O Torneio escrita por BobV


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo.

15/06/2014 - Primeira revisão concluída.



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Nodoka Saotome entrou em silêncio no dojo e viu seu filho praticando um kata. Vendo que ele estava concentrado em seu treino, ela decidiu não atrapalha-lo e ficou apenas observando as formas praticadas pelo jovem artista marcial.

Seus movimentos eram rápidos e fluídos. A cada troca de posição seu corpo se movimentava com leveza e fluidez que fazia parecer que ele estava em uma espécie de dança e não em uma arte de combate. Em determinado momento, Ranma começou a desferir golpes contra o ar. Cada soco e chute disparado no espaço vazio, tinham uma força e rigidez que lembraria a qualquer pessoa que estivesse observando que aquilo era uma arte marcial.

A matriarca não pode evitar de olhar com orgulho para seu filho "É um belo homem." ela pensou. "Sua esposa será uma mulher de muita sorte."

Quando Ranma terminou, Nodoka limpou a garganta para chamar a atenção do garoto de rabo de cavalo.

— Mãe ? há quanto tempo você esta aqui ? — Ele perguntou.

— Não muito, querido — Ela respondeu. — Eu tenho um assunto para tratar com você, mas eu não queria atrapalhar seu treinamento.

— Você não ia atrapalhar em nada, mãe. Eu estava apenas alguns exercícios para não perder a forma.— Ele disse sorrindo para sua mãe. De certa parte, ele estava feliz por não ter mais que esconder sua maldição de sua mãe. E ao que parece, ela até aceitou bem o fato de ele ser parcialmente uma garota, contando que ele não sai andando por aí vestido com uma.

— Então, a senhora disse que tem assunto para tratar comigo ?

— Sim querido. Eu e você ... — Com uma expressão bem séria e um tom de voz que é reservado apenas quando uma mãe esta prestes a ensinar alguma lição ao se filho, ela continuou:

— ...precisamos ter uma conversa meu filho. Uma conversa bem séria.

Ranma ficou assustado e nervoso com o tom voz de sua mãe. "Lá vem bomba." ele pensou.

— Eu e a Kasumi estávamos na sala quando a Akane passou por nós. Ela estava chorando. você sabe me dizer o que aconteceu com ela ?

O garoto fez uma careta e desviou o olhar.

— Eu não sei de nada. — Ele disse.

— Ranma, não minta para min. Me diga a verdade.

— Eu não estou mentindo.

— Então por que ela estava chorando ? — Nodoka pressionou.

— Eu já disse mãe, eu não sei. — Ranma ficou frustrado, ele gostaria de não ter que passar por esse tipo de situação com sua mãe.

Nodoka teve dúvidas se seu filho realmente foi o responsável pelas lágrimas de sua noiva, entretanto, ela estava disposta a saber o que aconteceu. Primeiro, ela respirou fundo e depois olhou fixamente para seu filho.

— Vamos começar novamente, querido. Você e Akane estavam aqui no dojo, correto ?

Ranma acenou com a cabeça.

— E o que exatamente aconteceu enquanto vocês dois estavam aqui ?

— Bem, eu estava treinando quando ela veio me pedir para treiná-la.

— Entendi. E o que você disse a ela?

— Que não é claro.

— E por que não ? alguma razão em especial para você não querer ajudar a sua noiva ?

— Ah... é que ... - Ranma pensou por alguns segundos e respondeu.

— Acho que eu não sou a pessoa mais indicada para isso. — Não era bem verdade. Ranma tinha outros motivos para não treiná-la.

— Você passou ou últimos anos na estrada treinando com seu pai. O que te faz pensar que não é capaz de treiná-la ?

Ranma pensou por alguns instantes. Ele precisava falar algo para a sua mãe, precisa falar de alguma maneira correta para que ela não fizesse confusão. Ter a Akane tirando conclusões precipitadas já é o bastante.

— ... Bem... mãe... é que...

— Vamos Ranma. Me diga por que você não é capaz ?

Ranma tentava forma alguma frase que fizesse sentido, mas não estava tendo sucesso. E toda vez que ele olhava para a sua mãe e via seu olhar severo, ele ficava mais nervoso ainda. Depois de uma tempo, ele olhou para a mulher na sua frente e dessistiu. Ele respirou fundo e respondeu:

— É o seguinte mãe, em primeiro lugar, eu não gosto de bater em mulheres; Em segundo lugar... — "Aqui vai " — Bem, artes marciais não são para mulheres.

Nodoka franziu as sobrancelhas imediatamente.

— Seu primeiro motivo é bastante nobre. Não querer bater em uma mulher é uma atitude de uma verdadeiro homem. Entretanto, seu segundo motivo... quem foi que lhe disse que artes marcias não são para mulheres ?

— Er, você, er sabe né ? mãe ?

– Quem. Foi. Que. Lhe. Disse. Isso ? — Os olhos de Nodoka pareciam estar em chamas. Ranma tremeu vendo a cena. Akane com raiva era assustadora. Sua mãe parecia ser pior. Pelo menos ela não tentaria lhe bater. Ou bateria ?

— S-se acalme mãe, por favor. — Ranma estava entrando em pânico.

