Sou uma ladra imunda.

Uma ladra de sonhos. De vidas.

De esperanças, amores, pesares.

Roubar é minha profissão. Furtar é meu fetiche.

Sinta nojo;sinta asco!

Cuspa em minha face. Atire-me pedras.

(E ignore o fato de que também posso atirá-las de volta.)

Estou aqui, exposta.

Julgue-me. Puna-me.

Sei que mereço.

Divirta-se com seu espetáculo.

Será seu último entretenimento, eu garanto.

Porque, após me destruir, deverá olhar a si mesmo.

Porque seus pecados não se ocultam com a descoberta dos meus.

Porque minha mácula expõe as suas.

Como é feia a minha natureza!

Horrenda! Abominável! Herege!

Toda a podridão que vislumbro ao fitar-me no espelho existe.

É real. É palpável.

Assim como a sua.

Observe escorrer por seus dedos a sua fantasia.

Sua ilusão hipócrita desmorona diante de seus olhos.

Mais máscaras agora apontam para você.

Gritos e ofensas também te atingem.

Machucam, flagelam. Até mesmo matam.

E ninguém irá ajudá-lo. Muito menos eu.

Diga-me: como é estar deste lado?

Como é sentir a crueldade alheia a ferir-lhe a pele? Os ossos? A alma?

Como é ouvir a dureza das palavras que tanto proferiu outras inúmeras vezes?

Enfim, diga-me: está satisfeito?