco do que você quer dizer.

— Se você quiser saber a verdade, vai ter que perguntá-lo pessoalmente.

— Eu não sei se estou pronta para fazer isso nesse momento.

— Essa é uma escolha sua, irmã. Eu vou andando agora. Se precisar de algo é só me procurar.

Ao de sair, antes de fechar a porta do quarto, Nabiki se virou e perguntou:

— Ei, Akane, me diga como foi ?

— Foi o quê ?

— Você sabe o quê. O Ryoga é claro. Ele é beija bem ?

— NA-BI–KI... — Como não fazia há dias, Akane começou a deixar sua aura de batalha visível.

— Não me diga que você não acha ele atraente ? aqueles caninos fofinhos, aquele corpo sarado, o jeito tímido e quase inocente dele. Eu tenho certeza que devem ter muitas garotas babando por ele.

Nabiki fechou a porta com pressa e correu para o seu quarto, ouvindo o som de diversos objetos colidindo com a porta de madeira, ameaças e gritos de raiva de sua irmã.

— Céus ! ela não consegue nem aceitar uma brincadeira ? além do mais, o que eu disse é a pura verdade, o Ryoga é bem bonitinho.

Em outra parte de Nerima, dentro de um restaurante de okonomiyaki.

— Ande logo, paspalho e entregue esses pedidos nas mesas, os clientes estão esperando ! — a chefe ordenou.

— Eu já estou indo, não precisa gritar. — Reclamou o empregado.

— Isso é tudo culpa sua ! se você não tivesse quebrado a parede do meu restaurante, você não precisaria estar aqui.

— Isso foi sem querer. Eu pensei que estivesse em casa.

— Que espécie de idiota entra em casa quebrando a porta ? chega de moleza e entregue logo esses pedidos.

— Tudo bem.

Dois dias atrás quando Ryoga foi expulso da casa dos Tendo, ele procurou o caminho de sua própria casa. Com seu senso de direção, tudo o que ele conseguiu foi chegar ao restaurante de Ukyo Kuonji, também conhecido como Ucchan. Por não saber em que local ele estava e por total falta de noção, ele quebrou uma das paredes do restaurante para entrar na casa. Como ele não tinha dinheiro algum para pagar pelo conserto, a chefe okonomiyaki o obrigou a trabalhar de garçom para pagar a dívida.

— Ei, Konatsu. — Ryoga sussurrou para o ninja travesti. — Eu não lembro de a Ukyo ser tão estressada assim, aconteceu algumas coisa para ela mudar desse jeito ?

— Geralmente ele é bem gentil. Algo aconteceu nesses últimos dias e ela ficou desse jeito. Talvez seja a ansiedade, já estamos bem próximos do torneio.

— Entendi. Ou talvez ela esteja, você sabe, naqueles dias.

— Oh !

Konatsu fez que sim com a cabeça, entendendo perfeitamente o que o outro garoto queria dizer.

— Acho que você tem ra... — Konatsu nem terminou a frase quando duas mini espátulas passaram voando próximas ao seu rosto e ao de Ryoga.

— QUE PAPO É ESSES QUE VOCÊS ESTÃO DISCUTINDO AÍ ?!Ukyo os perguntou com fogo nos olhos e uma espátula gigante nas mãos. — vocês querem MORRER ?!

— Não senhora !

Os dois se apressaram em pedir desculpas e voltaram ao trabalho, em silêncio, com medo total de fazer qualquer comentário que pudesse piorar ainda mais o humor volátil da chefe.

Do lado de fora, vendo tudo pela janela, uma jovem fazendeira montada nas costas de um porco gigante praticante de sumô, mastigava a manga de sua camisa sem parar.

— O que esse mulher está fazendo com o MEU Ryoga ? — Akari Unryu se perguntava. — Isso não vai ficar assim, NÃO VAI !


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Notas finais do capítulo

Críticas construtivas serão sempre bem-vindas.
Percebeu algum erro de português, concordância, formatação ou qualquer outro tipo? me avise para corrigi-lo.

Até a próxima.