— Quem ?

— F-foi o velho. Foi ele quem disse isso. — Em uma fração de segundo a aura de batalha de Nodoka ficou visível. Ranma deu uma passo atrás quando viu um fiapo de madeira, que estava perto do pé de sua mãe, se desprender.

"Parece que eu também vou ter que ter uma conversa bem séria com o meu marido." Ela pensou. Em sua mente, ouvi-se uma risada maléfica que fez com que Mumm-rá parecesse uma criança inocente.

Nodoka estava tão imersa em seus pensamentos, que não percebeu seu filho recuando assustado.

— Perdão filho. Eu não quis lhe assustar. — Ela estava visivelmente envergonhada por ter perdido o controle tão facilmente.

— N-não tem problema. Eu estou acostumado. A Akane faz isso o tempo todo. — "Não com a mesma intensidade é claro." Ranma foi esperto o suficiente para não transformar a ultima sentença em palavras.

— De qualquer forma, isso não é motivo para você se recusar a treiná-la.

— Não ?

— É claro que não. Você mais do que ninguém deveria saber disso. Você consegue me dizer as principais diferenças entre a sua forma feminina e masculina quando você esta lutando ?

— Bem, na minha forma masculina, eu sou mais forte, tenho mais vigor e meu alcance é maior. Na minha forma eu fico mais fraco, mas em compensação, eu fico bem mais rápido.

— Como eu imaginei. Escute filho, só porque na maioria dos casos, nos mulheres, não tenhamos tanta força ou vigor quanto os homens, isso não quer dizer que sejamos menos capazes. Você, como artista marcial, deveria saber que mesmo que um oponente seja mais fraco, não quer dizer que ele não consiga derrotar um mais forte.

Ranma sabia aonde sua mãe estava querendo chegar e ele concordava com ela. Ele já havia enfrentado inimigos mais fortes e isso não o impediu de se sair vitorioso. Por duas vezes, Ryoga, havia ficado mais forte que ele: uma após o treinamento do Bakusai Tenketsu(1) e outra depois de ele ter aprendido o Shishi Hōkōdan(2). Herb da dinastia Musk era outro exemplo. No final, todos foram derrotados.

— Força não é tudo, mãe.

— Vejo que você entendeu. O que seu pai disse não faz o menor sentido. Podemos ter nossas desvantagens, mas também temos nosso truques. Além do mais, somos mais inteligentes e não ouse questionar isso. — Disse a mulher que se casou com Genma Saotome, um homem que dispensa comentários.

— Por isso, não há motivo algum para você não querer treinar a Akane.

— Mesmo assim. Eu não gosto de lutar contra mulheres.

— Você não precisa lutar a sério contra ela. Apenas instrua-a e mostre a ela o que pode ser feito para que ela se torne uma artista marcial melhor.

— Ela com certeza não vai se contentar apenas com katas. Ela vai querer lutar. E se eu machucá-la ?

— Você tentaria ?

— É claro que não!

— Acredito que com todo o treinamento que seu pai lhe deu ao longo de todos esse anos, ele também lhe ensinou a controlar sua força, certo ?

Ranma apenas acenou com a cabeça.

— Então qual é a sua desculpa ?

O garoto abaixou a cabeça para desviar o olhar de sua mãe.

— É que... é que eu tenho medo que ela se machuque. Por que ela tem que lutar ? — Medo não era uma coisa que Ranma admitia com frequência, a não ser quando o assunto eram gatos. Seu pai sempre o ensinou a não mostrar fraqueza alguma. E admitir que ele estava com medo era uma demonstração de fraqueza. Por isso ele esta com vergonha e não conseguia olhar para sua mãe.

— Eu e velho sempre treinamos como se nossas vidas dependessem disso. Você já viu, é praticamente uma luta real. E se eu machucá-la por acidente ?

— Ranma, olhe para min. - Quando ele se recusou, Nodoka segurou o rosto do rapaz com as duas mãos e o ergueu com a delicadeza que só uma mãe conseguiria.

— Seu pai é um idiota, Ranma. E eu tenho certeza que você não tentaria aplicar o treino rigoroso que seu pai lhe deu a Akane ou a qualquer outra pessoa, certo ?

— C-certo.

— Ótimo .— Nodoka soltou o rosto do rapaz, já que ele não estava mais tentado desviar o olhar. — Mais uma pergunta: Você já tentou ensinar a arte a alguém ?

Ranma parou para pensar por uns instantes como se isso fosse realmente necessário.

— Eu nunca tentei ensinar artes marciais a ninguém. — Ele admitiu.

— Isso é ótimo!

— Ótimo ? Como ?

— Seu desafio é treiná-la e transformá-la em uma grande lutadora ?

— O que ? desafio ? do que a senhora esta falando, mãe ?

— Eu estou propondo um desafio. Seu dever é fazer da Akane uma grande artista marcial.

— Você não esta falando sério, está ?

— É claro que estou.

— Eu não sei...

— Querido, um dia você vai ter seu próprio dojo. — "E eu espero que seja o dos Tendo." — E nele com certeza você vai receber alunos de todos os níveis. Desde o mais novato, até lutadores experientes procurando novos desafios. Você não tem experiência alguma em treinar outras pessoas, não acha que a Akane seria um bom começo ?

— Talvez...

— Por isso eu estou lhe propondo esse desafio. Seu sucesso como professor depende dele.

— Eu não sei mãe. Eu não sei se isso daria certo.

Nodoka viu que seu filho ainda estava incerto e decidiu dar um "pequeno empurrão". Primeiro, Ela encobriu o rosto com as mangas do kimono.

— Genma, você falhou! - Disse ela em uma voz chorosa.

Ranma olhava com surpresa para a sua mãe sem entender o que ela estava dizendo.

— Do que adianta ele ser um grande artista marcial se ele não consegue ensinar a ninguém.

— Ei ! eu nunca disse que não conseguiria treinar ninguém. Eu disse que não tenho certeza em relação a Akane. — Ele protestou, mas Nodoka o ignorou.

— Você disse que ele se tornaria um homem acima de qualquer outro, mas olhe, ele não consegue aceitar um simples desafio. — A mulher já estava aos prantos

— N-não é isso mãe.

— Onde foi que eu deixei minha katana ? — E com isso ela se virou e foi andando em direção a saída do dojo.

Ranma tremeu dos pés até a ponta do seu rabo de cavalo. A simples menção da katana o fez lembrar de um certo contrato que seu pai fez assinar quando ele ainda era pequeno.

— Não! não! não! espere mãe! — Ele gritava em pânico, mas Nodoka continuou andando sem olhar para trás, o que deixou o garoto mais agitado ainda.

Só havia uma saída.

— Tudo bem! ok mãe! eu vou treiná-la! Eu vou treiná-la!

Nodoka parou

— Você promete ?

Ranma ficou aliviado quando viu que sua mãe parou sua caminhada.

— Sim.

— Eu perguntei se você promete ?

— Eu prometo. Eu vou treiná-la. — Ele respondeu, derrotado.

Nesse momento, A mulher deu meia volta. Ela estava com um largo sorriso no rosto. Não havia sinal algum de lagrima ou se quer que ela tenha chorado.

— Estou tão orgulhosa de você, meu filho.

Ranma estava perplexo. Não havia sinal algum que sua mão estivesse chorando ou que tivesse chorando há alguns segundo atrás.

— Você não estava chorando ?

— Isso não vem ao caso agora. O importante é que você prometeu ajudar sua noiva.

Ranma colocou as mãos na cabeça em uma pose dramática. "Eu fui enganado pela minha prppria mãe! Isso só pode ser brincadeira."

— Agora... — Ela recolheu o sorriso. — Acredito que o fato de você se ter se recusado a treiná-la não tenha sido motivo para deixá-la chorando. O que mais você disse a ela ?

— Coisas. - Ranma começou a empalidecer. A reação de sua mãe, quando descobriu o que seu marido havia dito sobre as mulheres, veio a sua mente. "Eu to frito!"

— Sem rodeios. Diga logo. — Disse ela em um tom severo.

"Aqui vai"

— Bem, é que... eu disse a ela que a Shampoo e Ukyo eram melhores que ela e...

O garoto ficou paralisado quando viu que sua mãe tinha um olhar que podia facilmente derreter o aço.

— ... mais. Coisas. Eu fiz besteira ?

— Você ainda pergunta ? Regra número um sobre as mulheres: nunca faça uma comparação para pior entre duas mulheres se desfavorecida estiver do seu lado. Especialmente se ela for sua noiva.

— M-mas eu disse apenas a verdade.

— Não importa se é verdade ou não. Nunca mais faça isso. Isso é quase um pecado mortal contra uma mulher. Vá agora mesmo pedir desculpas a Akane. E que elas sejam bem convincentes. Eu irei falar com ela depois.

— Mas, Mas...

— Sem mas. O que você fez é muito errado. Isso não é jeito de tratar uma garota. Vá agora mesmo pedir desculpas. Diga o quanto você esta arrependido e ter dito isso e que você vai treiná-la. Nós terminaremos nossa conversa depois.

Em um piscar de olhos Ranma já estava fora do dojo.

— Genma, Genma. Você não ensinou bons modos ao nosso filho ? — Nodoka massageava a parte central de sua testa com seu polegar. — Preciso colocar meu filho nos trilhos. Talvez assim, eu consiga meu netinhos. — Nodoka corou só de pensar nos netos que ela nem sabe se teria.

— Será que se eu pedir eles poderiam deixar eu escolher um nome ou pelo menos sugeri alguns. Talvez Shiki se ele for um menino e Ranko se for uma menina. Akiha também é um bom nome. Oh! mal posso esperar.

E assim ela passou diversos minutos perdida em sua fantasias.


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Notas finais do capítulo

(1) Ponto de Ruptura.
(2) Golpe do Rugido do Leão.

Talvez eu tenho deixado a Nodoka um pouco fora do personagem que ela é, mas eu acho que esta bom.

Críticas construtivas serão sempre bem-vindas.
Percebeu algum erro de português, concordância, formatação ou qualquer outro tipo? me avise para corrigi-lo.

Até a próxima.